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Empresas de petróleo e bancos entram na mira para compensar desoneração da folha

As empresas de petróleo e as instituições financeiras entraram na mira do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para financiar a compensação da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores neste ano. O acordo para a manutenção da desoneração da folha em 2024, com aumento gradual a partir de 2025, foi anunciado, na semana passada, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas há um entendimento no governo de que será necessário compensar a renúncia tributária com medidas de aumento da arrecadação para não afetar as políticas públicas no Orçamento deste ano com um contingenciamento de despesas, mesmo no caso de o STF (Supremo Tribunal Federal) apontar que a compensação não seja necessária. O Orçamento deste ano foi aprovado sem a inclusão do custo da desoneração emdash;uma conta que, segundo Haddad afirmou no anúncio do acordo no Senado, gira em torno de R$ 10 bilhões por ano. Esse é um volume elevado de dinheiro, que poderá exigir mais de uma medida compensatória, como sinalizou o ministro. Segundo afirmou à Folha um integrante do governo na condição de anonimato, entre as medidas em análise pelos técnicos, está uma elevação da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) das empresas de petróleo. No ano passado, o governo instituiu uma taxa de 9,2% sobre as exportações de petróleo bruto. A medida teve duração de quatro meses e foi considerada muito polêmica porque taxou as exportações brasileiras. A taxação das exportações foi tomada para compensar a perda de arrecadação do governo com a reoneração apenas parcial dos tributos federais sobre a gasolina e etanol. Na época, o governo adotou o Imposto de Exportação emdash;imposto regulatório que, em tese, não pode ser adotado com fins arrecadatórios, o que torna o seu uso mais difícil agora. Mesmo assim, o governo optou em tributar as exportações com o argumento de que estava redistribuindo a carga tributária do setor ao tirar um pouco o peso sobre o consumidor de combustível e tributando a empresa exportadora de óleo. Como hoje, o preço do Brent, naquele momento, estava alto também. O governo usou o Imposto de Exportação, mas tomou cuidado de na MP não apontar que tinha a finalidade de fazer a compensação. A diferença entre a situação daquela época e a de agora é que a lei orçamentária de 2023 foi aprovada, no governo Jair Bolsonaro, já prevendo a renúncia com a medida. Uma desvantagem da CSLL é que a medida exige o cumprimento do período de três meses (noventena) para a alta da alíquota começar a ser cobrada. Outro fator que está na análise do governo é que ela permite uma série de deduções pelas empresas e, portanto, seria necessário uma alíquota muito alta para ter o efeito desejado de arrecadação. Para uma pessoa a par das discussões no governo, o uso da CSLL é uma proposta que "para em pé" porque diminui o impacto fiscal da desoneração da folha. A taxação dos bancos é outra possibilidade que também está cesta de medidas em análise, mas o impacto na custo de crédito é ponto que pesa contra no momento que o governo que aumentar os financiamentos. Em 2022, o governo Bolsonaro elevou a tributação dos bancos para liberar o Refis para os MEIs (Microempreendedores Individuais), micro e pequenas empresas. A alíquota da CSLL para os bancos subiu de 20% para 21%, a despeito da forte reação da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). A alíquota para as instituições financeiras não bancárias subiu de 15% para 16%. Uma mudança da CSLL para os bancos também necessitaria de noventena para vigorar. Os bancos já estão na mira do Congresso porque projeto aprovado pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aumentou em 0,1% a alíquota da CSLL para bancar a redução do Imposto de Renda para taxistas e motoristas de aplicativo neste ano. Como a votação teve caráter terminativo na CAE, o projeto seguiu para votação na Câmara. O fim da isenção do Imposto de Importação das compras de e-commerce de até US$ 50 tem sido citado por senadores como uma medida compensatória, além do uso do DPVAT (seguro obrigatório de trânsito). No anúncio do acordo da desoneração, Haddad disse que caberá ao governo apresentar a medida compensatória ao Congresso. Ele chegou a dizer que a bola estava com o governo. O governo entrou com uma ação no Supremo contra a extensão da desoneração da folha para 17 setores até 2027, aprovada pelo Congresso, justamente porque não havia medida de compensação. A liminar dada pelo ministro Cristiano Zanin, suspendendo a desoneração, ainda está valendo, mas o governo costura no STF a homologação do acordo. Apesar do anúncio do acordo, empresários dos 17 setores aguardam posicionamento do governo sobre o pagamento da contribuição previdenciária no dia 20. O modelo de desoneração da folha permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência. A desoneração da folha foi criada em 2011, na gestão Dilma Rousseff (PT), e prorrogada sucessivas vezes. Entre os 17 setores, está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

