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Gestão da Petrobras acelera entregas às vésperas do novo plano de negócios

A gestão de Magda Chambriard à frente da Petrobras está acelerando as entregas de projetos, principal promessa da executiva ao assumir o comando da estatal em maio. A corrida tem como foco projetos de petróleo e gás e ocorre em meio à finalização do novo plano de negócios da empresa, que carrega dúvidas, sobretudo, a respeito dos próximos projetos para a ampliação da participação na área de renováveis. Outras grandes incertezas são o início da produção em águas profundas em Sergipe e o avanço da exploração na Margem Equatorial. Na sexta-feira (25/10), o conselho da administração da companhia aprovou a continuidade da implantação da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), em Três Lagoas (MS). A UFN-III foi incluída na carteira em implantação no plano de investimentos aprovado ano passado. À época, o projeto foi mantido na lista em avaliação, sem a decisão final de execução. A previsão de início da operação é 2028, somando R$ 3,5 bilhões em investimentos. O retorno da estatal ao segmento de produção de fertilizantes é uma das expectativas do terceiro governo Lula. Na semana passada, a estatal também recebeu no Brasil o FPSO Almirante Tamandaré, que será a sétima plataforma do campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. A previsão é de entrada em operação até a primeira quinzena de janeiro de 2025. Com capacidade para produzir até 225 mil barris/dia de petróleo e 12 milhões de m³/dia de gás natural, será uma das maiores plataformas do país. Recentemente, a companhia iniciou também a operação do FPSO Maria Quitéria, no campo de Jubarte. Outra entrega esperada pelo governo ocorreu em setembro: a inauguração do Complexo de Energias Boaventura, antigo Comperj, em Itaboraí (RJ). O avanço nos projetos acontece às vésperas do anúncio do plano de negócios 2025-2029 da companhia, previsto para ser anunciado ao mercado no dia 21 de novembro. A data ainda pode sofrer alterações. Será o primeiro planejamento elaborado pela gestão Chambriard. Em entrevista este mês, a presidente da estatal afirmou que o plano ainda está em elaboração. Segundo a CEO, o planejamento vai incluir eldquo;moléculas e elétronserdquo;: a empresa vai buscar ampliar participação em fontes renováveis, mas com uma maior atenção para o mercado de combustíveis.

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Agências reguladoras independentes?

Agências reguladoras deveriam ser independentes do governo. Isso não é opinião. É simplesmente bom senso apoiado pelas melhores teorias de ciências econômicas. Contudo, sabemos que a realidade não permite o que os economistas chamam de política ótima. O mundo é recheado de políticas de segunda, terceira ou milésima categoria, dadas as restrições políticas. Agências reguladoras só podem ser independentes se houver processo claro de indicação de gestores, contratos transparentes entre governo, agências e empresas reguladas e arcabouço jurídico robusto para resolver conflitos entre partes interessadas. Uma condição que limita a eficiência das agências é ficar recebendo pressão do presidente da República. Com o apagão em São Paulo, voltou ao debate o papel das agências reguladoras. Elas foram criadas nos EUA no século 19, mas se desenvolveram ao longo do século 20 para lidar com monopólios naturais e falhas de mercado. Só no Brasil alguém acredita que economistas acham que livres mercados trazem o suprassumo da felicidade. Poluição, universalização, medicamentos, transplantes e várias outras características requerem que o Estado regule investimentos e alocação de recursos por mercados privados. Agências reguladoras independentes são políticas de Estado, não de governo. Ou seja, é seu papel fundamental tomar ações que desagradam ao Executivo, desde que para melhorar a eficiência dos serviços e investimentos. Criar um órgão regulador das agências nada mais é que tentativa do Executivo de acabar com a independência capenga das agências atuais. O problema é que estamos muito aquém do ótimo social. O arcabouço jurídico é falho e nenhum governo aceita ter pouca ingerência sobre elas. Lula sempre foi contra o modelo de agências independentes. Pouco depois de assumir a Presidência pela primeira vez, em 2003, foi aos jornais reclamar que "as agências mandam no país". Na época, Lula afirmou que "tudo isso [as decisões tomadas pelas agências sem interferência do governo] vai ser mudado, mas que é preciso tempo para mudar". E foi o que os governos petistas fizeram. Retiraram quando puderam autonomia das agências, o que em si não é o maior problema. Mas deixaram falhos marcos regulatórios importantes. A lei geral das agências reguladoras foi aprovada somente em 2019 (lei nº 13.848/2019). Perdemos mais de 15 anos porque sucessivos governos escolheram tentar manter poder sobre tarifas e regras em vez de sedimentar uma fundamental reforma de Estado. O resultado? Parece que estamos no dia da marmota. Lula, mais de 20 anos depois, volta a reclamar de qualquer autonomia que limite o poder do governo, que é imenso. Mas pelo menos Lula é consistente: mesmo quando não estava no poder, continuava a reclamar dessa independência. O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi dado a pesquisadores que mostram que instituições robustas geram desenvolvimento de longo prazo. Talvez o pior erro dos governos petistas tenha sido tratar agências reguladoras como adversárias, não estrutura do Estado a ser aprimorada. FHC não implementou o modelo ideal. Começou uma reforma que sucessivos governos deveriam aprimorar. Mas não fizeram, e a lei geral das agências não é ideal. Políticas ótimas são difíceis, mas também não precisávamos escolher a incerteza atual. Não precisa pesquisa de Prêmio Nobel para entender isso.

