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Mercado vê pouco espaço para queda na cotação do dólar

Depois de subir mais de 27% no ano passado, a moeda americana deve permanecer cotada acima dos R$ 6, segundo os economistas. A incerteza fiscal no cenário doméstico e a volta de Donald Trump à presidência dos EUA, com propostas que valorizam o dólar, devem pressionar o real. Depois de avançar mais de 27% e se consolidar num patamar acima de R$ 6,00 em 2024, o comportamento do dólar se tornou uma das grandes preocupações dos analistas diante do cenário econômico de tantas incertezas, internas e externas, neste ano. Apesar das pesadas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio em dezembro, a moeda americana acumulou leve alta de 0,03% nos primeiros dois pregões do ano, cotada a R$ 6,18. eldquo;O dólar segue muito valorizado em termos globais. Todos os índices do dólar contra cestas de moedas estão em patamares elevadoserdquo;, diz Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências. eldquo;Não vejo margem para um grande alívio ( à moeda) na parte externa.erdquo; Outro fator Os movimentos de Gabriel Galípolo à frente do BC também podem afetar o câmbio A principal incerteza na frente internacional vem dos Estados Unidos, onde Donald Trump volta à presidência em 20 de janeiro. Na campanha, o republicano prometeu a adoção de tarifas de importação mais elevadas, medida que traz riscos inflacionários que dificultariam ainda mais a queda da taxa básica de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). eldquo;As novas pol í t i c a s de Trump podem afetar as expectativas de inflação e, por consequência, a direção do Fed nos juroserdquo;, diz Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de economia e finanças da ESPM. Em sua reunião de dezembro, o Fed cortou os juros em 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano, e sinalizou que deve reduzir as taxas apenas duas vezes em 2025. Depois da decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, disse estar confiante de que a inflação está numa trajetória de queda no país, embora em um ritmo mais lento. Segundo ele, os EUA podem levar mais um ou dois anos para inflação voltar à meta de 2%. eldquo;O Fed enfrenta um dilema grande. A economia ( dos EUA) pode entrar em recessão este ano endash; e isso piora ainda mais com as políticas que o Trump está sinalizando. Ao mesmo tempo, a inflação segue pressionada e começou a acelerar um pouco nas últimas leituras, o que coloca o Fed num cenário em que o momento pode ser de parar de cortar os juroserdquo;, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. eldquo;Mas se a economia entra numa desaceleração ou recessão mais grave, os juros caem com mais intensidade. É um caminho ainda aberto.erdquo; Além das preocupações com os EUA sob Trump, há ainda as tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Ucrânia, e as dúvidas sobre a economia da China, que dá sinais de desaceleração e tem tido dificuldade de alcançar a meta de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). No cenário local, as atenções se voltam para o rumo das contas públicas. O pacote de contenção de gastos apresentado pelo governo em novembro foi considerado aquém do necessário, na avaliação dos especialistas, antes ainda de ser desidratado em sua tramitação no Congresso. O País precisa acertar a as contas públicas para conter o endividamento público e retomar a confiança dos investidores. Com nível de dívida elevado para uma economia emergente e sem uma clareza sobre o futuro, os investidores vêm retirando seus recursos do País e impulsionando a desvalorização do real. eldquo;O cenário de 2025 segue tenso. O câmbio não tem chance de baixar de R$ 6 e há o risco de subir ainda mais. Aparentemente, está caminhando para se estabilizar em R$ 6,20, mas não dá para descartar que, com o cenário internacional e o fiscal mal encaminhado, ele vá para procurar um patamar de R$ 6,50erdquo;, diz Vale, da MB. SINAL. Desde o anúncio do pacote fiscal, que veio acompanhado da proposta de isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil, o dólar ultrapassou a marca de R$ 6,00 e os juros futuros dispararam, num claro sinal de que o investidor está exigindo um retorno maior para financiar a dívida brasileira. Para conter a escalada do dólar, o BC despejou US$ 21,5 