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Etanol/Cepea: Demanda e vendedor firme sustentam preços

Os preços dos etanóis vêm se sustentando no mercado paulista, mesmo com o andamento da safra 2024/25. De acordo com pesquisadores do Cepea, além da postura firme de vendedores, distribuidoras seguem adquirindo volumes expressivos do biocombustível no spot. Entre 6 e 10 de maio, o Indicador CEPEA/ESALQ do etanol hidratado fechou em R$ 2,3496/litro (líquido de ICMS e PIS/Cofins), alta de 0,32% frente ao período anterior. Para o anidro, o avanço foi de 1,35%, com o Indicador CEPEA/ESALQ a R$ 2,6887/litro (líquido de PIS/Cofins). Segundo pesquisadores do Cepea, usinas estão no início da moagem do ciclo atual endash; com o avanço das atividades, é esperado um enfraquecimento dos preços. Além disso, a boa liquidez tem reduzido a necessidade de venda.

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Lucro da Petrobras cai 37,9% no primeiro trimestre

A Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2024 com lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, uma queda de 37,9% em relação ao resultado de um ano atrás, e de 23,7% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, informou ontem à noite a companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Endividamento Dívida líquida da estatal teve alta de 16,1% no trimestre, para US$ 43,6 bilhões Pelo balanço publicado, a receita de vendas no período caiu 15,4%, para R$ 117,72 bilhões, frente ao primeiro trimestre de 2023. Na comparação com o quarto trimestre do ano passado, o recuo foi de 12,3%. Já o Ebitda, que mede a capacidade de geração de caixa da companhia, ficou em R$ 60 bilhões no primeiro trimestre de 2024, o que representou uma queda de 17,2% ante igual período de 2023, e recuo de 10,2% em relação ao quarto trimestre de 2023. A dívida líquida da empresa subiu para US$ 43,64 bilhões, valor 16,1% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2023, mas 2,4% menor do que o registrado ao fim do quarto trimestre do ano passado. DIVIDENDOS. O conselho de administração da Petrobras aprovou ontem o pagamento de dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP) da ordem de R$ 13,45 bilhões relativos ao resultado do primeiro trimestre de 2024. O provento equivale a uma remuneração de R$ 1,04 por ação ordinária e preferencial. O pagamento será feito em duas parcelas iguais de R$ 0,52 por ação em 20 de agosto e, depois, em 20 de setembro. O montante veio 45,5% abaixo dos dividendos de R$ 24,7 bilhões relativos a igual período do ano passado. A redução está ligada não só a um balanço menos robusto agora, mas também à mudança na fórmula de cálculo dos dividendos endash; que caiu de 60% para 45% do chamado fluxo de caixa livre, implementada em julho de 2023. Apesar da redução, a regularidade dos dividendos da Petrobras sob o governo Lula vinha surpreendendo positivamente o mercado com valorização do papel, à exceção dos dias que se seguiram à decisão de retenção dos dividendos extraordinários relativos ao ano passado, o que acabou sendo revertido em assembleia de acionistas no fim de abril depois de forte pressão política. UNIÃO. Dona de 36,6% do capital da empresa endash; via Tesouro, Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seu braço de participações, o BNDESPar endash;, a União vai ficar com R$ 4,92 bilhões dos dividendos aprovados para o período dos três primeiros meses deste ano. Em 2023, a Petrobras distribuiu um total de R$ 94,4 bilhões, o que incluiu R$ 72,4 bilhões de proventos ordinários e outros R$ 22 bilhões de extraordinários, metade do valor apurado. A outra metade, informou a empresa, está em reserva de remuneração e deve ser distribuída em parcelas até o fim deste ano. ebull;

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Vibra deixa de pagar aluguéis que lastreiam CRIs e acende alerta

