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ExpoPostos 2024 expande 60% e se internacionaliza em sua maior edição dos últimos 30 anos

Nos dias 10, 11 e 12 de setembro ocorrerá, em São Paulo, a 21ª ExpoPostos eamp; Conveniência, maior feira de postos de serviços, equipamentos, lojas de conveniência e food service da América Latina. O evento, que terá em 2024 a maior edição de sua história, com mais de 250 expositores de referência que apresentarão as tendências de mercado para o setor, contará com um fórum integrado, por meio do qual será possível debater as expertises e tendências em países como Brasil, EUA, México, Argentina e Costa Rica. Com mais de 30 mil visitantes qualificados, sendo 18 mil decisores diretos (oriundos de todas as partes do Brasil), a feira, a maior feira do setor da América Latina, também tem como proposta trazer as inovações, qualidade e os processos tecnológicos, bem como os procedimentos de gestão e de liderança que proporcionaram uma ampla evolução do segmento. Nos três dias de evento, os presentes poderão acompanhar as diversas soluções oferecidas ao mercado pelos expositores, como produtos que se diferenciam pelas características exclusivas proporcionadas aos clientes. Neste ano, a feira reunirá os melhores fornecedores, entidades e colaboradores da categoria, tendo como foco a expansão e ascensão dos negócios, que somente em 2023 movimentou mais de R$180 milhões. Além disso, durante a feira, os expositores vão contar com espaços exclusivos, denominados Arenas de Conhecimento, para exibirem os lançamentos de produtos, novas tecnologias e soluções, inovações e cases de sucesso de forma gratuita aos visitantes. De acordo com Tatiana Zaccaro, diretora de unidade da GL Events, responsável pela promoção e organização da ExpoPostos, a feira possibilita a exposição de projetos inovadores que incentivam as atividades entre os profissionais, clientes e parceiros de negócios, sempre com o objetivo de promover o amplo desenvolvimento do setor, de forma que torna-se cada vez mais preparado para os desafios do futuroerdquo;, conclui. A ExpoPostos eamp; Conveniência é uma realização da GL events, da Fecombustíveis e da Associação Brasileira das Empresas de Equipamentos e de Serviços para o Mercado de Combustíveis e de Conveniência (ABIEPS).

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Fernando de Noronha quer impor carros elétricos, mas moradores rejeitam

A entrada de carros a combustão em Fernando de Noronha será proibida até 2025, deixando o caminho aberto apenas para novos veículos elétricos. A data, entretanto, já foi prorrogada duas vezes e, se depender dos moradores e da estrutura atual da ilha, será ainda mais. "A ideia é boa e urgente, mas falta infraestrutura. Muitas ruas aqui são de pedra, quando não de terra. A bateria não aguenta impactos", afirma Antonio Cordeiro Neto, dono de uma adega na ilha. Até os carros elétricos da administração, adquiridos por meio de uma parceria com a fabricante Renault, estariam encostados, segundo ele. "E, de noite, vira uma competição para recarregar." Noronha tem só seis postos de recarga para veículos elétricos espalhados pela ilha principal. Noronha tem uma pegada de carbono alta devido aos milhares de voos e turistas o ano todo, mas o projeto de eletrificação da ilha esbarra na falta de estrutura para recarga, no alto custo de manutenção dos veículos elétricos e na dependência do biodiesel para carregar esses carros. Isso porque, em contraste com o resto do Brasil, Noronha não está ligada ao sistema nacional de energia e depende muito do biodiesel, transportado até a ilha endash;93% da matriz, enquanto painéis solares ocupam 7%. Por isso, para os pouco mais de 3.000 moradores da ilha, a ideia de converter os carros seria boa apenas até olhar de onde está saindo a energia para carregá-los, já que, com o aumento da