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Petrobras pode voltar à distribuição de gás de cozinha

Em agosto, o conselho de administração da Petrobras aprovou o retorno da estatal ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha ou botijão. Como parte de seu plano estratégico, a estatal planeja integrar essa operação com outros negócios no Brasil e no exterior, além de oferecer soluções de baixo carbono aos clientes. Atualmente, a Petrobras produz o GLP, mas a revenda é feita por distribuidoras privadas. A empresa deixou esse mercado durante o governo Jair Bolsonaro (PL), quando vendeu a operação da Liquigás. Ainda não está definido se a Petrobras voltará com venda direta ao consumidor emdash; incluindo entrega de botijões emdash; ou se atuará apenas como distribuidora, competindo com empresas privadas que hoje compram o gás da estatal para revenda. O g1 preparou seis perguntas e respostas para entender os planos da empresa e os possíveis impactos no preço do gás de cozinha. 1. Por que a Petrobras quer voltar ao mercado de distribuição de gás? Segundo comunicado oficial, a Petrobras busca eldquo;atuar em negócios rentáveis e em parcerias nas atividades de distribuição, respeitando as disposições contratuais vigenteserdquo;. A empresa destacou que a inclusão dessa medida em seu Plano Estratégico ainda está em fase inicial, tratada como algo eldquo;embrionárioerdquo; e em estudo. Coincidência ou não, a decisão surge em um momento em que o governo federal emdash; acionista controlador da estatal emdash; tem demonstrado insatisfação com o valor do botijão no país. Em maio, durante a inauguração de uma obra da transposição do Rio São Francisco, na Paraíba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas aos preços do gás. Para o estrategista Max Bohm, da Nomos Investimentos, a decisão causa preocupação no mercado por ser interpretada como eldquo;um passo político, mais do que econômicoerdquo;. eldquo;A primeira reação é negativa, porque a Petrobras deveria focar em negócios de maior rentabilidade, como o pré-sal. Essa retomada gera receio de que decisões estratégicas da empresa passem a ter peso político, algo que já prejudicou a estatal em gestões anterioreserdquo;, disse. 2. Como era a atuação da Petrobras na distribuição de gás antes? Até 2020, a Petrobras participava da distribuição de gás de cozinha por meio da Liquigás e de combustíveis líquidos pela BR Distribuidora (hoje Vibra). A Liquigás emdash; responsável pelo envasamento, distribuição e comercialização do GLP em todo o país emdash; foi privatizada por cerca de R$ 4 bilhões. O consórcio comprador foi formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás. Na época, o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, justificou a venda da Liquigás como parte da estratégia de reduzir dívidas, e concentrar esforços na exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Mesmo sendo lucrativa, a distribuição de gás gerava retornos mais baixos que a exploração para a Petrobras. A expectativa era que o pré-sal gerasse lucros muito superiores com o mesmo nível de investimento, explica Bruno Benassi, da Monte Bravo. A Liquigás tinha presença em todos os estados, com 23 centros de operação, cerca de 4,8 mil revendedores autorizados e 21,4% de participação no mercado emdash; o que equivalia a um em cada cinco botijões vendidos. Na época, o mercado considerou o negócio positivo tanto para a Copagaz quanto para a Petrobras, que buscava acelerar seu programa de desinvestimentos e focar na produção de petróleo. Além disso, a venda da Liquigás integrava o programa de privatizações do governo Bolsonaro, voltado à redução da participação do Estado em empresas públicas. 3. O botijão pode ficar mais barato? Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais (Ibeps), acredita que os preços podem diminuir. Ele discorda, inclusive, da análise majoritária no mercado de que a distribuição de GLP teria margens mais estreitas. O especialista cita um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que revela que, entre 2020 e 2023, as margens líquidas das distribuidoras de gás de cozinha cresceram 188%, bem acima da inflação. eldquo;Com a volta da Petrobras, há espaço para reduzir margens e trazer alívio ao consumidor. Mas isso depende se a estatal vai priorizar resultado financeiro ou bem-estar econômicoerdquo;, disse. Por outo lado, Benassi, da Monte Bravo, pondera que é possível reduzir o preço final, mas essa medida impactaria diretamente a rentabilidade da empresa. eldquo;Quanto menor o preço do botijão, menor será a margem da operação. A equação não é simples: reduzir preços pode agradar consumidores, mas compromete o retorno do investimentoerdquo;, afirma. Em relatório divulgado logo após o anúncio da Petrobras, analistas do Citi afirmaram que o retorno da empresa ao mercado de GLP é viável, mas deve ocorrer de forma gradual e custosa. O cenário mais provável seria a compra da Vibra ou de outro distribuidor relevante. Vale lembrar que a empresa também foi vendida pela Petrobras em 2019. Mas há barreiras contratuais emdash; como a licença da marca BR concedida à Vibra e a cláusula de não concorrência vigente até 2029 emdash;, que limitariam a velocidade com que a Petrobras poderia retomar completamente suas operações no setor de gás de cozinha. Segundo o Citi, essa iniciativa demandaria um desembolso estimado em US$ 7 bilhões (aproximadamente R$ 38 bilhões), um investimento elevado mesmo para a estatal. 4. Como é formado o preço do botijão de gás? Atualmente, o preço médio do botijão de 13 kg no Brasil é de R$ 107,82, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizado entre 7 e 13 de setembro. Além do custo de produção, o preço inclui impostos e as margens de lucro da distribuição e revenda. De acordo com dados da ANP, em 2022, quatro empresas concentravam 88,3% do mercado de distribuição de GLP no Brasil. A Copa Energia liderava o setor com 23,81% de participação; A Ultragaz ocupava a segunda posição, com 22,51%; A Nacional Gás era a terceira, com 21,55%; e Supergasbras, em quarto lugar, com 21,02%. 5. O que diz o setor de distribuição de GLP? O anúncio da Petrobras surpreendeu distribuidoras e revendedoras de gás, mas, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), não representa uma ameaça significativa à concorrência no setor. eldquo;Qualquer novo entrante que se submeta às mesmas regras do mercado é bem-vindo. O período em que a Liquigás fazia parte do setor foi considerado saudável para todoserdquo;, afirma o presidente do sindicato, Sérgio Bandeira de Mello. No entanto, ele acredita que a entrada da Petrobras provavelmente terá impacto limitado sobre a concorrência ou os preços. Segundo Bandeira, a principal forma de reduzir custos é aumentar a eficiência logística, por exemplo: otimizar rotas de entrega; usar georreferenciamento e telemetria para planejar abastecimentos; investir em inovação. 6. Como a entrada da Petrobras pode impactar a competitividade? Sérgio Bandeira destaca que, apesar da concentração, o setor continua competitivo para novos participantes. eldquo;Qualquer novo agente altera a dinâmica do mercado. A disputa é semelhante à de água mineral ou refrigerantes, com forte briga por pontos de venda e espaçoerdquo;, avalia o analista. Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, acrescenta que o efeito sobre a competição dependerá do modelo de atuação que a Petrobras escolher. eldquo;Se ela voltar apenas como distribuidora, deve disputar margens com concorrentes privados. Mas se avançar para a venda direta ao consumidor, com frota própria e pontos de revenda, pode mudar radicalmente o mercadoerdquo;, disse.

