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Cade debate fraudes, tributação e concentração no mercado de combustíveis

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) realizou, nesta quinta-feira (13/11), uma audiência pública para discutir barreiras à livre concorrência, práticas anticompetitivas e a elevada concentração nos mercados de distribuição e varejo de combustíveis no Brasil. Ao longo de várias horas de exposições, representantes do governo, de órgãos de controle, de distribuidoras, revendedores, refinarias e entidades setoriais traçaram um diagnóstico comum: o setor segue marcado por fraudes bilionárias, distorções tributárias, concentração econômica e um ambiente regulatório que, muitas vezes, dificulta a entrada e a sobrevivência de novos agentes. Logo na abertura, o Cade informou que está reunindo o material escrito e as apresentações encaminhadas à consulta pública e que contratará um acadêmico para organizar esse conjunto de informações. Um estudo atualizado sobre o mercado de combustíveis, feito a partir de dados do Instituto Carioca, deve ser divulgado ainda neste ano, enquanto um compilado mais robusto, com as contribuições escritas, ainda está previsto para 2025. O conteúdo servirá tanto para consumo interno emdash; em análises de casos de concentração e condutas emdash; quanto para subsidiar políticas públicas e ser compartilhado com órgãos como ANP, AGU, Ministério de Minas e Energia e secretarias estaduais de Fazenda. Concentração no varejo e eldquo;bomba brancaerdquo; Uma parte relevante da audiência foi dedicada à estrutura do varejo de combustíveis. Expositores destacaram que três grandes agentes concentram cerca de 54% do mercado nacional, com participação superior a 60% em oito estados e chegando a quase 94% no Amapá. Esse cenário, segundo os participantes, limita a rivalidade e aumenta o poder de barganha das grandes distribuidoras sobre os postos. Nesse contexto, a chamada eldquo;bomba brancaerdquo; emdash; possibilidade de postos bandeirados comprarem combustíveis de qualquer distribuidora emdash; foi apontada como instrumento originalmente pensado para ampliar a concorrência, após a Lei de Liberdade Econômica e resoluções da ANP. Na prática, porém, representantes de distribuidoras regionais e revendedores relataram que a utilização desse mecanismo tem sido alvo de litígios considerados predatórios, com grandes players acionando a Justiça para restringir a atuação de concorrentes menores e pedindo acesso a informações comerciais sensíveis. Também foram lembradas cláusulas contratuais consideradas abusivas em contratos de exclusividade entre distribuidoras e postos, como exigência de galonagem mínima, multas elevadas e bonificações condicionadas a volumes. Nota técnica de 2018 já havia apontado esses problemas, e parte dos expositores pediu que o Cade retome esse debate para coibir práticas que fecham o mercado. Aviação e riscos de monopólio Outro foco importante foi o mercado de combustíveis de aviação, em especial a gasolina de aviação (AVGAS). Ricardo Padilha Saldanha, representante da Rede Sol, detalhou que poucas empresas dominam esse nicho e que, em determinados terminais, uma companhia exerce controle praticamente exclusivo da tancagem e da logística de carregamento. Segundo ele, essa estrutura permite impor condições e preços a concorrentes e cria riscos de desabastecimento, já que a total dependência de uma única base operacional torna o sistema vulnerável. Além disso, Eduardo Molan Gaban, representante do Instituto Brasileiro de Concorrência e Inovação (IBCI), destacou que a combinação entre concentração no refino, domínio de infraestrutura e contratos unilaterais se reflete diretamente em preços mais altos emdash; com impactos sobre a formação de pilotos, a aviação agrícola e outros segmentos dependentes do combustível. Barreiras regulatórias e burocráticas à entrada A audiência também tratou de barreiras regulatórias e burocráticas enfrentadas por novas distribuidoras e por empresas regionais em processo de expansão. Foi criticada, por exemplo, a proposta de aumento do capital social mínimo exigido pela ANP para autorização de distribuidoras emdash; de R$ 4,5 milhões para R$ 9,5 milhões, em um dos cenários mencionados. De acordo com estimativas apresentadas, até 60% das distribuidoras atuais não se enquadrariam no novo patamar, o que poderia levar à saída