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A taxa de desemprego subiu a 6,5% no trimestre até janeiro no Brasil, apontam dados divulgados nesta quinta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O indicador ficou 0,3 ponto percentual acima do patamar de 6,2% registrado nos três meses até outubro, que servem de base de comparação.

Apesar do aumento frente ao intervalo imediatamente anterior, a taxa de 6,5% é a menor para os trimestres até janeiro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Igual valor foi verificado no período até janeiro de 2014.

O novo resultado veio levemente abaixo da mediana das estimativas do mercado financeiro, que era de 6,6%, conforme a agência Bloomberg.

William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE, disse que o aumento do desemprego pode ser interpretado como o início de um movimento sazonal (comum) na série.

Após a virada de ano, a taxa costuma subir ao longo do primeiro trimestre, de janeiro a março, com a busca por trabalho após o fechamento de vagas temporárias e o fim de contratos no setor público, segundo o pesquisador.

"É notório que, no primeiro trimestre, há aumento da desocupação devido aos desligamentos de temporários. A introdução de janeiro no trimestre móvel já mostrou um pouco disso", afirmou Kratochwill.

"Há o componente também da diminuição de contratos no setor público, em saúde e educação, que pode acontecer no começo do ano", completou.

Na comparação com outubro, o IBGE identificou uma redução de 469 mil trabalhadores no grupo de atividades de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais.

Outra queda ocorreu em agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, que perdeu 170 mil profissionais.

Conforme Kratochwill, o avanço do desemprego até janeiro pode indicar uma retomada de padrões de sazonalidade vistos antes da pandemia. Em 2019, no pré-crise, também houve alta de 0,3 ponto percentual na taxa.

O economista Bruno Imaizumi, da consultoria LCA 4intelligence, concorda com o IBGE e diz que o movimento veio em linha com o esperado. "O mercado de trabalho ainda está forte", afirma.

Imaizumi projeta taxa próxima de 6,8% no trimestre até fevereiro e de 7% até março.

"No começo do ano, é aquela história: a gente pode achar que está piorando, mas tem a questão da sazonalidade. É um movimento comum."

Segundo o IBGE, a população desempregada chegou a 7,2 milhões nos três meses encerrados em janeiro.

Isso representa um crescimento de 5,3% na comparação com o período até outubro (mais 364 mil pessoas).

Porém, no confronto com igual trimestre de um ano antes, o grupo apresentou uma queda de 13,1% (menos 1,1 milhão).

Nas estatísticas oficiais, a população desempregada é aquela de 14 anos ou mais que não está trabalhando e que está à procura de oportunidades.

A Pnad examina as condições do mercado de trabalho formal e informal. A população ocupada, que estava exercendo algum tipo de atividade, foi de 103 milhões até janeiro.

O indicador recuou 0,6% na comparação com outubro (menos 641 mil), mas aumentou 2,4% em um ano (mais 2,4 milhões).

A gestora de investimentos Kínitro Capital avalia que o mercado de trabalho pode ter atingido seu melhor momento em novembro do ano passado e agora deve passar por um processo de "acomodação", e não de "reversão".

Renda média bate recorde
Outro destaque da divulgação do IBGE veio da renda média do trabalho da população ocupada. O indicador chegou a R$ 3.343 por mês até janeiro e, com o resultado, bateu o recorde na Pnad.

Esse rendimento é calculado em termos reais endash;dados anteriores são ajustados de acordo com a inflação.

Ao marcar R$ 3.343, a renda média cresceu 1,4% em relação a outubro (R$ 3.298). Também avançou 3,7% na comparação anual com o intervalo até janeiro de 2024 (R$ 3.224).

Kratochwill, do IBGE, associou o recorde a dois fatores. O primeiro é o mercado ainda aquecido. A população ocupada até encolheu, mas segue em patamar alto para a série.

A redução da ocupação teve impacto do fechamento de vagas informais, que tradicionalmente pagam menos. Esse é justamente o segundo fator citado por Kratochwill para explicar o recorde da renda.

Ou seja, com a saída dos informais do mercado, o rendimento de quem seguiu empregado teve avanço na média.

A taxa de informalidade foi de 38,3% até janeiro, o equivalente a 39,5 milhões de trabalhadores informais ocupados. O percentual ficou abaixo dos 38,9% até outubro, que correspondiam a 40,3 milhões.

A taxa mede a proporção de informais (sem carteira ou sem CNPJ) em relação ao total de ocupados.

O número de empregados sem carteira no setor privado, por exemplo, atingiu 13,9 milhões em janeiro. O dado mostra uma redução de 553 mil ante outubro.

Na série histórica, o recorde anterior da renda média havia sido registrado no trimestre até julho de 2020 (R$ 3.335), na pandemia. À época, o resultado havia sido puxado pela saída de informais do mercado, que sentia os impactos da crise sanitária.

Imaizumi, da LCA, afirma que o aumento do salário mínimo em 2025 deve influenciar os dados de fevereiro, quando o reajuste cai na conta dos trabalhadores formais.

Cenário de 2025
Os sucessivos aumentos da renda beneficiam os trabalhadores, mas, sem ganhos de produtividade, tendem a trazer desafios para o combate à inflação, dizem analistas.

Em uma tentativa de frear o aumento dos preços, o BC (Banco Central) vem subindo a taxa de juros no Brasil, o que encarece o consumo e os investimentos produtivos.

Assim, economistas esperam uma desaceleração da atividade econômica, o que tende a esfriar o mercado de trabalho.

Imaizumi, da LCA, prevê taxa de desemprego perto de 7% em dezembro, o que ele chama de "evolução comedida", a depender das próximas decisões do governo Lula (PT) em meio à queda de popularidade do presidente.

Segundo o analista, esse cenário pode levar a "medidas mais populistas" do Palácio do Planalto para estimular a economia e o mercado de trabalho no curto prazo, apesar do possível impacto fiscal.

"O mercado de trabalho deve apresentar gradual perda de ritmo ao longo dos próximos meses conforme aumenta o impacto do aperto das condições financeiras na economia", afirma o banco Pine.

Em 2024, a taxa de desocupação mostrou sucessivas quedas em meio a estímulos do governo. O indicador chegou a recuar a 6,1% até novembro, o menor patamar da série.

Além do aquecimento da economia, um fator secundário que contribuiu para a queda do desemprego foi o comportamento da taxa de participação, que segue abaixo do pré-pandemia.

O indicador recuou de 62,6% até outubro para 62,3% até janeiro. O percentual era de 63,4% até janeiro de 2020, antes da crise sanitária.

A taxa de participação mede a proporção de pessoas de 14 anos ou mais que estão inseridas na força de trabalho como ocupadas (empregadas) ou desempregadas (à procura de vagas).

Em parte, o quadro é associado ao envelhecimento da população. Por essa lógica, a saída da força de trabalho de pessoas mais velhas contribuiria para frear a procura por emprego e, assim, reduzir a pressão sobre a taxa de desocupação.

O IBGE também já afirmou ser possível que jovens estudantes tenham se afastado do mercado com a melhora da renda dos responsáveis pelas famílias. A situação seria positiva em caso de dedicação aos estudos.

Fonte/Veículo: Folha de S.Paulo

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