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A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), teve alta de 0,53% em janeiro, o primeiro mês do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A maior pressão veio do grupo alimentação e bebidas, que avançou 0,59%, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (9).

O resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado e mostra uma desaceleração frente a dezembro, quando a alta havia sido de 0,62%. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam inflação de 0,56% no mês passado.

Em 12 meses, o IPCA acumulou avanço de 5,77% até janeiro, conforme o IBGE. Também houve desaceleração. Nesse recorte, a variação era de 5,79% até a divulgação anterior.

O índice acumulado está acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para 2023. O centro da medida de referência é de 3,25% neste ano. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

LULA SOBE TOM CONTRA BC
O BC, aliás, virou alvo de críticas de Lula. Para tentar conter a inflação no país, a autoridade monetária vem deixando a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.

A reunião mais recente do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) ocorreu na semana passada. Foi o primeiro encontro desde o início do governo Lula.

Na segunda-feira (6), o presidente chamou de "vergonha" o nível atual da Selic. Lula ainda conclamou o empresariado a fazer cobranças sobre os juros altos.

A elevação da Selic é o instrumento do BC para tentar esfriar a demanda por bens e serviços e, assim, conter os preços e ancorar as expectativas de inflação. O possível efeito colateral é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

A economia já vinha mostrando sinais de desaceleração antes de Lula assumir a Presidência. As críticas do petista à atuação do BC, porém, têm ampliado expectativas de inflação e pressionado os juros.

O movimento gera um reflexo contrário ao pretendido pelo governo. O discurso traz risco de pressão sobre o dólar, que impacta preços de alimentos. A inflação da comida afeta principalmente a população pobre, camada da sociedade na qual Lula encontra apoio.

ALIMENTOS PRESSIONAM IPCA
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA, 8 subiram em janeiro. O segmento de alimentação e bebidas até desacelerou de 0,66% em dezembro para 0,59% em janeiro, mas exerceu a maior influência sobre o índice. O impacto foi de 0,13 ponto percentual.

O IBGE associou o resultado dos alimentos à carestia de produtos como batata-inglesa (14,14%) e cenoura (17,55%).

"As altas nesses dois casos se explicam pela grande quantidade de chuvas nas regiões produtoras", afirmou o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.

Por outro lado, houve queda de 22,68% dos preços da cebola, com a maior oferta vindo das regiões Nordeste e Sul, disse Kislanov. O produto subiu mais de 130% em 2022.

O grupo de transportes teve o segundo principal impacto no IPCA de janeiro (0,11 ponto percentual). O grupo acelerou a alta para 0,55%, após 0,21% em dezembro.

Em transportes, houve pressão dos combustíveis, que subiram 0,68%, puxados pelo aumento da gasolina (0,83%) e do etanol (0,72%). No sentido contrário, o óleo diesel (-1,40%) e o gás veicular (-0,85%) tiveram queda em janeiro.

Apenas o grupo de vestuário (-0,27%) teve variação negativa no mês passado. "Cabe registrar que foi a primeira queda no grupo após 23 meses seguidos de altas, com a última retração tendo sido registrada em janeiro de 2021", disse Kislanov.

"O recuo em janeiro de 2023 se deve ao fato de várias lojas terem aplicado descontos sobre os preços que foram praticados em dezembro, para o Natal. O fator que mais influenciou no resultado foi uma queda de 1,37% no item de roupas femininas", completou.

O mercado financeiro elevou a perspectiva para o IPCA acumulado em 2023 a 5,78%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira. Foi a oitava alta consecutiva na projeção.

Se a estimativa for confirmada, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta de inflação no país.

Fonte/Veículo: Folha de S.Paulo

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