demanda energética, puxada pelos carros a bateria, a tendência é de mais diesel no arquipélago. A Neoenergia, concessionária de Noronha, pretende descarbonizar completamente a fonte, com a instalação de mais painéis fotovoltaicos, num projeto de cerca de R$ 350 milhões. O empenho, entretanto, não tem data e está "em fase de estudos em conjunto com órgãos técnicos e autoridades competentes", afirmou a companhia, em nota. Com isso, um lema repetido por moradores de Noronha é que o diesel direto no carro é mais eficiente, logo polui menos, em comparação com alimentar um gerador para abastecer veículos elétricos. "Teoricamente, é. Na realidade, não", diz Pedro Rosas, engenheiro elétrico e professor na Universidade Federal de Pernambuco, que já esteve envolvido na construção de uma usina eólica na ilha. "A distância para o continente complica muito o transporte. Sem contar que não há um porto, mas postos de atracação endash;o risco de vazamento é muito grande", explica. Outro impasse é que muitos veículos na ilha são do tipo buggy, de baixíssima eficiência. "Num gerador, é muito mais controlado e eficiente". De acordo com dados do IBGE, Fernando de Noronha possui 1.381 veículos motorizados (60% com quatro rodas e 40% com duas). "No meu entendimento, a decisão de vetar carros a combustão é acertada, mas ataca pouco o problema principal de pegada de carbono da ilha", afirma Rosas. Ele se refere ao turismo, o principal motor de renda. Cerca de 60% das emissões de gases estufa são provenientes da atividade aérea; 30% vêm dos geradores a diesel, e apenas 9% provêm de carros. Prazo dos elétricos já foi prorrogado outras vezes O ano de 2022 foi o primeiro prazo definido para proibir a entrada de carros movidos a diesel, etanol ou gasolina na ilha. Por pressão local, a restrição foi prorrogada para 2023 e, depois, para 2025. A meta também passa por converter toda frota do arquipélago até 2030. "A experiência inicial não é boa. Muita gente serviu como boi de piranha e está com o carro parado", diz Cordeiro Neto, dono da adega local. Para ter um veículo na ilha é necessária uma autorização da administração de Noronha (o equivalente a uma prefeitura), que tem uma quantidade de emissões limitada. Antonio se refere ao Projeto Noronha Carbono Zero, de 2019, que criou 130 autorizações extras, exclusivas para carros elétricos. Um guia turístico entrevistado pela reportagem, que pediu para não ser identificado por temor de retaliações da atual administração, conta que adquiriu seu primeiro carro graças às autorizações extras e hoje o usa para passeios. "Pelo custo maior e a questão das baterias, é algo que nos dá incerteza." Em janeiro deste ano, o preço médio de um elétrico se aproximou de R$ 400 mil. "O pessoal daqui chama o elétrico de elsquo;descartávelersquo;, e não planeja trocar mesmo sob multa. Comprei porque não tinha outro jeito. Preciso dele para trabalhar", diz. "Não concordo com essa imposição, considerando nossa estrutura. O carro elétrico deveria ser um experimento para quem nunca teve carro", afirma Carine Silene da Silva, uma dos sete conselheiros distrital, escolhidos democraticamente, uma espécie de vereador, mais destinado a fiscalizar. "É só estar na rua que as pessoas me abordam sobre essa imposição dos carros elétricos", diz. Moradores reclamam também da dificuldade de dialogar sobre o tema com a atual administração. Em nota, a administração de Fernando de Noronha afirma que a prorrogação do prazo para proibir carros a combustão considerou a complexidade da descarbonização dos processos operacionais do arquipélago "O Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha, vem envidando esforços técnicos no âmbito desse debate e das iniciativas em eficiência energética", disse. A gestão também disse contar com 37 veículos, considerando os de circulação e de reserva. Destes, 14 são elétricos.

