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Relator vota contra ADIs que tentam reforma judicial do Renovabio no STF

O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF) defendeu a constitucionalidade dos trechos da Lei do Renovabio (13.576/2017) contestados pelo PRD e pelo PDT. O ministro afirmou que os partidos tentam estender ao STF debates próprios aos poderes Legislativo e Executivo. eldquo;Diante de políticas públicas em curso, é esperado que critique os méritos e até proponha correções de rumo, mas na arena própria, e não junto ao Supremo, cuja missão deve restringir-se ao controle de constitucionalidadeerdquo;, argumentou Nunes Marques. Veja a íntegra do voto (.pdf) O julgamento em plenário virtual das ADIs 7596 e 7617, de autoria do PRD e do PDT, respectivamente, teve início nesta sexta-feira (7/11) e vai até o dia 14/11. Ambas são relatadas por Nunes Marques. Os partidos argumentam que o programa fere o princípio da isonomia ao onerar apenas o elo da distribuição de combustíveis, que precisa cumprir com a meta de aquisição de CBIOs, e beneficia importadores e produtores de biocombustíveis. O relator não concorda com a tese do tratamento desigual, e argumenta que o ônus da política de descarbonização recai sobre os consumidores finais dos combustíveis fósseis, uma vez que o custo com a aquisição de Créditos de Descarbonização (CBIOs) é repassado ao consumidor, no valor do combustível comercializado. eldquo;Não procede a alegação de que os distribuidores de combustíveis fósseis foram os únicos a arcar com os ônus da política de descarbonização desenhada pelo RenovaBioerdquo;, afirma Nunes Marques. eldquo;Por óbvio, os desembolsos com a aquisição dos CBIOs são repassados ao consumidor final. A partir dessa insofismável premissa é possível afirmar que os ônus foram verdadeiramente endereçados aos usuários, pois serão eles a suportar o aumento do preço da gasolina associado ao encarecimento da distribuição do combustívelerdquo;, completa. Ele faz a ressalva de que a majoração dos preços em virtude das flutuações no mercado dos CBIOs deve estar submetida a constante calibragem. Nesta semana, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) arquivou um inquérito sobre possível infração à ordem econômica nas negociações de CBIOs em 2022. Ao questionarem o programa, os partidos afirmam que ele desrespeita o princípio do poluidor-pagador, ao transferir todo o ônus aos distribuidores, que são responsáveis por 0,39% da emissão total de Gases do Efeito Estufa (GEEs) no ciclo do poço à roda. Para o relator, o percentual de emissões do setor não guarda relação com o ônus do programa. eldquo;Ocorre que os CBIOs, por intermédio dos quais deverá ser comprovado o cumprimento das metas individuais de descarbonização, não equivalem às multas ou indenizações aplicadas aos poluidores do ar. Exatamente por isso as metas de descarbonização e os valores dos CBIOs não devem guardar proporção com o apontado percentual de 0,39%erdquo;. O relator defendeu, assim, a constitucionalidade da lei do Renovabio e sua importância no contexto de crise climática. eldquo;O debate sobre o RenovaBio precisa gravitar em torno das graves questões climáticas que têm deixado o mundo em alerta. Há que descolar a discussão de preocupações puramente mercadológicas, mormente porque não caracterizado, na espécie, qualquer indício de desrespeito aos núcleos dos direitos e garantias fundamentaiserdquo;. Novas penalidades são endossadas O relator também defendeu as novas penalidades previstas na Lei 15.082/2024 em relação ao descumprimento das metas do RenovaBio. O PRD aditou seu pedido inicial para incluir o tema na ADI. Para Nunes Marques, a medida é eldquo;salutar à concorrênciaerdquo;. eldquo;Os inadimplentes nos pagamentos para aquisição de CBIOs, em relação aos distribuidores de combustíveis fósseis que cumprem a política do RenovaBio, criam vantagens econômicas ilegais na formação de seus preços, prejudicando a concorrência justa no setorerdquo;. eldquo;Por outro lado, o art. 9º-C, caput, atribui a penalidade de revogação da autorização não a qualquer distribuidor inadimplente, mas àquele que reincidir na inadimplência. A medida é razoável e proporcional, porquanto não obsta, depois de regularizadas as metas inadimplidas, a obtenção de nova autorizaçãoerdquo;, avalia. Caráter político-partidário da ação O ministro ainda criticou o caráter político-partidário das ações. Na inicial, protocolada em abril do ano passado, o PDT afirmou que o Renovabio eldquo;Foi produto da interlocução direta de agentes econômicos do setor sucroalcooleiro com autoridades públicas, inclusive o então titular do Ministério de Minas e Energia (MME)erdquo;. Nunes Marques afirmou que a sigla não apresentou provas para subsidiar seu argumento. eldquo;Diante da ausência de elementos probatórios, e apenas por ilação, não se pode concluir que agentes públicos tenham atuado com abuso de poder ou desvio de finalidadeerdquo;. Seguindo a mesma lógica, o ministro sugeriu que a mesma acusação poderia ser direcionada ao partido. eldquo;Fosse assim, estaria também autorizada a conjectura de que o PDT, dissimulando preocupação com o meio ambiente, em verdade esgrime junto ao STF para defender os interesses dos distribuidores de combustíveis fósseiserdquo;.

