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Mesmo com a retomada da cobrança dos tributos federais sobre gasolina e etanol, a arrecadação continuará comprometida no setor. Segundo cálculo feito pelo ICL (Instituto Combustível Legal) em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas), foram sonegados R$ 2,3 bilhões em impostos apenas no primeiro bimestre de 2023.

A conta é atualizada diariamente pela calculadora Sonegômetro, disponível no site do instituto. De acordo com dados levantados até agora, estima-se que o prejuízo em 2023 pode chegar a R$ 14 bilhões.

Pela conta do Ministério da Economia, a recomposição dos tributos vai gerar uma arrecadação adicional de R$ 28,9 bilhões neste ano. O rombo fiscal, portanto, equivale à metade do que será arrecadado com a retomada das taxas.

O ICL, que reúne distribuidoras de combustíveis e empresas do ramo petroquímico, tem registrado aumento nas fraudes envolvendo etanol e gasolina. Além de driblar o fisco, tais ações prejudicam os carros, o meio ambiente e os trabalhadores dos postos.

"Temos visto um volume de metanol muito grande sendo misturado aos combustíveis, as pessoas não têm noção do risco à saúde", diz Emerson Kapaz, presidente do ICL.

O executivo explica que basta uma gota para causar cegueira, além de haver risco de explosão pelo manuseio incorreto. Esse composto químico é usado em diversos setores da indústria, mas em condições controladas.

Segundo o instituto, a incidência desse tipo de adulteração registrou um pico em 2017 e novas ocorrências entre 2020 e 2021, com o metanol sendo distribuído a partir do Paraná. Houve um cerco à operação, mas novos casos têm sido detectados em fiscalizações de rotina.

Na época em que as fraudes se multiplicaram, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) aprovou o uso de um equipamento que detecta o composto misturado no etanol ou na gasolina. O aparelho é portátil e tem sido utilizado nas fiscalizações.

Na maior parte dos casos, os problemas são encontrados em postos sem bandeira ou com preços muito abaixo das médias divulgadas pela agência. O esquema de sonegação envolve também empresas que emitem notas frias e adquirem os combustíveis sem pagar todos os tributos. São as chamadas "barrigas de aluguel", segundo Kapaz.

Segundo o Gaeco/MPRJ (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), as principais ocorrências são adulteração da qualidade de combustíveis e das bombas dos postos, sonegação fiscal e publicidade enganosa em relação à origem e à marca dos combustíveis fornecidos.

No caso das bombas, diz Kapaz, a fraude consiste em um dispositivo eletrônico que modifica a relação entre a vazão do combustível e o que aparece no visor. O mecanismo é acionado por controle remoto, o que dificulta a fiscalização.

Houve um aumento de 15% entre 2021 e 2022 no número de reclamações relacionadas à inconformidade dos combustíveis, de acordo com o ICL. O instituto recebeu 1.319 denúncias no ano passado, sendo 667 relacionadas à quantidade, 334 à qualidade e 318 relativas ambos os problemas.

Fonte/Veículo: Folha de São Paulo

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