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Aneel anuncia bandeira amarela em novembro e conta de luz terá alívio

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou ontem que as tarifas de energia elétrica terão bandeira amarela no mês de novembro. O órgão regulador citou a melhoria das condições climáticas, com o aumento do volume do reservatórios das hidrelétricas em razão das chuvas, o que deve levar a uma redução da necessidade de acionamento das termoelétricas, que produzem energia mais cara. Em nota divulga pouco depois do anúncio da Aneel, o Ministério de Minas e Energia (MME) declarou que as medidas de planejamento da pasta para os reservatórios do país dispensaram a volta do horário de verão em 2024 e também possibilitaram o relaxamento da bandeira tarifária. A pasta comandada por Alexandre Silveira citou medidas preventivas adotadas, como a preservação de recursos na bacia do Rio Paraná endash; em abril, as usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera tiveram diminuídas as suas vazões. CONTA MENOR. A mudança na bandeira tarifária, depois de dois meses de bandeira vermelha, significará um alívio na conta de luz de novembro em relação a este mês, em que está valendo a bandeira vermelha 2 endash; nessa bandeira o custo adicional cobrado na conta de luz é de R$ 7,87 para a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumido. Para o próximo mês, sob bandeira amarela, esse acréscimo na conta de luz cairá para R$ 1,885. A bandeira amarela tinha sido acionada pela última vez em julho deste ano. A medida vale para todos os consumidores de energia conectados ao Sistema Interligado Nacional. Haverá reflexo também na inflação. De acordo com a Warren Investimentos, a mudança na bandeira tarifária de energia deve aliviar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro em 0,29 ponto porcentual, na comparação com outubro. Os fatores que levaram ao acionamento da bandeira vermelha patamar 2 em outubro foram o risco hidrológico (GSF) decorrente do prolongado período seco e o aumento do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) endash; valor calculado para a energia a ser produzida em determinado período. Foi um relaxamento nesses dois indicadores que, segundo a Aneel, possibilitou agora o acionamento da bandeira amarela. O Estadão/Broadcast havia mostrado que as chuvas registradas nos últimos dias em bacias hidrográficas relevantes e a perspectiva de significativo volume de precipitações nos primeiros 20 dias seriam foram os fatores centrais para a decisão da Aneel, na avaliação do especialista. TERMOELÉTRICAS. Apesar dessa melhora, a Aneel avalia que as previsões para as chuvas e das vazões dos reservatórios nos próximos meses ainda permanecem abaixo da média. Isso indica, segundo o órgão regulado, a necessidade de manutenção da geração termoelétrica complementar para atender os consumidores. Ou seja, o uso de uma fonte mais cara. Boa parte do mercado apontava para a perspectiva de retorno da bandeira vermelha patamar 1 em novembro. O que acabou não acontecendo. A bandeira tarifária ficou verde de abril de 2022 até julho deste ano, quando foi acionada a bandeira amarela. Em agosto, voltou a bandeira verde, que passou a vermelha patamar 1 em setembro e, depois, para vermelha patamar 2 neste mês de outubro. De acordo com dados da Aneel, o sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015, vai atingir em novembro a marca de 61 acionamentos nas classificações amarela, vermelha 1, vermelha 2 ou, as de maior impacto, que sinalizam eldquo;escassez hídricaerdquo;. O sistema visa atenuar os impactos nos orçamentos das distribuidoras de energia. Antes, o custo da energia em momentos de mais dificuldades era repassado às tarifas apenas no reajuste anual de cada empresa, com incidência de juros. No modelo atual, os recursos são cobrados e transferidos às distribuidoras mensalmente por meio da eldquo;conta Bandeiraserdquo;.