Especialistas do mercado imobiliário acompanham de perto uma situação que se desenrola sem muito alarde. A distribuidora de combustíveis Vibra Energia decidiu parar de pagar os aluguéis de sua atual sede, no Edifício Lubrax, no Rio de Janeiro. Esses aluguéis, porém, são o lastro de dois Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) emitidos pela Opea Securitizadora e de um terceiro lançado pela Bari Securitizadora, que ainda estão em fase de pagamento. A suspensão de pagamento, iniciada em abril, foi confirmada por ambas em fatos relevantes na semana passada. No total, a Vibra deve deixar de pagar pelo menos R$ 427,8 milhões nos próximos sete anos, segundo estimativa de Guilherme Sharovsky, líder de crédito corporativo da Bloxs Capital Partners. As securitizadoras Opea e Bari disseram que qualquer comunicação extra sobre o caso será feita via comunicados e fatos relevantes. Para especialistas, a depender do desfecho jurídico, o episódio pode respingar no mercado em geral. eldquo;Não é um problema só para o mercado de capitais, mas para o mercado imobiliárioerdquo;, diz Felipe Ribeiro, diretor de investimentos do Clube FII. Uma das maiores empresas do seu setor, a Vibra registrou lucro de R$ 789 milhões no primeiro trimestre deste ano. Ela surgiu a partir da privatização da antiga BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, num processo iniciado em 2019 (governo Jair Bolsonaro). Em nota enviada ao E-Investidor, a companhia disse que eldquo;não é emissora nem garantidora dos CRI emitidos por instituições financeiras referentes ao edifício Lubrax, e que cumpriu todas as suas obrigaçõeserdquo;. Afirmou ainda que tinha um contrato com a construtora Confidere que previa o pagamento de aluguéis até o ano 2031, após o que se tornaria proprietária do prédio. eldquo;O contrato deixava explícito que a Confidere não poderia deixar que o imóvel fosse alvo de penhoras judiciais.erdquo; Segundo a Vibra, a construtora descumpriu essa cláusula e, por isso, teve de arrematar o prédio em leilão judicial, em abril passado, por R$ 133 milhões. Na condição de dona do imóvel, acrescenta, não haveria eldquo;sentido legal ou contratual em seguir pagando aluguéiserdquo;. Segundo a Vibra, cabe à Confidere arcar com as obrigações firmadas com as securitizadoras. Procurada para dar sua versão, a Confidere não respondeu. elsquo;CONTRATO ATÍPICOersquo;. A justificativa da Vibra para a interrupção do pagamento parte de uma situação pouco comum. Em 14 de abril de 2011, ainda como uma subsidiária da Petrobras, a empresa firmou um contrato de locação na modalidade eldquo;build to suiterdquo; com a Confidere OGB Imobiliária e Incorporadora. Na época, as condições do contrato foram classificadas como eldquo;atípicaserdquo; porque, até então, não estavam previstas na Lei do Inquilinato endash; que tinha como foco as locações residenciais. O acordo estabelecia que a Confidere iria construir um edifício eldquo;sob medidaerdquo; (eldquo;build to suiterdquo;) para a então BR Distribuidora. Em troca, a distribuidora deveria pagar um aluguel reajustado anualmente pela inflação por 18 anos, a contar da data da entrega do empreendimento endash; prevista para abril de 2013. O documento deixava clara a impossibilidade de renegociação das condições estabelecidas e registrava que a Vibra tinha ciência e concordava com a possibilidade de a incorporadora ir a mercado para levantar recursos para a construção do edifício por meio da emissão de CRIs. As captações no mercado, inclusive, poderiam ser feitas em nome da companhia. eldquo;Na emissão de tais títulos mobiliários (CRIs), serão dados como firmes e certos todos os créditos e direitos, nos termos deste contratoerdquo;, diz o texto, ao qual o E-Investidor teve acesso. O acordo também previa que, em caso de rescisão unilateral, a locatária (a Vibra) ficaria obrigada a pagar a totalidade dos aluguéis que seriam devidos até a data de vencimento. Segundo especialistas, essas cláusulas são utilizadas para conferir segurança à operação, já que contratos de locação atípicos são geralmente de longo prazo. eldquo;No contexto de um CRI, essa indenização seria usada para pagar os investidores, sem que estes tivessem prejuízoerdquo;, diz José Alves Ribeiro Junior, sócio da VBSO Advogados. eldquo;Em uma locação típica, há limite de penalidades de três aluguéis. Em um contrato atípico, especialmente quando o devedor do aluguel é de excelente risco de crédito, a existência de uma multa de valor elevado casa com a necessidade de fluxo de caixa de uma transação de securitização.erdquo; ARBITRAGEM. A Vibra entrou com um procedimento na Corte Internacional de Arbitragem (ambiente onde são resolvidos conflitos entre empresas) para tentar a rescisão, ou revisão, das condições do acordo em 18 de agosto de 2022, 11 anos após a assinatura do contrato. Em função desse movimento, a Fitch Ratings rebaixou na época a classificação de risco dos CRIs vinculados a aluguéis do Edifício Lubrax de eldquo;AAAerdquo; (que reflete segurança em relação à inadimplência) para eldquo;Dsf(bra)erdquo;, de risco maior de calote. Na época, a Vibra alegava a existência de um processo para a penhora do Edifício Lubrax, em função de dívidas contraídas e não pagas pela incorporadora Confidere. O imóvel foi a leilão neste ano e acabou arrematado pela própria distribuidora. Segundo especialistas em Direito imobiliário, as condições do contrato original para a construção do prédio teriam diminuído o interesse de outros candidatos no leilão. ebull;