bilhões à vista no mercado endash; a maior injeção de recursos em um mês da história do regime de câmbio flutuante. Os analistas também observam com lupa os primeiros passos de Gabriel Galípolo no comando do BC. Galípolo foi uma escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viveu um embate permanente com Roberto Campos Neto, ex-presidente da autarquia. eldquo;Estamos numa situação em que já se contratou uma piora econômica para 2025 e 2026. Não apostaria que o governo terá alguma bala de prata para mudar esse ambiente. E se partir para um populismo econômico, aí o dólar fica mais perto de R$ 7 do que de R$ 6erdquo;, adverte o economista-chefe da Tendências. ebull; eldquo;O mercado questiona muito hoje o que vai ser feito. Uma inversão total da política econômica, que deveria ter sido feita em novembro? Ou vai ser mais uma tentativa de segurar a inflação? Sabemos que isso nunca deu certoerdquo; Adiretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, vê um início de 2025 complicado, com dúvidas no mercado sobre a disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de seguir pelo menos uma regra fiscal até o final do mandato, após a aprovação do pacote de contenção de despesas no fim do ano passado. eldquo;O fundamento continua a ser um País que não tem regra fiscalerdquo;, diz. Segundo ela, haverá uma desaceleração importante da economia, excetuando o setor agrícola, e uma alta de inflação significativa já no começo deste ano, o que, teoricamente, deve influenciar também a popularidade do governo. eldquo;E o mercado questiona muito neste momento o que vai ser feito. Uma inversão total da política econômica, que deveria ter sido feita em novembro? Ou vai ser mais uma tentativa de segurar a economia, vai tentar segurar a inflação? Sabemos que isso nunca deu certo.erdquo; Leia a seguir os principais trechos da entrevista: Qual sua avaliação do cenário após o pacote fiscal do governo? Mesmo que o pacote não fosse desidratado, já seria insuficiente para dar segurança ao arcabouço fiscal sem modificações em 2026. Houve uma desidratação importante. A meta de resultado primário não é factível porque depende de arrecadação na qual não acreditamos. O fundamento continua a ser um País que não tem regra fiscal. Como fica a situação da equipe econômica? A equipe econômica estava disposta a fazer algo mais estrutural, não só a Fazenda, mas também o Planejamento, com ideias que poderiam construir uma ponte para 2026. Obviamente, a equipe fica mais enfraquecida. O mercado quer ver do presidente Lula a disposição de perseguir pelo menos uma regra fiscal até o final do mandato. Podem vir novas medidas? Se vierem, serão tão fracas quanto as que já vieram. O próprio BPC (Benefício de Prestação Continuada, um benefício pago a portadores de deficiência e idosos de baixa renda) mostrou que é muito difícil mexer em benefício social, ainda mais na segunda metade de um governo. A mudança no reajuste do salário mínimo foi uma vitória, mas traz muito pouca segurança de cumprimento de teto em dois anos. A sinalização é de dificuldades. Em dezembro, o Banco Central acelerou a Selic, mas o mercado piorou... O BC praticamente elevou os juros em 300 pontos-base (três pontos porcentuais) em uma reunião só, de dezembro, mas o mercado ficou cético de que, mesmo com uma comunicação muito dura e uma alta de taxa de juros importante, o BC seria bem-sucedido. O problema é o fiscal, não é o Copom, que explicou claramente que o pacote fiscal foi recebido com ceticismo pelo mercado, o que influenciou o prêmio de risco e atrapalha a trajetória da inflação. Obviamente, não é só isso o problema do BC. A orientação do Copom de mais duas altas da Selic dá a ideia de continuidade no BC, agora sob direção de Gabriel Galípolo? O forward guidance ( indicação dos passos futuros) foi conveniente. A pressão política é grande, pode diminuir em alguns momentos, aumentar em outros, mas é presente e significativa. O BC ganha algum tempo sem pressão porque avisou que será duro nas próximas duas reuniões. A Selic vai além de 14,25% ao ano? ( A Selic a) 14,25% é o contratado pelo Banco Central. O mercado vai precificando entre 16,5% e 17%. Se o BC realmente estiver mirando a meta de inflação de 3% no horizonte relevante, vai depender muito de onde o câmbio e as expectativas de inflação vão estabilizar. Muitos no mercado