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Transição energética ou superprodutor de petróleo? As contradições ambientais nos planos do Brasil

O Brasil promete reduzir suas emissões de gases que contribuem com o aquecimento global em até 67% até 2035, conforme prevê a meta climática apresentada pelo governo federal às Nações Unidas. Por outro lado, o governo projeta aumento de 56% na produção de petróleo até 2030, e de 118% na de gás até 2034. Os dados fazem parte do relatório internacional Lacuna de Produção 2025 (The Production Gap), divulgado nesta segunda-feira, 22. O documento é produzido pelo Instituto Ambiental de Estocolmo, a Climate Analytcs, e o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável e teve a contribuição de mais de 50 cientistas de todo o mundo, inclusive do Brasil. O levantamento faz avaliação detalhada da produção planejada e projetada de carvão, petróleo e gás em 20 grandes nações de combustíveis fósseis, responsáveis por 80% da oferta global. Neste anos, os holofotes da agenda ambiental se voltam para o Brasil, que recebe a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30) em Belém - pela primeira vez na Amazônia. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer se colocar como líder das negociações climáticas ambientais, mas enfrenta controvérsias internas, como os planos de explorar petróleo na Margem Equatorial da Foz do Rio Amazonas. O País não está sozinho na diferença entre promessas climáticas e planejamento governamental. Conforme o mesmo relatório, globalmente, as nações planejam extrair 120% a mais de combustíveis fósseis do que seria compatível com o limite de aumento médio da temperatura global (de 1,5º C) previsto no Acordo de Paris, pacto assinado por quase 200 países para frear o aquecimento do planeta. eldquo;Trata-se de uma contradição mundial, não só do Brasilerdquo;, afirmou ao Estadão o engenheiro químico Alexandre Szklo, professor do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos brasileiros que elaboraram o relatório global. eldquo;Se reconhece que o petróleo ainda será necessário e, portanto, ainda deverá haver produção. Mas não são definidos os critérios e instrumentos para estabelecer como será feita essa produção remanescente de forma mais sustentável.erdquo; O governo brasileiro anunciou recentemente o lançamento da Política Nacional de Transição Energética e do Programa de Aceleração da Transição Energética. Brasil se alia a países da Opep Conforme o novo relatório, a extração de petróleo no País deve crescer 56% entre 2023 e 2030 e a de gás mais do que dobrar, com alta de 118% até 2034. Além disso, o Brasil já sinalizou a intenção de aderir à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)+, grupo expandido que agrega os 13 membros da Opep e outras nações parceiras (sem direito a voto), como Malásia e México. Após o Conselho Nacional de Política Energética decidir pela adesão à Opep+, em fevereiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o Brasil eldquo;não deve se envergonhar de produzir petróleoerdquo;. Segundo a pasta, a entrada na Opep+ amplia a influência do País na transição energética. Em agosto, Petrobras e Ibama chegaram a um acordo para testes antes da decisão final sobre a concessão de licença para a perfuração de um poço na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá. Neste mês, Lula defendeu mais uma vez explorar petróleo na Margem Equatorial. eldquo;Queremos preservar a Amazônia não como uma coisa intocável, mas que ela seja explorada, seja por mar e por terra, da forma mais responsável possívelerdquo;, disse. Entre os argumentos mais frequentes do governo e do setor produtivo para manter as frentes de produção, estão a demanda energética e de desenvolvimento socioeconômico de um país de renda média, como o Brasil. Ambientalistas, por sua vez, argumentam que o projeto na Margem Equatorial, por exemplo, oferece risco ao ecossistema do local, como impactos à fauna em caso de derramamento de óleo. Já a ala ambiental do próprio governo tem pressionado pela redução na aposta em combustíveis fósseis. eldquo;Defendo que a Petrobras seja uma empresa de geração de energia, e não apenas de petróleoerdquo;, disse Marina Silva ao Estadão. eldquo;Dez anos após o Acordo de Paris, os governos estão tropeçando de volta ao nosso passado fóssilerdquo;, afirma Neil Grant, cientista que também participou da construção do relatório Lacuna de Produção. eldquo;Embora frustrante ver dinheiro público desperdiçado em ativos que, inevitavelmente, se tornarão obsoletos; é intoleravelmente injusto pensar nos custos humanos e ambientais desses planos de expansão, sobretudo para os mais vulneráveiserdquo;, continua. O relatório analisa os planos de produção de combustíveis fósseis de: Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Alemanha, Índia, Indonésia, Cazaquistão, Kuwait, México, Nigéria, Noruega, Qatar, Federação