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O sobe e desce do preço do petróleo no mercado internacional deve continuar a trazer instabilidade ao mercado de derivados no Brasil, avaliam especialistas. Eles veem muita volatilidade no setor nos próximos meses por conta de variáveis que podem causar impactos no mercado. Após o anúncio, na semana passada, do corte de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) não surtir o efeito esperado, há quem fale em nova redução para tentar turbinar o preço, uma vez que a projeção da demanda tem indicado risco de recessão em vários países, inclusive os maiores impulsionadores da economia, como China e Estados Unidos, e também na Europa.

O petróleo perdeu o patamar dos US$ 90 por barril (US$/b) em meados de setembro com o temor de recessão global. Temendo a perda de valor, a Opep+ anunciou corte da produção da commodity em 2 milhões de barris por dia, o maior desde abril de 2020, início da pandemia do covid-19. Com isso, a cotação voltou ao patamar anterior e chegou a atingir mais de US$ 97/b no início de outubro, caindo esta semana para abaixo dos US$ 95/b.

eldquo;O medo de recessão está maior do que o corte de produção da Opep. Mesmo com o corte, a perspectiva de recessão da China e da Europa também é vista como bem profunda. A falta de demanda vai impedir que esse preço se mantenha mais altoerdquo;, avaliou Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que prevê a possibilidade de novo corte pela Opep+.

Mesmo com a alta do petróleo, os derivados no Brasil - segmento ainda dominado pela Petrobras -, são negociados nas refinarias a preços inferiores aos do mercado internacional. Nesta sexta-feira, 14, o diesel registrava defasagem de 16% e a gasolina de 11%, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Ou seja, para se equiparar ao mercado internacional, seriam necessários aumentos de R$ 0,97 por litro para o diesel e de R$ 0,43 por litro para a gasolina.

Sem reajuste no Brasil até o segundo turno

eldquo;No Brasil, tem a questão eleitoreira. Porque mesmo com o petróleo subindo no longo prazo, nem eu nem ninguém acredita que a Petrobras vá subir o preço, pelo menos esse mês até o dia 30ePrime;, disse o economista.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a Petrobras está sendo pressionada a manter os preços até pelo menos o fim do segundo turno das eleições presidenciais, marcada para o próximo 30 de outubro. Os últimos reajustes da Petrobras, para baixo, ocorreram nos dias 2 (gasolina) e 20 (diesel) de setembro.

Falta isonomia

De acordo com a Ativa Investimentos, quando o preço do petróleo caiu em setembro, a Petrobras rapidamente tomou a decisão de reduzir a gasolina e o diesel nas refinarias em vários momentos - quatro vezes no caso da gasolina e três vezes no caso do diesel. No entanto, agora, quando a cotação da commodity subiu no mercado internacional, não houve o mesmo movimento.

eldquo;Destacamos que tanto a Abicom como o Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura) apontam no momento a existência de uma defasagem perante o preço da gasolina transacionada no País diante dos preços do Golfo (do México)erdquo;, avaliou a Ativa em um relatório, criticando a falta de isonomia nos reajustes.

O Cbie estima defasagem de 6,72% para a gasolina e de 12,40% para o diesel no mercado interno na comparação com o mercado internacional, um pouco abaixo da Abicom, enquanto o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirma que os preços da companhia estão próximos do valor médio do mercado.

eldquo;Se olhar a sociedade brasileira, a gente (Petrobras) passar mais amiúde a redução e demorar um pouco mais para passar a subida, com isso estamos beneficiando a sociedade brasileiraerdquo;, justificou em evento online.

O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural (IBP), Roberto Ardhenghy, vê muitas variáveis afetando o mercado do petróleo, que está em plena acomodação após as mudanças trazidas pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pela expectativa de queda de demanda em grandes economias mundiais.

Ao mesmo tempo, Ardhenghy percebe sinais contraditórios pois alguns países aumentaram a oferta. Os Estados Unidos aumentou a de petróleo bruto. Nos derivados, houve a entrada em operação de refinarias da Nigéria e o aumento de processamento no México e nos Emirados Árabes, com algumas refinarias subindo em até 50% o processamento. O número de sondas no xisto norte-americano subiu de 30 para 81 sondas.

eldquo;Tem muitas variáveis na mesa, o cenário está muito incerto aindaerdquo;, disse. Ele acrescentou que tudo pode mudar se a China anunciar medidas de aquecimento econômico no Congresso do Partido Comunista que está sendo realizado. eldquo;Existe um cenário de relativa escassez que os analistas reconhecem. Se isso vai se refletir nos preços, vai depender desses movimentoserdquo;, concluiu.

Diesel em alta

Para Felipe Perez, estrategista de downstream da consultoria SeP Global, os preços da gasolina devem se manter estáveis no curto e no médio prazos porque espera-se ainda alguma queda seguida de estabilidade no crack spread (diferença de preço entre o petróleo bruto e o derivado). No diesel, a situação é diferente. A expectativa é de alta nos preços e com a manutenção em patamar alto por um bom tempo devido aos altos preços do gás natural, que tem implicações direta e indireta sobre o diesel.

eldquo;Primeiro, o preço do gás interfere no custo de processamento do diesel. Para se fazer diesel de baixo enxofre é preciso hidrogênio, que vem desse gás natural. Se o gás está caro, a produção do diesel encarece e isso é repassado ao preço final. Depois, com a aproximação do inverno no hemisfério norte, o diesel passa a ser usado diretamente em sistemas de calefação como substituto do gáserdquo;, disse.

Perez prevê que as sanções impostas à Rússia após a guerra na Ucrânia vão gerar impactos sobre os preços, mas não imediatamente. Para os derivados, as sanções entram em vigor em 5 de fevereiro. eldquo;Ainda falta um tempo, mas ninguém quer ser o último da fila. As empresas, compradores e vendedores, já estão se posicionando. Essa previsão já afeta contratos futuros para daqui a três ou seis meses, mas é um fato que, quando chegar a hora, a coisa vai ficar mais complicadaerdquo;, avaliou.

Eberaldo de Almeida, consultor e ex-presidente do IBP, estima que os preços do diesel ficarão pressionados nos próximos meses, com cotações estáveis em patamares altos ou em trajetória de alta. No caso do diesel, a demanda não deve ceder em função do inverno, que vai exigir mais diesel para aquecimento. Já a oferta deve seguir restrita em razão das sanções a serem implementadas e de ameaças de atos de guerra, como a explosão do gasoduto Nord Stream I, que levava 155 milhões de metros cúbicos de gás russo por dia à Europa, sobretudo para a Alemanha.

eldquo;Esse gás que vai deixar de chegar ou tem fluxo interrompido é substituído por diesel tanto na indústria quanto na casa das pessoas. A conjuntura pressiona duplamente os preçoserdquo;, diz. Com a elevação das cotações e a disputa por cargas no mundo, os preços do diesel no Brasil também tendem a permanecer em alta, afirmou Almeida.

Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo

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