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Supermercados desaceleram e margem é desafio, mostra relatório do Latam Retail

Levantamento da GT Analytics, plataforma formada da parceria entre Gouvêa Ecosystem e Future Tank, mostra aceleração bem mais modesta no segmento de varejo alimentar neste ano, e de que maneira a dificuldade em lidar com a volatilidade da inflação e a pressão em custos vem corroendo rentabilidade das empresas. Essa discussão deve fazer parte do Latam Retail Show 2025, evento do setor que começou nesta terça-feira (16), em São Paulo, e é realizado pela consultoria Gouvêa Ecosystem há dez anos. Na visão dos consultores, um grande desafio está na expansão das margens, porque as varejistas não conseguiram repassar integralmente a inflação para os preços, apesar do recente aumento da massa salarial. Para ler esta notícia, clique aqui.

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Montadoras tentam definir teto para Imposto Seletivo

A indústria automotiva pretende brigar no plenário do Senado para incluir no segundo projeto de lei de regulamentação da reforma tributária, o PLP 108/2024, um teto para as alíquotas do Imposto Seletivo (IS). A manobra pode garantir carga tributária menor que atual e conta também com articulação dos setores de bebidas alcóolicas, refrigerantes e bebidas açucaradas. Apelidado de eldquo;imposto do pecadoerdquo;, por incidir sobre produtos maléficos à saúde e ao meio ambiente, o IS terá alíquotas extras para serem adicionadas na taxa prevista de 28% para a CBS e o IBS. O regramento do IS foi definido na Lei Complementar 214/2025, sancionada pelo presidente Lula em janeiro. As montadoras de veículos tentam emplacar um teto de 3% ou 5%, o que definiria a carga tributária do setor em 31% ou 33%. O percentual é bem menor que a atual média de 47% com a cobrança de IPI, PIS/Cofins, que serão substituídos pela CBS, mais o ICMS e o ISS (futuramente agrupados na IBS). O pleito é da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e visa mudar o artigo 419 da Lei 214/2025, que instituiu a reforma tributária. O senador Jayme Campos (União-MT) apresentou o teto de 3% na emenda 378. A Anfavea patrocinou outra emenda, a 360, apresentada pelo senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), alterando o artigo 409 da Lei 214/2025. A emenda soma pleito de fabricantes de bebidas açucaradas e refrigerantes para definir alíquota de 2% para o IS, totalizando carga de 30% após a reforma ante 45% atuais. Bebidas alcóolicas buscam teto de 3% ad rem (volume) e 3% ad valorem (teor alcóolico), o que reduziria a carga atual de até 60%, conforme o tipo de bebida, para 34%. O setor ainda apresentará emenda. Há disputa entre entidades de destilados e cervejas para definir qual delas deve acionar um parlamentar para sugerir a emenda. O senador Efraim Filho (União-PB) foi procurado pelo Sindcerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja). O relator do PLP 108, senador Eduardo Braga (MDB-AM), recusou-se a incluir os pleitos das emendas no relatório do projeto apresentado na semana passada. Braga deve apresentar um novo texto nesta quarta-feira (17), na CCJ do Senado, acomodando demandas de outros senadores. Ele sinalizou que não irá definir teto para o IS, segundo lobistas participantes da negociação. A recusa pode fazer o lobby dos setores brigarem no plenário do Senado, puxando as emendas para votação como destaques em separado. O movimento, contudo, exige coordenação junto às lideranças partidárias.

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Agência quer reforço orçamentário e fundo próprio para combate a fraudes em combustíveis

O diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Pietro Mendes, afirmou nesta terça-feira (16/9), durante reunião com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que a autarquia trabalha na elaboração de um projeto de lei para criar uma taxa de fiscalização dos combustíveis no país. A intenção, segundo ele, é espelhar modelo adotado por outros órgãos federais para cobrar pelas ações fiscalizatórias e alimentar um fundo próprio com os recursos arrecadados. Mendes ressaltou as dificuldades financeiras enfrentadas pela agência recentemente, com o contingenciamento de recursos que afetou parte das ações do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) neste ano, e pediu apoio dos parlamentares para incrementar o orçamento da ANP em 2026. Segundo ele, a agência solicitou R$ 240,6 milhões, mas o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado para votação no Congresso Nacional prevê R$ 113,1 milhões, redução de 45% em relação às pretensões da ANP. Na reunião com a bancada ruralista, o diretor da ANP abordou a pauta em discussão no Congresso Nacional de combate à fraude e adulteração de combustíveis no Brasil, em razão da Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal. Foram identificados crimes de lavagem de dinheiro, fraude e sonegação fiscal no setor de combustíveis, com envolvimento de fintechs, postos, distribuidoras, propriedades rurais e usinas. Pietro Mendes destacou que a agência colaborou com as investigações e subsidiou eldquo;boa parteerdquo; da operação realizada pela polícia. Segundo ele, a ANP teve participação ativa na identificação dos esquemas envolvendo metanol que entravam pelo Porto de Paranaguá. eldquo;É uma operação que exige articulação com diversas entidades e nós temos como colaborar com o apoio, por exemplo, da FPA. Apesar disso, estamos preocupados com o orçamento do ano que vem e precisamos aumentar esses valores. Recebemos R$ 35 milhões este ano com o trabalho realizado pela bancada do agro, que impediu esse contingenciamento, mas o reforço em 2026 precisa acontecer para mantermos a fiscalizaçãoerdquo;, apontou. Mendes listou um pacote de projetos em tramitação no Congresso Nacional que podem eldquo;dar traçãoerdquo; às ações de fiscalização da ANP e no combate ao crime. Ele defendeu ainda o envio de uma proposta para atualizar as multas por irregularidades no setor de combustíveis. Segundo o diretor, os valores estão defasados há anos. CVM O superintendente de Desenvolvimento e Modernização Institucional da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Daniel Valadão, também pediu apoio da FPA para o fortalecimento da instituição. eldquo;Somos uma entidade reguladora que regula um mercado que está chegando próximo de R$ 17 trilhões e somos apenas 450 servidores ativoserdquo;, disse durante a reunião com a FPA. Valadão ressaltou que a emissão de títulos do agronegócio cresceu de forma mais acelerada que o mercado de capitais como um todo. eldquo;Podemos ajudar muito mais nas fontes alternativas de financiamento do agro e precisamos de ajudaerdquo;, indicou.