Russa, Arábia Saudita, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos. Em 2023, a lacuna de produção de combustíveis fósseis era de 110% acima do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5ºC na comparação ao período pré-Revolução Industrial, como prevê o Acordo de Paris. Hoje, este número está em 120%. Ou seja: nos últimos dois anos os países ampliaram seus planos de produção de combustíveis fósseis em vez de reduzi-los, como seria esperado. Ação antidesmate e agricultura tecnológica devem frear emissões eldquo;No caso brasileiro, a grande contribuição para a meta global (de redução de emissões) virá da agricultura de alta tecnologia e da redução do desmatamentoerdquo;, afirma Szklo, da UFRJ. Um dos grandes motores da economia do País, o agronegócio tem como um dos seus desafios aperfeiçoar as técnicas de redução de emissão do gás metano - bastante ligado à pecuária - um dos principais desafios. Na ação antidesmate, o Brasil viu as taxas de destruição da Amazônia caírem pela metade desde 2023. O aumento da degradação da floresta e do risco de queimadas, porém, tem comprometido a capacidade de regeneração do bioma, o que acende o alerta sobre a possibilidade de o ecossistema estar cada vez mais perto de um ponto de não retorno. eldquo;Também existe a possibilidade de remoção de gás carbônico da atmosfera tanto por medidas baseadas na natureza (como o reflorestamento), quanto pela adoção do uso de biocombustíveis avançados", acrescenta o pesquisador.

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Brasil pode atrair US$ 90 bi em investimentos no setor de biocombustíveis marítimos, diz estudo

O Brasil reúne condições para se tornar pilar da descarbonização do transporte marítimo mundial: pode suprir até 15% da demanda global de combustíveis do setor, cortar 170 milhões de toneladas de COe#8322; equivalente por ano e atrair investimentos próximos de US$ 90 bilhões, conclui relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG) apresentado no Brazil Climate Summit, em Nova York. A pesquisa, intitulada eldquo;Seizing Brazilersquo;s Potential for Low-Emission Marine Fuelserdquo;, parte da exigência regulatória da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), que passa a exigir a redução da intensidade de carbono dos navios a partir de 2028, sob multas de US$ 100 a US$ 380 por tonelada de COe#8322; e não abatida. Conforme o BCG, como segundo maior produtor mundial de etanol e biodiesel, o Brasil dispõe de escala agrícola, capacidade industrial e até 25 milhões de hectares de terras degradadas aptas a integrar a cadeia de biocombustíveis sem competir com a produção de alimentos. eldquo;Com as embarcações necessitando reduzir drasticamente a intensidade de suas emissões de gases de efeito estufa, haverá uma crescente demanda por combustíveis marítimos de baixa emissãoerdquo;, afirma Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG. eldquo;Neste cenário, os biocombustíveis brasileiros, como o biodiesel e etanol, oferecem alternativas de rápida implementação, competitivas em custo e escaláveis, cujo aumento da oferta será apoiado na restauração de terras degradadaserdquo;, avalia. O estudo calcula que o biodiesel nacional (B100) entrega custo de abatimento de US$ 220-230/tCO2e nos portos brasileiros emdash; bem abaixo das futuras penalidades emdash; e de US$ 280-300/tCO2e em hubs como Roterdã e Cingapura. No caso do etanol, os valores ficam entre US$ 205-210/tCO2e no Brasil e US$ 265-275/tCO2e no exterior, reforçando a atratividade econômica do produto. eldquo;Esta vantagem pode gerar uma redução de aproximadamente 170 Mt de COe#8322; e por ano e atender a 15% da demanda de energia do transporte marítimo até 2050, com uma oportunidade de investimento estimada em cerca de US$ 90 bilhões especificamente para a cadeia de valor de biocombustíveis marítimoserdquo;, reforça Ramos. Para que o potencial se confirme, o BCG aponta a necessidade de consolidar o arcabouço regulatório da IMO, criar mecanismos de incentivo claros até 2027 e avançar na adaptação de motores a metanol compatíveis com etanol. Mesmo assim, a consultoria sustenta que a combinação de vantagens naturais e agenda climática oferece ao País uma chance eldquo;únicaerdquo; de liderar a transição energética nos mares e, ao mesmo tempo, recuperar áreas degradadas, impulsionar a agricultura regenerativa e gerar novas receitas em divisas. O estudo do BCG reafirma ainda o potencial do Brasil de receber uma injeção de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões em investimentos a partir do compromisso de empresas brasileiras em zerar as emissões de gases do efeito estufa, principais causadoras das mudanças climáticas, até 2050. Nesta conta, estão iniciativas de descarbonização em quatro áreas principais: créditos de carbono, energia limpa, agricultura sustentável e uma revolução verde no setor industrial.