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'Piratas dos rios' saqueiam combustíveis na Amazônia; entenda como ataques funcionam

Enquanto moradores da Ilha de Santana (AP) se recolhem para dormir, um grupo de dez criminosos parte de lá em pequenos barcos rumo ao Pará. O foco são grandes embarcações que passam carregadas de combustível pelo Rio Amazonas. Tripulação rendida, armas apontadas para a cabeça e ameaça de morte: a ação dos eldquo;piratas dos rioserdquo; costuma ser rápida, e prontamente eles fogem, com os barris roubados, pelo emaranhado hídrico da região. No Estado do Amazonas, só em ataques contra embarcações de transportadores, mais de 7,7 milhões de litros de combustível foram levados do fim de 2020 a 2023, segundo levantamento do sindicato local das Empresas de Navegação Fluvial (Sindarma). eldquo;O combustível é o maior foco desses tipos de criminosos pela facilidade de se desfazerem dele e comercializá-lo de forma ilegalerdquo;, Algenor Teixeira Filho, secretário executivo de operações integradas da Secretaria de Segurança do Amazonas. Segundo ele, por mais que eletroeletrônicos e outros tipos de cargas possam ter maior valor agregado, costuma ser mais trabalhoso vendê-los a terceiros do que o diesel, por exemplo. Além disso, é mais fácil identificar, no caso dos eletroeletrônicos, quando são fruto de roubo. A atuação dos piratas endash; também chamados de eldquo;ratos dersquo;águaerdquo; endash; não necessariamente tem elo com facções criminosas. Mas o avanço na região de organizações como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital (PCC) aumenta a circulação de grupos armados e atrai outros tipos de atividades ilegais, como roubos de armas e combustíveis. Em meio à rotina de medo e instabilidade, empresas contratam até escolta armada para proteger cargas maiores. Para incrementar a segurança, recorrem a botões de emergência, câmeras de monitoramento e até à Starlink, serviço de internet da SpaceX, do bilionário americano Elon Musk. Em geral, os piratas trafegam por meio de lanchas ou barcos pequenos, o que facilita fugas após os roubos e a distribuição das mercadorias para outros barcos de redes criminosas. Os alvos mais comuns, em contrapartida, são embarcações cargueiras mais lentas, com menor poder de reação. Estimativa da Polícia Federal indica que só a atuação do grupo descrito no começo da reportagem causava prejuízo mensal de R$ 150 mil a uma das empresas afetadas. Para o delegado Bruno Belo, da PF do Amapá, o tamanho do prejuízo está subvalorizado, uma vez que as quadrilhas não costumam atacar só uma transportadora. Ao mesmo tempo, o delegado afirma que alguns navios, sobretudo de companhias estrangeiras, sequer registram ocorrência no Brasil endash; quando o assunto é transporte, tempo é dinheiro. eldquo;Além dos valores, tem também a questão de os tripulantes terem medo de serem mortos por criminosos locaiserdquo;, diz Belo. No fim do ano passado, ele comandou a Operação Detour, que cumpriu 12 mandados de busca e apreensão em endereços de supostos membros de uma quadrilha de piratas. A ação contou também com participação da Polícia Civil e do Ministério Público do Amapá (MP-AP). As embarcações apreendidas totalizam mais de R$ 1 milhão. Já o material eletrônico agora está em fase de análise. Segundo o delegado, a Ilha de Santana, de onde partiam os principais suspeitos de integrar o grupo, tem forte atuação da facção local Amigos Para Sempre (APS), mas também tem crescido por lá a presença do Comando Vermelho, considerado dominante na região Norte. As organizações criminosas costumam cobrar uma espécie de eldquo;pedágioerdquo; de grupos menores que entram com produtos roubados na ilha. Como agem os piratas dos rios Grupos costumam se aproximar dos alvos na calada da noite. Em poucos segundos, sobem nas embarcações e anunciam o assalto Em alguns casos, os piratas chegam a mirar até mesmo cargas de cocaína e skunk, importadas pelas facções de países vizinhos, como Peru, Colômbia e Bolívia. Depois, revendem para grupos rivais aos roubados. eldquo;Não à toa, hoje a gente observa alguns dos elsquo;transportadores de drogasersquo; circulando com armas muito pesadaserdquo;, Roberto Magno,pesquisador do Laboratório de Geografia da Violência e do Crime da Universidade do Estado do Pará. Segundo explica, os roubos são observados mesmo em rios pequenos, considerados centrais para a vida dos moradores e não tão policiados como as cidades. Um desses exemplos é o estreito de Breves, localizado aos pés da Ilha do Marajó. Em 2022, ele recebeu a primeira base fluvial lançada pelo governo do Pará, na altura do município de Antônio Lemos (PA), para combater a alta de roubos de carga. O foco nesse ponto considerado estratégico, que liga o Rio Amazonas à região metropolitana de Belém, foi importante para ajudar a diminuir as ocorrências envolvendo embarcações nos anos seguintes, afirma a gestão estadual. Mesmo com a desaceleração, esse tipo de roubo ainda preocupa, diante das dificuldades de fiscalização em um território amplo e complexo. eldquo;A região encontra-se bastante vulnerável em relação a esses grupos, que atuam por toda a região amazônica, sobretudo