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A inflação oficial no País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2022 em 5,79%, acima da meta perseguida pelo Banco Central (BC), que era de 3,5% com intervalo de tolerância de até 5%. Éo segundo ano seguido que o índice fica acima da previsão. Em 2021, a inflação chegou a 10,06% endash; o teto para o índice era 5,25%.

O resultado do ano passado teria sido ainda maior não fosse o corte de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, que seguraram os preços desses itens.

Sem a redução nos tributos da gasolina e da energia elétrica, o IPCA teria sido de 9,56% em 2022, calculou André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.

Os principais eldquo;vilõeserdquo; da inflação do ano passado foram a alimentação, que subiu 11,64%, e os gastos com saúde e cuidados pessoais, com alta de 11,43%. Juntos, os dois grupos responderam por cerca de 66% do IPCA de 2022.

O aumento dos preços dos alimentos no ano passado foi puxado pelo encarecimento principalmente da cebola, leite longa-vida, batata inglesa e frutas, prejudicados por uma redução na área cultivada, questões climáticas e aumento

Índice de dezembro, que ficou acima das previsões mais pessimistas, é sinal de alta persistente de preços

de custos de produção.

A cebola (130,14%) foi o subitem que teve a maior alta entre os 377 que compõem o IPCA. O leite longa-vida aumentou 26,18%; a batata-inglesa, 51,92%; as frutas, 24%; e o pão francês, 18,03%. A alimentação fora do domicílio subiu 7,47%: a refeição teve aumento de 5,86%, e o lanche encareceu 10,67%.

Já a elevação nas despesas com saúde foi a mais aguda desde 1996. A alta foi influenciada pelos aumentos de produtos de higiene pessoal (16,69%), em especial os perfumes (22,61%) e os produtos para cabelo (14,97%), e pelos reajustes autorizados pelo governo para produtos farmacêuticos (13,52%) e planos de saúde (6,90%).

CENÁRIO. Em dezembro, o IPCA foi de 0,62% endash; ante 0,41% em novembro endash;, acima das previsões mais pessimistas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimaram um avanço entre 0,36% e 0,61%, com mediana positiva de 0,45%. Em dezembro, os itens de maior pressão no IPCA foram higiene pessoal (0,14 ponto porcentual) e plano de saúde (0,04 p.p.). eldquo;A mensagem que o IPCA de dezembro deixa para 2023 é de que a inflação não começa o ano bemerdquo;, afirmou o economista Luca Mercadante, da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos.

O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 59% em novembro para 69% em dezembro, o maior desde maio de 2022. Para este ano, a meta da inflação é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual. ebull;

Depois de registrar expansão nos últimos dois anos, o consumo das famílias deve desacelerar em 2023. Entre os economistas, há quem não descarte uma queda. Se confirmada, seria o primeiro recuo desde 2016, quando o País enfrentou uma dura recessão econômica endash; excetuando 2020, quando o desempenho econômico global foi alterado pela pandemia.

O Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE), calcula que o consumo vai diminuir 0,8% neste ano, após avançar 4,1% em 2022. O Santander, um pouco mais otimista, projeta alta de 1%. O economista do banco Lucas Maynard, porém, afirma que esse desempenho não significa eldquo;um grande dinamismoerdquo;. eldquo;Boa parte desse número decorre do carrego estatístico (efeito matemático, uma espécie de impulso deixado de um trimestre para o seguinte). É como se o crescimento fosse zero do quarto trimestre de 2022 até o quarto trimestre de 2023. Isso já resultaria em um crescimento de 1% para 2023. É gordura deixada de um ano para outro.erdquo;

A piora do orçamento das famílias tem como pano de fundo o elevado patamar da taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, a inflação ainda alta endash; o IPCA fechou 2022 em 5,79% endash;, sobretudo para os mais pobres, a inadimplência também elevada e o fim dos estímulos fiscais. No início de 2022, o governo Jair Bolsonaro adotou uma série de medidas para estimular a economia, como a antecipação de 13.º salário de aposentados, a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a ampliação do Auxílio Brasil endash; hoje Bolsa Família endash; de R$ 400 para R$ 600.

eldquo;Será um contexto em que as transferências de renda devem crescer menos, acabou o 13.º salário para aposentados e pensionistas e a liberação de FGTS, ou seja, todo esse estímulo fiscal que ajudou o consumo até aqui. E o mercado de trabalho dá sinais de desaquecimentoerdquo;, diz Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências.

A economista Marina Garrido, do Ibre, destaca que a inadimplência deve continuar subindo até meados deste ano. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 30,3% das famílias brasileiras tinham alguma dívida atrasada em novembro. Dos consumidores com renda mensal de até dez salários mínimos, 34,1% atrasaram dívidas, a maior proporção da série, iniciada em 2010.

eldquo;Isso é muito preocupante. Antes, por exemplo, todo mundo conseguia cartão de crédito. Agora, os bancos avaliam mais se vão ou não dar cartão para alguém. Aí, sem cartão, a pessoa consome menoserdquo;, diz Marina.

DÍVIDAS. Professora da rede pública de Guarulhos, Yve de Oliveira é um retrato desse cenário. Endividada, vai cortar compras neste ano. Até o ano passado, ela morava com os pais, mas precisou se mudar e comprar móveis para o apartamento que alugou. Yve já tinha algumas dívidas com bancos, mas, com a mudança e passando a pagar aluguel, a situação se deteriorou.

eldquo;Na ignorância financeira, sempre que não tinha dinheiro, pegava um empréstimo. Aí, quando não conseguia pagar uma parcela, o banco oferecia um novo empréstimo. Virou uma bola de neve e, no ano passado, virou um tsunamierdquo;, diz.

Yve conta que, hoje, 70% do seu salário paga dívidas. eldquo;No mês passado, sobraram R$ 67 para me divertir. Agora, não tenho ambição de comprar nada.erdquo; ebull;

Fonte/Veículo: O Estado de S.Paulo

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