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PCC tinha fórmulas 'profissionais' para adulterar combustíveis

A Polícia Civil do Piauí identificou que uma rede de postos ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ter utilizado fórmulas químicas elaboradas para expandir a adulteração de combustíveis na região Norte e Nordeste. A descoberta ocorreu durante a Operação Carbono Oculto 86, deflagrada nesta semana para desarticular o esquema de lavagem de dinheiro e fraude no setor. De acordo com o secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, a operação revelou pela primeira vez a ligação entre o braço financeiro do PCC e o setor de combustíveis no Norte e Nordeste do Brasil. Imagem encontrada no celular de um dos investigados mostra quatro receitas distintas de adulteração, com cálculos de custos e parâmetros técnicos que indicam o uso de engenharia química profissional. De acordo com a Polícia Civil, impressões iniciais da área técnica de qualidade da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que a adulteração tem características eldquo;profissionaiserdquo; e foi planejada para escapar dos testes de fiscalização. eldquo;O criminoso aufere vantagens econômicas irregularmente e prejudica o consumidor pela perda de conteúdo energético e descumprimento das especificações de qualidade. Um teste simples da proveta poderia desmascarar a fraudeerdquo;, diz as impressões iniciais da agência. O material inclui anotações sobre a mistura de derivados e tipos de etanol, elaboradas para simular a composição da gasolina automotiva. Em uma das fórmulas, a combinação alterava o equilíbrio entre gasolina e álcool, violando as especificações de qualidade. Outros cálculos indicam o uso de insumos de baixo custo e aditivos sem identificação, o que, segundo técnicos, demonstra tentativa de aproximar o produto da aparência de gasolina regular. Uma análise preliminar apontou que parte das misturas conseguiria enganar testes de campo e o exame da proveta, parecendo dentro dos parâmetros legais. O percentual de etanol anidro na gasolina tipo C, que é o combustível padrão comercializado no país, passou de 27,5% para 30% em agosto de 2025, segundo resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Misturas fora desses limites configuram adulteração e crime contra as relações de consumo. De acordo com os investigadores, o rascunho apreendido pode ser anterior a agosto deste ano. A Carbono Oculto 86 revelou que o grupo usava empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para movimentar recursos ilícitos e ocultar patrimônio. eldquo;O fato do crime organizado ter penetrado num ramo de atividade lícita, trazendo prejuízo para o consumidor e uma concorrência desleal, mostra que é necessário combater os crimes violentos das facções, mas tem que também desfinanciar as operaçõeserdquo;, afirmou o secretário Chico Lucas. A rede investigada, que operava dezenas de unidades no Piauí, Maranhão e Tocantins, teria ligação direta com os mesmos operadores financeiros e fundos expostos na Operação Carbono Oculto, deflagrada em São Paulo, que apurou um esquema nacional que movimentou R$ 52 bilhões. Para Lucas, o compartilhamento de informações entre os estados poderia ser mais célere. eldquo;Hoje há várias questões legais que precisam ser superadas. Então, o que se discute é que alguns tipos de informações poderiam transitar entre diversos órgãos de segurança e do Ministério Público com menos engessamento para permitir mais agilidade na investigaçãoerdquo;, disse. O inquérito sobre o esquema envolvendo postos e distribuidoras nos estados do Norte e Nordeste foi instaurado após a venda da Rede de Postos HD para a Pima Energia e Participações, empresa aberta apenas seis dias antes da aquisição, o que reforçou a suspeita de que o negócio serviu para mascarar a origem dos recursos. O valor da transação não foi informado. (Estadão Conteúdo)

