Sem acordo, Senado suspende votação de PLP sobre devedor contumaz
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A ofensiva do governo Bolsonaro para alterar a política de preços da Petrobras, com a decisão de trocar o CEO da estatal pela terceira vez em pouco mais de um ano, ocorre num momento em que o risco de desabastecimento de diesel é crescente. O assunto já chegou ao conhecimento do ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, de acordo com uma fonte. O alerta de quem acompanha de perto o assunto é que, se o governo controlar o preço, o tiro vai sair pela culatra, ampliando os riscos de desabastecimento de combustíveis de maneira substancial, o que pode provocar crises.
Nos estudos sobre cenário, um dos principais argumentos contra uma intervenção no preço que use o caixa da Petrobras é que, ao contrário do que alguns podem imaginar, a estatal não possui o monopólio sobre gasolina e menos ainda sobre o óleo diesel. No caso do diesel, a Petrobras foi responsável por somente 62% da produção de diesel no ano passado, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que já desconsideram a oferta da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), vendida no fim de 2021 para o Mubadala Capital.
Se a Petrobras abandonar a paridade de preços internacionais nesse cenário, o que ela faria no fim das contas é desestimular o mercado privado a produzir, afetando igualmente o interesse das tradings importarem diesel para o país. No ano passado, a própria Petrobras importou 7% do que o Brasil consumiu -- o restante da oferta do combustível foi completada por produção de terceiros (7%) e importação (13%) de outros players, além de biodiesel (11%), segundo os dados da ANP.
O alerta é que uma decisão intempestiva do governo pode gerar falta de diesel justamente no pico de demanda de consumo no país, atrapalhando o período da safra agrícola. Usualmente, o pico do consumo de diesel no Brasil se concentra entre agosto e outubro. Como a decisão de fechar a importação do combustível deve ser tomada com uma antecedência de 45 a 60 dias, as dúvidas sobre a política de preços poderiam enxugar a oferta de diesel, o que seria muito ruim.
Além disso, já existe um desalinhamento entre oferta e demanda, com as distribuidoras fazendo pedidos de diesel para entrega em junho em níveis muito acima aos níveis de outubro do último ano -- um mês que normalmente é de pico de consumo --, o que acendeu mais um sinal amarelo.
Se abandonar a paridade, o Brasil se colocaria em uma situação muito mais difícil para competir globalmente por uma commodity muito mais escassa, por efeitos da guerra da Ucrânia e de um desarranjo de supply chain provocado pela pandemia. Globalmente, os estoques de diesel estão próximos de 100 milhões de barris nas cinco principais regiões do mundo, nível muito baixo -- historicamente, os oscilam acima de 120 milhões de barris, mostram dados da consultoria Facts Global Energy. E não só isso. O mercado futuro também não estimula a produção de óleo diesel.
No segundo semestre, a conjuntura adversa pode se tornar ainda pior, advertem as fontes. A menor oferta da Rússia deve começar a se refletir mais globalmente -- até abril, a diminuição da oferta de derivados de petróleo dos russos ainda era discreta, na ordem de 70 mil barris por dia ante um volume total de cerca de 900 mil barris. Além disso, a temporada de furacões nos Estados Unidos tem potencial para afetar o refino no Hemisfério Norte. Por questões climáticas, o consumo de diesel é maior no fim do ano, quando a energia é utilizada para o aquecimento.
Diante desse quadro complicado, as soluções para amenizar a carestia e os problemas de classes relevantes coma dos caminhoneiros não deveria passar pelo controle de preços, mas por uma política de subsídios, medida que vem sendo adotada por vários países do mundo desenvolvido.
Uma fonte lembra que, na Europa, países como França, Espanha, Noruega e Holanda reduziram os tributos sobre os combustíveis para líder lidar com a crise energética. Também houve adoção de subsídios na Alamana, Japão, Dinamarca, Grécia, Reino Unido, Itália e Espanha. Nos Estados Unidos e no Canadá, uma política implementada foi o reajuste automático nos contratos de frete para lidar com os aumentos dos combustíveis, o que poderia ser uma alternativa no Brasil.
Entre políticas que o governo poderia adotar sem prejudicar a paridade de importação -- também envidando o risco de processo bilionários de investidores nos EUA --, estão desde benefícios focalizados (auxílio Brasil) e subsídios mais amplos como os adotados em 2018, após a greve dos caminhoneiros.
"O governo não deveria estrangular a oferta em um mercado já estrangulado", advertiu uma fonte. Não é uma coincidência, aliás, que a situação tenha despertado os sindicatos dos petroleiros. Na terça-feira, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) alertou para o risco de desabastecimento de diesel, um problema que começou a se desenhar já na gestão de Silva e Luna.
Fonte/Veículo: Valor Econômico
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