A Liquigás emdash; responsável pelo envasamento, distribuição e comercialização do GLP em todo o país emdash; foi privatizada por cerca de R$ 4 bilhões. O consórcio comprador foi formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás.
Na época, o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, justificou a venda da Liquigás como parte da estratégia de reduzir dívidas, e concentrar esforços na exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas.
Mesmo sendo lucrativa, a distribuição de gás gerava retornos mais baixos que a exploração para a Petrobras. A expectativa era que o pré-sal gerasse lucros muito superiores com o mesmo nível de investimento, explica Bruno Benassi, da Monte Bravo.
A Liquigás tinha presença em todos os estados, com 23 centros de operação, cerca de 4,8 mil revendedores autorizados e 21,4% de participação no mercado emdash; o que equivalia a um em cada cinco botijões vendidos.
Na época, o mercado considerou o negócio positivo tanto para a Copagaz quanto para a Petrobras, que buscava acelerar seu programa de desinvestimentos e focar na produção de petróleo.
Além disso, a venda da Liquigás integrava o programa de privatizações do governo Bolsonaro, voltado à redução da participação do Estado em empresas públicas.
3. O botijão pode ficar mais barato?
Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais (Ibeps), acredita que os preços podem diminuir. Ele discorda, inclusive, da análise majoritária no mercado de que a distribuição de GLP teria margens mais estreitas.
O especialista cita um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que revela que, entre 2020 e 2023, as margens líquidas das distribuidoras de gás de cozinha cresceram 188%, bem acima da inflação.
eldquo;Com a volta da Petrobras, há espaço para reduzir margens e trazer alívio ao consumidor. Mas isso depende se a estatal vai priorizar resultado financeiro ou bem-estar econômicoerdquo;, disse.
Por outo lado, Benassi, da Monte Bravo, pondera que é possível reduzir o preço final, mas essa medida impactaria diretamente a rentabilidade da empresa.
eldquo;Quanto menor o preço do botijão, menor será a margem da operação. A equação não é simples: reduzir preços pode agradar consumidores, mas compromete o retorno do investimentoerdquo;, afirma.
Em relatório divulgado logo após o anúncio da Petrobras, analistas do Citi afirmaram que o retorno da empresa ao mercado de GLP é viável, mas deve ocorrer de forma gradual e custosa.
O cenário mais provável seria a compra da Vibra ou de outro distribuidor relevante. Vale lembrar que a empresa também foi vendida pela Petrobras em 2019.
Mas há barreiras contratuais emdash; como a licença da marca BR concedida à Vibra e a cláusula de não concorrência vigente até 2029 emdash;, que limitariam a velocidade com que a Petrobras poderia retomar completamente suas operações no setor de gás de cozinha.
Segundo o Citi, essa iniciativa demandaria um desembolso estimado em US$ 7 bilhões (aproximadamente R$ 38 bilhões), um investimento elevado mesmo para a estatal.
4. Como é formado o preço do botijão de gás?
Atualmente, o preço médio do botijão de 13 kg no Brasil é de R$ 107,82, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizado entre 7 e 13 de setembro.
Além do custo de produção, o preço inclui impostos e as margens de lucro da distribuição e revenda.
De acordo com dados da ANP, em 2022, quatro empresas concentravam 88,3% do mercado de distribuição de GLP no Brasil.
A Copa Energia liderava o setor com 23,81% de participação;
A Ultragaz ocupava a segunda posição, com 22,51%;
A Nacional Gás era a terceira, com 21,55%;
e Supergasbras, em quarto lugar, com 21,02%.
5. O que diz o setor de distribuição de GLP?
O anúncio da Petrobras surpreendeu distribuidoras e revendedoras de gás, mas, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), não representa uma ameaça significativa à concorrência no setor.
eldquo;Qualquer novo entrante que se submeta às mesmas regras do mercado é bem-vindo. O período em que a Liquigás fazia parte do setor foi considerado saudável para todoserdquo;, afirma o presidente do sindicato, Sérgio Bandeira de Mello.
No entanto, ele acredita que a entrada da Petrobras provavelmente terá impacto limitado sobre a concorrência ou os preços. Segundo Bandeira, a principal forma de reduzir custos é aumentar a eficiência logística, por exemplo:
otimizar rotas de entrega;
usar georreferenciamento e telemetria para planejar abastecimentos;
investir em inovação.
6. Como a entrada da Petrobras pode impactar a competitividade?
Sérgio Bandeira destaca que, apesar da concentração, o setor continua competitivo para novos participantes. eldquo;Qualquer novo agente altera a dinâmica do mercado. A disputa é semelhante à de água mineral ou refrigerantes, com forte briga por pontos de venda e espaçoerdquo;, avalia o analista.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, acrescenta que o efeito sobre a competição dependerá do modelo de atuação que a Petrobras escolher.
eldquo;Se ela voltar apenas como distribuidora, deve disputar margens com concorrentes privados. Mas se avançar para a venda direta ao consumidor, com frota própria e pontos de revenda, pode mudar radicalmente o mercadoerdquo;, disse.