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Há um ano, dívidas atingiam 72,9% das famílias. País registra também aumento de inadimplentes (aqueles que deixaram de pagar algum débito). São 29,6%, ante 25,6% em agosto de 2021. Em um cenário de inflação e juros altos, isso pode atrapalhar retomada da economia após impacto da covid-19, dizem especialistas.

O número de brasileiros endividados atingiu novo recorde em agosto, passando de 78% para 79% do total de famílias no País, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Há um ano, esse número era de 72,9%. Da mesma forma, aumentou o porcentual de inadimplentes (aqueles que têm contas em atraso) endash; de 29% para 29,6% (ante 25,6% em agosto de 2021), também o pior patamar da sondagem, iniciada em 2010.

Esses resultados aparecem num momento de inflação ainda próxima de dois dígitos e de alta de juros, o que compromete o orçamento do brasileiro e, segundo especialistas, pode afetar a trajetória de retomada da economia depois do impacto da covid-19.

eldquo;Principalmente depois dos dados do último PIB (referentes ao 2.º trimestre), sabemos que o crédito tem sido uma via relevante para dar suporte ao consumo, tanto que o endividamento vem crescendo desde o ano passadoerdquo;, disse Ízis Janote Ferreira, economista da CNC. Ela ressalta que o alto endividamento pode comprometer a capacidade de consumo, principalmente, no ano que vem. eldquo;Chega uma hora que esgota.erdquo;

Num ciclo virtuoso de emprego e renda, o crescimento do endividamento não representaria, necessariamente, um problema. Ao contrário, poderia significar mais consumo, especialmente de bens duráveis como carros e eletrodomésticos, cujas vendas costumam ser parceladas pelos consumidores. O preocupante no cenário atual é que o mercado de trabalho tem até gerado empregos, mas com salários menores.

Segundo Ízis, a pesquisa tem mostrado que o aumento do endividamento foi uma das formas encontradas pelo consumidor para tentar manter as despesas correntes. Isso aparece, por exemplo, quando se considera o prazo médio de novos financiamentos. Há um ano, esse número equivalia a 7,3 meses. Pela pesquisa de agosto passado, caiu para 6,8 meses, o que indicaria crescimento maior nas modalidades de empréstimo de curto prazo.

eldquo;Não é crédito pessoal ou para comprar bem. É crédito de prazo curto, no cartão e no carnê de loja, para suportar o consumo de itens mais básicos, não duráveis, do orçamento do dia a dia. Não é para trocar de carro nem para comprar eletrodomésticoerdquo;, afirmou ela.

Para Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec, a elevação do Auxílio Brasil para R$ 600 deverá aliviar as finanças das famílias mais pobres até o fim do ano. O movimento de esgotamento tenderá a ficar mais para 2023. eldquo;Vamos ter de esperar para ver como ficará o Auxílio Brasil no ano que vem. O mercado de trabalho tem tendência de melhora.erdquo; ebull;

O uso de carnês e cartões próprios de varejistas tem crescido como modalidade de crédito nos últimos meses, em detrimento de instrumentos puramente financeiros, mostram os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É mais uma opção para os consumidores fecharem as contas com o orçamento apertado, mas também requer atenção das famílias para evitar a desorganização das contas.

Em agosto, 19,4% das famílias endividadas recorreram a carnês e cartões de lojas do varejo, aumento de 0,5 ponto porcentual ante julho. O cartão de crédito segue como principal modalidade de endividamento, com 85,3% em agosto, mesma proporção de julho, mas 3,5 pontos porcentuais abaixo do registrado em abril, desde quando vem caindo.

Segundo Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec, parte desse movimento é estrutural e tem mais a ver com a estratégia dos varejistas do que com a demanda por parte das famílias. Diante dos juros altos, as empresas do varejo estão fugindo dos serviços de financeiras e têm aproveitado a diversificação dos serviços financeiros por parte de bancos digitais para oferecer crédito e parcelamentos diretamente aos consumidores.

Para o consumidor, a retomada do crediário direto com os lojistas se tornou eldquo;mais uma alternativa de pedalar o orçamentoerdquo;, disse Braga. eldquo;Virou mais uma fonte para ele tentar sobreviver no curto prazoerdquo;, completou o professor, ressaltando que essa fonte de crédito também tem limites, embora ele afirme que esse esgotamento deverá ficar para 2023.

No caso de Ana Félix, de 54 anos, o crédito foi a saída para lidar com as complicações vindas depois de ficar desempregada por conta da pandemia. Hoje, ela trabalha de domingo a domingo para pagar as contas. De segunda a quinta-feira, dá expediente como vendedora no Centro do Rio. De sexta a domingo, é cuidadora de idosos.

eldquo;A pandemia atrapalhou muita coisa. Fiquei parada, ficamos em casa sem trabalhar, aí as contas vão se transformando em uma bola de neveerdquo;, relatou Ana. eldquo;Estou inadimplente. Minha prioridade é pagar conta de luz, água, telefone e cartão de créditoerdquo;, reconheceu. ebull;

Fonte/Veículo: O Estado de S.Paulo 

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