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Aumento compulsório do biodiesel provoca impacto econômico e operacional

Desde 1º de agosto de 2025, a gasolina comum e aditivada vendida nos postos de todo o Brasil passou a conter 30% de etanol anidro (E30) e o óleo diesel, 15% de biodiesel (B15), conforme decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no âmbito da Lei do Combustível do Futuro (Lei 14.993/2024). As gasolinas premium permanecem com 25% de etanol anidro. Apesar do anúncio como marco ambiental e de autossuficiência em combustíveis, especialistas indicam que há desafios técnicos significativos, risco de aumento de custos e contradições sobre a real dimensão da eficácia ambiental das novas misturas. A partir do final da década de 1930, durante o governo Getúlio Vargas, por necessidade econômica e viabilidade técnica, o etanol anidro passou a ser utilizado como aditivo na gasolina na razão de 5%. Nos anos 70, o Proálcool foi implantado com o objetivo de reduzir a dependência do petróleo e estimular a produção do etanol combustível, ampliando o percentual de etanol anidro na gasolina para 20%. E ainda houve o lançamento dos veículos exclusivamente a etanol hidratado combustível, um produto novo. Neste período houve forte crescimento da demanda pelos biocombustíveis, etanol anidro e etanol hidratado. A produção agrícola e a indústria de beneficiamento dos biocombustíveis não conseguiram acompanhar a referida demanda, resultando em grave crise de abastecimento e elevando prejuízos para os consumidores. Em 2003, surgem os motores flex e, lentamente, vai se retomando a confiança do consumidor nos biocombustíveis, com o aumento das vendas dos veículos flex e consequentemente dos biocombustíveis. Em 2022, quando as misturas eram E27 e B12, o Brasil já era o país que mais utilizava a proporção obrigatória de biocombustíveis nos combustíveis fósseis (gasolina C e diesel B) no mundo. Segundo o trabalho eldquo;Mandatos de Misturas de Biocombustíveis no Mundoerdquo; da EPE (levantamento publicado pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE), enquanto no Brasil a quantidade de etanol anidro na gasolina era de 27%, no restante do mundo a percentagem desse produto não ultrapassava os 15%. No caso do biodiesel, somente o Brasil impõe a obrigação de um teor de biodiesel acima de 10%, a maioria dos países utiliza percentuais bem abaixo, e de forma voluntária. A exceção é a Indonésia que pratica percentuais em torno de 30% por razões muito específicas, justamente por ser um país com alta dependência da importação de petróleo. eldquo;Reconheço a importância das políticas de transição energética e dos biocombustíveis, mas é preciso realizar os estudos técnicos e econômicos relacionados com a execução das iniciativas de forma a reduzir riscos para os consumidores e a indústria envolvida na atividade. Os sucessivos aumentos do uso dos biocombustíveis não estão levando em consideração questões técnicas do processo de homogeneização dos produtos e o impacto econômico na economia popular, deixando a impressão de que a tomada dessas decisões ocorre sem planejamento e sob pressão dos grupos de interesses. Não é só uma mudança de número, tem um efeito operacional em série e um impacto econômico relevanteerdquo;, comenta Francisco Castro Neves, diretor-executivo da Associação Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (ANDC). Desafios logísticos: bases de armazenamento e transporte precisam se adaptar Herbert Oliveira é professor associado do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde realiza estudos sobre a complexidade das misturas de biodiesel. Ele explica que as bases de transporte e armazenamento existentes não foram projetadas originalmente para operar com misturas tão elevadas de biocombustíveis e terão que ser redimensionadas e atualizadas com novos equipamentos e instrumentos. eldquo;No caso do biodiesel, o impacto é ainda maior, pois se trata de um combustível com propriedades físico-químicas diferentes do diesel fóssil. Em uma pesquisa que estamos conduzindo na UFBA, pode-se constatar, ainda que de forma preliminar, a natureza complexa do processo de homogeneização do biodiesel no diesel, acentuada com os aumentos sucessivos do teor legalmente exigido de