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Lula defende lucro de petróleo para transição energética e uso do etanol como matriz limpa

Depois de apoiar o início das pesquisas de exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta sexta-feira, 7, direcionar parte dos lucros do setor de petróleo para a transição energética. Mencionou, inclusive, a criação de um fundo para isso. Em discurso na abertura do 2º dia da Cúpula de Líderes, em Belém, Lula falou sobre a importância de ampliar as fontes renováveis e citou o etanol como exemplo. eldquo;Direcionar parte dos lucros com exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimentoeldquo;, disse o presidente, em evento que antecede a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-30) em Belém. erdquo;O Brasil estabelecerá um Fundo dessa natureza para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática." O governo vem adotando o discurso de que o dinheiro do petróleo é chave para a transição energética endash; o que é criticado por organizações civis. No discurso, Lula fez uma ponderação de que esse processo precisa ser gradual. eldquo;Já sabemos que não é preciso desligar as máquinas ou motores, nem fechar fábricas ao redor do mundo de um dia para o outro. A ciência e a tecnologia nos permite evoluir de forma segura para um modelo centrado nas energias limpas. Essa transformação já está em cursoerdquo;, afirmou. Ainda que defenda a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, o presidente criticou os fatos de os 65 maiores bancos do mundo terem concedido US$ 869 bilhões para o setor de óleo e gás e mencionou que, desde o Acordo de Paris, a participação de combustíveis fósseis como fonte energética em todo o mundo diminuiu apenas de 83% para 80%. eldquo;Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade.erdquo; Ambientalistas criticam a licença para a exploração de petróleo na Margem Equatorial diante dos riscos de vazamento no oceano e da liberação de mais gases de efeito estufa na atmosfera. O governo afirma que há segurança técnica na atividade, apontada como importante para o combate às desigualdades na região. Lula também defendeu o uso do etanol como fonte de energia eldquo;limpaerdquo;. eldquo;Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição. Nosso diesel, conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção dos setores mais desafiadores, como indústria e transporte. É lamentável que pressões e ameaças tenham levado a adiar esse passo.erdquo; O Brasil é uma das grandes potências globais na produção de biocombustíveis, vistos com ressalvas sobretudo na Europa. O governo Lula reforçará, durante a COP-30, que é preciso aumentar a produção de etanol para garantir a redução das emissões endash; uma pauta defendida pelo agronegócio brasileiro. No continente europeu, porém, a leitura é de que a produção de matéria-prima para combustível ocupa o espaço em terras que poderiam cultivar alimentos. Lula defendeu ainda que o processo rumo ao fim do uso de combustíveis fósseis demanda financiamento e citou que a troca de dívidas dos países em desenvolvimento pode ser um mecanismo, de forma a liberar recursos para a transição verde. eldquo;Um processo justo, ordenado, equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda acesso de tecnologia de financiamento para os países do Sul Global. Há espaço para explorar mecanismos inovadores, de troca de dívida por financiamento de iniciativa de mitigação climática e transição energéticaerdquo;, disse. O presidente disse ainda ser preciso triplicar a energia renovável no mundo e de dobrar a eficiência energética até 2030. Destacou que é necessário eliminar a pobreza energética e criar metas de acesso universal à eletricidade nos planos climáticos nacionais. Ele citou que 660 milhões de pessoas dependem de lamparinas ou geradores a diesel na América Latina, na África e na Ásia.

