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Apesar da apreensão de agentes econômicos com relação aos efeitos da recente alta do petróleo no preço dos combustíveis, fontes da companhia disseram ao Estadão/Broadcast que o movimento ainda não pressiona os preços da Petrobras.

Mesmo com os cortes anunciados na produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) no domingo, não estaria no horizonte da estatal aumentar os preços da gasolina e muito menos do diesel, ainda vendido nas refinarias da estatal com prêmio ante os preços externos.

O Estadão/Broadcast apurou que a situação da gasolina é mais eldquo;apertadaerdquo;, mas ainda assim considerada sob controle pelos técnicos da companhia.

eldquo;O clima aqui é de elsquo;muita calma nessa horaersquo;. Os cortes da Opep só começam efetivamente em maio e não têm volume significativo. A subida do barril sem dúvida tira de cena a perspectiva de baixar o preço da gasolina, mas falar em salto nos preços internacionais é especulaçãoerdquo;, diz fonte próxima das discussões.

Conforme noticiado pelo Estadão/Broadcast na semana passada, a companhia já acompanhava com atenção os preços da gasolina e descartava reduções no valor do insumo pelo menos até maio, para não se colocar em situação difícil à frente, caso as cotações internacionais subissem. A posição dos técnicos com relação à precificação da gasolina é definida como de eldquo;cautela redobradaerdquo; no momento. E os últimos acontecimentos reforçam a estratégia.

O fator por trás dessa cautela ainda não é a cotação do óleo bruto em si, mas a demanda do mercado dos Estados Unidos no curtíssimo prazo. Até maio, deve haver formação de estoques para a chamada eldquo;driving seasonerdquo;, a temporada de férias americanas entre meados de maio e julho, quando as famílias viajam de carro e há pico de consumo do combustível, elevando os preços naquele país e no mundo. A Petrobras espera que o momento de maior pressão nos preços da gasolina se dê ainda entre abril e maio.

Não por outra razão, a Petrobras reduziu o preço da gasolina uma única vez em 1º de março (3,9%), enquanto já praticou três reajustes no diesel, cujo preço nas refinarias da empresa já caiu 14,6% no acumulado em menos de dois meses.

O analista de óleo e gás da consultoria StoneX, Pedro Shinzato, diz que os fundamentos de oferta e demanda de combustíveis no mundo estão eldquo;relativamente estáveiserdquo;, mas há eldquo;ligeira perturbaçãoerdquo; nos estoques dos Estados Unidos. As reservas americanas de gasolina fecharam março pouco acima dos 220 milhões de barris, abaixo do registrado em 2022 e da média dos últimos cinco anos, quando estava mais próximo dos 240 milhões de barris a essa altura do ano.

eldquo;Vamos adentrar as férias americanas com patamar de estoque de gasolina menor que o habitual, o que inspira atenção. Nos EUA, a gasolina já voltou a ficar mais cara que o diesel, o que não acontecia desde meados de 2021ePrime;, diz o especialista.

Mas, ainda que requeira atenção à volatilidade, resume Shinzato, o cenário ainda é tranquilo para a Petrobras, já que o mercado de combustíveis segue muito mais estável do que em 2022. Isso porque os produtos russos têm encontrado mercados apesar dos embargos ligado à guerra, que começou em fevereiro, e há demanda modesta devido à baixa atividade econômica em cenário de juros altos e ausência do eldquo;efeito Chinaerdquo;. A esperada recuperação da economia chinesa e o aumento da importação de petróleo bruto para refino ainda não se impuseram este ano.

A StoneX calcula defasagem de apenas 1,3% (ou R$ 0,04 por litro) para a gasolina da Petrobras ante o preço de paridade de importação (PPI) hoje. Como, habitualmente, a estatal só faz reajustes quando a defasagem porcentual ultrapassa dois dígitos, sua direção não deve aumentar preços nas refinarias.

Divergência

Em que pese a conjuntura, parte dos analistas e associações discordam da tese de conforto para os preços da estatal, ao menos na gasolina. Nas contas da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina da estatal estava 5% ou R$ 0,16 por litro abaixo do preço de paridade de importação (PPI) no fechamento do mercado de ontem. Adotada desde 2016, a política do PPI, está em xeque na Petrobras. Essa não foi a maior defasagem das últimas semanas para a gasolina apontada pela Abicom. Segundo a entidade, a Petrobras pratica preços defasados desde 1º de março, com um pico de R$ 0,41 por litro de diferença para o PPI no dia 7 daquele mês.

Para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria do engenheiro Adriano Pires, a defasagem da gasolina após o anúncio de corte da Opep+ é ainda maior, de 11,13% ou R$ 0,40 ante o PPI. Nesse cenário, de defasagem consolidada há algumas semanas, a Petrobras seria instada a aumentar o preço do insumo, quisesse seguir o preço de importação ou simplesmente acompanhar parcialmente a referência internacional.

O presidente Jean Paul Prates já disse que não vai seguir o preço do importador (PPI), mas pretende manter a referência externa. Grosso modo, significa dizer que ainda serão observados cotação do petróleo e câmbio, mas que outros fatores do PPI, como frete e seguro marítimo, tendem a ser eliminados ou reponderados.

A magnitude dos cálculos de defasagem é questionada, dentro e fora da Petrobras. O método de cálculo da Petrobras é diferente do utilizado pela Abicom, por exemplo. O fato já foi explorado por ex-diretores da estatal no passado. Segundo eles, a estatal trabalha com escala e estoques superiores aos dos importadores, cujas realidades balizam as contas da Abicom. A companhia também não repassa imediatamente as flutuações do mercado ao preço doméstico, considerando uma banda de preços e a média de períodos maiores, em que prêmio e defasagem se equilibram.

Reação desproporcional

Com relação aos cortes da Opep+ em si, o Estadão/ Broadcast apurou que a direção da Petrobras avalia ter havido uma reação desproporcional do mercado, o eldquo;overshootingerdquo;, que repercutiu nos preços do petróleo, mas nem tanto dos derivados. Essa leitura, compartilhada por analistas, como Marcelo de Assis, da consultoria Wood Mackenzie, chegou a ser vocalizada pelo ministro da economia, Fernando Haddad (PT), na segunda-feira.

De fato, a diminuição efetiva na oferta mundial de petróleo é inferior aos 1,1 milhão de barris diários anunciados, porque a produção dos países da Opep+ já vinha abaixo da meta, esta sim alvo da redução. Além disso, o novo corte foi em parte encarado como medida preventiva para reduzir um possível superávit no balanço de petróleo para a segunda metade do ano.

Entre o anúncio dos cortes da Opep+ e ontem, o barril tipo Brent assistiu a uma apreciação de 6,48%. Na segunda-feira, 3, porém, o preço de referência para o diesel no mercado americano subiu 1,6%, e o da gasolina, 2,9%, variações bem abaixo do óleo bruto. Ontem, o preço de referência do diesel no mercado americano subiu apenas 0,2% e o da gasolina chegou a cair 0,7%, novamente descolados do óleo bruto.

A leitura na Petrobras é que esse descasamento entre petróleo e derivados se deve à percepção de enfraquecimento da economia mundial e, portanto, baixa demanda por combustíveis.

Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio teve uma queda de 4,1% desde a sexta-feira, 24. Essa valorização do real frente ao dólar na última semana também alivia o impacto das flutuações externas no preço doméstico dos combustíveis.

Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo

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