biodieselerdquo;, explica o especialista. eldquo;Fatores que impactam no processo de mistura durante carregamento dos combustíveis: o tempo necessário para a plena homogeneização; a temperatura ambiente; a dinâmica da mecânica dos fluxos desde o carregamento no caminhão-tanque até a efetiva amostragem; a temperatura e a umidade locais; e a matéria-prima de origem do B100 utilizado. Tudo isso se apresenta como variáveis críticas com grande influência na qualidade da mistura finalerdquo;, detalha. Os pesquisadores da instituição também constataram que faltam estudos aprofundados relacionados à homogeneização de biodiesel no diesel na literatura acadêmica, o que aponta para a necessidade urgente de apoio para novos estudos nessa área diante da curva crescente de aumento da proporção do biocombustível. Do mesmo modo, também é preciso que haja investimentos expressivos em infraestrutura das bases de distribuição. eldquo;Desde o ano de 2008, quando biodiesel foi introduzido de maneira compulsória na matriz de combustíveis brasileira na razão de 2%, não houve qualquer iniciativa, investimentos ou financiamento público voltados para o desenvolvimento de equipamentos e instrumentos específicos para atualização tecnológica do processo de homogeneização, de modo a acompanhar a complexidade crescente em função dos aumentos sucessivos do teor exigido de biodieselerdquo;, pondera Herbert. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam que problemas de qualidade no diesel B cresceram junto com o aumento do teor de biodiesel no diesel. Tais problemas ocorrem em toda a cadeia produtiva, sendo maiores as não conformidades junto ao produtor e menos frequentes nas etapas a jusante, chegando ao consumidor com relativa qualidade, exigindo cada vez mais cuidado no manejo do produto por todos, inclusive os consumidores. Segundo especialistas, as dificuldades no controle da qualidade do diesel B crescem com a elevação dos percentuais de mistura. eldquo;O aumento das não conformidades do diesel B, sobretudo no momento de alteração das novas obrigações, são atestados pelo Programa de Monitoramento de Qualidade dos Biocombustíveis endash; PMQC, o qual reflete a situação do combustível no varejo. Enquanto o Programa de Monitoramento de Qualidade dos Biocombustíveis endash; PMQBio, recentemente publicado, traz o diagnóstico da qualidade dos produtos primários junto ao produtor e ao distribuidor. No caso do biodiesel, o parâmetro de qualidade eldquo;contaminantes totalerdquo; junto ao produtor foi de 17% de não conformidade, enquanto nas bases de distribuição o mesmo parâmetro foi melhor, com 12,5% de não conformidade. Esse cenário aponta que a qualidade do combustível melhora ao longo da cadeia produtiva e chega ao consumidor com índices de não conformidade em torno de 4%, o que demonstra de forma objetiva o comprometimento dos distribuidores e revendedores com a qualidade dos combustíveis, mas expõe a complexidade e o risco existentes nos referidos processos. A adequação e modernização das instalações das bases de distribuição demandam tempo e muito recursos associados a um processo que envolve projeto, obras, licenciamento ambiental, corpo de bombeiro etc., e ainda enfrentam as dificuldades da gestão pública no âmbito municipal, estadual e federal. Esse processo desprezado pela tecnocracia do serviço público e pelos tomadores de decisões é demorado, caro e muito importante para a regularidade no abastecimento nacional, aponta Francisco Castro Neves. eldquo;Diante de um cenário tão desafiador, torna-se necessária a atenção dos gestores públicos e formuladores das políticas para o tema, com vistas inclusive à construção de financiamento público para essas pesquisas e modernizações. Assim como é preciso avaliar a oportunidade nas tomadas de decisões e estabelecer um prazo adequado para que as distribuidoras de combustível consigam promover essas mudanças. O intervalo de mudança do teor de biodiesel não deveria ser inferior a três anos e na razão máxima de 1% para o aumento do biodiesel no dieselerdquo;, complementa. Impactos para o consumidor: custo e manutenção Os consumidores finais também precisam acompanhar essas mudanças e seus efeitos com atenção, principalmente os que possuem veículos antigos devido à incompatibilidade de materiais