de empresas menores ou desencorajar novos entrantes. Além disso, representantes do setor alertaram para exigências adicionais impostas por secretarias de Fazenda estaduais, que acabam se sobrepondo às regras federais. Segundo Cláudio Souza de Araújo, diretor jurídico da Brasilcom, algumas unidades da federação têm exigido que distribuidoras mantenham base própria em cada estado, o que, na prática, inviabiliza a operação de empresas regionais. eldquo;A exigência de base própria para cada filial dificulta a operação das distribuidoras regionais e compromete a eficiência logística e a competitividade do setorerdquo;, afirmou Araújo. Fraudes, sonegação e atuação do crime organizado Um dos pontos mais sensíveis do debate foi a dimensão da ilegalidade no setor de combustíveis. Entidades apresentaram estimativas de que as perdas anuais com sonegação, inadimplência e fraudes operacionais e tributárias somam dezenas de bilhões de reais, afetando a arrecadação pública e distorcendo a concorrência. O Instituto Combustível Legal destacou que o setor movimenta mais de R$ 1 trilhão por ano e é, por isso, altamente atrativo para o crime organizado. Além de práticas como adulteração, furto e descaminho, foi mencionado o uso de estruturas financeiras opacas, como contas em fintechs que movimentavam grandes volumes de recursos sem identificação transparente dos titulares. eldquo;Estamos falando de um mercado com faturamento gigantesco e uma tributação complexa. Sem integração entre ANP, Fazenda, Ministério Público e Polícia Federal, não há como enfrentar a ilegalidade de forma efetivaerdquo;, afirmou Emerson Kapaz do ICL, defendendo a criação de uma central nacional de monitoramento de combustíveis capaz de cruzar dados fiscais, logísticos e de fiscalização em tempo real. A representante da Advocacia-Geral da União (AGU), Priscilla Rolim de Almeida, apresentou um estudo que analisou como as variações de preços nas refinarias são repassadas ao consumidor. Segundo ela, há uma clara assimetria na transmissão dos preços: aumentos são repassados rapidamente emdash; e, em alguns casos, até de forma amplificada emdash; enquanto reduções chegam de maneira mais lenta e parcial, levando de duas a cinco semanas para aparecer nas bombas. Dados específicos sobre o GLP (gás de cozinha) ilustraram o problema. Em 2019, a margem de distribuição teria crescido entre 64% e 164%, muito acima da inflação acumulada no período, com forte aumento da margem líquida. O caso foi encaminhado para investigação preliminar pela Polícia Federal e para apuração pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), diante de possíveis práticas anticompetitivas. Distribuidoras regionais e revendedores na ponta A audiência também abriu espaço para distribuidoras regionais e revendedores, que relataram dificuldades práticas no dia a dia para competir com grandes grupos emdash; incluindo barreiras comerciais, entraves regulatórios e disputas judiciais que, segundo eles, acabam restringindo a atuação de agentes menores no mercado. Na ponta do varejo, associações de revendedores reforçaram que o posto não deve ser tratado como vilão automático no debate sobre preços. eldquo;O revendedor não é o culpado pelos aumentos; os problemas nascem antes, na cadeia de refino e distribuiçãoerdquo;, resumiu Rodrigo Zingales Oller do Nascimento, diretor-executivo da AbriLivre. Contratos de bandeiramento também foram apontados como instrumentos que, em muitos casos, tornam o posto dependente da distribuidora, com pouca transparência na formação de preços, prazos longos e metas de volume consideradas excessivas. Os participantes convergiram na avaliação de que é necessária uma atuação coordenada entre Cade, ANP, AGU, Ministério Público, Receita, secretarias de Fazenda e outros órgãos para reduzir fraudes e sonegação; harmonizar requisitos regulatórios e tributários; revisar instrumentos contratuais que possam fechar o mercado e avaliar o impacto de decisões estatais emdash; inclusive da Petrobras emdash; na concorrência. Segundo o presidente do Cade, Gustavo Augusto Freitas de Lima, a autarquia deve agora consolidar as contribuições recebidas, atualizar os estudos sobre o setor e definir de que forma os insumos da audiência serão incorporados à agenda de investigações, análises de atos de concentração e ações de advocacia da concorrência relacionadas ao mercado de combustíveis.