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Governo e sindicatos ampliam presença na gestão da Petrobras sob Magda

A Petrobras realizou nas últimas semanas uma grande restruturação de seu segundo escalão, em processo que vem gerando preocupação entre investidores privados da estatal diante do aumento da influência do governo e de sindicatos em sua gestão. A companhia diz que a renovação é natural após a troca no comando, com a chegada da presidente Magda Chambriard e de três novos diretores, e que todos os indicados passaram pelo crivo dos controles internos de governança. Ao todo, foram trocadas 17 gerências-executivas, cargo que fica logo abaixo da diretoria e é o último degrau técnico na hierarquia da estatal. Nesse processo, assumiram quatro pessoas de fora da estatal, sendo três ligadas à FUP (Federação Única dos Petroleiros) e uma ao PT. As outras gerências foram ocupadas por profissionais da própria empresa. Eduardo Costa Pinto assumiu gerência-executiva na área de Exploração e Produção, enquanto William Nozaki e Rodrigo Leão ocuparam o cargo na diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade. Eles são egressos do Ineep (Instituto Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), criado pela FUP (Federação Única dos Petroleiros) para fomentar pesquisas sobre o setor. Costa Pinto e Leão estão na Petrobras desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o primeiro como assessor da presidência e o segundo como presidente de subsidiária. Nozaki foi assessor do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante. O gerente-executivo ligado ao PT é Wellington Cesar Silva, que era assessor jurídico da Casa Civil e assumiu recentemente como advogado-geral da Petrobras. Magda trouxe para a assessoria da presidência da estatal o ex-chefe de gabinete da ex-presidente Dilma Rousseff Giles Azevedo, também do partido, que atuará no relacionamento da empresa com o poder público, segundo a empresa. O Palácio do Planalto já havia emplacado com Magda a indicação do diretor Financeiro da companhia, Fernando Melgarejo, que estava na Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. A indicação de candidatos externos para gerências executivas é vista com restrições mesmo por aliados dos sindicatos, por desvalorizar quadros internos com experiência nas áreas operacionais. Em nota, a Petrobras diz que "a formação de equipes, com eventuais trocas de gestores, faz parte da dinâmica do processo de gestão de pessoas." Das 17 trocas em gerências executivas, afirma, apenas quatro contemplam a nomeação de profissionais externos. Minoritários, porém, questionam o descumprimento de requisitos exigidos a candidatos a vagas na estatal. O caso mais evidente é o de Melgarejo, cuja indicação esbarrou na falta de proficiência em inglês, exigida para o cargo. O Comitê de Pessoas, que avalia as indicações, concluiu que "em face da vasta experiência profissional do candidato na área e dos precedentes existentes em casos similares" e aprovou o nome recomendando que o executivo estude o idioma. Com carreira na academia, os indicados da FUP também estariam em desacordo com a política de indicações da estatal, segundo fontes. Ela exige um mínimo de 36 meses em "posição de chefia superior" para candidatos externos a gerências executivas. A Petrobras afirma que "os indicados passaram por uma série de análises de cumprimento dos requisitos de integridade e de capacidade de gestão, como conhecimento na área de atuação pretendida, experiência em liderança e desempenho em funções anteriores". Afirma ainda que, embora não seja exigido por lei, as atas do comitê que avalia essas indicações estão sendo disponibilizadas em seu site. Até esta segunda-feira (19), porém, não havia atas sobre nomeações a gerências-executivas. O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, negou à reportagem que tenha feito indicações para cargos. "São pessoas que a gestão reconheceu que têm competências suficientes para estarem nessas três gerências executivas", afirmou. "E que podem contribuir com a Petrobras que a gente espera que ajude no desenvolvimento econômico e social do país."

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Refinaria Abreu e Lima faz 10 anos sem unidade para atenuar poluição e atormenta comunidades vizinha