e à necessidade de pureza do combustível. Segundo Herbert, o biodiesel pode causar acúmulo de resíduos, obstrução de filtros e mangueiras, além de afetar a combustão e a eficiência do motor. Já o etanol, em altas concentrações, pode corroer peças e causar problemas de partida, embora veículos flex sejam projetados para lidar com ele. Além disso, embora não cause danos permanentes, a necessidade de consumo da mistura por quilômetro rodado, em comparação à gasolina pura ou a misturas com menores concentrações de etanol, tende a ser maior. Do ponto de vista financeiro, o aumento dos percentuais de etanol e biodiesel significa aumento dos custos dos combustíveis com potencial de refletir no preço ao consumidor. Com o crescimento do etanol anidro na gasolina, a oferta de etanol hidratado tende a diminuir. Ou seja, o preço do etanol hidratado nos postos de gasolina deve aumentar, fazendo com que o interesse do consumidor por utilizar o produto sem adição de combustível fóssil (o que seria melhor sob o ponto de vista ambiental) diminua. Já o valor do diesel B é afetado pelo preço do biodiesel, que, apesar da supersafra de soja nacional, vem encarecendo e no momento ultrapassa o dobro do diesel (preço de compra do distribuidor sem imposto: biodiesel R$ 6,35/litro e diesel R$ 3,14/litro). Outro fator é o maior custo da infraestrutura de transporte, armazenamento e homogeneização do biodiesel. Assim, cresce a necessidade de mais caminhões para carregar o produto primário, com os desafios técnicos do transporte, armazenamento e manuseio do biocombustível, com possibilidade de repercutir nos preços ao consumidor final. O valor dos combustíveis na bomba também depende de outros fatores, como tributação, custos logísticos, margens comerciais e câmbio, como explica Carlos Germano Jr., advogado especialista em Gestão e Direito do Petróleo e Gás: eldquo;Na prática, o que se observa é que a gasolina C e o diesel B passam a ter sua formação de preço ainda mais atrelada às commodities agrícolas (soja, cana, milho), cujas cotações são definidas em mercados internacionais como Chicago. Isso traz maior volatilidade e imprevisibilidade, pois qualquer oscilação global de safra, clima ou geopolítica pode se refletir de imediato nos custos domésticos. Para as distribuidoras, o cenário exige gestão de risco mais complexa; para os consumidores, aumenta o risco de repasses de alta, sem garantia de redução efetiva do preço na bombaerdquo;. A ANDC formalizou um pedido de estudo de impacto na economia popular do E30 e B15, mas não recebeu retorno. eldquo;O poder público precisa planejar e avaliar os impactos das políticas impostas à sociedade, sob o ponto de vista do interesse público e neste caso isso não ocorreu. A participação do Ministério da Fazenda na decisão seria fundamental pois é quem tem especialidade nos estudos econômicos de impacto inflacionário e o que assistimos é o Ministério de Minas e Energia agindo sozinho, literalmente e#39;empurrando com a barrigae#39; decisões que afetam toda a sociedadeerdquo;, alerta o diretor-executivo da associação. Até o momento, também não houve uma campanha de comunicação ampla e estruturada do governo federal para esclarecer os usuários sobre os cuidados com o manejo dos novos combustíveis, o que amplia os riscos de danos aos consumidores decorrentes das novas misturas de combustíveis, nos diferentes perfis de consumo. Contradições ambientais A presença dos biocombustíveis na matriz de transporte é positiva, pela segurança do abastecimento, eficiência energética e por contribuir com a redução das emissões de gases poluentes. O problema é a proporção dos biocombustíveis, que nesse caso, há aderência absoluta com o provérbio consolidado na ciência e na cultura popular de que eldquo;a diferença entre o veneno e o remédio é a dosagemerdquo;. Os estudos técnicos e econômicos construídos com impessoalidade e rigor técnico são elementos necessários e condição primeira para o equilíbrio e o êxito da política no longo prazo. Assim, a aplicação da Lei do Combustível do Futuro, a qual criou metas ambiciosas para os mandatos compulsórios dos biocombustíveis na matriz de transporte, em tempo absolutamente curto, impõe o dever para a administração pública de planejar adequadamente sua execução. Isso