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Petróleo fecha em alta e atenua recuo semanal diante de receio por oferta

Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta nesta sexta-feira (7), mas acumularam perdas na semana, pressionados por sinais de excesso de oferta e pela decisão da Arábia Saudita de reduzir significativamente os preços de venda. A recuperação limitada na sessão de hoje ainda ocorreu em meio ao aumento dos estoques nos EUA e a perspectivas de um mercado em situação de excedente no abastecimento. O petróleo WTI para dezembro, negociado na Nymex (New York Mercantile Exchange), fechou em alta de 0,54% (US$ 0,32), a US$ 59,75 o barril. Já o Brent para janeiro, negociado na ICE (Intercontinental Exchange de Londres), avançou 0,4% (US$ 0,35), a US$ 63,63 o barril. Na semana, WTI e Brent recuaram 2,02% e 1,76%, respectivamente. A estatal Saudi Aramco cortou em até US$ 1,40 por barril os preços oficiais de venda para clientes asiáticos e em US$ 0,50 para os EUA, mantendo-os estáveis na Europa. A medida, segundo analistas, reflete a tentativa de preservar participação de mercado em meio à fraqueza da demanda. Para Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote, o corte "sinaliza preocupação com a demanda e com o ritmo da atividade global". De acordo com a consultoria Ritterbusch and Associates, a valorização do diesel após novos ataques a refinarias russas tem dado algum suporte aos preços, enquanto o dólar mais fraco ajuda a conter perdas. Ainda assim, o aumento de mais de 5 milhões de barris nos estoques de petróleo bruto dos EUA, segundo o Departamento de Energia, limitou a recuperação. Amena Bakr, da consultoria Kpler, ponderou que o mercado enfrenta excesso de oferta, mas que o termo "superávit" é exagerado. "Os volumes são altos, mas não se comparam ao glut da pandemia", afirmou. A Oxford Economics lembra que a Opep+ deve interromper os aumentos de produção no primeiro trimestre de 2026. "O grupo tem se mostrado mais preocupado com o excesso de oferta, em linha com nossas expectativas de que o mercado de petróleo caminhe para um superávit nos próximos meses", disse ao projetar o Brent a uma média de US$ 63,60 em 2026. *Com informações da Dow Jones Newswires (Estadão Conteúdo)

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Por que a América Latina não consegue abrir mão do petróleo