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Desemprego cai a 5,6%, menor nível da série histórica

A taxa de desemprego no País atingiu novo piso histórico no trimestre encerrado em julho: 5,6%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre terminado em julho, o mercado de trabalho acumulou marcas positivas: a população ocupada subiu a um recorde de 102,437 milhões de pessoas, enquanto a população desempregada desceu ao segundo menor contingente já registrado, 6,118 milhões de pessoas em busca de uma vaga endash; patamar mais baixo desde o fim de 2013. Já o nível da ocupação (porcentual de pessoas ocupadas entre a população em idade de trabalhar) ficou em 58,8%, se mantendo no maior patamar da série do IBGE. eldquo;O aumento da população ocupada e a redução da população desocupada nos permitiram identificar a menor taxa de desocupação da sérieerdquo;, observou William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE. eldquo;Temos o retrato do que está acontecendo. O mercado de trabalho se mantém aquecido, continua resiliente, continua apresentando característica de um mercado que está em expansão.erdquo; Para o sócio e economistachefe da G5 Partners, Luís Otávio Leal, os dados do IBGE confirmam que o mercado de trabalho no Brasil está aquecido e dinâmico, com composição relativamente saudável em meio à redução da informalidade. eldquo;O mercado de trabalho deve permanecer como um vetor positivo para a atividade econômica em 2025. A dúvida, no momento, é entender a extensão dessa dinâmica benigna, ou seja, até que ponto a taxa de desemprego vai continuar caindo. Nossas simulações su A população ocupada no País atingiu um novo recorde em julho: 102,437 milhões de pessoas gerem que patamares mais próximos de 5% podem ser uma possibilidade no último trimestre. Se for o caso, e a inflação permanecer em trajetória mais benigna, será importante avaliar a possibilidade de a economia brasileira suportar um mercado de trabalho estruturalmente mais aquecidoerdquo;, disse Leal, em relatório. No trimestre encerrado em julho, foi aberto 1,176 milhão de postos de trabalho no País, ocupações majoritariamente criadas via formalidade. Ao mesmo tempo, 1,013 milhão de pessoas deixaram a condição de desemprego. Segundo o pesquisador do IBGE, há uma alta sazonal nas contratações nesse período do ano. Porém, o mercado de trabalho está melhor do que em iguais períodos de anos anteriores. O setor público ajudou na geração de vagas no trimestre terminado em julho, mas foi o setor privado que puxou o aumento do emprego. eldquo;O setor público aumentou 422 mil posições, o equivalente a quase um terço do crescimento total ( de ocupados), mas o maior crescimento aconteceu no setor privadoerdquo;, disse Kratochwill. eldquo;O setor público ajuda, mas o setor privado puxa o aumento do emprego.erdquo; ebull;

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Para analistas, Copom mantém juros hoje, com cortes só a partir de 2026