fundamentado em critérios técnicos científicos, racionalidade econômica e compromisso público com a segurança do abastecimento nacional, a qualidade dos produtos e serviços e sobretudo a razoabilidade dos preços, os quais têm relação direta com o acesso dos combustíveis pela população brasileira. A questão ambiental, em tempos de crise climática e intensos conflitos geopolíticos e comerciais, ganha importância e exige responsabilidades cada vez maiores do poder público. O problema de fundo é transformar o modelo de produção econômica levando-o a práticas sustentáveis, com reais reduções das emissões de gases do efeito estufa. No caso, a redução da intensidade de carbono da matriz de transporte não pode ser tratada na superfície das obrigações formais, mas se deve apurar nas cadeias produtivas a efetiva redução dos gases efeito estufa (GEE), do berço ao túmulo. De forma que a indústria de biocombustíveis possui um gigantesco débito ambiental com a sociedade, relacionado com a mensuração e o diagnóstico das emissões de GEE na fase agrícola da produção. Essa atividade, que é caracterizada pela monocultura, a qual liquida a biodiversidade do ambiente de produção rural, mascarada por dados padronizados de produção, precisa de atenção e postura firme da administração pública, sob pena de, por omissão, contribuir para colocar em xeque a integridade ambiental dos biocombustíveis. Assim, há contradições ambientais relevantes no sistema de produção dos biocombustíveis. Para Francisco, no caso do biodiesel é preciso olhar a pegada de carbono de todo o ciclo, que envolve a soja, o milho e o sebo do boi, já que apenas uma pequena parte dessa produção é feita pela agricultura familiar e a imensa maioria vem da monocultura. "O RenovaBio, por exemplo, que remunera os industriais por uma produção sustentável e impõe um custo imenso para a sociedade brasileira, não regula de forma adequada o processo de certificação. O órgão é incapaz de assegurar a integridade ambiental dos títulos de descarbonização (CBIOs), decorrente da fragilidade das normas e da inércia absoluta quanto ao trabalho de fiscalização", critica ele ao apontar como desafios centrais os critérios de elegibilidade e o necessário controle da regularidade fundiária, ambiental e social das áreas e atividades de produção agrícola, com destaque para a capacidade de uso do solo. De acordo com Neves, a produção agrícola no Brasil em regime de monocultura é caracterizada por grandes impactos sociais, fundiários e ambientais com absoluta falta de controle do poder público, sendo o uso da terra o maior emissor de GEE de todas as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil, responsável por quase 70% desses danos ambientais. eldquo;Embora a transição energética seja um objetivo legítimo e necessário, a adoção do B15 e do E30 parece responder muito mais a uma agenda política imediata do que a um planejamento técnico estruturado. Vale lembrar que o Acordo de Paris exige não apenas compromissos formais, mas sim resultados mensuráveis e adicionais, isto é, reduções de emissões que não ocorreriam sem novas políticas ou tecnologias. Apenas dessa forma o Brasil conseguirá alinhar seus avanços internos às metas climáticas internacionaiserdquo;, analisa Carlos Germano Jr. Segundo ele, os principais beneficiados pelo aumento das misturas são os produtores de biocombustíveis, em especial os setores de etanol e biodiesel. eldquo;Esses grupos exercem forte influência por meio de associações representativas, participação em conselhos como o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e interlocução direta com o governo. Há ainda apoio de segmentos ligados ao agronegócio, que veem nessas medidas um canal de escoamento de produção e de valorização das commodities agrícolas. Essa capacidade de mobilização política e econômica tem peso significativo na formulação das decisões governamentaiserdquo;, diz o advogado. Os especialistas ressaltam que o país deve buscar um modelo de equilíbrio, pautado pelo interesse público e pelo aperfeiçoamento das práticas ambientais sobre a política de combustíveis. Para eles, é preciso responsabilidade, cautela e gestão com foco no interesse público para evitar que decisões fiquem excessivamente subordinadas a pressões de produtores do setor.