Mais famosa pelos rolos políticos e judiciais desde seu nascimento, a refinaria Abreu e Lima (ou RNest), em Ipojuca (PE), está prestes a completar dez anos cercada de pendengas e pendências ambientais. Cercada literalmente. Moradores vizinhos ao empreendimento da Petrobras se queixam há anos de problemas causados por gases poluentes e questionam o modelo e os dados de monitoramento da qualidade do ar da região. Processam a estatal e cobram dela uma promessa que poderia atenuar seu suplício: unidades de abatimento de emissões chamadas SNOx, projetadas para operar junto com a refinaria, mas que até hoje não saíram do papel. A primeira delas deveria ter sido inaugurada junto com o trem 1 da RNest, em operação desde dezembro de 2014. Não aconteceu, e desde então sua conclusão foi anunciada e frustrada algumas vezes. A Petrobras promete agora entregá-la no fim deste ano. O trem 2 está programado para 2028, e deverá ter a segunda SNOx. O histórico recomenda desconfiar de planos e prazos. Anunciada em 2005, no primeiro governo Lula, a RNest seria uma parceria com a Venezuela, que terminou por não se concretizar. As obras atrasaram e foram paralisadas emdash;sobretudo por problemas de corrupção trazidos à tona na Operação Lava Jatoemdash;, adiando em três anos a inauguração do trem 1, que ainda nem foi concluído. As unidades SNOx também foram prejudicadas por problemas com a primeira construtora responsável por sua construção. Em 2021, o Tribunal de Contas da União estimou que o custo do projeto da RNest subiu de US$ 2,4 bilhões, em sua concepção, para US$ 20,1 bilhões (R$ 13,4 bilhões para R$ 112,5 bilhões, pela cotação atual). Em nota, a Petrobras afirma que a RNest "opera conforme a legislação vigente, e atende aos parâmetros de emissões atmosféricas determinados na licença de operação" e que a instalação da unidade SNOx "será responsável por melhorar ainda mais o desempenho ambiental da refinaria". A estatal diz ter instalado quatro estações de monitoramento na região. Tida como um diferencial ambiental, a tecnologia SNOx abate óxidos de enxofre e nitrogênio das emissões, tornando-as menos poluentes emdash;e permitindo que o subproduto gerado no processo seja comercializado para outras indústrias. A Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), que emitiu e renovou a licença de operação da RNest desde a inauguração, afirma que, sem a SNOx, o tipo de petróleo refinado em Ipojuca é mais leve, com menos enxofre. A CPRH diz também que a série histórica de monitoramento da qualidade do ar na região mostra que os índices estão dentro dos parâmetros exigidos pela legislação emdash;salvo alguns picos específicos, que geraram autos de infração à Petrobras. Quando autorizou o funcionamento da refinaria em 2014, a CPRH limitou a sua produção a 45 mil barris/dia, condicionando a expansão desse número à instalação da SNOx. Hoje a RNest produz 100 mil barris/dia mesmo sem a unidade de abatimento de emissões. A CPRH alega que no início fez uma estimativa e, a partir de monitoramentos indicando boa qualidade do ar, pôde ampliar o limite. Por causa das unidades SNOx, inéditas no Brasil, e por seu projeto para produzir diesel com baixo teor de enxofre, além de combustíveis renováveis e de origem vegetal, a RNest costuma receber da Petrobras rótulos pomposos como refinaria "do futuro", "sustentável" ou "mais moderna" do país. São definições estranhas ao que se vê na região onde a RNest está instalada. Em bairros pobres e em um conjunto de condomínios de classe média a cerca de 4 km da refinaria visitados pela reportagem, moradores reclamam do odor das emissões e as associam a sintomas frequentes como náuseas, vômitos, dores de cabeça e aumento de problemas respiratórios. "É um cheiro insuportável. Já acordei de madrugada sufocada e tive de ir dormir na casa de minha mãe no Cabo [de Santo Agostinho, município vizinho]. Comprei esse apartamento planejando trazê-la para morar comigo, mas não tenho coragem, ela é idosa e hipertensa", disse a psicóloga e servidora municipal Marcicleide da Cunha Lima, 46. Ela vive há quatro anos num conjunto de cinco condomínios endash;com 288 apartamentos de 52m² cada, reunindo cerca de 5.700 moradoresendash; no bairro de Vila Califórnia, de onde se avista a estrutura da refinaria. Síndico de outro condomínio do complexo, o servidor público federal Eduardo Chaves Santos conta que sua esposa desenvolveu tireoidite crônica e sofreu um aborto depois da mudança para o local endash;o casal desconfia que ambos os fatos podem ter relação com a poluição. A médica Maria Angela Zaccarelli Marino, doutora em endocrinologia pela USP, pesquisa há 35 anos a relação entre poluição industrial e doenças autoimunes, sobretudo tireoidite crônica, em moradores vizinhos ao Polo Petroquímico de Capuava, na Grande SP, onde está a refinaria homônima (Recap). Seus trabalhos demonstraram uma incidência maior de enfermidades em quem vive mais perto do complexo. "Parece meio óbvio