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* Adriano Pires - O ano de 2025 começa com a volta de um velho conhecido de planejadores e analistas do setor de energia: a alta defasagem dos combustíveis. Depois de um ano de calmaria, em que os preços de combustíveis no mercado doméstico ficaram praticamente inalterados, em função de um cenário externo favorável, o tom agora é outro.

No fim de 2024, o mercado nacional viu a cotação do dólar alcançar recordes sucessivos e o preço do barril de petróleo no exterior apresentar sinais de um novo ciclo de alta.

Desde maio de 2023, a estratégia comercial da Petrobras para a precificação do diesel e da gasolina em suas refinarias leva em conta 2 elementos centrais: o custo alternativo do cliente como prioridade; o valor marginal para a companhia.

De acordo com o anúncio oficial da empresa, o custo alternativo do cliente contempla alternativas de suprimento por fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos. Já o custo marginal da Petrobras se baseia no custo das diversas alternativas para a empresa, dentre elas a produção, a importação e a exportação do produto.

Quando a nova política de preços foi adotada, o objetivo principal declarado pelo então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, era eldquo;abrasileirarerdquo; os preços de combustíveis, sob a premissa de que o Brasil é autossuficiente no setor. Essa percepção, entretanto, não corresponde à realidade. O abastecimento da demanda doméstica por combustíveis depende da importação desses produtos, cerca de 30% no caso do diesel e 10% quando se trata da gasolina.

Ao longo de 2024, essa pauta virou pano de fundo do setor graças à estabilidade da taxa de câmbio (R$/USS) e do barril de petróleo. No fim do ano, entretanto, uma crise de confiança do mercado em relação à atual gestão do governo federal levou a moeda norte-americana a quebrar recordes consecutivos, ultrapassando o patamar de R$ 6,00 pela 1ª vez na história. A maior influência para esse movimento veio da incerteza de agentes privados, quanto ao cumprimento dos compromissos fiscais e a efetividade do pacote de corte de gastos apresentado pela base governista.

Nesse contexto, o dólar elevado se tornou uma fonte de pressão indireta, ao contribuir para uma defasagem mais acentuada entre o preço na refinaria nacional e a referência internacional. Quando a diferença entre o preço praticado pela Petrobras no mercado doméstico e aquele observado no mercado internacional, corrigido pelo câmbio, fica restritiva para a atividade de importadores privados, há inerentemente uma maior pressão para que a petroleira promova um reajuste de seus preços de refinaria.

Outra importante influência se deu na 2ª quinzena de dezembro de 2024, quando o Tesouro dos EUA aprovou uma lista de 35 entidades e embarcações que serão embargadas em função de sua participação no transporte de óleo iraniano ilícito. Na época, a leitura de agentes do mercado foi de que a medida teria um reflexo imediato e significativo no nível da oferta global, alterando sua percepção quanto aos movimentos de curto prazo.

Em 2025, logo nas primeiras semanas do ano, o preço do barril de petróleo sofre novo impacto por causa do anúncio de diversas sanções norte-americanas contra companhias de Oeamp;G (Óleo e Gás) da Rússia. O pacote deve mirar as atividades da Gazprom Neft e da Surgutneftegas, que, segundo análise do Barchart, empresa de acompanhamento de dados do setor, juntas exportaram cerca de 1 milhão de barris por dia (b/d) de óleo russo nos primeiros 10 meses de 2024, representando cerca de 30% do volume carregado por tanqueiros saindo do país.

A expectativa do mercado é de que a medida tenha como consequência uma oferta mais restrita e uma maior competição por entregas na região, ao menos até que o volume embargado encontre demanda a preços mais baixos ou fora do eixo aliado aos EUA.

Enquanto as dúvidas sobre o efeito das sanções pairam sobre as negociações da commodity, o risco associado a diversos conflitos em regiões estratégicas ao redor do mundo continuam faturando na avaliação de traders. A possibilidade de novos choques, de oferta ou demanda, vindos da esfera geopolítica continua alta, contribuindo para a predominância de uma avaliação mais pessimista quanto ao equilíbrio de curto prazo. Para ler esta notícia, clique aqui.

*Sócio-fundador e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura)

Fonte/Veículo: Poder 360

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