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As vendas do comércio cresceram 1,1% em setembro ante o mês anterior, conforme mostram os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, superando as expectativas de analistas de mercado ouvidos pela Bloomberg de 0,3%.

Com grande peso no índice, os segmentos de hiper e supermercados e de combustíveis foram responsáveis por puxar o resultado positivo, que mostra recuperação pontual do varejo. O setor apresenta retração ou estabilidade desde maio.

Além de setembro ter tido uma sexta-feira a mais, dia em que as vendas costumam ser mais intensas, a liberação de auxílios pelo governo também ajudou a dar fôlego ao comércio. O Auxílio Brasil de R$ 600 começou a ser pago em agosto, ajudando a impulsionar as compras nos mercados.

Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, a deflação pelo terceiro mês seguido em setembro também ajudou a aliviar os preços dos alimentos e dos combustíveis, favorecendo o crescimento nas vendas.

emdash; Como tivemos variação negativa dos preços, isso impacta bastante tanto na receita, quanto no volume de compras emdash; explica.

Após sucessivas quedas, no entanto, a gasolina começou a subir nos postos no mês passado. Os números da pesquisa do IBGE de setembro não refletem essa alta recente, pode inibir o consumo no último trimestre.

No acumulado do ano, o comércio tem alta de 0,8%.Mas ainda está no terreno negativo em 12 meses, com perda de 0,7%.

Maioria das atividades com taxas positivas
Em setembro, seis das oito atividades pesquisadas pelo IBGE tiveram taxas positivas na comparação mensal. As vendas de hipermercados subiram cerca de 1,2% em relação ao mês anterior, enquanto as de produtos farmacêuticos tiveram alta de 0,6%. Combustíveis e lubrificantes tiveram expansão de 1,3%.

Apenas duas atividades apresentaram resultados negativos emdash; móveis e eletrodomésticos, com queda de 0,1%, e outros artigos de uso pessoal e doméstico, com baixa de 1,0%.

Duas atividades complementares do varejo ampliado ficaram estáveis frente a agosto: veículo e motos, partes e peças com variação negativa de 0,1% e material de construção, com 0,0%.

Em relação a 2021, o comércio cresceu 3,2%.

Inadimplência trava setores dependentes do crédito
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destaca que, enquanto as vendas dos segmentos sensíveis à renda tiveram crescimento, o desempenho dos segmentos sensíveis a crédito andaram de lado.

No primeiro caso, o impulso foi dado pela liberação dos benefícios sociais e pelo incremento de renda no mercado de trabalho, ao passo que, no segundo, o freio veio pelos juros elevados e pela inadimplência recorde.

emdash; As vendas dos segmentos sensíveis à renda, como supermercados, alimentos e bebidas, estão sendo puxadas pelo aumento da massa salarial e pagamento de benefícios sociais com valor mais alto. A deflação observada em setembro também ajudou a aumentar o poder de compra do consumidor. Por isso, apesar das perspectivas de atividade mais fraca daqui para a frente, o varejo sensível à renda vem se mostrando mais resiliente emdash; comenta Claudia, que projeta que a economia brasileira possa crescer 2,3% este ano.

Rodolfo Margato, economista da XP, tem a mesma visão. Segundo ele, a heterogeneidade das características de cada segmento contribuiu para o alívio de curto prazo, que não foi captado nas projeções dos analistas. Apesar disso, acredita que o varejo deve se manter em tendência de queda:

emdash; Essa disponibilidade de renda no curto prazo acaba beneficiando setores mais sensíveis à renda, mas segmentos sensíveis ao crédito, como veículos, construção e eletrodomésticos, continuam esfriando já que o grau de endividamento das famílias permanece muito elevado. Esse ritmo de crescimento do varejo não deve se sustentar nos próximos meses, tanto que nossa projeção do PIB para este ano permanece de 2,8%.

Expectativa de aumento da renda em 2023
Para o próximo ano, com a troca de governo em que está prevista a continuação do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 e aumento real do salário mínimo, Margato visualiza crescimento moderado do varejo e alta de 1% no PIB.

emdash; A gente considera que a política monetária continuará em terreno contracionista, com primeiro corte da Selic só em junho de 2023, o que acaba pesando nas condições de crédito das famílias, um vento contrário ao varejo emdash; avalia o economista.

Ele complementa:

emdash; Apesar disso, os impulsos do lado da renda devem fazer a renda disponível das famílias aumentar de 2,5% a 3%, já descontada a inflação. São fatores que vão em direções opostas e que devem levar a um crescimento morno no varejo no ano que vem.

Fonte/Veículo: O GLOBO

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