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Planalto busca acerto para 18 indicações às agências regulatórias antes de eleição no Congresso

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca acertos com o Congresso Nacional para definir os nomes que vão preencher 18 vagas em agências reguladoras que estão abertas ou ficarão livres até fevereiro, mês das eleições aos comandos da Câmara e do Senado. O debate sobre os cargos ocorre no momento em que o governo faz críticas públicas à atuação das agências e avalia formas de aumentar o controle sobre os órgãos de regulação, o que tem sido visto como tentativa de intervenção do Executivo. Lula e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), devem discutir as indicações nos próximos dias com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o favorito para a sucessão para o comando da Casa. O Senado costuma ter forte influência na indicação de diretores das agências. Isso porque os candidatos são sabatinados em comissões temáticas da Casa, depois aprovados ou não no plenário. Nos bastidores, aponta-se que Alcolumbre gostaria que o Senado detivesse o controle de 50% das indicações para as agências regulatórias. Na prática, significa que ele próprio teria grande influência. Durante a gestão passada, Jair Bolsonaro (PL) abriu a possibilidade para que senadores atuassem em indicações, sobretudo nas agências regulatórias das áreas de infraestrutura. O presidente do Senado no início daquele governo era justamente Alcolumbre, que agora vem travando uma batalha com o governo Lula, que busca retomar o controle sobre as indicações. O senador pelo Amapá sempre negou que mantivesse acordo com Bolsonaro pela metade das indicações e que queira manter o patamar no governo Lula. Dos 18 cargos, cinco são para os comandos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). Um dos alvos prioritários do governo é a vaga já aberta de diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem criticado o órgão regulador por causa dos repetidos episódios de falta de luz em São Paulo. Silveira já enviou para o Palácio do Planalto a indicação do quinto membro da Aneel. Segundo interlocutores no governo, ele defende para o cargo o nome do seu secretário nacional de Energia Elétrica, Gentil Nogueira de Sá. O nome, no entanto, teria desagradado a Alcolumbre e também ao senador Marcos Rogério (PL-RO), que participou das articulações para a agência no governo Bolsonaro. Os dois costumavam ser aliados de Silveira, quando o mineiro tinha mandato no Senado. Em outra disputa com a Casa, o governo Lula bateu o martelo na indicação do secretário de Petróleo e Gás do MME (Ministério de Minas e Energia), Pietro Mendes, para comandar a ANP, como a Folha revelou. A indicação do nome é vista como um sinal da força de Alexandre Silveira dentro do governo, mas mais uma vez entra em confronto com os antigos aliados no Senado. Há uma segunda vaga na disputa, mas nesse caso integrantes do governo afirmam que há consenso para abraçar a indicação do senador Otto Alencar (PSD-BA), o procurador da AGU (Advocacia-Geral da União), Artur Watt Neto. A Anvisa e a ANM (Agência Nacional de Mineração) são as agências em que o governo terá mais indicações até fevereiro. Cada uma terá três vagas abertas. Lula externou descontentamento com as agências durante reunião de articulação política neste mês. O presidente tem argumentado que as agências estão aparelhadas por bolsonaristas ou muito influenciadas por empresários do setor. O chefe do Executivo determinou que fosse estudada uma revisão da Lei Geral das Agências, coordenada pela AGU. Uma das ideias é elaborar proposta sobre uma avaliação de desempenho que poderia, no limite, gerar a demissão dos dirigentes. O movimento é avaliado com preocupação pelos atuais dirigentes dos órgãos de regulação e visto como uma forma de pressão. Ainda há a interpretação nas agências de que dificilmente as sugestões seriam aprovadas pelo Congresso. O governo também avalia a proposta de criação de um órgão supervisor que pudesse avaliar o desempenho dos diretores. A ideia da gestão petista não envolveria encurtar os mandatos, que hoje são de cinco anos. Os cargos em agências são cobiçados pelo Congresso e entram nas negociações do governo para ampliar o apoio na Câmara e no Senado. Alcolumbre tem defendido que os nomes sejam apresentados já com apoio prévio do Legislativo. A ideia do senador é manter a influência sobre as escolhas. É comum que o Planalto, sob diferentes governos, alinhe os nomes antes da indicação formal, justamente para evitar que um candidato sofra resistência no Congresso e demore a ser aprovado. As vagas geram interesse de parlamentares pelo impacto da atuação das agências em praticamente todos os setores econômicos. A ANTT, por exemplo, que terá duas vagas abertas em fevereiro, enfrenta durante o governo Lula o desafio de renegociar contratos de concessão de rodovias federais, que não trouxeram as melhorias previstas para os usuários. Já a ANS é alvo constante de reclamações de consumidores e pressão de empresas por regular preços de planos de saúde. A agência terá novo presidente a partir de dezembro. Um dos nomes especulados ao cargo é Wadih Damous (PT), atual secretário nacional do consumidor no Ministério da Justiça. Outro órgão que terá novo chefe, a Anvisa tem sido alvo de críticas do governo. Em agosto, o presidente Lula disse que a agência se tornaria mais rápida na liberação de medicamentos "quando algum companheiro da Anvisa" percebesse que um parente morreu pela falta de remédio que já poderia ter sido aprovado. A declaração foi criticada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e por servidores do órgão. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, tentou amenizar as críticas de Lula, mas afirmou que há uma reclamação da indústria sobre o ritmo de trabalho da agência. Ela também disse que a autonomia "técnica" das agências "não pode ser a definição de uma política por uma agência". Integrantes da equipe de Nísia defendem, nos debates no Planalto, indicar Leandro Safatle para o comando da agência, atual secretário adjunto no Ministério da Saúde. No meio das discussões sobre novos diretores, as agências ainda têm apresentado uma reclamação praticamente comum ao governo: falta de servidores e cortes de orçamento. A Anvisa, por exemplo, estimava no começo do ano que 600 dos cerca de 1.600 servidores tinham direito à aposentadoria. O governo ainda terá duas indicações na ANA (Agência Nacional de Águas). Lula ainda poderá indicar um nome para a Ancine (Agência Nacional do Cinema), Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Governo terá 18 indicações às agências até fevereiro Anvisa: 3 cargos, sendo uma indicação a presidente ANM: 3 vagas ANTT: 2 vagas, uma para diretor-presidente ANP: 2 vagas, uma para o comando ANA: 2 vagas ANS: 1 vaga, para diretor-presidente Antaq: 1 vaga, para diretor-presidente Aneel: 1 vaga Ancine: 1 vaga Anatel: 1 vaga Anac: 1 vaga