nas áreas ribeirinhaserdquo;, Aiala Colares Couto,pesquisador da Uepa e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Couto afirma que o problema afeta o deslocamento em rios estratégicos da região, como Madeira, Amazonas e Solimões. Nos últimos meses, o Amazonas também avalia ter conseguido reverter a alta de roubos, mas monitora eventuais novos pontos de ação das quadrilhas. Compostos por pelo menos quatro pessoas, os grupos de criminosos normalmente agem não só fortemente armados endash; usam inclusive fuzis endash;, como de forma silenciosa e a luzes apagadas em alguns casos, quando há cooptação de tripulantes dos barcos roubados. Esse segundo tipo é considerado menos frequente. eldquo;A disputa pelo controle dos rios se dá de forma extremamente violenta, com abordagens e embates entre grupos criminosos fortemente armados, no meio de intensa troca de tiros, ocasionando combates letaiserdquo;, Igor Starling,promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Amazonas eldquo;É uma constante guerra entre criminosos para a tomada dos pontos de controle dos rivais, elsquo;decretandoersquo; vidas (jurando de morte), soltando elsquo;salvesersquo; (mensagens a outros membros da facção), matando e corrompendoerdquo;, continua. Atualmente, segundo o promotor, investigações do Ministério Público indicam inclusive o envolvimento de milícias e agentes do Estado em dinâmicas envolvendo os piratas dos rios. eldquo;Muitas vezes há uma blindagem dos criminosos ou até mesmo o apoio direto (a esses grupos)erdquo;, afirma Starling. Atuação de piratas: prejuízo de cerca de R$ 100 milhões ao ano Levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL) aponta que a atuação dos piratas dos rios causa prejuízo anual de cerca de R$ 100 milhões nas atividades de transporte de cargas pelo Rio Amazonas. eldquo;Esse número leva em conta gastos adicionais endash; com empresas tendo que contratar escolta armada endash;, outros investimentos em segurança e o próprio roubo da mercadoriaerdquo;, diz Emerson Kapaz, presidente da entidade. Já os 7,7 milhões de litros de combustível roubados em ataques contra embarcações de transportadores amazonenses causaram prejuízos de R$ 48 milhões em um intervalo de três anos (de outubro de 2020 a dezembro de 2023), segundo o Sindarma. eldquo;Mais ou menos 34% desse valor está no Rio Madeira, que é um rio bastante extenso e muito importante para a distribuição de derivadoserdquo; Valéria Lima, diretora de downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) Ao mesmo tempo, ela afirma que há também uma quantidade considerável de casos ao longo do Rio Amazonas, com destaque para os trechos próximos aos municípios de Itacoatiara e Coari. Na Operação Nereus, deflagrada no ano passado pela Polícia Federal do Amapá em parceria com outros órgãos, o foco era um grupo de piratas que partia da Ilha de Santana para roubar cargas de tintas navais de embarcações que passavam pelo Amazonas. eldquo;Elas possuem valor bem elevado, por isso entraram no alvo desses pirataserdquo;, afirma o delegado Bruno Belo. Foram cumpridos seis mandados de prisão preventiva, além de 15 mandados de busca e apreensão. Segundo o delegado, o grupo investigado é suspeito de ter realizado ao menos 50 roubos de carga em quatro anos, principalmente no Rio Amazonas. eldquo;Só nessa ação conseguimos apreender cerca de R$ 300 mil em mercadorias desse tipo (tintas navais) no galpão de um dos investigados.erdquo; A violência era um traço comum das ações. Em um dos casos, eles teriam amarrado um tripulante de um navio vindo do Chipre pelos seus pés e mãos, fazendo-o refém enquanto esvaziavam a embarcação. Nas ações, celulares e outros itens de valor dos marinheiros também costumam ser roubados. Uma das hipóteses do Sindarma é que, com as transportadoras investindo em segurança, embarcações de menor porte passaram a se tornar alvos mais frequentes das quadrilhas. Os focos costumam ser barcos que se deslocam entre as regiões metropolitanas de Manaus, que concentra indústrias, e de Belém, onde está o Porto de Vila do Conde, em Barcarena. Diante da atuação dos piratas, os governos estaduais têm se articulado para aumentar a segurança na região. Hoje, o Pará possui uma base fluvial endash; a de Antônio Lemos, no estreito de Breves endash;, mas prevê instalar outras duas até o fim do ano: uma delas em Óbidos, às margens do Rio Amazonas, e outra em Abaetetuba, próxima à Ilha do Capim. O Amazonas, por sua vez, possui quatro bases em funcionamento, sendo duas móveis endash; a Tiradentes, que fica no Alto Solimões, e a Paulo Pinto Nery, que fica próxima da foz do Rio Madeira endash; e duas fixas endash; a Arpão 1, próxima ao município de Coari, no Rio Solimões, e a Arpão 2, localizada no Rio Negro. Esta última foi inaugurada no começo deste ano. Como vem mostrando o Estadão, a Amazônia tem passado nos últimos anos por uma sobreposição entre crimes ambientais, como desmatamento e garimpo ilegal, com o narcotráfico. A nova dinâmica, afirmam autoridades policiais, complexificou o combate à criminalidade na região Norte, além de ter ocasionado em alta de crimes contra povos indígenas e quilombolas em Estados como o Pará.