que a distância é um fator importante, mas comprovamos isso com pesquisa científica. Quanto mais próximo da refinaria, maior a chance de desenvolver tireoidite e outras doenças autoimunes", afirma. A médica frisa não conhecer a RNest, mas diz que quem está a uma distância de 4 km (e de pelo menos até 6,5 km) fatalmente sofre com efeitos de emissões. Ademais, a refinaria de Ipojuca emite vários dos mesmos gases que a de Capuava, como dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, entre outros endash;além de material particulado. A irmã de uma moradora de um dos condomínios morta após um mal súbito em 2019 registrou um boletim de ocorrência em que disse que ela "inalou gás de vazamento da refinaria (...), vinha se queixando do odor muito forte que vinha de uma tubulação de lá, e que na madrugada acordou com falta de ar, o Samu foi acionado mas ao chegar ao local a mesma já se encontrava em sua cama em estado de óbito". O viúvo dela, o autônomo Jorge Simões, 58, lamenta, resignado: "Não sou médico, não tenho como dizer, mas sei que ela sofria quando os gases vinham, uma hora depois tinha reações. Aqui nós não temos como nos defender: se abrir a janela ventila mais, mas entra mais gás; se fechar, ficamos sufocados". Numa comunidade pobre a 1,5 km dali, o eletricista Marcelo Severino da Silva, o Gaivota, 45, relata que o caçula dos seus três filhos, hoje com 5 anos, teve problemas respiratórios agravados desde a chegada ao lugar, tendo sido até internado na UTI e intubado em 2021. Exibe, ao lado do garoto e da esposa, Laudijane do Nascimento, os prontuários. Na zona rural também há revolta. "Meus pés de caju não botaram mais. Eu tirava cestos e cestos para vender na feira, agora floresce e não dá nada", reclama a agricultora Elizabete Maria da Silva, 60, atribuindo a mudança à poluição da refinaria. Ela e o marido, João Sebastião de Oliveira, 68, vivem num sítio na área do extinto engenho Penderama. Numa ação civil pública e num inquérito civil instaurados em 2021 pelo Ministério Público de Pernambuco (MP-PE), a Prefeitura de Ipojuca admite "danos ambientais ocasionados em decorrência da poluição atmosférica causada pela emissão dos gases" da refinaria. Os documentos trazem um laudo e um relatório de médicos do município "comprovando que são reais os sintomas que acometem as pessoas, os quais podem estar sim associados aos gases/odores aos quais estão expostos". Noutro trecho, um médico é mais assertivo: "A exposição contínua e prolongada a esses gases está interferindo na saúde desses pacientes." Ainda assim, nenhuma medida concreta foi tomada. O MP-PE informa que "requereu a realização de perícia médica" e "auditoria externa das instalações físicas e dos dados de emissão atmosférica da refinaria". Cansados de esperar, moradores entraram com ações contra a Petrobras cobrando indenização por danos morais. Perderam em primeira instância: o juiz alegou que eles não comprovaram danos à saúde pela poluição. Estão recorrendo. No processo, incluíram o registro de um vídeo gravado numa estação de monitoramento da Vila Califórnia registrando que, em 5/5/2021, o nível de monóxido de carbono chegou a 3.120 ppm (partes por milhão), quando o máximo tolerado pela norma ambiental é de 9 ppm. Mas na planilha enviada pela Petrobras à CPRH (a agência ambiental do Estado de Pernambuco), o monitoramento do gás naquele dia aparece como "inválido". Questionadas pela reportagem, Petrobras e CPRH não explicaram o que houve. Na refinaria Abreu e Lima (e em vários outros locais pelo país), a tarefa de monitorar a qualidade do ar cabe à própria Petrobras, que subcontrata uma empresa e envia os dados à CPRH. Segundo o engenheiro químico David Tsai, gerente de projetos do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), há no país três modelos de monitoramento da qualidade do ar: 1) em que o estado é diretamente responsável por tudo (caso da Cetesb em SP); 2) o órgão estadual subcontrata uma empresa para monitorar; 3) o próprio poluidor contrata uma terceirizada e repassa os dados para o estado (caso da refinaria Abreu e Lima). "Esse terceiro é o pior dos modelos, porque o órgão público fica totalmente refém", diz Tsai. Ele observa que os parâmetros brasileiros de qualidade do ar, atualizados recentemente pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), já são bem menos rígidos do que os recomendados em 2021 pela Organização Mundial de Saúde e que os prazos colocados para melhorá-los são muito longos emdash;até 2044. O advogado Rômulo Saraiva, que defende os moradores, diz que "o automonitoramento feito pela Petrobras não é desejável". "Diante de tantos