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Quando o bilionário Wang Chuanfu, conhecido como o Elon Musk chinês, fundador e presidente da companhia Build Your Dreams (BYD), desembarcar no Brasil, em outubro, trará uma série de planos na bagagem. Além de lançar a pedra fundamental das três fábricas na Bahia emdash; de carros elétricos, chassis de ônibus e beneficiamento de lítio emdash; Wang virá com a ideia de construir uma fábrica de chassis de ônibus elétricos no Pará, que sediará a 30ª conferência do clima, em 2025.

Se vingar, será mais um passo para que a chinesa consolide sua posição no país e mire todos os mercados da América Latina. O investimento inicial de R$ 3 bilhões, em Salvador (BA), é estratégico para a atuação na região emdash; e para ampliar sua internacionalização.

emdash; Não vamos apenas ter uma fábrica para montar carros. Vamos trazer pesquisa e inovação e queremos transformar Salvador em novo eldquo;Vale do Silícioerdquo;. O Brasil é nossa prioridade de investimento emdash; afirmou a vice-presidente global da BYD e presidente para as Américas, Stella Li, que lembra que a empresa registra 15 patentes por dia na China e já tem 28 mil aprovadas.

Na Bahia, será criado um centro de pesquisa e desenvolvimento, com um time de pesquisa brasileiro para desenvolver tecnologia de um motor híbrido flex, visando o uso de etanol conjugado com a propulsão elétrica. Inicialmente serão criados 5 mil empregos e a ideia é levar um grupo de futuros trabalhadores da unidade baiana até a China para que absorvam a cultura da BYD.

Disputa no segmento luxo
Semana passada, na BYD em Shenzhen, O GLOBO acompanhou o lançamento de uma submarca, a Fang Cheng Bao, com a presença de Wang Chuanfu. Focada no segmento de veículos de luxo, o primeiro modelo apresentado pela Fang Cheng Bao foi o Bao 5, ou Leopard 5, um SUV off-road híbrido, ainda sem previsão de chegada ao Brasil.

Na China, a faixa de preço do Bao 5 varia entre US$ 41,2 mil e US$ 54,9 mil (R$ 201 mil a R$ 267 mil). Vai brigar com modelos de luxo como o Land Rover Discovery e Ford Bronco. O veículo da BYD traz uma plataforma híbrida off-road dual mode, com tração elétrica inteligente nas quatro rodas, prometendo equilíbrio entre segurança do veículo e condução potente. Com esse sistema, é possível dirigir sem esforço por encostas, montanhas e terrenos pantanosos.

emdash; Estamos liderando uma revolução profunda no cenário de veículos de nova energia, transformando carros em ativos únicos e feitos sob medida emdash; disse Chuanfu.

As unidades brasileiras da BYD serão as primeiras fora da Ásia. Até outubro, a companhia já terá fechado negócio com o governo da Bahia, que adquiriu as instalações de Camaçari, que pertenciam à Ford, para agilizar a transação. Além de oito fábricas de veículos na China, a BYD tem uma unidade na Tailândia. No total, a companhia emprega 600 mil pessoas (considerando todas as áreas de atuação), sendo 90 mil engenheiros.

A expectativa é que a produção em Camaçari comece em 2024, com dois modelos, o elétrico Dolphin e o SUV híbrido Song, chegando a 150 mil unidades por ano. Quando as exportações para países vizinhos engrenarem, a fabricação pode chegar a 300 mil unidades. Stella Li diz que ao menos outros seis modelos podem ser fabricados na Bahia.

No Brasil, a BYD tem duas fábricas em Campinas (de chassis de ônibus e de módulos fotovoltaicos), além de uma unidade de produção de baterias em Manaus.

Em 2022, o Brasil ficou em sexto lugar no ranking mundial de vendas de carros novos, um dos maiores mercados do mundo. Além disso, a matriz energética limpa faz sentido nos planos da BYD, que tem como lema ajudar a reduzir em 1° Celsius a temperatura do planeta. Desde 2022, a BYD deixou de produzir veículos somente a combustão.

