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O artigo de hoje, desenvolvido em parceria com a Camila Affonso, sócia do Leggio Group, e sua equipe de consultores especializados em estratégia e transformação de Supply Chain, trata da logística de um combustível central para as principais cadeias produtivas do país: o Diesel. Sua formação de oferta envolve diversos elos da cadeia de suprimentos.

Ao longo do texto, avaliamos como o abastecimento de diesel se estrutura entre a produção das refinarias nacionais e as importações. Detalhamos também de que forma a relação entre o preço praticado pela Petrobras e o Preço de Paridade de Importação (PPI) influencia o volume importado e, consequentemente, a competitividade do produto no mercado nacional.

O diesel é um derivado do refino do petróleo, essencial para motores de alta compressão. Ele sustenta grande parte das atividades produtivas brasileiras, movendo caminhões em rotas rodoviárias, alimentando máquinas agrícolas, embarcações fluviais e trens fora de trechos eletrificados. Por estar presente em praticamente toda a movimentação de mercadorias, seu preço tem impacto direto no frete e na formação de custos em diversos setores.

Este combustível chega ao mercado brasileiro por duas vias principais: pela produção das refinarias nacionais e pelas cargas importadas que complementam o abastecimento.

Produção nacional vs. dependência da importação
A análise de dados da ANP mostra que a produção nacional de diesel cresceu de 41 milhões de m3 em 2010 para aproximadamente 49 milhões de m3 em 2024, apesar de oscilações (como a redução em 2016-2017, associada à retração econômica). A REPLAN, em Paulínia, é o principal polo produtor, responsável por cerca de 10,6 milhões de m3 em 2024. Somando as outras unidades estratégicas de refino (por exemplo, REPAR, RPBC, RLAM, REFAP, REVAP, REGAP e REDUC), a produção nacional totaliza mais de 80% da oferta interna. Assim, a produção nacional é insuficiente para atender à demanda total, de modo que o país necessita complementar o abastecimento com diesel importado.

Origem das importações: a diversificação dos fornecedores
A análise das importações por país de origem revela a dinâmica do abastecimento externo. Os Estados Unidos se mantiveram historicamente como o principal fornecedor, com volumes ultrapassando 9 milhões de m3 entre 2018 e 2020. A Índia teve participação expressiva entre 2010 e 2014, mas perdeu relevância depois de 2017. Países do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos, registraram movimentos pontuais de 1,4 a 2,2 milhões de m3 em 2021 e 2022. O avanço mais notável vem da Rússia, que, após quase não aparecer na série histórica até 2012, passou a exportar volumes superiores a 7,2 milhões de m3 em 2023 e cerca de 9,3 milhões em 2024. Essa evolução indica que, embora os Estados Unidos liderem o acumulado desde 2010, a composição das importações brasileiras se tornou mais diversificada nos últimos anos, acompanhando as variações de preço e disponibilidade no mercado internacional.

O impacto do preço de paridade de importação (PPI)
O comportamento das importações pode ser influenciado pela relação entre o preço praticado pela Petrobras e o Preço de Paridade de Importação (PPI). O PPI representa o custo total para trazer o combustível do exterior até um ponto de desembarque no Brasil, incluindo fatores como preço internacional do derivado, câmbio, frete marítimo, seguro e despesas portuárias. Distribuidoras e comercializadoras monitoram essa referência continuamente para avaliar se o produto importado é competitivo em relação ao diesel das refinarias nacionais.

Quando o custo internacional se eleva e o PPI se mantém acima do preço doméstico, a importação perde atratividade e o abastecimento depende mais da oferta nacional. Em períodos de redução do PPI, quando o preço de importação fica mais próximo ou abaixo do preço Petrobras, o diesel importado passa a competir com mais eficiência, configurando a eldquo;abertura de janelaerdquo; para importações.

Essa dinâmica pode ser observada no polo de Itaqui, no Maranhão (principal ponto de recebimento de diesel importado). Períodos de defasagem positiva (PPI superior ao valor doméstico) indicam menor incentivo à importação. Quando a defasagem diminui ou se torna negativa, o importado volta a oferecer vantagem econômica e o volume importado tende a crescer.

O papel da Petrobras na garantia do abastecimento
É interessante notar que, mesmo em momentos em que o PPI não se mostra atrativo para o mercado privado, as importações continuam a ocorrer. Isso acontece porque o volume necessário para o abastecimento precisa ser garantido. Quando empresas privadas reduzem suas compras externas em períodos de PPI elevado e baixa atratividade, a Petrobras assume a responsabilidade de realizar as importações complementares para assegurar o abastecimento interno. Ao longo do período de 2017 até o momento, a participação média da Petrobras nas importações foi de 33,8%, com um pico de 52,3% em 2022.

Conclusão
A dinâmica do diesel no Brasil é o resultado da combinação entre a produção doméstica, a parcela importada e as variações de preço. Estas são influenciadas pelo mercado internacional, pelo câmbio, pelo frete marítimo e pela política comercial da Petrobras. Embora o refino nacional seja responsável pela maior parte da oferta, a parcela importada é relevante e pode oscilar conforme a relação de competitividade definida pelo PPI e o preço doméstico. Esses fatores explicam por que o preço do diesel pode variar no mercado mesmo com demanda estável, destacando a importância de monitorar as condições que direcionam o abastecimento e influenciam o custo logístico do país.

Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, CNPI, Diretor Acadêmico da iluminus endash; Academia de Finanças, Sócio da CHC Finance e da Four Capital, além de Pesquisador da ENS endash; Escola de Negócios e Seguros.

Fonte/Veículo: Valor Investe

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