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Haddad cobra Câmara sobre projeto do devedor contumaz

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que há eldquo;vários projetos importanteserdquo; tratando de segurança pública tramitando na Câmara dos Deputados e exemplificou com o texto do devedor contumaz, que está em análise pelo Congresso há oito anos. O projeto, que traz normas sobre direitos, garantias e deveres dos cidadãos na relação com o Fisco, punindo quem sonega impostos de forma deliberada e constante, foi aprovado pelo Senado em setembro, com a inclusão de medidas para coibir fraudes como as descobertas pela Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto da Polícia Federal, que investigou lavagem de dinheiro via fundos de investimentos. eldquo;O projeto já foi votado por unanimidade no Senado, falta só a Câmara dar a palavra finalerdquo;, ressaltou o ministro a jornalistas. eldquo;Todo criminoso precisa lavar o dinheiro do crime e ele usa expedientes formais, abre empresa, fecha empresa, para ir lavando dinheiro. A lei do devedor contumaz inibe essa prática e evita que o criminoso lave o dinheiro e irrigue o crime organizado. Então, ela asfixia o crime, dificulta a vida do criminoso para que ele não faça o dinheiro rodar na atividade criminosa lavando em empresas de fachada.erdquo; Haddad citou ainda a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei (PL) Antifacção, ambos de autoria do Poder Executivo. O segundo projeto, porém, foi distribuído para a relatoria de um deputado de oposição, Guilherme Derrite (PL-SP), que retomou o mandato de deputado federal (ele é secretário de Segurança Pública de São Paulo) apenas para relatar a proposta. As várias versões do relatório de Derrite têm sido alvo de críticas do governo, algumas vocalizadas pelo próprio Haddad. eldquo;Espero que não seja preciso outro evento desse tamanho (Operação Carbono Oculto) para a Câmara se sensibilizar. Tenho conversado com o presidente (da Câmara) Hugo (Motta, RepublicanosPB), eu tenho certeza de que ele vai sensibilizar. Está na hora, já passou da hora.erdquo; ebull;

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Pix muda vida do consumidor, do varejista e dá gás à economia popular

O comércio varejista foi um dos setores mais impactados pelo Pix, o meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central (BC) que completou cinco anos ontem. Lojistas têm incentivado seu uso em troca de descontos, já que ele se tornou uma importante ferramenta de redução de custos e aumento de dinheiro em caixa para o comércio. Não existem estatísticas do varejo que apontem quantas lojas físicas e online usam o Pix. O que se pode inferir pelos dados do BC e pela observação empírica é que esse meio de pagamento tem avançado no comércio. O BC não separa as transações do Pix de pessoas físicas para empresas por setor da economia, isto é, indústria, comércio e serviços. O que se sabe é que as transações por meio do Pix feitas de pessoas físicas para empresas são as que mais têm crescido. E é nesse recorte que o comércio varejista está inserido. A dimensão da importância do sistema no País aparece nos números: em outubro de 2025, por exemplo, mais de 90% da população adulta fez, pelo menos, uma transferência via Pix, segundo estudo Geografia do Pix, do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGVcemif). Segundo a FGV, hoje são os brasileiros da Região Norte que utilizam o Pix com mais frequência, com cinco Estados liderando as médias de transações por usuários ( mais informações em infográfico na pág. B2). VAREJO. É certo que o comércio foi o grande impulsionador do Pix. Em agosto de 2023, do total de transações feitas pelo meio, 33% eram de pessoas físicas para empresas. Em outubro deste ano, essa fatia atingiu 44% do total de transações. E foi a maior fatia entre as demais modalidades (Pix entre pessoas físicas, de empresas para pessoas