Arayara lança pacote de ações da para derrubar leilão de concessão da ANP; veja quais são
O instituto Arayara apresentou nesta quarta-feira (28/5) um conjunto de ações judiciais para barrar o leilão de concessão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), marcado para 17 de junho. A expectativa é retirar, ao menos, 117 dos 172 blocos em oferta, sob o argumento de que estão com Manifestações Conjuntas desatualizadas e prestes a vencer. No total, são cinco ações civis públicas, destinadas aos tribunais federais do Pará, Brasília, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Norte, a depender do setor. Na bacia da Foz do Amazonas, 47 blocos estão inseridos no leilão, entre os estados do Amapá e Pará. Segundo a Arayara, 14 desses blocos se sobrepõem a áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha. eldquo;As Manifestações Conjuntas estão ultrapassadas, não tem atualização, as terras indígenas estão sob ameaça direta, a biodiversidade também. Não houve consulta e as emissões crescem cada vez mais sem transparênciaerdquo;, resumiu a diretora executiva da Arayara, Nicole Oliveira, em conversa com jornalistas. Uma preocupação adicional da Arayara é com o avanço do licenciamento do bloco FZA-M-59, que a Petrobras vem tentando licenciar há mais de uma década. Recentemente o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aprovou o plano de emergência para o atendimento à fauna e avalia, junto à estatal, uma data para a realização da avaliação pré-operacional (APO), reta final e etapa obrigatória do processo. A pressão política exercida pelo governo emdash; e intensificada desde que Davi Alcolumbre (União/AP) assumiu a presidência do Senado emdash; é um fator extra que está sendo considerado pelos ambientalistas. Somado a este cenário, há o novo marco do licenciamento ambiental, aprovado neste mês pelo Senado e que prevê uma série de flexibilizações e dá poder ao governo para definir o que é prioritário. eldquo;Uma perspectiva que estava sendo posta pelo setor de petróleo é a de que nós precisamos saber se tem petróleo e que é só uma pesquisa, em um bloco a 400 quilômetros da costa. Não é. São 328 blocos de petróleo e uma grande nova fronteira. Nenhum bloco na Foz do Amazonas foi leiloado em 2023, justamente pela insegurança do licenciamentoerdquo;, disse Vinícius Nora, gerente de operações da Arayara. Veja as cinco as cinco ações que tentam barrar o leilão Validade das Manifestações Conjuntas O Instituto Arayara entrou com pedido de liminar para suspender do leilão de concessão os blocos nas bacias da Foz do Amazonas, Parecis, Potiguar e Pelotas. A licitação está sendo realizada, segundo a organização, com base em uma Manifestação Conjunta do MME e MMA de 2020, que expira no dia 18 de junho endash; um dia após o leilão. Os contratos, entretanto, estão previstos para serem assinados em novembro. Assim, o instituto pede a suspensão imediata de 117 blocos nessa situação e anulação definitiva da licitação dos mesmos por ilegalidade e risco ambiental. Exclusão de blocos na Bacia Potiguar Também ajuizou uma ação civil pública com pedido liminar, para suspender a oferta de 16 blocos de petróleo na Bacia Potiguar. A justificativa é de que os blocos estão próximos ou sobrepostos à Cadeia de Montes Submarinos de Fernando de Noronha e ao Atol das Rocas, e a atividade petroleira traria riscos à biodiversidade. A ação pede a: Suspensão imediata da oferta dos blocos na Bacia Potiguar. Anulação definitiva da licitação desses blocos. Reconhecimento da ilegalidade da Manifestação Conjunta usada. Transparência climática Outro questionamento levantado foi a falta de estimativas públicas das emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas aos blocos ofertados. A Arayara aponta que a ANP e a União não divulgaram as estimativas, o que impede a avaliação dos impactos climáticos dos leilões. O pedido feito à Justiça é de que sejam publicadas essas estimativas de emissões com antecedência mínima de 48 horas da sessão pública. Sobreposição a unidade de conservação Na Bacia do Parecis, o instituto aponta que a área ofertada se sobrepõe ao Parque Municipal Pimenta Bueno (RO). Por isso, pede a exclusão dos blocos PRC-T-54, PRC-T-102 e PRC-T-120 por violações às leis ambientais e diretrizes que regem a exploração de petróleo e gás. Também pedem o reconhecimento da nulidade das manifestações conjuntas que embasaram a oferta, por omissão de informações essenciais e violação à transparência e dever de informação ambiental. Terras indígenas Outra ação envolvendo a Bacia do Parecis diz respeito à liminar para anular a inclusão de seis blocos, sob a justificativa de violação de direitos dos povos indígenas. A organização defende que não houve de Consulta Livre, Prévia e Informada (CLPI) e que nenhuma das comunidades foi consultada. Além disso, alega que os blocos blocos PRC-T-54, T-100, T-101, T-118, T-122 e T-135 estão sobrepostos ou próximos às terras dos Tapayuna, Manoki, Ponte de Pedra, Santana, Estação Parecis e Cassupá e Salamãi. Por fim, apontam que, mesmo com o distanciamento de 10 km respeitado, ainda assim a exploração nessas áreas pode impactar gravemente os modos de vida, segurança alimentar e integridade ambiental desses povos. Renovação de reservas e licenciamento O presidente do instituto, Juliano Bueno, criticou o que chamou de eldquo;discurso do apagão energéticoerdquo;, a partir do declínio do pré-sal, caso o Brasil não renove as suas reservas de petróleo. eldquo;Na semana passada, a Petrobras revelou que descobriu uma mega reserva de petróleo e gás na Bacia de Santos (RJ), área já consolidada e garantiria para o país 25 a 30 anos de fornecimentoerdquo;, disse Bueno. No anúncio da descoberta, entretanto, a Petrobras não falou em volumes. A companhia tem descobertas recentes nos campos de Brava, Búzios e Aram. Bueno também afirmou que o novo marco do licenciamento ambiental dá para a Casa Civil um poder especial, ao permitir priorizar empreendimentos classificados como de segurança nacional. eldquo;Isso é muito perigoso, porque nós estaríamos literalmente acabando com um modelo de licenciamento e [com] a segurança jurídicaerdquo;, frisou.