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O IPCA de maio, de 0,23%, abaixo do piso (0,24%) das estimativas do Projeções Broadcast, é mais uma boa notícia econômica conjuntural. Não só o PIB recentemente surpreendeu para cima, como a inflação começou a trazer surpresas positivas para baixo.

Na verdade, como explica Anna Reis, sócia e economista-chefe da Gap Asset, o IPCA fechado de maio confirmou, na sua análise, uma significativa melhora qualitativa na inflação que já pôde ser notada no IPCA-15 de maio.

Tomando termômetros importantes como a média dos núcleos e a inflação subjacente de serviços, desenhou-se uma trajetória de queda gradual desde níveis muito altos (acima de dois dígitos na média trimestral dessazonalizada e anualizada) no primeiro trimestre do ano passado.

Em abril, porém, houve um repique, que alimentou o temor de que o processo de desinflação estivesse estacionando ou mesmo em reversão. Os dados do IPCA-15 de maio, e agora do índice fechado do mês, entretanto, dissiparam por ora esses temores.

No índice de maio, em particular, Reis aponta que houve surpresa baixista, para ela, em componentes externos aos núcleos, como alimentação e preços administrados. Outra surpresa positiva foi uma difusão menor da inflação. Já o vestuário, que teve inflação forte até o final de 2022, voltou ao padrão histórico e, em maio, foi abaixo dele, assim como alguns serviços ligados à mão de obra.

Os alimentos, em especial, surgem como um significativo fator baixista para a inflação deste ano. Fábio Romão, economista da consultoria LCA, nota que a alimentação no domicílio subiu 13,2% no IPCA do ano passado e, devido a ventos bem mais favoráveis no setor, sua projeção era de alta de 2,5 Em 2023. Mas novas pressões baixistas fizeram agora com que ele reduzisse ainda mais a previsão, para 1%.

Diversos fatores contribuem para a desinflação da comida. Há a supersafra que, como nota Reis, levou a produção colhida sem espaço de armazenamento que tem jogado o preço de soja e milho, em algumas circunstâncias, abaixo da paridade internacional no mercado interno. O ciclo da pecuária está favorável, a carne de frango recuou em maio, e a alta dos fertilizantes no ano passado por causa da guerra na Ucrânia, que teve impacto altista nos alimentos in natura, foi revertida.

A economista aponta que vinha sendo esperada uma transmissão do recuo das commodities e dos alimentos no atacado para o varejo, e o IPCA de maio é um sinal de que esse efeito está vindo e talvez até numa intensidade mais forte do que a projetada pelo mercado.

Carlos Thadeu, economista-sênior da gestora Asset1, nota que as commodities caíram sem que o real se depreciasse, o que ele atribui em parte ao fato de o Banco Central ter sido firme em manter elevadas as taxas de juros. Aquela combinação (commodity caindo, real fortalecido), por sua vez, é fortemente desinflacionária para os alimentos.

A redução do preço dos combustíveis e, agora, dos automóveis, em função de medidas do governo, também contribui para derrubar as expectativas inflacionárias para este ano. Romão reduziu a projeção de inflação de carros novos este ano de 4,5% para -0,1% (e há efeito adicional nos carros usados). Já os bens industriais, que subiram 9,5% em 2022, tinham projeção da LCA de 4,3% para este ano, que foi baixada para 3,2%, em boa medida pelo impacto das medidas de redução do preço de carros novos.

O resultado é que as projeções de inflação para 2023, e também para 2024, estão caindo significativamente. Se, há alguns meses, chegou-se a prever IPCA acima de 6% este ano, agora se recua em direção a 5%, e há até quem preveja menos do que isso. Reis está revisando sua projeção do IPCA em 2023 de 5,1% para 4,9%, e Thadeu prevê 4,7%. Romão reviu sua projeção de 6% na semana passada para 5,5%, e hoje para 5,4%, mas fala de um IPCA este ano que poderia ficar entre 5% e 5,4%.

Para 2024, a projeção de Reis é de 3,8%, a de Thadeu de 3,9% e a de Romão de 4%, todas bastante próximas, portanto, e já com boa parte do caminho em direção à meta de 3% (se Lula não mudar) percorrido.

Em termos de Selic, uma expressiva corrente de mercado considera que as boas novas no front inflacionário podem fazer com que o Copom faça o primeiro corte na reunião de agosto, e não na de setembro (a próxima reunião é em 20 e 21 deste mês, quando o terreno seria preparado). A inflação de junho pode ser próxima de zero, como também a de julho e agosto, na projeção de Thadeu.

Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo (Blog Fernando Dantas)

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