físicas e Pix entre empresas). Fábio Bentes, economistachefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), observa que, em cerca de dois anos, houve crescimento de mais de 10 pontos porcentuais na fatia das transações de pessoas físicas para empresas no total de operações do Pix. Seguindo essa tendência, o economista projeta que, nos próximos dois anos, as transações de pessoas físicas para empresas deverão responder por mais de 50% do total de operações feitas por meio do Pix. E, nesse cenário, o comércio varejista terá papel importante. eldquo;A maioria dos varejistas aceita Pixerdquo;, diz Bentes, ressaltando que se trata de uma avaliação mais empírica. O que se vê na prática são campanhas promocionais tanto das lojas físicas como online oferecendo descontos para quem paga com Pix. Para Ivo Mósca, diretor de Inovação, Produtos, Serviços e Segurança da Febraban, que reúne os bancos, o que incentiva o varejo a fazer promoções para o Pix é o recebimento instantâneo. eldquo;Isso gera ( para o consumidor) um desconto de 5% a 10% no preço.erdquo; ebull; Projeção As transações de pessoas para empresas tendem a ser, em dois anos, a maior parte das operações de Pix Apesar de o Pix ser gratuito para as pessoas físicas que efetuam pagamentos por meio dele, para empresas existe uma despesa. O encargo, porém, é muito menor do que a taxa cobrada por outros meios de pagamento. Segundo Renato Dias de Brito Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do Banco Central (BC), o Pix custa, em média, para lojista, 0,3% do valor da transação. É um desembolso muito menor, comparado ao do cartão de débito, cujo custo da operação para o lojista varia entre 1,1% e 1,2% do valor da transação, e do cartão de crédito, que é mais de 2%. Por conta de taxas menores cobradas das lojas e pela instantaneidade do recebimento do valor da venda, o Pix virou também uma forma de o comércio varejista reduzir despesas e aumentar a liquidez do fluxo de caixa. Esse é um aspecto que ganha relevância para os empresários do varejo, especialmente no momento atual, com o custo dinheiro nas alturas. Hoje a taxa básica de juros de 15% ao ano está no maior nível dos últimos 20 anos e com perspectiva de manutenção. Nas Lojas Mel, por exemplo, do ramo de utilidades domésticas e que deve encerrar este ano com 59 pontos de venda, o Pix representa 9% das vendas. Nos últimos dois anos, cresceu 200%. eldquo;O Pix é uma ferramenta fantásticaerdquo;, diz o CEO da Lojas Mel, Pedro Cruz. Ele aponta como vantagens o custo menor para o lojista, comparado ao do cartão de crédito e ao de débito, e o recebimento imediato do valor da venda. O cartão de crédito demora 30 dias para liquidar a fatura. Fábio Bentes, economistachefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) concorda com Cruz. Diz que o Pix é extremamente benéfico para o varejo. Além da redução dos custos operacionais e da melhora do fluxo de caixa, ele aponta outros fatores favoráveis aos lojistas. Entre eles, estão o aumento das vendas devido à melhora da experiência de compra do consumidor, a maior conveniência em razão da possibilidade de as transações serem realizadas a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana e segurança também. CONSUMIDOR. Do lado do consumidor, o que se sabe é que o Pix é o meio de pagamento preferido para quitar as compras, seja na loja física, seja no comércio online. Em janeiro deste ano, o Pix foi apontado por 33% dos compradores em lojas físicas como o principal meio de pagamento, segundo pesquisa online feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria coma Offerwise. Nos supermercados, o Pix tem avançado. Respondeu por 7,9% das transações no ano passado, ante 5,3% em 2023 e 2,7% em 2022, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Segundo o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, o avanço do Pix evidencia a rápida adesão por parte dos consumidores. Com isso, houve uma redução da participação de meios tradicionais de pagamento nos supermercados, como o cartão de débito, cartão de crédito e o dinheiro em espécie. ebull;