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Petróleo fecha em queda pelo 4º dia seguido com receios por oferta e demanda

Os contratos futuros do petróleo fecharam em queda nesta segunda-feira, 22, após começarem o dia em alta. Esta é a quarta sessão seguida de queda. No radar, os investidores avaliam a possibilidade de um desequilíbrio das condições do mercado com receio sobre queda da demanda em um contexto de aumento da produção por países relevantes, o que atenua receios sobre os conflitos globais. O petróleo WTI para novembro, negociado na New York Mercantile Exchange (Nymex), registrou baixa de 0,19% (US$ 0,12), a US$ 62,28 o barril, enquanto o Brent para dezembro, negociado na Intercontinental Exchange de Londres (ICE), cedeu 0,10% (US$ 0,07), a US$ 65,97 o barril. De acordo com analistas da Caixa Bank Research, a queda na demanda do petróleo faz com que o preço da commodity recue. O analista da BOK Financial, Dennis Kissler, também vê as preocupações aumentarem: eldquo;investidores estão voltando a focar na possibilidade de um possível excesso de oferta no mercado global, que está por vir.erdquo; O aumento na oferta também preocupa investidores, que veem o aumento da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) sem que ocorra uma diminuição efetiva por parte de outros países, como a Rússia, apesar de novos ataques ucranianos às instalações petrolíferas russas. eldquo;Embora aspectos geopolíticos permaneçam elevados, não parece haver grandes interrupções diminuindo o fornecimento do petróleo brutoerdquo;, continua Kissler. No radar do mercado está a reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York e que discute as invasões no espaço aéreo da Estônia pela Rússia. Na sexta-feira, o Conselho aprovou a imposição de novas sanções ao Irã pelo descumprimento de acordos sobre o programa nuclear do país. Uma possível trégua no conflito entre Palestina e Israel também chama atenção dos investidores. De acordo com a Fox News, o Hamas prometeu liberar metade dos reféns ainda detidos em Gaza caso o presidente norte-americano, Donald Trump, garanta um cessar-fogo de 60 dias. (Estadão Conteúdo)

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Ipiranga relata aumento de vendas de combustíveis após operação Carbono Oculto

A Ipiranga está registrando aumento no volume de vendas de combustíveis como resultado da operação Carbono Oculto, deflagrada por autoridades do país no final de agosto, mas ainda é cedo para avaliar impactos sobre as margens da companhia, afirmou o presidente da rede de postos do grupo Ultra, Leonardo Linden, nesta sexta-feira, 19. eldquo;Espero ganho de share (participação de mercado) em agosto e principalmente em setembro, mas não vai ser uniformeerdquo;, disse o executivo em apresentação do grupo Ultra a analistas e investidores mais cedo. A operação Carbono Oculto envolveu vários órgãos públicos com agentes atuando em dez Estados no final de agosto e mirou contra um esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, com participação de fundos de investimento e fintechs acusados de receberem recursos que têm ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo Linden, os alvos da operação têm uma participação de 7% no mercado brasileiro de distribuição de combustíveis e 33% do mercado de etanol do Estado de São Paulo. O executivo afirmou que espera novas fases eldquo;importanteserdquo; da operação nos próximos meses, ecoando comentários semelhantes feitos pelas autoridades na época em que as ações de combate ao esquema foram lançadas. eldquo;Nunca vi operação tão relevante, pela capacidade de coordenação entre os agentes do setor, e isso fez com que ela tenha sido muito ampla, mas não dá para parar aquierdquo;, afirmou o executivo. eldquo;A investigação está em curso, imaginamos que haverá outras fases importantes para o negócio, para que possamos construir um ambiente mais simétrico e que incentive mais as companhias que trabalham certo no setorerdquo;, disse Linden. Questionado sobre as perspectivas de margens de lucro para a Ipiranga após a operação, Linden afirmou: eldquo;quero ver primeiro (o crescimento) do volumeehellip;acho que vai acontecer antes da margemerdquo;. (Reuters)