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Stellantis vai oferecer carro 100% a etanol a empresas e governos

O grupo Stellantis confirmou nesta sexta (25) que seus dois primeiros carros com motorização híbrida flex serão os SUVs compactos Pulse e Fastback, da Fiat. Mas essa não é a única novidade da estratégia de descarbonização da empresa. A coluna apurou que a montadora já homologou três carros com motorização 100% a etanol no Brasil. São veículos também da marca Fiat e que estão prontos para o lançamento. Primeiramente, serão oferecidos a empresas que lidam com grandes frotas. A ideia é convencer as companhias de que essa será a garantia de que seus veículos irão rodar apenas com o combustível de origem renovável, reduzindo a pegada de carbono de suas operações. Executivos do grupo Stellantis explicam que é difícil ter o controle sobre o abastecimento dos carros flex. Os motoristas acabam abastecendo com gasolina, para ter maior autonomia. Mas o uso do combustível de origem fóssil anula os benefícios desses veículos, e as empresas não atingem suas metas ambientais. A montadora também vai oferecer seus carros a etanol aos órgãos governamentais de diferentes esferas. Como o biocombustível está no centro do programa Mover (Mobilidade Verde e Sustentabilidade), a adoção por parte da administração pública seria um motivador para outros setores. Após essa fase emdash;e a depender da receptividade dos produtosemdash;, os automóveis podem chegar à rede concessionária. O objetivo é iniciar a comercialização em 2025. Já os híbridos flex chegam antes, com início das vendas previsto para novembro. A motorização dedicada ao etanol tende a apresentar rendimento melhor em comparação aos carros flex. A autonomia deverá ser próxima à obtida com o uso do combustível de origem fóssil, mas a um preço menor por litro e com redução das emissões de poluentes. O grupo Stellantis também será beneficiado com o lançamento dos novos carros 100% a etanol, que entrarão na conta global de descarbonização da empresa. A expectativa da montadora é que os modelos cheguem ao mercado junto com o novo modelo de cobrança do imposto sobre Produtos Industrializados, chamado IPI Verde. A discussão está emperrada desde o início do ano. A proposta inicial previa que carros movidos a etanol teriam tributação menor ou equivalente aos automóveis 100% elétricos. (Coluna por Eduardo Sodré)