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A disputa entre hidrogênio e biocombustíveis na descarbonização

A disputa entre hidrogênio, eletrificação e biocombustíveis voltou ao debate sobre clima e energia durante a COP30, em Belém. O embate não é novo e já esteve presente nas discussões sobre o futuro do transporte aéreo, segue nas negociações da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) sobre o transporte marítimo e, agora, ganha novo fôlego com a polêmica em torno do recente acordo de eletrificação do transporte rodoviário pesado. Por trás da discussão climática, está uma disputa geopolítica e econômica sobre quem vai definir emdash; e se beneficiar emdash; das rotas tecnológicas da transição energética. Uma agenda europeia A agenda global de descarbonização industrial e de transportes nasceu, em grande parte, na União Europeia. Pioneira em políticas climáticas e ambientais, a UE construiu sua estratégia a partir de uma vocação industrial e tecnológica voltada à eletrificação e à produção de hidrogênio verde por eletrólise. Essa orientação foi consolidada em diretivas e pacotes regulatórios que, na prática, criaram barreiras de entrada para soluções baseadas em biocombustíveis de primeira geração, e consolidaram o hidrogênio e a eletricidade como os vetores eldquo;oficiaiserdquo; do net zero europeu até 2050. O modelo influenciou fortemente as negociações multilaterais e o comportamento de instituições financeiras internacionais, que passaram a privilegiar projetos de eletrificação direta, hidrogênio verde e combustíveis sintéticos. Brasil em defesa da neutralidade tecnológica O Brasil entrou mais tarde na agenda climática global, mas trouxe consigo um histórico peculiar. Foi pioneiro na adoção em larga escala do etanol nos anos 1970, impulsionado por uma crise de oferta de petróleo emdash; e não por preocupações ambientais. Sua matriz elétrica é a mais limpa entre os países do G20, graças à abundância de recursos hídricos emdash; novamente, por vocação natural e não por questões climáticas. Agora, com a transição energética em marcha, o país tenta reposicionar esses ativos históricos como vantagem competitiva. Em fóruns internacionais, o Brasil vem travando batalhas para que os biocombustíveis emdash; etanol, biodiesel, biometano emdash; sejam reconhecidos como parte legítima das soluções de descarbonização. E não apenas no transporte, mas também na produção de hidrogênio de baixo carbono, a partir de etanol, biogás, e biomassa. Durante a COP30, a presidência brasileira tem entre suas prioridades inserir os biocombustíveis ao lado dos combustíveis sintéticos e eletrônicos emdash; hidrogênio, amônia verde, e-metanol emdash; como opções complementares e não concorrentes. O argumento é que cada país deve trilhar o caminho mais compatível com sua vocação produtiva, sem trancamentos tecnológicos. Concorrência inevitável, complementaridade possível Mesmo com essa defesa de uma transição eldquo;pluralerdquo;, há um reconhecimento de que a competição é inevitável. Hidrogênio e seus derivados vão disputar espaço com os biocombustíveis, e ambos enfrentarão a crescente eletrificação direta em alguns segmentos. O que está em jogo não é apenas o futuro energético, mas também cadeias de valor, empregos e hegemonias industriais. No transporte rodoviário pesado, a tensão se materializou nesta semana com a assinatura e o rápido recuo do Brasil do memorando Drive to Zero. O documento, assinado sem coordenação com o Itamaraty, previa que até 2040 todos os caminhões e ônibus vendidos fossem livres de emissões, com meta intermediária de 30% em 2030. Mas o critério de eldquo;emissão zeroerdquo; se restringia ao escapamento, excluindo biocombustíveis emdash; o que contraria programas como o