O GLOBO visitou a fábrica de carros da BYD em Changzhou, no distrito nacional de Alta Tecnologia. Ela será uma espécie de eldquo;espelhoerdquo; da unidade em Camaçari. Ali, a fabricação de um carro leva em média 4 horas. Em 2022, naquela unidade, foram montados 240 mil veículos, o Yuan Plus e o Seal, elétrico que será lançado no fim do mês no Brasil, com preço de R$ 300 mil.

A unidade de Changzhou é base de produção importante no leste da China, com quatro linhas de produção e alto grau de automação, robôs alemães e japoneses em praticamente todas as etapas de fabricação.

Na disputa pela eletrificação, a BYD, segundo analistas, tem a vantagem de ser uma green tech, empresa de tecnologia verde, que detém a produção de baterias para veículos elétricos, fabrica placas solares para captar energia limpa e faz o beneficiamento do lítio, mineral usado nas baterias.

Caminhão elétrico e trens
Semana passada, a BYD anunciou que já produziu 5 milhões de veículos, entre híbridos e elétricos. Foi a primeira montadora a alcançar a marca e se tornou a maior em veículos elétricos na China, rivalizando com a Tesla em número de unidades vendidas. Para chegar ao primeiro milhão de unidades elétricas, a BYD levou 13 anos. De 1 milhão até 3 milhões, foram 18 meses. E dos 3 milhões até cinco milhões, foram nove meses.

A BYD produz ainda ônibus e caminhões elétricos, tem uma divisão de componentes eletrônicos e atua no transporte ferroviário. Em São Paulo, para a futura linha do monotrilho da Linha 17 emdash; Ouro do Metrô serão fornecidos 14 trens do tipo Skyrail da BYD.

O consultor automotivo Thadeu Moscovici avalia que a forte geração de caixa da BYD dá fôlego à empresa para praticar uma política de preços mais agressiva que os concorrentes, atuando com margens de lucro mais apertadas.

A barreira dos preços deverá ser vencida com concorrência e ganho de escala, segundo Cristiano Doria, sócio da consultoria Roland Berger e especialista no setor automotivo. O lançamento do Dolphin da BYD no Brasil, no mês passado, provocou movimento do mercado. O preço de R$ 149 mil fez a concorrência baixar valores de elétricos em até R$ 30 mil. A nacionalização das peças também deve derrubar preços, diz o especialista.

Na China, a participação dos elétricos deve chegar a 37% este ano, mas a BYD estima que ela atinja 60% até 2025. No Brasil, o segmento de carros híbridos e elétricos atingiu fatia de 3,4%. É esse cenário que a BYD quer mudar.

Eletrificação com incentivos
Com mais US$ 72 bilhões em incentivos fiscais para a compra de carros elétricos emdash; o novo número foi anunciado em junho emdash; a China está na dianteira das vendas de carros elétricos. O pacote, na verdade, é uma prorrogação, até 2027, da política de isenção de imposto que começou em 2014.

Países como Nova Zelândia e Estados Unidos estão seguindo a receita chinesa e dando incentivos fiscais a quem compra um carro elétrico com o objetivo de aumentar a participação no mercado.

De cada dez veículos vendidos na China, no ano passado, quatro foram elétricos ou híbridos, contra um em cada oito nos EUA e um em cada sete na Europa. Foram 5,6 milhões de unidades vendidas em território chinês, em 2022, mais da metade das vendas globais de veículos. As vendas mundiais de veículos elétricos (EV) aumentaram 55%, para 10,1 milhões de unidades em 2022, de acordo com a consultoria de tecnologia Canalys.

Em Shenzhen, todos os ônibus que rodam na cidade são eletrificados. São 20 mil coletivos, além de 24 mil táxis elétricos e pelo menos 250 mil veículos particulares nas ruas emdash; 25% do total de veículos da cidade emdash; número que deve chegar a 750 mil em 2025. O resultado é que o trânsito é mais silencioso e menos poluente.

*O repórter viajou a convite da BYD

Fonte/Veículo: O Globo

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