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve decidir hoje pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 15%. Segundo pesquisa do Projeções Broadcast, 74% das instituições consultadas preveem que a taxa fique estável até, pelo menos, o fim deste ano. Ou seja, a redução dos juros só deve começar, para a maior parte do mercado, em 2026. Segundo analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, embora a economia comece a mostrar os primeiros sinais de que o juro em patamares mais altos está surtindo efeito, com a desaceleração de indicadores como produção e vendas, ainda é cedo para o colegiado mudar de direção ou mesmo abrir espaço para que o mercado passe a apostar em cortes ainda neste ano. eldquo;Vai se consolidando, gradativamente, um ambiente que sugere que 15% é muito alto, mas, ao mesmo tempo, não é um ambiente que sugere muito espaço para cortes de juros. Ainda estamos muito distantes do objetivoerdquo;, afirma o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. A avaliação dos analistas é de que, na reunião que começou ontem e termina hoje, o Copom faça um ajuste sutil, para baixo, em sua projeção para a inflação no primeiro trimestre de 2027 (horizonte relevante da política monetária). Mesmo assim, dizem os economistas, o colegiado deve manter comunicação similar à de seu último encontro. Desde a última reunião do Copom, no dia 30 de julho, as medianas do relatório Focus para o IPCA de 2025 e 2026 arrefeceram de 5,09% e 4,43% para 4,83% e 4,30%, respectivamente, mas continuaram sensivelmente acima do centro da meta de 3%. A cotação do dólar usada no cenário de referência do comitê deve cair de R$ 5,55 para R$ 5,40 endash; o que pode permitir que o colegiado reduza sua projeção para a inflação no primeiro trimestre de 2027, de 3,4% para algo próximo de 3,3%, segundo cálculos da XP e do Santander Brasil. Hoje, o banco central americano também decide a nova taxa de juros ( mais informações na pág. B2). PERSPECTIVA. Megale, da XP, avalia que o cenário ainda mostra uma economia firme, com mercado de trabalho aquecido ( mais informações na pág. B9) e o IPCA rodando próximo ao limite superior da meta de inflação, de 4,5%; há, porém, sinais de alívio. Ele estima que, caso o panorama positivo se concretize, haverá espaço para que o comitê inicie os cortes de juros, num ritmo de 0,5 ponto porcentual, em janeiro. A corretora projeta que as reduções levem a Selic a 12%, um nível que aproveita o espaço que o BC terá para cortar, mas que se mantém eldquo;conservador o suficienteerdquo;, considerando as incertezas do período eleitoral. Para a economista sênior da LCA 4Intelligence, Thais Zara, o cenário segue parecido com o registrado na reunião de julho, o que abre pouco espaço para mudanças na comunicação. eldquo;A comunicação tem sido bem enfática na questão da convergência da inflação. Então, a principal questão nesse momento é o descolamento tanto das expectativas de mercado quanto do próprio BC, que ainda se mantêm acima da meta no horizonte relevante.erdquo; A 4Intelligence projeta manutenção da Selic em 15% até março do ano que vem, quando prevê início de um ciclo de cortes que deve levar a taxa a 12,5%. Sobre os eventos recentes no cenário econômico, Thais avalia ser possível que o colegiado volte a citar as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, mas com a ponderação de que os efeitos sobre a inflação tendem a ser moderados. Para o economista Marco Caruso, head de política monetária do Santander, deve prevalecer nessa reunião a máxima de eldquo;não mexer em time que está ganhandoerdquo;. Ele prevê que o comitê manterá a mensagem de eldquo;continuar a interrupção do ciclo de alta para observar os efeitos do ciclo empreendidoerdquo;. Ele projeta cortes da Selic a partir de janeiro de 2026, levando a taxa até 13%, mas não descarta uma postergação do início para março. ebull; Carestia Previsões de inflação para este e o próximo ano, de 4,83% e 4,30%, ainda estão longe da meta de 3% O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve cortar os juros pela primeira vez desde dezembro do ano passado na reunião que começou ontem e termina hoje. Mesmo com a inflação ainda fora da meta e que pode piorar em razão do tarifaço do presidente Donald Trump, a autoridade monetária terá o desafio de calibrar a política monetária sem causar danos à economia dos EUA, que tem dado sinais de desaceleração, com a criação cada vez menor de empregos. A reunião marca a estreia do indicado de Trump no Fed, o economista Stephen Miran. Em Wall Street, a aposta quase geral endash; por volta de 96% dos analistas consultados endash; é de que o Fed começará o afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto porcentual, segundo a plataforma CME Group. Se o movimento se confirmar, os juros americanos passarão para o intervalo de 4% a 4,25% ao ano, após cinco