Às vésperas da COP30, Lula se apresentou como líder ambiental, destacando a queda no desmatamento da Amazônia desde que assumiu a presidência. Por isso, ambientalistas ficaram consternados quando, semanas antes da reunião em Belém, o governo aprovou o pedido da Petrobras para explorar petróleo na foz do Amazonas. "Enquanto o mundo precisar, o Brasil não vai jogar fora riqueza que poderia melhorar a vida do povo brasileiro", disse Lula após a decisão. À medida que o mundo passa pela transição energética, a noção de que essa mudança deve beneficiar a todos ganhou força. Embora a expressão seja popular, as interpretações são muito diferentes. Quase todos os países aceitam que a produção de petróleo e gás eventualmente precisa parar, mas muitas nações em desenvolvimento não querem liderar o caminho, particularmente enquanto o maior produtor de petróleo do mundo emdash;os Estados Unidosemdash; é uma economia rica que não faz nenhum esforço para reduzir. Nações como o Brasil enfrentam um dilema, diz Alfonso Blanco, do think-thank Inter-American Dialogue. "Se eu me comprometo a parar de produzir [petróleo e gás] voluntariamente, perco a chance de monetizar minhas reservas enquanto outros continuam". Lula subscreve essa visão. Para ele, uma "transição energética justa" envolve maximizar a produção de petróleo e gás e compartilhar parte dos lucros com os pobres. Mas, embora esse conceito tenha amplo apoio político, tanto dentro quanto fora do país, essa não é a única visão. Na Colômbia, Gustavo Petro defende o oposto. Desde que assumiu, em 2022, suspendeu novos contratos de exploração, aumentou impostos sobre combustíveis fósseis e tenta criar uma economia baseada em turismo e agricultura sustentável. "Estamos dispostos a viver sem carvão e petróleo", afirmou em seu discurso de posse. "Protegerei nosso solo e subsolo, nossos mares e rios, nosso ar e céu. A Colômbia será uma potência mundial da vida." No entanto, nos três anos desde que Petro assumiu o cargo, o entusiasmo pela rápida transição energética em algumas partes do mundo em desenvolvimento parece estar diminuindo. As economias emergentes tornaram-se resistentes à eliminação gradual dos combustíveis fósseis além do carvão. Com a China sendo de longe o maior emissor de carbono do mundo, e com o declínio de emissões na Europa e nos EUA, as ações das nações em desenvolvimento determinarão em grande parte o ritmo das mudanças climáticas nas próximas décadas. Alguns dizem que, no modelo defendido pelo Brasil, há falta de incentivos para cumprir as propostas de descarbonização. "O argumento de financiar a mudança com o petróleo não tem base concreta. O Brasil não possui um fundo nacional de clima vinculado às receitas do petróleo. Em vez de fortalecer a transição, esse modelo aumenta a dependência de combustíveis fósseis ", diz Juliano Bueno de Araújo, do Instituto Arayara. No cenário atual, o Brasil está avançando com planos para bombear mais petróleo. O governo Lula quer que o Brasil se torne o quarto maior produtor de petróleo bruto do mundo até 2030, à frente do Iraque e dos Emirados Árabes Unidos. Ambientalistas e defensores dos direitos indígenas estão horrorizados. "Lula acaba de enterrar sua pretensão de ser um líder climático no fundo do oceano", diz Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, referindo-se à decisão de permitir a perfuração na foz do Amazonas. O Greenpeace e outras sete ONGs acionaram a Justiça para barrar o projeto. "Este projeto é predatório, ignora a voz dos povos indígenas, os verdadeiros guardiões da floresta, e expõe as contradições do governo em investir em combustíveis fósseis, a principal causa da crise climática, poucos dias antes da COP30", diz Kleber Karipuna, coordenador da aliança dos Povos Indígenas do Brasil. O governo, porém, alega que a exportação do petróleo financiará programas sociais e investimentos verdes. "A transição precisa ser justa, e para isso tem que haver dinheiro na mesa", defende o ministro Alexandre Silveira, que considera o Brasil "líder da transição energética global". No mundo em desenvolvimento, o ponto de vista de Silveira encontra muitos apoiadores. A prioridade para o maior produtor de petróleo da África, a Nigéria, é monetizar o petróleo e o gás, enquanto a Arábia Saudita planeja descarbonizar o consumo de energia internamente, mas está investindo para manter a posição de segundo maior produtor de petróleo. Na América Latina, a Argentina está acelerando a produção nos gigantescos campos de xisto de Vaca Muerta, na Patagônia. A empresa estatal de petróleo do México, Pemex, planeja reabrir poços antigos para produzir mais. Na Venezuela, que possui as maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo, a expansão da produção de petróleo é um dos poucos objetivos compartilhados pelo ditador Nicolás Maduro e a líder da oposição María Corina Machado. Em contraste, Chile e Uruguai estão liderando em energia renovável, mas ambos são economias relativamente pequenas. O Suriname, pequena nação que costumava se promover como um emissor líquido negativo de carbono, planeja começar a produzir petróleo offshore pela primeira vez em 2028. A vizinha Guiana, que tem 85% do território coberto por florestas, está expandindo a produção de petróleo agressivamente. Nenhum produtor de petróleo da América Latina está buscando zerar emissões tão fervorosamente quanto a Colômbia. No entanto, Petro enfrenta o custo político e econômico de sua guinada verde. O setor de petróleo e mineração responde por 44% das exportações e até 15% da receita pública. A retração dos investimentos levou à saída de gigantes como Shell, ExxonMobil e Chevron do país. Com a queda da produção própria de gás, o país agora depende de importações. Mauricio Cárdenas, pesquisador da Universidade Columbia e candidato conservador nas eleições colombianas do próximo ano, diz que isso não faz sentido porque o gás importado é mais caro e gera mais emissões de carbono. "A única coisa que nós colombianos conseguimos com isso é pagar mais e poluir mais por causa de uma política energética ruim." As políticas anti-combustíveis fósseis de Petro, juntamente com uma hostilidade mais ampla ao setor privado, também afetaram o crescimento econômico da Colômbia. A economia estagnou: o PIB cresceu apenas 0,7% em 2023 e 1,6% em 2024, segundo o FMI. O Brasil cresceu mais rapidamente sob Lula do que a Colômbia sob Petro. O governo de Petro não tem planos de mudar o rumo. "Devemos parar de depender de uma economia rentista baseada em commodities e avançar para uma economia produtiva centrada na agricultura e no turismo", disse Edwin Palma, ministro de Energia e Mineração da Colômbia, ao FT. Palma diz que o país tenta diversificar a matriz energética, dominada por hidrelétricas e termelétricas a gás e carvão, mas projetos solares e eólicos avançam com entraves. A associação setorial estima que fontes limpas responderão por 14% da eletricidade até o fim do ano, ante 2,5% dois anos atrás. Enquanto isso, Lula reforça a imagem de um Brasil "verde", referência mundial em etanol e com matriz 90% renovável. O país aposta na sustentabilidade como vantagem competitiva. "O Brasil é um laboratório de soluções de baixo carbono em setores altamente poluentes. Isso não é fácil e, obviamente, há compensações. Mas eu realmente acredito que tanto as empresas quanto o governo estão tentando fazer [as coisas] da maneira mais responsável", diz Luisa Palacios, da Universidade Columbia. Quase metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil vem do desmatamento, seguido pela agricultura e pecuária com 28%, de acordo com dados compilados pelo Observatório do Clima. A queima de combustíveis fósseis representa muito menos. Mas isso pode mudar. Nas últimas duas décadas, o Brasil emergiu como uma força global no petróleo graças ao pré-sal. Com a produção desses campos prevista para atingir o pico até o final da década, a indústria petrolífera acredita que a próxima grande descoberta do Brasil está na Margem Equatorial. O governo estima que possa conter 10 bilhões de barris recuperáveis. Esse impulso por novas reservas está por trás da controversa decisão do Ibama que concedeu à Petrobras a licença de perfuração exploratória na foz do Amazonas. Na Colômbia, a guerra de Petro contra os combustíveis fósseis pode estar perdendo força. Candidatos de esquerda e direita prometem reverter a política energética do atual presidente nas eleições de 2026. "É realmente notável o quanto Petro gerou um efeito contrário, porque costumava haver um consenso muito mais orientado para o meio ambiente na elite colombiana", diz Francisco Monaldi, da Universidade Rice. Segundo ele, agora o consenso é de que é preciso aumentar a produção para sustentar o desenvolvimento social. (por Financial Times)

