IPCA-15 desacelera a 0,11%, mas fica acima das projeções em janeiro com pressão de alimentos
A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,11% em janeiro, após marcar 0,34% em dezembro, apontam dados divulgados sexta (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de 0,11% é a menor para meses de janeiro na série histórica desde o início do Plano Real emdash;a moeda passou a circular em julho de 1994. Ainda assim, o resultado ficou bem acima da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam leve deflação (queda) de 0,02%. O intervalo das previsões ia de recuo de 0,10% a avanço de 0,50%. Havia perspectiva de uma deflação incomum para o período devido ao alívio pontual nas contas de luz com o desconto do bônus de Itaipu. A medida atrasou e, desta vez, só entrou em vigor em janeiro. Os alimentos, no entanto, voltaram a pressionar o IPCA-15. A carestia da comida preocupa o governo Lula (PT), que tenta encontrar medidas para frear os preços. Economistas, porém, afirmam que as ações poderiam ter alcance limitado. Ou seja, não atacariam as principais causas da situação emdash;incerteza fiscal, alta do dólar e impacto do clima nas safras. Com o resultado de janeiro, o IPCA-15 desacelerou a 4,50% no acumulado de 12 meses. É justamente o teto da meta perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2025. O IPCA-15 registrava avanço de 4,71% nos 12 meses até dezembro. Alimentos ainda pressionam Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no índice, 8 tiveram alta de preços no início de 2025. O grupo alimentação e bebidas até desacelerou, ao passar de 1,47% em dezembro para 1,06% em janeiro. Mesmo assim, apresentou a maior variação e o principal impacto no IPCA-15 (0,23 ponto percentual). Dentro de alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio registrou variação de 1,10% em janeiro. Contribuíram para esse resultado os aumentos do tomate (17,12%) e do café moído (7,07%). Do lado das quedas, destacam-se a batata-inglesa (-14,16%) e o leite longa vida (-2,81%). Conta de luz tem alívio pontual Por outro lado, o grupo habitação mostrou deflação de 3,43%, ajudando a conter o IPCA-15 de janeiro. Nesse segmento, a energia elétrica residencial foi o subitem com o maior impacto para a baixa. A conta de luz recuou 15,46% em janeiro. O IBGE associou o resultado ao bônus de Itaipu, que tem efeito pontual nos dados. O bônus é relativo ao saldo positivo da comercialização de energia da usina hidrelétrica. A medida já provocou alívio na inflação em outros momentos da série. Desta vez, porém, o processo chegou a uma conclusão com atraso, e o desconto só entrou em vigor em janeiro. Em 2023, por exemplo, o bônus foi creditado nas faturas de julho. Outro destaque do IPCA-15 de janeiro foi o grupo de transportes, que subiu 1,01%. Nesse segmento, a passagem aérea aumentou 10,25%. Também houve alta nos preços do etanol (1,56%), do óleo diesel (1,10%), do gás veicular (1,04%) e da gasolina (0,53%). Ainda em transportes, a tarifa de ônibus urbano avançou 0,46%. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, diz que a composição do IPCA-15 veio pior do que a esperada. O C6 projetava deflação de 0,05% para o índice. A expectativa era de uma queda nas passagens aéreas, e não de uma alta, além de uma redução mais intensa da energia elétrica em janeiro. Isso, segundo Claudia, ajuda a explicar a surpresa do resultado geral. "O IPCA-15 de janeiro arrefeceu em relação ao dado de dezembro em função do bônus de Itaipu, trazendo alívio momentâneo ao índice. Apesar dessa desaceleração bem-vinda, o qualitativo de hoje [sexta] foi bem ruim", avalia a gestora Kínitro Capital. IPCA e IPCA-15 Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil. Na mediana, as previsões do mercado apontam alta de 5,08% para o IPCA ao final de 2025, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (20). A estimativa subiu pela 14ª semana consecutiva. A mudança de patamar das projeções sinaliza mais dificuldades para o BC conseguir manter o IPCA dentro do intervalo da meta de inflação, dizem analistas. O aumento das estimativas refletiu fatores como a escalada do dólar nos últimos meses e a pressão sobre os preços gerada pelo aquecimento da atividade econômica em meio a impulsos fiscais. O centro da meta em 2025 é 3% no acumulado de 12 meses. O intervalo de tolerância varia de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). Os números são os mesmos de 2024, mas o BC passa a perseguir o alvo de maneira contínua neste ano, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro). No novo modelo, a meta será considerada descumprida quando a variação acumulada pelo IPCA permanecer por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%). O índice oficial fechou 2024 em 4,83%, estourando o teto. O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, volta a se reunir na próxima semana para definir a taxa básica de juros, a Selic. Com a alta das estimativas de inflação, o comitê passou a subir a taxa, que está em 12,25% ao ano. André Valério, economista sênior do banco Inter, diz que os dados do IPCA-15 não trazem nenhum alívio para o Copom. Apesar disso, ele não vê o resultado impactando a decisão do comitê, que já indicou uma nova alta de 1 ponto percentual na Selic. "Assim, as atenções estarão voltadas ao teor do comunicado, especialmente se haverá alguma menção sobre o que o comitê pretende fazer após a reunião de março", afirma André. O aumento da Selic busca esfriar a demanda por bens e serviços, que pressiona os preços. O efeito colateral esperado é a desaceleração da economia, já que a elevação dos juros encarece o crédito, dificultando o consumo e os investimentos produtivos. A coleta de preços do IPCA é feita pelo IBGE ao longo do mês de referência da pesquisa. Por isso, o dado de janeiro ainda não está fechado. Será divulgado em 11 de fevereiro. Já a coleta do IPCA-15 está centrada na segunda metade do mês anterior e na primeira metade do mês de referência. No caso do índice relativo a janeiro, o trabalho ocorreu de 13 de dezembro a 14 de janeiro.