BC gasta US$ 12,7 bi em 4 dias, mas escalada do dólar não arrefece
A maior injeção de recursos no câmbio desde março de 2021 não foi suficiente para segurar a alta do dólar no País. Entre a última quinta-feira e ontem, o Banco Central colocou US$ 12,7 bilhões no mercado, mas a moeda americana renovou a marca histórica e fechou o dia cotada a R$ 6,09, alta de 0,04%. Como ocorrera nos pregões anteriores, o BC fez leilões endash; vendeu US$ 1,27 bilhão pela manhã e outros US$ 2,01 bilhões no início da tarde, depois que, às 12h15, a moeda americana havia rompido a barreira dos R$ 6,20. A turbulência também atingiu o mercado de juros. Depois de um dia de alta volatilidade nas negociações dos papéis, o Tesouro Nacional cancelou o tradicional leilão de títulos públicos previsto para amanhã. Na ausência do leilão, fará esta semana três operações de compra e venda de papéis cujas condições de oferta só serão conhecidas no dia.
Mesmo com o Banco Central já tendo vendido US$ 12,7 bilhões desde a última quinta-feira, na maior injeção de recursos no câmbio desde a pandemia, em março de 2021, o dólar voltou a fechar ontem em alta, renovando a máxima histórica em relação ao real. A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 6,096, avanço de 0,04%. Segundo analistas, a preocupação com o quadro fiscal e o receio de que o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo endash; já considerado aquém do necessário para evitar a escalada da
Escalada do câmbio reflete as dúvidas sobre capacidade do governo de controlar a dívida pública
dívida pública endash; possa ser ainda mais desidratado no Congresso voltaram a pesar nos negócios.
Ao todo, foram US$ 7 bilhões em três leilões de linha, que representam a venda de moeda com compromisso de recompra, e outros US$ 5,76 bilhões por meio de quatro leilões à vista. Conforme apurou o Estadão/Broadcast, o BC tem mapeado diariamente com os operadores de câmbio a previsão de saída de dólares do País. Os leilões pontuais têm servido para garantir a liquidez, oferecendo moeda conforme a demanda, diante de um fluxo de saída significativo.
Ontem, o BC voltou a fazer dois leilões. O primeiro, logo cedo, atingiu US$ 1,27 bilhão. O valor, porém, não foi suficiente, e pouco depois das 12h o dólar atingiu a máxima do dia endash; de R$ 6,20. Em reação, no início da tarde o BC teve de vender mais US$ 2,01 bilhões. Após esse segundo leilão, a moeda americana cedeu e chegou a ser negociada a R$ 6,05, para voltar a subir no fechamento.
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, o País vive um eldquo;estresse financeiro muito grandeerdquo;, dada a resistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em promover uma eldquo;moderação fiscalerdquo;. Além da apresentação de um pacote considerado pífio, houve o anúncio simultâneo da proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
eldquo;Ficou tudo nas cotas do BC, que já promoveu um brutal choque de juros, antecipando que a Selic vai para 14,25%erdquo;, diz Gala, em referência à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a Selic em um ponto porcentual e sinalizar mais duas altas eldquo;de mesma magnitudeerdquo; nas suas reuniões de janeiro e março de 2025 ( mais informações na pág. B6).
A fragilidade da questão fiscal também foi apontada por economistas que, a pedido do Estadão, analisaram as razões por trás da alta do dólar. Para Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, por exemplo, eldquo;a crescente percepção de insustentabilidade fiscal está cobrando seu preçoerdquo; ( mais informações na pág. B2).
LEILÃO DO TESOURO. A turbulência dos últimos dias também bateu no mercado de juros. Em nota divulgada no fim do dia, o Tesouro Nacional anunciou o cancelamento do tradicional leilão de títulos públicos que estava previsto para ocorrer amanhã. A decisão veio depois de um dia de alta volatilidade nas negociações dos papéis. Ontem, houve quatro eldquo;circuit breakerserdquo; na plataforma. Ou seja, as negociações foram suspensas por um período em função da alta volatilidade das taxas dos títulos públicos: os prefixados e IPCA+ atingiram níveis recordes e, no fechamento da sessão, pagavam retornos de 15,33% e 7,58% ao ano nos vencimentos mais curtos, respectivamente.
O Tesouro informou que, na ausência do leilão de amanhã, durante toda esta semana (quarta, quinta e sexta) realizará leilões de compra e venda de papéis cujas condições (ou seja, quanto o órgão aceitará de juros) serão conhecidas só no dia. eldquo;Acho que a ideia é tentar colocar um parâmetro de compra e venda nos títulos para voltar a uma normalidadeerdquo;, diz o estrategista de renda fixa da Necton Investimentos Fernando Ferez. Segundo ele, num ambiente de alta volatilidade o mercado fica sem referência.
De acordo com o órgão, eldquo;o objetivo da atuação é oferecer suporte ao mercado de títulos públicos, assegurando seu bom funcionamento e o de mercados correlatoserdquo;. É a primeira vez desde maio de 2020, durante a pandemia de covid-19, que o órgão cancela um leilão tradicional de títulos públicos. Antes, cancelamentos haviam ocorrido também em momentos como a greve nacional de caminhoneiros e na crise política que teve como estopim o vazamento de uma conversa do empresário Joesley Batista com o então presidente Michel Temer (MDB). ebull;