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Os carros produzidos no Brasil podem ficar cada vez menos nacionais. Além de o país estar ainda distante do processo de eletrificação veicular, em curso nos países desenvolvidos, recente medida do governo federal deu mais um empurrão no movimento de desindustrialização do setor automotivo. Uma resolução do comitê executivo de gestão da Câmara de Comércio Exterior reduziu as alíquotas do Imposto de Importação de 35% para 16% a 18% para veículos que entrarem no país desmontados ou semidesmontados.

Essa é a primeira vez que o governo brasileiro estimula a montagem local de veículos com peças do exterior, conhecidos na indústria pela sigla CKD. Até aqui, prevalecia o estímulo à nacionalização da produção.Programas de governos passados já deram muitos incentivos em troca de um conteúdo nacional mínimo. Hoje, embora não exista uma regra, nas grandes montadoras, o conteúdo local médio chega a 70%.
A Audi já aproveitou a medida federal para começar a produzir dois modelos de carros com 100% das peças trazidas da sua fábrica na Hungria, retomando, assim, a operação de uma linha de montagem no Paraná, que havia sido desativada há mais de um ano.
A resolução da Camex é recente. Foi publicada no Diário Oficial da União em 2 de março. A redução tributária vale para automóveis e comerciais leves novos com até 1,5 mil quilos sem produção nacional equivalente. A resolução tem prazo de dois anos.
O imposto cai de 35% para 18% para veículo semidesmontado (SKD, na sigla em inglês). Ou seja, o que chega ao país em forma de kits de peças montados no exterior. O governo concederá redução tributária menor, para 16%, para o completamente desmontado, o chamado CKD. Nesse caso, a montagem requer uma quantidade maior de processos e de mão de obra local.
A Audi vai utilizar o benefício do SKD. Conjuntos de componentes das novas gerações de dois modelos - Q3 e Q3 Sportback - chegarão pelo Porto de Paranaguá para montagem na fábrica do grupo Volkswagen em São José dos Pinhais (PR). A empresa anunciou ontem investimento de R$ 100 milhões para modernizar a linha com novas máquinas. Total de 200 trabalhadores serão contratados nos próximos meses até que a capacidade planejada, de 4 mil veículos por ano, seja atingida.
Trata-se de um plano tímido quando comparado à média do setor e ao que a própria Audi já fez no Brasil em suas duas primeiras tentativas de ter uma atividade industrial no país, em 1999 e 2015. Em ambas, a montadora alemã foi atraída por programas de incentivos fiscais - o regime automotivo e Inovar-Auto, respectivamente. Ao decidir interromper a atividade pela segunda vez, no início de 2020, a direção da Audi apontou a frustração por não ter recebido de volta créditos tributários devidos pelo governo federal.
Esses créditos referem-se a uma medida tomada pelo governo brasileiro em 2012, que instituiu a cobrança de 30 pontos percentuais de IPI a mais em carros importados por empresas sem fábricas no Brasil. Quando quatro marcas de luxo - Audi, Mercedes-Benz, BMW e Land Rover - anunciaram planos de erguer fábricas no país, ficou a promessa, nunca cumprida, de devolver o IPI cobrado a mais
O total desses créditos chega a R$ 300 milhões, segundo a indústria. Calcula-se que a Audi tem a rever mais de R$ 200 milhões, embora a empresa não revele valores precisos. A Mercedes desistiu da operação no fim de 2019 e vendeu sua fábrica para os chineses da Great Wall. Para ler esta notícia, clique aqui.
Segundo o presidente da Audi no Brasil, Daniel Rojas, o modelo adotado desta vez, com montagem de veículos importados semidesmontados, é utilizado em várias partes do mundo e é, diz, eldquo;adequado para planos de produção em baixos volumeserdquo;. Para ler esta notícia, clique aqui.

Fonte/Veículo: Valor Econômico

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