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Puxada por alimentação fora de casa e planos de saúde, a inflação oficial do Brasil subiu 0,67% em junho, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a maior alta do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para o mês desde 2018.

Em maio, o índice havia subido menos: 0,47%. Apesar da aceleração, o resultado de junho veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,71%.

Com a entrada dos novos dados, a inflação chegou a 11,89% no acumulado de 12 meses. Nessa base de comparação, a alta havia sido de 11,73% até maio.

O IPCA acumulado está em dois dígitos, acima de 10%, há 10 meses. Ou seja, desde setembro do ano passado. Uma sequência tão longa não ocorria desde o intervalo de 2002 a 2003. À época, o índice ficou em dois dígitos por 13 meses consecutivos, informou o IBGE.

O resultado de junho foi influenciado pelo aumento nos preços dos alimentos para consumo fora do domicílio (1,26%), com destaques para a refeição (0,95%) e o lanche (2,21%), apontou o gerente da pesquisa do IPCA, Pedro Kislanov.

"Nos últimos meses, esses itens não acompanharam a alta de alimentos nos domicílios, como a cenoura e o tomate, e ficaram estáveis. Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, há também uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso é refletido nos preços", afirmou.

Outro fator que influenciou o resultado de junho foi o aumento nos planos de saúde (2,99%). Em maio, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) autorizou o reajuste de até 15,50% nas modalidades individuais, destacou o IBGE.

O plano de saúde foi o maior impacto individual (0,10 ponto percentual) no IPCA do mês passado. Assim, impulsionou a alta de 1,24% no grupo de saúde e cuidados pessoais.

Os outros oito segmentos de produtos e serviços pesquisados também tiveram altas de preços em junho. A maior variação foi do grupo de vestuário, de 1,67%. O segmento teve 0,07 ponto percentual de contribuição.

O maior impacto entre os grupos (0,17 ponto percentual) veio de alimentação e bebidas. A alta foi de 0,80%.

Dentro do grupo, os alimentos para consumo no domicílio subiram 0,63%. O leite longa vida disparou 10,72%. O feijão-carioca avançou 9,74%.

Esses avanços foram compensados por quedas de outros alimentos tradicionais. Os preços da cenoura, que já haviam caído em maio (-24,07%), recuaram 23,36% em junho. Cebola (-7,06%), batata-inglesa (-3,47%) e tomate (-2,70%) também registraram variações negativas.

GASOLINA RECUA 0,72% EM JUNHO

O grupo de transportes subiu 0,57% em junho. O dado sinaliza uma desaceleração frente ao mês anterior (1,34%). A perda de fôlego foi impactada pela queda de 1,20% nos combustíveis.

Os preços da gasolina, item de maior peso individual no IPCA, caíram 0,72% em junho, enquanto o etanol recuou 6,41%. O óleo diesel, por outro lado, subiu 3,82%.

Segundo Kislanov, a baixa dos combustíveis pode ter refletido cortes de tributos anunciados por governos estaduais.

Na reta final de junho, São Paulo e Goiás saíram na frente e reduziram alíquotas de ICMS, em linha com uma lei federal que estabeleceu um teto para o imposto. Outros estados também anunciaram cortes na passagem de junho para julho.

Em transportes, a maior variação (11,32%) e o maior impacto positivo (0,06 ponto percentual) vieram das passagens aéreas. Os bilhetes acumularam alta de 122,40% em 12 meses.

CHOQUES NA PANDEMIA E EFEITO POLÍTICO

A escalada da inflação ganhou forma ao longo da pandemia devido a uma combinação de fatores.

Houve aumentos em preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, carestia de alimentos e ruptura de cadeias globais de insumos da indústria.

A pressão inflacionária no Brasil foi intensificada pela desvalorização do real em meio a turbulências na área política.

No primeiro semestre de 2022, o cenário teve o impacto adicional da Guerra da Ucrânia. O conflito pressionou ainda mais o petróleo e parte das commodities agrícolas no mercado internacional.

Em meio a esse contexto, a Petrobras promoveu reajustes na gasolina e no óleo diesel nas refinarias em 18 de junho, gerando reflexos sobre os preços ao longo da cadeia produtiva.

O aumento fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificar os ataques contra a estatal às vésperas das eleições. A inflação é vista por membros da campanha de Bolsonaro como principal obstáculo para a reeleição.

De acordo com economistas, cortes de tributos estaduais e federais já anunciados trazem um viés de baixa para as projeções do IPCA neste ano, mas há risco de a perda de receitas gerar uma espécie de bomba fiscal, com impactos negativos sobre a inflação mais à frente.

O BC (Banco Central) vem aumentando os juros devido à escalada dos preços. O efeito colateral é a dificuldade adicional para a recuperação do consumo das famílias e dos investimentos produtivos das empresas.

O IPCA caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC pelo segundo ano consecutivo. Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.

Por ora, economistas enxergam o índice abaixo de 10% até dezembro, mas ainda distante da meta.

Fonte/Veículo: Folha de S. Paulo

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