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ANP fará consulta e audiência públicas visando a transparência de preços de derivados de petróleo

Diretoria da ANP aprovou hoje (18/9) a realização de consulta e audiência públicas para revisão da Resolução ANP nº 795, de 2019. A norma trata da transparência na divulgação dos dados de preços de derivados de petróleo e de biocombustíveis por fornecedores atacadistas, ou seja, participantes, do lado da oferta, do mercado atacadista primário de derivados de petróleo e biocombustíveis (principalmente produtores, importadores e distribuidores). O objetivo da medida é reduzir a assimetria na formação de preços no fornecimento primário de derivados de petróleo, mitigando incertezas e contribuindo para o aprimoramento do processo competitivo no mercado. A minuta de resolução que fará a revisão da Resolução ANP nº 795, de 2019, passará por consulta e audiência públicas e tem como principais propostas: - A publicação do preço de lista e histórico dos últimos 12 meses, nos sítios eletrônicos dos fornecedores atacadistas com certa representatividade de mercado. O volume a ser considerado para o agente ser classificado como tendo essa representatividade será divulgado anualmente pela ANP, considerando alguns elementos, como o tamanho do mercado e, principalmente, a participação relativa entre todos os participantes do mercado. - A publicação do preço ofertado pelo comprador, sempre que superior ao preço de lista, nos sítios eletrônicos dos fornecedores atacadistas com certa representatividade de mercado e histórico dos últimos 12 meses. - A proposta de revisão acaba com a possibilidade, prevista nas regras atuais, de informações sobre preço por meio de correio eletrônico (passa a ser obrigatório haver um sítio eletrônico com a informação). - Também está prevista a criação do conceito de fornecedores atacadistas, que são os participantes, do lado da oferta, do mercado atacadista primário de derivados de petróleo e biocombustíveis, principalmente produtores, importadores e distribuidores. - Os modelos contratuais dos fornecedores atacadistas com certa representatividade no mercado terão que ser analisados e aprovados pela ANP. - Fica mantida a apresentação, em contrato, do preço indicativo, que é o previsto em contrato e pactuado entre as partes, por ponto de entrega e modalidade de venda, para a data de início de vigência contratual ou para a data impressa no contrato ou para a data de assinatura do contrato. - Terão que ser informadas, no momento de celebração do compromisso firme de volumes, as variáveis endógenas presentes nas condições de formação e reajuste do preço indicativo, bem como a metodologia de cálculo das variáveis exógenas. Variáveis exógenas são aquelas que se referem a índices externos disponíveis às partes do contrato de fornecimento e que não podem ser alteradas pelos contratantes, enquanto as variáveis endógenas são aquelas que podem ser alteradas unilateralmente por um dos contratantes. Já o compromisso firme de volume pode ser caracterizado como o momento em que, após o estabelecimento do volume a ser transacionado, as partes são passíveis de penalização contratual em função de eventual alteração do volume compromissado. - Continuidade da vedação ao uso de cláusulas de restrição de destino, que são aquelas que, de alguma forma, restringem ou podem restringir a destinação de derivados de petróleo e biocombustíveis por parte do comprador. - Verificação amostral, a posteriori, do atendimento aos modelos contratuais pré-aprovados e aos requisitos do normativo.

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