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Ações de empresas de hidrogênio verde nos EUA e na Europa desabam com demanda baixa

Os valores das ações de empresas de hidrogênio limpo nos EUA e na Europa desabaram em meio ao adiamento de projetos do setor, à medida que a indústria enfrenta uma demanda menor do que a esperada, incertezas regulatórias e crescente ceticismo dos investidores. Os papéis das empresas Plug Power, Ballard Power Systems e Green Hydrogen Systems caíram mais de 50% este ano, atingindo seus valores mais baixos na história, ao mesmo tempo que relataram perdas trimestrais repetidas. As ações da Nel, Bloom Energy e ITM Power caíram um terço. O Seamp;P Kensho Global Hydrogen Economy Index, que acompanha empresas da cadeia de hidrogênio de baixo carbono, voltou a níveis semelhantes aos de meados de 2020, zerando os ganhos obtidos no final de 2020 e início de 2021, quando houve o auge do entusiasmo pelo desenvolvimento da energia verde. O hidrogênio verde é visto como crucial para a descarbonização de indústrias superconsumidoras de energia, como as de aço e de transporte marítimo. O combustível pode ser produzido por meio de fontes renováveis para criar "hidrogênio verde" ou usando gás para gerar "hidrogênio azul", onde as emissões de carbono resultantes são capturadas e armazenadas. No mês passado, a consultoria McKinsey reduziu em 70% sua previsão de hidrogênio verde para 2030 nos EUA, prevendo que o país não atingiria sua meta de produção de 10 milhões de toneladas de hidrogênio limpo estabelecida pelo governo Biden. Em julho, o Tribunal de Contas Europeu, órgão fiscalizador de gastos do bloco, alertou que a meta da UE de produzir 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030 era "irreal" e que era necessário uma checagem. "O hidrogênio verde ainda é um lixo em termos de investimento", afirmou Mark Lacey, chefe de ações temáticas da Schroders, acrescentando que o gestor de ativos do Reino Unido tinha "exposição limitada" ao hidrogênio verde em seus portfólios de energia. A queda do mercado de hidrogênio marca uma reviravolta em relação à euforia dos investidores há apenas dois anos, quando o presidente Joe Biden sancionou créditos fiscais lucrativos na Lei de Redução da Inflação, que transformou os EUA no destino mais atraente para a produção de hidrogênio. Ao mesmo tempo, a UE avançava com sua estratégia para o hidrogênio. Isso ocorria enquanto as ações de empresas de energia nuclear dispararam para máximos históricos devido à crescente demanda por energia da inteligência artificial. A incerteza sobre as regras de crédito fiscal dos EUA e as regulamentações rigorosas na UE emdash;combinadas com a demanda fracaemdash; prejudicaram projetos em ambos os lados do Atlântico. Embora a capacidade anunciada tenha crescido, apenas 18% dos projetos de hidrogênio limpo na América do Norte e 5% dos projetos na Europa com previsão de entrar em operação até 2030 chegaram a uma decisão final de investimento, de acordo com relatório da McKinsey e do Hydrogen Council. "Tem sido um caminho doloroso", disse Andy Marsh, CEO da Plug Power, fabricante de equipamentos de hidrogênio. A empresa confirmou que suspendeu o desenvolvimento de seu projeto de US$ 290 milhões (R$ 1,65 bilhão) em Nova York, que seria o maior da América do Norte, e está enfrentando uma crise de caixa. "Tínhamos expectativas irreais sobre a rapidez com que isso poderia avançar inicialmente", lamentou Marsh. A decisão da Plug Power é um dos vários contratempos deste ano para o combustível nascente. No mês passado, a desenvolvedora americana Hy Stor encerrou seu contrato de 1 GW com a fabricante norueguesa Nel para um projeto de hidrogênio de alto perfil no Mississippi (EUA). Desenvolvedores corporativos, incluindo Marathon