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O Brasil está bem inserido quando o assunto é tecnologia para a transição energética, sobretudo quando ligada ao setor de petróleo. O que falta é política pública e regulação, diz Telmo Ghiorzi, o próximo presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro), que reúne 50 fabricantes e fornecedoras do setor. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, além da transição energética, Ghiorzi critica o aumento da exigência de conteúdo local no setor, definido pelo governo no apagar das luzes de 2023, e comenta a relação da cadeia com a Petrobras. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é o efeito da transição energética sobre a cadeia produtiva do petróleo?

A transição acontece no mundo inteiro e as empresas da cadeia do petróleo estudam alternativas. Estão adotando várias estratégias na direção da reinjeção de dióxido de carbono em reservatórios esvaziados, instalação dos aerogeradores de eólica offshore e mineração do solo marítimo para a própria transição energética. Há, ainda, a descarbonização das operações tradicionais. Tudo isso será feito pelos próprios fornecedores do setor e já está acontecendo. Ainda não sabemos qual será a velocidade disso nem quais serão os negócios mais proeminentes no futuro. Mas as empresas já apostam em tecnologias novas.

Quais são essas tecnologias?

São várias, e estamos bem inseridos. Para se ter ideia, no famoso projeto norueguês de captura de carbono e reinjeção em reservatórios depletados (exauridos), o Northern Lights, os equipamentos usados foram fabricados no Brasil pela Aker Solutions (hoje parte da OneSubsea, joint venture com SLB e Subsea7). A árvore de natal para a reinjeção do carbono foi fabricada em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Outro caso que vale citar é o da Misc, que estuda um FCSU, uma plataforma que vai ficar no meio do mar voltada à reinjeção de carbono. Uma estrutura vai fazer a captura no onshore, liquefazer o gás e mandar para a plataforma reinjetar no campo depletado. Então as empresas brasileiras e seus pares em outros países têm o domínio sobre essas tecnologias. Aproveitar isso é muito mais uma questão de política pública e regulação. Temos grandes reservatórios que ficarão depletados um dia. Vai chegar a hora de usá-los como grandes absorvedores do carbono emitido em todo o mundo e não só no Brasil.

E para eólica offshore?

Aí não há grande segredo, não há ruptura de barreira científica. Há uma imagem de complexidade porque ainda é uma novidade. Mas para quem coloca um FPSO (plataforma flutuante) produzindo a 3 mil metros de profundidade, uma eólica offshore é mais simples. Tem aerogeradores fixos, do tipo que flutuam ou que ficam amarrados. Esses são mais baratos e ficam mais perto da costa. Mas há, também, os flutuantes, instalados mais distantes do litoral. Novamente, é mais uma questão de regulação por governo, Marinha e órgãos reguladores.

No fim de 2023 o CNPE elevou as exigências de conteúdo local na exploração e produção, de 18% e 25%, respectivamente, para 30%. Como avalia?

O efeito imediato é incerteza, insegurança jurídica e redução do apetite de petroleiras em investir em outras oportunidades no Brasil. A mudança está desalinhada com outras iniciativas do governo. O Mdic e outros órgãos de Estado e governo têm medidas que miram a industrialização, baseadas em desenvolvimento tecnológico e exportação de bens e serviços industriais. A mudança anunciada pelo CNPE não está articulada com outros instrumentos da política industrial, não define prazos e contrapartidas de desempenho das empresas beneficiadas, assim como não define metas de exportação. Protecionismo sem prazo nem contrapartida é pura e simplesmente reserva de mercado.

A Abespetro é contra a lógica do conteúdo local? Não, de forma alguma. Nossa razão de ser é aumentar organicamente o conteúdo local. Mas a gente separa com muita clareza o que é exigência e o que é a efetiva atividade local da indústria. Não existe causalidade. Se aumentar a exigência, aumenta-se temporariamente o conteúdo local em projetos em andamento. Mas, no próximo projeto, a empresa vai rever investimentos. Todo mundo deseja que se aumente o conteúdo local, mas não é aumentando a exigência que se consegue isso. O que precisa é de um arcabouço de neoindustrialização que, na área de petróleo, passa por melhoramentos no Repetro, na regra de PDI, na Lei das Estatais. A Petrobras pode usar melhor seu poder de compra para induzir conteúdo local. O BNDES pode ter condições ainda mais favoráveis para a indústria local.

O sr. mencionou o poder de compra da Petrobras. Como vai o diálogo do setor com a estatal?

Isso melhorou dramaticamente. O nível de interlocução que temos agora, após esse primeiro ano de gestão (de Jean Paul) Prates, é incomparavelmente melhor do que tivemos nos quatro anos do governo anterior. Então não tínhamos nenhuma porta para bater, para reclamar. Há muitos desafios nessa relação, mas o canal de diálogo está muito aberto. Não vamos superar todas as divergências, mas existe diálogo. ebull;

Fonte/Veículo: O Estado de S.Paulo

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