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Instalado no bairro do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, o supermercado Yamato existe há 54 anos. Em 2020, quando a pandemia começou os clientes sumiram e as vendas caíram mais de 30%. A saída foi colocar um telefone à disposição dos consumidores, boa parte conhecidos dos proprietários, mas as linhas congestionaram. O Whatsapp foi a ferramenta que aguentou o tranco e retomou as vendas perdidas. Sem conhecimento de tecnologia, o sócio Flávio Augusto Pandolfi, recorreu ao filho, que é engenheiro.

- Hoje, mantivemos o uso do whattsapp e pelo menos 50 clientes fazem as compras todo dia por essa ferramenta digital. Atualmente já usamos PIX como forma de pagamento e, para fazer compras, especialmente de bebidas, utilizamos aplicativos dos próprios fornecedores - conta Pandolfi, lembrando que o Yamato possui apenas uma unidade na capital paulista e usa como slogan a frase "Super Vizinho"..

Mesmo com o avanço das grandes redes varejistas pelo país, os mercadinhos de bairro como o Yamato vem sobrevivendo, estão se reinventando e se tornando mais competitivos com a ajuda de tecnologia. Esta é a conclusão da pesquisa Digitalizando o Pequeno Varejo 2022, realizada pela gestora global de venture capital Flourish Ventures.

O levantamento feito com 200 entrevistados, sendo 100 lojistas e 100 consumidores, mostrou que no Brasil 92% dos consumidores entrevistados pretendem manter ou aumentar as compras em mercearias. Esses estabelecimentos estão presentes no dia a dia das pessoas, os donos conhecem o cliente pelo nome e frequentemente atendem as necessidades desse comprador.

- Essas relações são essenciais e por isso o mercadinho é um negócio vital na comunidade. Mas ainda há muito espaço para digilitalização que trará mais eficiência, aumento de vendas e acesso à capital financeiro, que hoje eles não têm - conta Diana Narváez, representante da Flourish na América Latina.

O atendimento personalizado é um diferencial prezado pelos consumidores, que não consegue ser oferecido pelas grandes redes. Pelo menos 46% dos entrevistados disseram que frequentam o mercado de seu bairro diariamente. Essa relação se intensificou durante a pandemia, com o isolamento social. Nesse período, 80% disseram ter comprado seus mantimentos no pequeno varejo.

Para se manterem relevantes, mostra a pesquisa, os pequenos mercados terão que avançar na digitalização, movimento que começou na pandemia. O levantamento revelou que 65% dos lojistas brasileiros usam aplicativos de mensagem para se comunicar com consumidores ou fornecedores. E 38% já usam aplicativos e sites para comprar mercadorias. Outros 35% disseram que planejam aumentar o uso de ferramentas digitais para ter vendas online, comunicação e delivery nos próximos dois anos.

O Rasga Preço, mercado no bairro do Novo Mundo, em Sorocaba, interior paulista, investiu nas redes sociais para ampliar seu faturamento. Com ferramentas digitais, atraiu novos consumidores e a receita já chega a R$ 4,5 milhões anuais.

emdash; Começamos fazendo vídeos para o Instagram e agora temos 64 mil seguidores. Foi o jeito que encontramos para sobreviver. Já enfrentávamos dificuldades e, com a pandemia achamos que íamos quebrar de vez emdash; afirma Filipe Fernandes, de 34 anos, um dos proprietários, que contabiliza mais de 300 mil visualizações nos vídeos estilo Reels, do Instagram.

Com 150 grupos, contendo 256 participantes no WhatsApp, o Rasga Preço publicar suas ofertas diariamente para atrair o público que vem de Sorocaba e região atrás dos bons preços.

A Flourish estima que, quando o pequeno varejo se tornar digital, os lojistas poderão aumentar seus lucros em 60% a 100%. Porém, há um atraso na implementação devido a outras tarefas empresariais urgentes, preocupações com segurança de dados, falta de familiaridade e limitações de acesso, especialmente financeiro.

Além do Brasil, a Flourish Ventures analisou o desempenho de mercearias no Egito, Índia e Indonésia. Ao todo, incluindo o Brasil, foram 1.600 entrevistados, sendo 800 lojistas e 800 consumidores. O estudo global foi feito em parceria com a Bain e Company e a 60 Decibels e, no Brasil, contou com a participação da Mercê do Bairro.

Considerando os quatro países, 50% dos consumidores disseram frequentar o pequeno varejo de seu bairro diariamente e 24% utilizam regularmente uma conta na loja para a realização de compras a crédito. E 71% dos consumidores compraram mais mantimentos no pequeno varejo durante os lockdowns decorrentes da Covid-19;

- O Brasil está mais sofisiticado em termos de acesos à tecnoligia do que os demais países pesquisados com os mercadinhos já utilizando mais ferramentas digitais do que nas demais nações - diz Narváez.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2022, o Brasil tem 415 mil mercadinhos registrados e os Microempreendedores Individuais (MEIs) são maioria entre esses estabelecimentos. O ramo é o segundo maior do país em número de pequenos negócios e representa 6% do PIB brasileiro, além de responder por 35% das vendas do setor supermercadista, o equivalente a R$ 194 bilhões no ano passado.

Em 2021, a abertura de novos negócios com este perfil cresceu 13,6%, segundo levantamento feito pelo Sebrae. Foram abertos 56,4 mil estabelecimento, e o saldo foi positivo se comparado aos empreendimentos que fecharam as portas no ano passado: 17,7 mil.

Segundo a pesquisa do Sebrae, os mercadinhos continuam sendo atrativos porque são um nicho que abriga diversos tipos de atividades em um só formato endash; padaria, açougue e hortifrúti. Foram essenciais durante a pandemia e, em tempos de inflação elevada, ganham importância nas compras menores durante a semana, já que a chamada compra mensal perdeu espaço nesse cenário em que o brasileiro viu seu poder aquisitivo encolher.

Fonte/Veículo: O Globo

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