dizem que uma hora o BC vai precisar parar de elevar os juros, mas não consigo comprar esse argumento. Só consegue parar quando, no horizonte de projeção dele, há algum momento em que o câmbio e as expectativas estabilizam. Acho que o BC vai acabar indo mais longe do que o forward guidance de hoje, se eu estiver certa na minha hipótese de que não vai vir uma bala de prata no fiscal. Então qual é a perspectiva para a economia? A economia vai sofrer, porque a alta de juros que ocorreu, ainda que um pouquinho amenizada nos últimos dias, é brutal e vai afetar o crédito. Um salto na taxa de juros pega empresas e consumidores de surpresa. O grau de repasse para a economia acaba sendo mais rápido. O mercado só não prevê essa desaceleração logo no início deste ano porque a safra ( agrícola) deve ser muito boa. Neste momento, a fragilidade fiscal fica ainda mais exposta. Se já falamos de não gerar superávit primário, de dívida subindo aceleradamente, com uma economia forte, quando vira, as preocupações ficam maiores. E o cenário de inflação, com câmbio mais pressionado? Não precisa de um câmbio a R$ 6,30 para ser péssimo. No primeiro trimestre, haverá uma surpresa muito forte com a inflação, porque as empresas recompõem seus estoques, exauridos ao final do ano, com a taxa de câmbio mais alta. O cenário de 2025 é bem ruim, como mostram as inflações implícitas no mercado. No início deste ano, haverá uma desaceleração da economia importante e uma alta de inflação significativa. Teoricamente, isso começa a afetar a popularidade do governo. E o mercado questiona muito neste momento o que vai ser feito. Uma inversão total da política econômica, que deveria ter sido feita em novembro? Ou vai ser mais uma tentativa de segurar a economia, vai tentar segurar a inflação? Sabemos que isso nunca deu certo. ebull;

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Gasolina inicia 2025 pressionada por defasagem de preço e aumento de ICMS

O ICMS sobre os combustíveis sobe no início de fevereiro em meio a um cenário de preços pressionados pela alta do dólar e pela recuperação das cotações internacionais do petróleo, o que pode dificultar ainda mais a queda das taxas de juros. Gasolina e diesel iniciaram o ano com elevadas defasagens, e, embora a Petrobras diga que ainda esperará para definir reajustes, as bombas já refletem alta nos custos de importações e no preço de venda da maior refinaria privada brasileira. A alíquota do ICMS sobre a gasolina e o etanol vai subir R$ 0,10 por litro, de R$ 1,37 para R$ 1,47. A alíquota sobre o diesel e o biodiesel vai aumentar R$ 0,06, de R$ 1,06 para R$ 1,12 por litro. A gasolina é o componente com maior peso no IPCA e qualquer aumento tem potencial para pressionar a inflação. O ICMS sobre os combustíveis é reajustado anualmente. Segundo o Comsefaz (Comitê Nacional de Secretarias Estaduais de Fazenda), o aumento em 2025 reflete a alta dos preços praticados nas bombas entre fevereiro e setembro de 2024, na comparação com o mesmo período do ano anterior. "Esses ajustes refletem o compromisso dos Estados em promover um sistema fiscal equilibrado, estável e transparente, que responda adequadamente às variações de preços do mercado e promova justiça tributária", disse. Os produtos já vêm em alta nas bombas, refletindo a escalada do dólar nas últimas semanas. Segundo levantamento da Edenred Ticket Log, o diesel S-10 encerrou dezembro com o maior preço de 2024: R$ 6,27 por litro, em média, alta de 2,79% no ano. Gasolina e etanol subiram em dezembro, para R$ 6,29 e R$ 4,27 por litro, respectivamente. "As altas registradas no dólar têm afetado o mercado de combustíveis, assim como a maior demanda por transporte, tradicional nesta época do ano", avalia Douglas Pina, diretor-geral de Mobilidade da Edenred Brasil. Os aumentos nas bombas ocorreram em um ano de poucos reajustes da Petrobras. A estatal elevou o preço da gasolina em suas refinarias apenas uma vez. No diesel, não fez nenhum reajuste. Já a Refinaria de Mataripe, controlada pela Acelen, tem repassado as oscilações do mercado internacional com mais frequência. No dia 26 de dezembro, por exemplo, elevou seus preços de venda da gasolina e do diesel, já respondendo à escalada do dólar. A pressão cambial arrefeceu nos últimos dias, mas a cotação do petróleo voltou a subir: entre o dia 20 de dezembro e esta sexta-feira (3), saiu da casa dos US$ 72 para cerca de US$ 76 por barril. Preocupações com sanções ao Irã pelo governo eleito nos Estados Unidos tendem a manter certa tensão no mercado, diz o Goldman Sachs. O banco acredita em impacto pequeno, mas vê o petróleo a US$ 78 por barril em junho. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse à Folha que a empresa ainda vai esperar para entender o comportamento do mercado. Em entrevista recente à Band, ela defendeu que a empresa tem registrado bons resultados mesmo tendo "abrasileirado" o preço dos combustíveis. Nesta sexta-feira (4), porém, a defasagem do preço do diesel vendido pela estatal chegou a R$ 0,67 por litro em relação à paridade de importação medida pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Na média nacional, a diferença é de R$ 0,61 por litro. É um valor próximo dos R$ 0,73 registrados no início de julho, quando a defasagem atingiu seu pico em 2024. No caso da gasolina, a defasagem estava nesta sexta em R$ 0,38 mas refinarias da Petrobras e R$ 0,37 na média nacional. Mesmo que não defina por aumentos, a Petrobras não tem margem para reduzir preços em refinarias e aliviar a alta dos impostos, como fez no último reajuste do diesel, em dezembro de 2023, às vésperas da retomada integral dos impostos federais sobre o combustível.

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Forma de pagamento no abastecimento pode aumentar custo do combustível

O consumo de combustível continua sendo um dos maiores desafios para empresas de transporte e logística, representando até 50% dos custos operacionais de uma frota, conforme estudos do setor. Em 2024, o Brasil registrou um consumo recorde de 66,5 bilhões de litros de diesel e biodiesel, impulsionado pelo crescimento da produção agrícola e pelo avanço de atividades como o e-commerce, tendência que deve se manter em 2025. Esse cenário é ainda mais desafiador diante dos aumentos nos preços dos combustíveis. No último ano, quatro combustíveis registraram elevação nos preços, com destaque para o etanol (+11,5%) e a gasolina aditivada (+6,3%), segundo a Agência Nacional de Petróleo. O que muitos não sabem é que, além da alta normal nos combustíveis, a forma de pagamento escolhida no momento do abastecimento pode elevar consideravelmente esses custos, impactando diretamente no orçamento das empresas que dependem de grandes volumes de combustível. Você pode estar se perguntando: isso não seria ilegal? A resposta é não. O sobrepreço é permitido pela Lei n.º 13.455/2017, que autoriza a diferenciação de preços de acordo com o método de pagamento. A legislação também exige que os fornecedores informem de maneira clara ao consumidor os valores cobrados para cada modalidade de pagamento, o que permite que tanto pessoas físicas quanto jurídicas avaliem qual forma de pagamento é mais vantajosa. Sendo assim, o CEO da Maxifrota, Paulo Guimarães, explica que a escolha da modalidade de pagamento pode ser uma estratégia fundamental para reduzir custos e otimizar a eficiência financeira das empresas. Contudo, ele diz que grande parte das empresas de frotas utiliza os cartões de abastecimentos específicos, já que estão vinculados a sistemas de gestão de despesas de veículos empresariais. Nesse caso, o acréscimo pode surpreender: chega a variar, em média, de R$ 0,10 a R$ 0,50 por litro. "Embora essa flexibilidade ofereça benefícios ao varejo, muitas empresas acabam presas a sistemas de pagamento que, apesar de proporcionarem controle de gastos, geram sobrepreço que compromete a margem de lucro", afirma Guimarães. Baseado no cenário de uma frota de 100 veículos, cada um percorrendo 2.000 quilômetros por mês, o impacto do sobrepreço por litro no abastecimento é significativo, resultando no montante de R$ 150.000,00 ao se considerar o preço da gasolina a R$ 6,00 por litro e um consumo médio de 8 km/l. O custo total mensal de combustível para a frota, sem o acréscimo, seria de R$ 150.000. Já com o acréscimo de R$ 0,50 por litro, por exemplo, o custo total sobe para R$ 162.500, resultando em um aumento de R$ 12.500 mensais. Mas, há uma boa notícia: a tecnologia tem ajudado a driblar o impacto desse sobrepreço. Um exemplo disso é o VEIC, um cartão para abastecimento de veículos recém-lançado no mercado pelo Grupo MaxiFrota. Ele também é integrado a um sistema de gestão de