casos de corrupção e de suspeita de manipulação de dados, o Estado deveria assumir este encargo", afirma. Saraiva endash;que é colunista da Folhaendash; reclama que os dados com indicadores de poluentes tornados públicos (hoje enviados pela CPRH ao portal MonitorAr, do governo federal) não mostram os principais gases nocivos, mas uma pequena amostragem. Só há no painel público três gases, além de material particulado. O advogado diz que ao todo a Petrobras monitora 17 gases endash;e que muitas substâncias nocivas, como benzeno, nem são monitoradas. "Se a Petrobras foi multada por poluir a comunidade vizinha a Pasadena, onde há maior rigor e as multas são elevadas, o que dizer da Refinaria de Ipojuca?", afirma, em referência à multa de US$ 3,5 milhões paga pela petrolífera em 2018 nos EUA (R$ 13 milhões à época). A maior multa conhecida aplicada pela CPRH à Petrobras por poluição atmosférica da RNest foi de R$ 50 mil, considerada irrisória pelo advogado. Em 2017, por exemplo, a Cetesb multou duas refinarias paulistas (Replan, em Paulínia, e Revap, em São José dos Campos) por poluição atmosférica em R$ 1 milhão cada. Para a engenheira química Glenda Rodrigues, que trabalhou por 34 anos na Petrobras e hoje é consultora na área, o modelo de monitoramento de qualidade do ar adotado pela RNest é muito comum no Brasil, dada a falta de recursos dos estados. Ela afirma não ver problemas com a subcontratação de empresas de monitoramento e duvida que possa haver manipulação de informações. "É crime você manipular um dado desse, eu não acredito nisso." Mais conhecida por abrigar a praia de Porto de Galinhas, Ipojuca tem o maior PIB per capita de Pernambuco (R$ 150,6 mil, em 2021), em grande parte graças aos impostos pagos pela Petrobras, mas segue com muita pobreza e desenvolvimento social medíocre, conforme índices mais atualizados. "A gente sente uma complacência do poder público e dos órgãos de controle, porque a refinaria gera imposto, dinheiro. Parar um gigante desses traria muito prejuízo ao município e ao estado", interpreta o síndico Eduardo Santos. A psicóloga Marcicleide Lima arremata: "Estamos brigando contra Golias".

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Com hidrogênio verde mais barato, América Latina pode suprir mais de 30% do mercado global

A América Latina tem potencial para liderar o fornecimento global de hidrogênio renovável, capturando 25% a 33% da demanda, até 2030, projeta relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), em parceria com a Accenture, publicado na última semana. Abundantes recursos renováveis como solar, eólica e hidrelétrica, portos estratégicos e apoio político desenham um cenário em que a região estaria apta a fornecer commodities de baixo carbono competitivas e rivalizar com com grandes players como a Austrália (22%endash;31%) e a África (9%endash;14%). A estimativa é que o custo nivelado de hidrogênio renovável/verde da região deverá ser particularmente baixo para a produção no sul da Argentina e Chile, noroeste do Brasil e norte da Colômbia e Venezuela já no final da década. Europa e Ásia deverão ser as principais compradoras. eldquo;Essas condições favoráveis e#8203;e#8203;endash; de alta capacidade de energia renovável e baixo custo de produção de hidrogênio limpo endash; podem posicionar a região como um potencial exportador líquido para mercados globais, tanto no médio quanto no longo prazoerdquo;, diz o relatório (.pdf). O estudo identificou 11 potenciais hubs de hidrogênio limpo na América Latina, em países como Chile, Brasil e Panamá. Concorrentes como Estados Unidos e Austrália anunciaram 10 e sete, respectivamente. Diferentes estratégias Embora a análise enxergue a região como provável exportadora líquida de hidrogênio limpo no longo prazo, os países da região têm diferentes estratégias e ambições para desenvolver essa nova economia, com três caminhos: Cita o potencial de exportadores líquidos (Chile e Argentina), descarbonizadores locais (Brasil, Colômbia e México) e atores focados, como Panamá e Uruguai, concentrados no desenvolvimento de hubs de combustíveis verdes para o transporte marítimo. Brasil, Colômbia e México, que enxergam diversas possibilidades de aplicação do hidrogênio, são indicados pelo WEF como futuros descarbonizadores locais. Isso significa usar o energético como insumo na indústria para fornecer aço, fertilizantes, cimento, combustíveis e outros produtos com baixa intensidade de carbono endash; fortalecendo suas cadeias produtivas e exportando bens com maior valor agregado, em um estágio mais adiante. O relatório observa que as estratégias publicadas até o