Petroleum, Fortescue e CNX, atrasaram ou desistiram de seus compromissos com o programa de hubs de hidrogênio de US$ 7 bilhões (R$ 39,95 bilhões) de Biden. "Haverá uma reestruturação", disse Hakon Volldal, CEO da Nel, que anunciara uma fábrica de US$ 400 milhões (R$ 2,28 bilhões) em Michigan (EUA) no ano passado para fabricar equipamentos de hidrogênio, mas não avançou no desenvolvimento, citando "falta de impulso" devido a custos mais altos do que o esperado e falta de regras claras de crédito fiscal. "É simplesmente estúpido ter uma grande fábrica com máquinas brilhantes e reluzentes que podem entregar gigawatts e depois ninguém comprá-las porque não há projetos" - Hakon Volldal, CEO da Nel A lenta implementação das regras de crédito fiscal da Casa Branca e a baixa demanda atingiram mais duramente as empresas menores e menos diversificadas. Os preços das ações de grandes empresas de energia diversificadas com negócios de hidrogênio, como Cummins, Air Liquide e Linde, aumentaram desde o início do ano, à medida que as previsões de demanda por energia aumentaram. Na Europa, o financiamento governamental lento e insuficiente, juntamente com barreiras regulatórias em alguns locais, frustraram o desenvolvimento. Esta semana, a espanhola Repsol divulgou que suspendeu todos os seus projetos de hidrogênio verde na Espanha. No mês passado, a Shell cancelou um de hidrogênio azul na Noruega, dizendo que "não viu o mercado para o hidrogênio azul se materializar". A Repsol culpou a extensão de um imposto sobre lucros inesperados para empresas de energia por sua decisão. Mas Tomás Malango, diretor de combustíveis renováveis e economia circular da empresa, disse que poucos projetos na Europa chegaram a uma decisão final de investimento porque havia pouca flexibilidade nas regras da UE. "O risco é maior se você só tiver uma chance", avaliou. Apesar dos atrasos, apenas uma pequena fração dos projetos no mundo foi cancelada, proporcionando esperança à indústria de que a clarificação por parte da União Europeia e dos EUA sobre incentivos e regulamentação poderia ajudar o setor a se recuperar. A Wood Mackenzie estima que cerca de 2% da capacidade existente e planejada de hidrogênio de baixo carbono foi descartada ou cancelada nos últimos 18 meses. As petrolíferas Saudi Aramco e Adnoc, do Oriente Médio, continuam a investir em hidrogênio limpo, com a última tendo assinado um acordo no mês passado para comprar uma participação de 35% no projeto de hidrogênio Baytown da ExxonMobil no Texas. A Comissão Europeia lançou um modelo de financiamento no início deste ano para reduzir o custo do hidrogênio verde e buscava criar "mercados de demanda" por meio de leilões públicos, de acordo com autoridades envolvidas. O Departamento de Energia dos EUA reservou US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) para um programa para estimular a demanda por hidrogênio. Mas a indústria de hidrogênio europeia reclamou que a definição de hidrogênio verde da comissão é muito rígida. Nos EUA, um debate acirrado tem ocorrido há quase dois anos sobre o tamanho do rigor que o governo Biden deve estabelecer para o hidrogênio verde em suas regras de crédito fiscal, atrasando investimentos e forçando desenvolvedores a queimar caixa. Aviva Aron-Dine, secretária assistente do Tesouro para política tributária, disse a jornalistas no início deste mês que as regras finais para o hidrogênio seriam divulgadas até o final do ano. "Resumindo, o IRA é uma ferramenta muito boa em princípio, mas quando há clareza limitada sobre as regulamentações... é difícil tomar a decisão final de investimento", disse Volldal. "Você tem esse grande cofrinho, e não consegue tirar nada dele. Você o sacode, mas nada sai."

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