frotas, proporcionando acesso direto aos gestores para configurações e controle de despesas e ajustar os parâmetros de abastecimento conforme necessário. No entanto, ao contrário das soluções tradicionais, ele é o único cartão de gestão de frotas a operar em um arranjo aberto, com bandeira ELO, o que possibilita às empresas uma redução considerável nos custos de abastecimento. eldquo;Com o VEIC, é possível economizar até 30% nos custos de abastecimento. Enquanto soluções tradicionais de gestão de combustível implicam no acréscimo de preço nos postos, o VEIC oferece combustível sem o ágio do cartão de frota, ou seja, sem aumento no preço do litroerdquo;, explica Guimarães. Paulo Guimarães finaliza comentando que a inovação tecnológica tem sido uma aliada essencial para as empresas que buscam otimizar seus custos operacionais. eldquo;A tecnologia veio para transformar o mercado, proporcionando ferramentas que auxiliam as empresas a tomar decisões mais estratégicas e, ao mesmo tempo, reduzir os custos com mais transparência e agilidade. No cenário atual, quem não adotar essas inovações corre o risco de ficar para tráserdquo;, conclui. (Por Redação Homework)

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Aumento do ICMS nos combustíveis pode impactar inflação e taxas de juros no Brasil

No início de fevereiro, os consumidores brasileiros enfrentarão um aumento no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) aplicado aos combustíveis, em um contexto de pressão inflacionária acentuada pela valorização do dólar e pela recuperação dos preços internacionais do petróleo. Essa elevação nas taxas poderá dificultar a tão esperada redução das taxas de juros. Os preços da gasolina e do diesel já iniciaram 2024 com defasagens significativas. Apesar da Petrobras ter anunciado que aguardará mais tempo para decidir sobre possíveis reajustes, os postos de combustíveis já refletem a elevação nos custos de importação e no preço praticado pela maior refinaria privada do país. As novas alíquotas do ICMS resultam em um acréscimo de R$ 0,10 por litro na gasolina e no etanol, passando de R$ 1,37 para R$ 1,47. Para o diesel e biodiesel, a alíquota aumenta R$ 0,06, indo de R$ 1,06 para R$ 1,12 por litro. Vale ressaltar que a gasolina é um dos principais componentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e qualquer alteração em seu preço pode ter um impacto significativo na inflação. A revisão anual do ICMS é uma prática estabelecida. Conforme informações do Comsefaz (Comitê Nacional de Secretarias Estaduais de Fazenda), o incremento previsto para 2025 se baseia na análise dos preços praticados entre fevereiro e setembro de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior. eldquo;Esses ajustes demonstram o compromisso dos Estados em garantir um sistema fiscal que seja equilibrado, estável e transparente, capaz de responder às flutuações do mercado e promover a justiça tributáriaerdquo;, afirmaram representantes do Comitê. A alta nos preços já é visível nos postos, refletindo a recente escalada do dólar. De acordo com dados da Edenred Ticket Log, o preço médio do diesel S-10 encerrou dezembro em R$ 6,27 por litro, representando um aumento de 2,79% no ano. Em relação à gasolina e etanol, seus valores subiram para R$ 6,29 e R$ 4,27 por litro, respectivamente. Douglas Pina, diretor-geral de Mobilidade da Edenred Brasil, observa que as flutuações no dólar e o aumento da demanda por transporte nesta época do ano têm contribuído para essas altas. É importante notar que os aumentos nas bombas ocorreram em um período em que a Petrobras realizou poucos reajustes. A estatal apenas ajustou o preço da gasolina uma vez ao longo do ano e não efetuou nenhuma alteração no valor do diesel. Por outro lado, a Refinaria Mataripe, sob o controle da Acelen, tem seguido mais frequentemente as oscilações do mercado internacional. Em 26 de dezembro, por exemplo, essa refinaria já havia elevado os preços da gasolina e do diesel em resposta ao aumento do dólar. Embora a pressão cambial tenha diminuído nos últimos dias, os preços do petróleo estão novamente em ascensão. Entre 20 de dezembro até 3 de janeiro, a cotação passou de US$ 72 para aproximadamente US$ 76 por barril. O Goldman Sachs aponta que as tensões geopolíticas relacionadas a possíveis sanções ao Irã podem manter o mercado sob pressão. O banco prevê que o petróleo atinja US$ 78 por barril até junho. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, declarou à Folha que a empresa está monitorando atentamente as tendências do mercado antes de tomar decisões. Em uma entrevista recente à Band, ela destacou que mesmo com ajustes nos preços dos combustíveis, a empresa tem apresentado bons resultados financeiros. No entanto, nesta sexta-feira (4), a defasagem no preço do diesel comercializado pela estatal atingiu R$ 0,67 por litro em relação à paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). A média nacional aponta uma diferença de R$ 0,61 por litro. Esses números são comparáveis aos R$ 0,73 registrados no início de julho de 2024, quando a defasagem alcançou seu pico. Quanto à gasolina, a diferença estava em R$ 0,38 nas refinarias da Petrobras e R$ 0,37 na média nacional. Ainda que não sejam definidos novos aumentos pela Petrobras neste momento, a empresa enfrenta dificuldades para reduzir os preços nas refinarias e mitigar o impacto das altas tributárias. Isso é especialmente relevante considerando que em dezembro passado houve uma diminuição nos preços do diesel antes da reintrodução integral dos impostos federais sobre combustíveis.

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Petrobras quer se reaproximar de grandes consumidores para vender novos combustíveis, diz Magda

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, acredita que o posicionamento estratégico da companhia no mercado de combustíveis não passa mais pela volta ao segmento de distribuição. A estatal, no entanto, quer se reaproximar de grandes consumidores, em busca de um mercado para os seus novos produtos de baixo carbono, como o diesel coprocessado com óleo vegetal e o bunker (combustível marítimo) com conteúdo renovável. eldquo;Por enquanto não [está nos planos a volta ao mercado de distribuição]. O que estamos pensando é outra coisa: temos a possibilidade de venda para grandes consumidores [de derivados especiais]erdquo; eldquo;Isso ajuda a descarbonizar a indústria do petróleo e ajuda a descarbonizar a mineração também. Então, pensamos, sim, em abordar e conversar com as grandes empresas brasileiras e ver o que elas precisam, principalmente sob o aspecto do combustível com mais teor renovável, em termos de venda diretaerdquo;, disse a presidente, em entrevista ao programa Canal Livre, da Band. Ela cita que a Petrobras tem avançado, nesse sentido, numa parceria com a Vale para a comercialização do diesel coprocessado e fornecimento de bunker com 24% de conteúdo renovável. Sem grandes investimentos iniciais A Petrobras tem, hoje, uma capacidade instalada para produção de 63 mil barris/dia de diesel R5 endash; tem uma parcela de 5% de conteúdo renovável endash; em cinco refinarias. A petroleira, contudo, enxerga um potencial de aumentar essa capacidade em onze vezes, a depender da regulação do produto. Magda Chambriard destacou que a Petrobras consegue aumentar a parcela de conteúdo renovável no diesel coprocessado até 10%, sem necessidade de grandes investimentos. eldquo;Até 10% a gente consegue ir com quase nenhum investimento, apenas adaptando pouca coisa na refinaria. O diesel coprocessado nada mais é do que uma fusão da indústria do petróleo com o agroerdquo;, afirmou. Petrobras perdeu principal elo com clientes O esforço comercial para venda de seus novos produtos de baixo carbono tem exigido da Petrobras uma nova reaproximação com clientes. Com a privatização da antiga BR Distribuidora (hoje Vibra Energia), a Petrobras perdeu seu principal elo com os consumidores finais: não só os motoristas, via rede de postos de revenda, mas também indústrias emdash; empresas de navegação e do agronegócio que hoje demandam soluções para descarbonização de seus negócios. A Vibra atende hoje a uma carteira de 9 mil clientes B2B (consumidores finais, sejam empresas privadas e entes públicos de diferentes setores, como indústrias, agronegócio, transportadoras, transportador revendedor retalhista de combustível e marítimo). Foi essa carteira que permitiu à empresa, uma vez privatizada, apostar em novos negócios emdash; como a comercialização de energia (Comerc) e os negócios de biogás/biometano (ZEG), comercialização de etanol (Evolua) e eletromobilidade (EZVolt). Durante os primeiros meses do governo Lula (PT), houve uma pressão