momento endash; como o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) do Brasil endash; ainda não definiram projeções claras de demanda para mercados internacionais e os projetos confirmados buscam aumentar a capacidade de produção para atender à demanda local futura. Situada entre dois oceanos e com um suprimento de água seis vezes superior à média mundial, a ambição da Colômbia é chegar a 2050 com 40% do hidrogênio consumido pelo setor industrial de origem renovável. Para isso, o país está oferecendo benefícios fiscais associados às reduções de emissões. Já o México, embora ainda não tenha uma estratégia nacional para desenvolver uma economia de hidrogênio, tem nove projetos em diferentes fases de desenvolvimento para eletrólise e produção de amônia verde. A Associação Mexicana do Hidrogênio prevê que até 2030 a maior parte da demanda virá de setores como vidro, cimento e produtos químicos, enquanto até 2050 o setor de transportes assumirá a liderança no consumo. Custos competitivos De acordo com o WEF, o custo nivelado do hidrogênio na América Latina varia de US$ 3,70 a US$ 5,90 por kg, atualmente, já abaixo da média global de US$ 3,80 a US$ 8,50 por kg. Até 2030, países como Argentina e Chile pretendem ter custos de produção tão baixos quanto US$ 1,20 a US$ 1,50 por kg, o que pode torná-los os produtores mais econômicos do mundo. No caso do Brasil, o relatório aponta que o preço médio hoje fica entre US$ 2,87-3,56 o kg/H2 renovável, podendo chegar a cerca de US$ 1,90 kg/H2 em 2030 e US$ 1,20 em 2050, e capturar 10% do mercado global. Brasil pode privilegiar baixa emissão Depois de aprovar o marco regulatório do hidrogênio de baixo carbono ampliando o teto de emissões para 7 kgCO2/kgH2, o Congresso Nacional agora pode limitar a concessão de incentivos fiscais de acordo com a intensidade de carbono. Isto é, quanto menor a emissão de CO2 do projeto, maior poderá ser o benefício fiscal. Na semana passada, ao aprovar o PL 3.027/2024, com regras para concessão de R$ 18,3 bilhões dentro do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), a Câmara dos Deputados decidiu incluir um dispositivo estabelecendo que o percentual de crédito poderá ser inversamente proporcional à intensidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas à produção do hidrogênio. O texto aprovado é um substitutivo elaborado pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), que busca corrigir o capítulo dos créditos fiscais vetado pela presidência da República durante a sanção do marco, mas por outros motivos. Relembre A nova redação aguarda apreciação no Senado.

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Petróleo cai 2,5% com negociações de cessar-fogo em Gaza e economia chinesa fraca

Os preços do petróleo caíram mais de US$ 2 o barril nesta segunda-feira (19), com a perspectiva de negociações de paz bem-sucedidas no Oriente Médio reduzindo os riscos de fornecimento, enquanto a fraqueza econômica da China, principal importadora de petróleo, ameaçava conter a demanda. Os futuros do petróleo Brent fecharam a US$ 77,66 o barril, com queda de US$ 2,02, ou 2,5%. Os futuros do petróleo West Texas Intermediate dos Estados Unidos fecharam a US$ 74,37 o barril, com queda de US$ 2,28, ou 3%. eldquo;Este mercado está sob pressão devido às expectativas de que eles continuarão a insistir nas negociações de cessar-fogoerdquo;, disse Bob Yawger, diretor de futuros de energia da Mizuho em Nova York. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse nesta segunda-feira que a mais recente iniciativa diplomática de Washington para chegar a um acordo de cessar-fogo em Gaza foi eldquo;provavelmente a melhor, talvez a última oportunidadeerdquo; e implorou a todas as partes interessadas que finalizassem o acordo. O gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que ele eldquo;reiterou o compromisso de Israel com a mais recente proposta norte-americana referente à libertação de nossos reféns, levando em consideração as necessidades de segurança de Israelerdquo;. eldquo;Grande parte das vendas da semana passada no complexo energético representou uma redução no prêmio de risco do Oriente Médioerdquo;, disse Jim Ritterbusch, da Ritterbusch and Associates na Flórida. Os problemas econômicos da China também pressionaram os preços do petróleo, com dados da semana passada mostrando que os preços de novas casas caíram no ritmo mais rápido em nove anos. As refinarias chinesas cortaram drasticamente as taxas de processamento de petróleo no mês passado em resposta à fraca demanda por combustível. (Reuters)

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