Combustível do Futuro e o Mover, bandeiras do governo Lula. A narrativa do Brasil tenta ampliar as rotas aceitas para descarbonização, e incluir combustíveis que, embora emitam CO2 na queima, emitem menos que os fósseis, e têm sua produção impacto muito menor do que hoje é considerado por padrões europeus. No mar o debate segue No transporte marítimo, a discussão é igualmente complexa. O Brasil tenta emplacar os biocombustíveis como solução. Há quem veja como um combustível de transição, até que alternativas como amônia e e-metanol estejam disponíveis em escala, outros como permanente para o uso de em embarcações menores e regionais. Mas o avanço dessa estratégia enfrenta obstáculos práticos. Um deles são os eldquo;corredores verdeserdquo; emdash; rotas marítimas com abastecimento com combsutíveis de baixo carbono nos portos de origem e destino. Se a Europa tiver dificuldade de produzir biocombustíveis suficientes e de baixo carbono, a padronização tenderá a favorecer os combustíveis sintéticos eletrônicos, restringindo o espaço para os biocombustíveis brasileiros. E mesmo outras potências em biocombustíveis, como a Índia, vêm apostando forte na produção de hidrogênio de baixo carbono e derivados. Um país de vocações Mesmo assim, há oportunidades. O Brasil tem potencial para produzir não só biocombustíveis, mas também eletrocombustíveis emdash; hidrogênio, amônia e e-metanol emdash; a custos competitivos, graças à abundância de energia renovável. Estudo recente da RMI indicou que a amônia verde produzida no Porto do Açu, Rio de Janeiro, seria mais barata que a produzida no Egito, no projeto vencedor do leilão global de hidrogênio verde, o H2Global. É o que explica o interesse de empresas como Fortescue e Itaipu, que aproveitaram a COP30 para exibir embarcações e projetos baseados em hidrogênio, demonstrando que o país também pode ser protagonista nessa nova fronteira. A agenda brasileira acerta ao defender que não existe um único caminho tecnológico para a descarbonização. Países com vocações distintas devem ter liberdade para desenhar suas próprias rotas. Mas há um risco, que é o de concentrar esforços apenas na defesa dos biocombustíveis e negligenciar o potencial de liderar também na produção de hidrogênio verde e derivados.

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MME abre consulta pública sobre importação de biodiesel

O Ministério de Minas e Energia (MME) abriu consulta pública sobre a proposta de resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que prevê que todo biodiesel comercializado para atendimento à mistura obrigatória seja produzido nas usinas nacionais, autorizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A portaria foi publicada nesta sexta-feira (14/11) no Diário Oficial da União. As contribuições podem ser enviadas até o dia 12 de janeiro. A resolução estabelece como de interesse da Política Energética Nacional que pelo menos 80% do biodiesel utilizado no atendimento à mistura obrigatória seja proveniente de unidades detentoras do Selo Biocombustível Social (SBS). Também determina que o SBS tenha dados regulares, auditados e fiscalizados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). A pasta terá até o dia 31 de agosto de 2026 para adotar as medidas necessárias para a fiscalização dos dados do SBS. Os relatórios consolidados sobre os impactos do SBS no preço e no abastecimento de combustíveis no país deverão ser encaminhados anualmente pelo MME e MDA ao CNPE, até o final do segundo semestre. A resolução sobre importação de biodiesel estava na pauta da reunião do CNPE, que será realizada na próxima segunda-feira (17/11), mas foi retirada e passará, portanto, por consulta pública. O relatório recomendando a reversão da abertura para importações de biodiesel foi concluído em setembro pelo grupo de trabalho instituído para avaliar o tema. Para sacramentar a decisão, a medida precisa retornar ao colegiado.