por parte dos sindicatos dos petroleiros, base de apoio do petista, para que a Petrobras, então comandada por Jean Paul Prates, retomasse ao setor de distribuição a partir da recompra da Vibra. O movimento, contudo, não avançou. A saída da Petrobras do negócio de distribuição de combustíveis começou a ser gestada no governo Michel Temer (MDB) e foi concluída no mandato de Jair Bolsonaro (PL). Ocorreu dentro da estratégia da companhia de concentrar investimentos em ativos de maior retorno (leia-se exploração e produção de óleo e gás em águas profundas e ultraprofundas) e vender ativos para reduzir sua dívida. A petroleira se afastou então da distribuição: vendeu não só da BR, mas também a Liquigás (gás liquefeito de petróleo, o GLP); a Gaspetro (gás natural); e ativos de distribuição de derivados em outros países na América do Sul. A saída da BR foi feita em etapas: em 2017, a Petrobras abriu o capital da empresa na bolsa, numa operação que levantou R$ 5 bilhões. Em 2019 fez uma nova oferta de ações que lhe retirou o poder de controle sobre a companhia, por R$ 8,5 bilhões. E em 2021, deixou o capital da distribuidora de vez, com a venda das ações (37,5%) que ainda detinha na BR, por R$ 11,36 bilhões.

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Indústria do gás natural se alia para pedir veto de Lula à monofasia do gás e biometano na reforma

Um grupo de cinco associações ligadas a diferentes elos da cadeia do gás natural endash; incluindo produtores, transportadoras, termelétricas e o setor de biogás endash; enviou uma carta ao presidente Lula (PT) pedindo o veto aos trechos da regulamentação da reforma tributária que incluem o gás natural (e biometano) no regime monofásico. O documento foi assinado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP); Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip); Associação de Empresas de Transporte de Gás Natural por Gasoduto (ATGás); Associação Brasileira Geradoras Termelétricas (Abraget); e a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás). Na visão do grupo, a monofasia contraria o interesse público ao engessar o desenvolvimento de novos negócios e uso do gás como insumo industrial; e, no caso da geração de energia elétrica, criar um eldquo;cenário de provável bitributaçãoerdquo;. Gás não tem mesmo risco de sonegação fiscal A carta cita que o regime monofásico é eldquo;adequado e recomendávelerdquo; para combustíveis líquidos, porque evita a sonegação e a pirataria num setor que envolve milhões de contribuintes finais. Mas não para o gás. eldquo;Já no caso do gás natural inexiste o risco de evasão fiscal e de elsquo;piratariaersquo;, uma vez que sua comercialização e movimentação ocorre através de sistemas de gasodutos contínuos e herméticos, de fácil controle e fiscalizaçãoerdquo;, cita a carta. O documento também lembra, como precedente, que a Lei Complementar 192/2022, que estabeleceu a monofasia do ICMS para os combustíveis líquidos excluiu o gás. As entidades acrescentam, ainda, que excluir o gás natural processado e o biometano do regime monofásico de tributação não representará redução de arrecadação. Setor tentou barrar monofasia do gás no Congresso O texto do PLP 68/2024, aprovado no Congresso no fim de 2024, inclui o gás natural processado, biometano e o gás natural veicular (GNV) no regime especial para combustíveis endash; ou seja, o recolhimento do IBS e CBS no início da cadeia produtiva, com alíquotas uniformes em todo o território nacional. O regime monofásico está dentro do espírito da reforma tributária, de buscar a simplificação e a transparência do sistema fiscal. Ao longo da tramitação do projeto no Congresso, porém, os segmentos de downstream e os produtores de gás construíram um consenso de que o modelo de incidência em um único elo da cadeia pode ser prejudicial. O pleito foi, posteriormente, endossado pelas distribuidoras de gás canalizado (representadas pela Abegás) e pela Abiogás. A percepção, entre os agentes, é de que o modelo monofásico é incompatível com a complexidade do mercado regulado de distribuição do gás. Além disso, pode potencializar o acúmulo de créditos, sobretudo em virtude de diferenças de carga fiscal e de utilização de insumos desonerados, como energia elétrica e fertilizantes, e de seu eventual estorno.

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