reuniões consecutivas nas quais as taxas permaneceram inalteradas. A grande mudança desde a última decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) foi o sinal mais forte de esfriamento do mercado de trabalho nos EUA, o que elevou o desemprego no país. O primeiro alerta veio em julho, quando o país criou 73 mil novas vagas, ante expectativas que apontavam para 101 mil. Além disso, os dados de maio e junho foram revisados, o que resultou em uma baixa de 258 mil postos. Agosto chancelou a expectativa de corte de juros pelo Fed após os EUA criarem 22 mil empregos no mês, muito aquém dos 76 mil previstos. eldquo;Resguardar o mercado de trabalho se tornou a principal prioridade do Fed, e é muito provável que isso leve a um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa de juros nesta semanaerdquo;, diz o time de economistas do Goldman Sachs liderado por Jan Hatzius. PREÇOS. Por sua vez, a inflação americana continua distante da meta do Fed, mas acelera praticamente em linha com as expectativas. Os recentes índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) mostram que o impacto das tarifas de Trump se espalha pela economia, mas ainda de maneira limitada. Casas como o Bank of America (BofA) e o Morgan Stanley, que descartavam cortes nos juros neste ano, mudaram de ideia diante da deterioração do mercado de trabalho nos EUA. Nas últimas semanas, também ganhou força a aposta em um Fed mais agressivo na primeira tacada do ano, podendo cortar os juros em até 0,5 ponto porcentual. É o que esperam o britânico Standard Chartered e o francês Société Générale. Trump voltou a pressionar o presidente do Fed, Jerome Powell, pela queda das taxas no país. eldquo;elsquo;O muito atrasadoersquo; ( apelido que Trump usa ao falar de Powell) precisa cortar as taxas de juros agora, e com redução maior do que tinha em menteerdquo;, escreveu ele na segunda-feira, em postagem na Truth Social. Ontem, ele voltou a tratar do assunto. eldquo;A taxa ( de juros) deveria ser muito menorerdquo;, disse Trump. Questionado sobre a independência do Fed, ele respondeu: eldquo;Eles deveriam ouvir pessoas inteligentes como euerdquo;. MAIS INFLUÊNCIA. Na reunião desta semana, Trump passa a ter mais influência sobre a autoridade monetária americana. O Senado dos EUA aprovou na segunda-feira o nome do seu indicado, o economista Stephen Miran, para um assento na diretoria do BC americano. É a primeira vez, desde a criação do Fed moderno na década de 1930, que um membro em exercício do Poder Executivo também servirá no banco central, segundo o The Wall Street Journal. Miran ocupa cargo como um dos principais conselheiros econômicos da Casa Branca. Com sua chegada, alguns operadores preveem chances de até três votos dissidentes a favor de um corte maior, de 0,5 ponto porcentual. Além de Miran, os diretores Christopher Waller e Michelle Bowman poderiam defender uma tesourada maior, repetindo o que fizeram na reunião de julho. O feito seria inédito na história do Fed. eldquo;Seria a primeira vez na história que três membros do conselho de governadores do Fed votariam contra a decisão da maioriaerdquo;, disse o diretor-gerente e economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Marcello Estevão, ao Estadão/Broadcast. Menos eldquo;dovisherdquo; (jargão usado pelo mercado para indicar uma política monetária menos restritiva), o Morgan Stanley projeta apenas Miran votando pelo corte de 50 pontos. eldquo;Não esperamos outros dissidenteserdquo;, diz o economista-chefe do banco para os EUA, Michael Gapen. Quem também teve a presença garantida, ao menos por ora, foi a diretora Lisa Cook. Um tribunal de apelação rejeitou o pedido de Trump para destituí-la do Fed na segunda-feira, um dia antes do início do encontro. A diretora se tornou alvo do republicano após ser acusada de fraude hipotecária. PREVISÕES. Independentemente do tamanho do corte, os analistas americanos devem olhar com atenção as projeções econômicas do Fed. O Bank of America espera que o BC dos EUA continue apontando a expectativa de um corte total de 0,5 ponto, neste ano, e outra redução de mesma proporção em 2026. Mas os riscos apontam para chances de um corte total de 0,75 ponto em 2025, diz. Queda de braço Reunião será a primeira com indicado por Trump para colegiado e há previsão de divergência Outro ponto de atenção do mercado é a entrevista coletiva que Powell costuma conceder após a decisão de juros. Para economistas, Powell deve manter tom parecido com o discurso no Simpósio de Jackson Hole, no mês passado, quando ele mudou o tom e reforçou o alerta para o aumento dos riscos no mercado de trabalho. O Fed divulga a decisão de política monetária nesta quarta, às 15h (horário de Brasília). Powell comentará os resultados da reunião em entrevista à imprensa, que ocorre 30 minutos depois. ebull;

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