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Grandes bancos mantêm financiamento aos combustíveis fósseis

Os maiores bancos do planeta, em particular dos Estados Unidos e Japão, distribuíram mais de US$ 700 bilhões (R$ 3,6 trilhões) no ano passado em apoio aos combustíveis fósseis. Os dados são da edição mais recente do relatório "Banking on Climate Chaos" (Investindo no Caos Climático, em livre tradução), publicado nesta segunda-feira (13). Desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, com objetivo de limitar a mudança climática a 1,5ºC na comparação com era pré-industrial (1850-1900), quase US$ 6,9 trilhões de dólares (R$ 35 trilhões) em empréstimos, emissões de títulos ou bônus foram direcionados para empresas de petróleo, gás e carvão. "Os bancos devem parar, em caráter de urgência, de financiar a expansão do petróleo e gás para favorecer o financiamento de energias sustentáveis para produção de energia elétrica", afirmou Lucie Pinson, fundadora e diretora da Reclaim Finance, em comunicado. Os quase 60 bancos analisados no relatório totalizaram US$ 705,8 bilhões (R$ 3,64 trilhões) no ano passado em diversas formas de apoio financeiro ao setor, uma queda de 9,5% na comparação com 2022. O banco americano JPMorgan é o maior apoiador do setor de combustíveis fósseis, com quase U$ 41 bilhões (R$ 211 bilhões) no ano passado(+5,4%). Atrás dele está os bancos japoneses Mizuho e MUFG, segundo os dados compilados por oito ONGs, entre incluindo Rainforest Action Network, Reclaim Finance e Urgewald. (AFP)

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