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BYD quer 'virar a página' e estuda abrir fábrica de Camaçari (BA) para visitas

Para se afastar das polêmicas e reforçar sua presença nacional, a BYD estuda uma nova estratégia: abrir as portas da sua recém-inaugurada fábrica em Camaçari (BA) para visitas guiadas. A informação, apurada pelo Jornal do Carro, indica que a montadora avalia receber clientes e interessados para eldquo;virar a páginaerdquo; de controvérsias recentes. Interlocutor da marca aponta que a estratégia é reforçar que agora a companhia monta carros localmente - por enquanto, a partir de kits importados da China. Visitas ajudariam a elsquo;limpar a imagemersquo;: as polêmicas da BYD em Camaçari O movimento também teria potencial para colocar panos quentes em algumas polêmicas envolvendo a fábrica nacional da empresa. A BYD fez dois eventos para inaugurar a unidade, um em julho e outro em outubro de 2025. Ainda assim, os carros que saem da linha de montagem baiana têm baixíssimo conteúdo nacional. Entre protestos da concorrência, a companhia costurou um acordo com o Governo Federal para importar kits SKD e CKD da China e montar na unidade com isenção fiscal. A alíquota, que normalmente vai de 18% a 20%, ficará zerada por seis meses para todo o mercado, favorecendo a chegada da BYD. Outra polêmica que a companhia quer deixar para trás com esse movimento é o flagra de trabalho análogo à escravidão durante as obras da unidade, no fim de 2024. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encontrou pessoas em situação degradante, submetidas a jornadas exaustivas, na construção da unidade. Eram profissionais chineses, contratados por empresas terceirizadas, porém atuando dentro dos portões da BYD no Brasil. Como visitar fábricas de carros no Brasil hoje? Fábricas abertas ao público são relativamente comuns em países da Europa. Na região, as montadoras costumam ter centros de experiência dentro de suas estruturas fabris, de onde partem tour nas plantas e fazem entregas técnicas dos carros aos clientes. No Brasil, poucas empresas oferecem experiências equivalentes. Sem tanto alarde, a Volkswagen abre as portas ao público da histórica fábrica da Anchieta, no ABC paulista, nas terças e quintas-feiras. Na mesma região, porém no segmento de caminhões, a Scania faz o mesmo. Entre as marcas premium, a BMW oferece visitas na fábrica de Araquari (SC), que acabaram por entrar para a programação turística da região. Caso se junte a esse grupo, a BYD pretende virar a página de algumas polêmicas e passar a mensagem de que não tem nada a esconder.

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