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Acordo para quadruplicar combustíveis sustentáveis tem 23 países

O acordo proposto pelo Brasil para quadruplicar a produção e consumo de combustíveis sustentáveis até 2030 conseguiu angariar, até esta sexta (14/11) emdash; dia da energia, indústria, transporte e finanças na COP30 emdash; um total de 23 países signatários. A adesão é inferior à quantidade de países que assinaram um documento, em setembro deste ano, indicando ações necessárias para escalar a produção de biocombustíveis e derivados de hidrogênio. Documento que serviu de base para o compromisso proposto pelo Brasil COP. Andorra, Armênia, Bielorrússia, Cabo Verde, Canadá, Chile, Guatemala, Índia, Japão, México, Moçambique, Panamá, Coreia do Norte, Sudão e Zâmbia são alguns deles. A proposta foi tema de uma mesa-redonda nesta manhã em Belém (PA), onde ocorre a conferência climática das Nações Unidas. É a principal aposta do Brasil na substituição de combustíveis fósseis. Durante o encontro, foi lançado o Plano de Ação de Combustíveis do Futuro da Ministerial de Energia Limpa. A plataforma reúne governos, indústrias e financiadores para ampliar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis em setores estratégicos. eldquo;Esses 23 países irão fornecer apoio político para promover a participação das empresas internacionais nessa iniciativaerdquo;, explicou a CEO da COP30, Ana Toni, a jornalistas. O compromisso, no entanto, não deve entrar no documento final da cúpula. O trabalho é para que a iniciativa integre a agenda de ação, uma espécie de tratado paralelo emdash; e não vinculativo. eldquo;Junto com a declaração, há um plano para acelerar soluções conectadas a ela. Esta é a forma como a iniciativa está usando a Agenda [de Ação] este anoerdquo;, explica Bruna Siqueira, diretora da COP30 para a Agenda de Ação. Ela conta que o plano lançado hoje prevê diagnósticos do que está acontecendo no mercado de combustíveis sustentáveis atualmente, e o que impede a sua escalada. Além de ações do que é preciso fazer a seguir: criação de demanda, contabilidade de carbono transparente, desenvolvimento de infraestrutura e corredores logísticos. Decreto para SAF em consulta No mesmo dia dedicado a novos combustíveis na cúpula de Belém emdash; e aniversário de 50 anos do Proálcool emdash;, o governo brasileiro colocou em consulta pública o decreto que regulamenta a política de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês). Como antecipado pela eixos, a proposta é alinhar a política brasileira ao Corsia, mecanismo desenvolvido pela Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês) para o net zero do setor. Mas dar flexibilidade aos produtores brasileiros que focarem apenas no mercado doméstico. A minuta (.pdf) propõe usar a metodologia de ciclo de vida da Renovacalc, adotada para calcular a eficiência energética e ambiental dos biocombustíveis certificados no Renovabio. E exige produtos livres de desmatamento a contar de 2018. Atende a uma recomendação da iniciativa Conexão SAF, de excluir o ILUC do mandato do Combustível do Futuro, por entender que inviabiliza matérias-primas agrícolas. O ILUC exige imagens de satélite que comprovam que não houve supressão de vegetação na região de origem da matéria-prima a contar de 2008. O que quase ninguém tem. Transição dos fósseis Tradicionalmente, no dia da energia nas COPs, o tópico mais controverso é a transição para longe dos combustíveis fósseis, acordada em 2023, na cúpula de Dubai. Para atingir as metas de zerar as emissões líquidas nas próximas três décadas, o mundo precisa reduzir a demanda por petróleo para 24 milhões de barris/dia até 2050, o que significa diminuir o investimento anual no setor de cerca de US$ 1 trilhão para menos de US$ 350 bilhões até 2035. Cenário, hoje, improvável. Embora a proposta brasileira de desenhar um mapa do caminho para essa transição esteja ganhando apoio aqui nos bastidores, há pouca expectativa de que saia alguma decisão ou linguagem que vá além disso. A ministra Marina Silva sinalizou esta semana que se discute um mandato para quem vai coordenar esse mapa do caminho. Ontem (13), a CEO da COP30, Ana Toni, disse que não houve nenhuma proposta formal para levar a decisão de Dubai às negociações, mas ela já consta da agenda de ações. No geral, o discurso oficial é que o Brasil vai apoiar uma mapa do caminho para a transição dos combustíveis fósseis, mas que ela precisa ser justa e gradual, começando pelos países ricos. Em uma frente mais ambiciosa, a Colômbia declarou que sua porção da Amazônia como uma zona livre de petróleo e de atividades de grande mineração. A informação foi anunciada pela ministra de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do país, Irene Vélez Torres, durante encontro de ministros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). (InfoAmazonia)

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