Vibra vê transição energética com 'cautela' e puxada pela demanda do consumidor
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Mesmo diante das tensões do Oriente Médio, onde estão seis dos 15 maiores produtores de petróleo do mundo, há uma trajetória de queda na cotação com o barril de Brent rondando os US$ 70. Ainda que tenha fechado a sessão desta sexta-feira, 27, com alta de 0,53% para US$ 71,98, caiu 3,49% na semana, seguindo a tendência das anteriores. O nível em torno de US$ 70 foi o mais frequente em setembro, mas antes, desde 2021, a cotação tinha se mantido acima dessa marca. Ainda que o dólar esteja alto (fechou a sexta a R$ 5,4361, recuo de 0,16%), esse patamar mais baixo do petróleo, desvalorizado, leva o mercado do setor a questionar por que a estatal brasileira ainda não reduziu os preços dos combustíveis. Operadores do setor esperam uma redução de preços para qualquer momento.
Embora tenha negado rumores de barateamento da gasolina e do diesel no fim da semana passado, a Petrobras, conforme especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, segue com eldquo;espaço técnicoerdquo; para baixar os preços que cobra em suas refinarias. Os preços da Petrobras têm flutuado acima da referência de importação do Golfo do México (EUA), calculada por agentes e consultorias, desde o fim de agosto (gasolina) e início de setembro (diesel).
Um complicador para a Petrobras é que, com a desvalorização, cai também a receita da empresa com a exportação da commodity. Para compensar perdas, a companhia tem mantido os preços dos combustíveis acima da paridade de importação (PPI), disseram ao Estadão/Broadcast profissionais da estatal com acesso à política de preços.
As contas que a Petrobras faz
De fato, no segundo trimestre deste ano, a Petrobras teve uma receita de R$ 26,8 bilhões com exportação de petróleo, o equivalente a 22% de sua receita total no período de abril a junho, porcentual relevante.
Já com derivados, a receita do segundo trimestre foi de R$ 71,8 bilhões, sendo R$ 52,4 bilhões somente com diesel e gasolina. Esses dois produtos responderam por 42,8% da receita do período.
Diante disso, uma baixa nas duas fontes emdash; exportação de petróleo e venda de combustíveis emdash; poderia levar à piora significativa do resultado do terceiro trimestre, o que se pretenderia evitar, principalmente levando em conta que o câmbio se encontra em nível alto.
A tese de barateamento iminente é reforçada pelo contexto de maior pressão inflacionária ligada ao encarecimento da energia elétrica, em bandeira vermelha. O governo, acionista majoritário da estatal, poderia pressionar pela redução na gasolina, a fim de frear a inflação.
Na manhã desta sexta-feira, 27, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao Estadão/Broadcast, a estatal se limitou a dizer que foi uma eldquo;reunião de rotina, para manter o acionista majoritário a par do andamento dos projetos da empresaerdquo;.
Sendo a gasolina um dos itens de maior peso na cesta de preços ao consumidor amplo (5,24% no IPCA de agosto), uma redução no preço pela Petrobras agora poderia compensar a pressão inflacionária vinda do encarecimento da energia elétrica, motivada pela seca e pelo acionamento em setembro da bandeira vermelha, que pode perdurar até 2025.
Na quinta-feira, 26, questionada por jornalistas sobre o preço dos combustíveis, Magda disse que sempre que entender ser possível reduzir preços e competir para ganhar mercado, a Petrobras fará isso. Ela disse que a Petrobras tem eldquo;empatiaerdquo; pela sociedade. Embora não divirja de posições anteriores, alguns agentes de mercado interpretaram a fala como uma anuência a uma futura redução dos preços.
Gasolina com 6% de sobrepreço
O preço da gasolina da Petrobras vem flutuando acima do preço de paridade de importação calculado pela Associação Brasileira de Importação e Combustíveis (Abicom) desde o fim de agosto e, com mais firmeza desde o dia 2 de setembro. Em relatório divulgado nesta sexta-feira, 27, a Abicom afirma que na véspera havia um sobrepreço médio de 6%, ou R$ 0,18 por litro, na gasolina da estatal com relação ao preço internacional.
No caso do diesel, o mesmo vem acontecendo seguidamente há 17 dias, desde o dia 5 de setembro. Na quinta, 26, segundo a Abicom, esse sobrepreço no diesel também teria sido de 6%, o que representaria R$ 0,20 de diferença ante o preço do produto importado.
elsquo;Diesel Petrobras acima do PPI do Golfoersquo;
Thiago Vetter, especialista em gerenciamento de risco da StoneX, afirma que há espaço para a redução dos preços da gasolina e do diesel, considerando tanto o PPI do Golfo quanto o que chama de eldquo;PPI Mínimoerdquo;, medida que abarca o preço do diesel russo importado. O indicador é relevante porque, segundo dados do governo federal (MDIC), a Rússia responde por 72,5% das importações brasileiras de diesel até o fim de agosto.
Mas, apesar do espaço para reduções, Vetter observa que o mesmo já aconteceu em outros momentos do ano sem que a Petrobras modificasse seus preços, o que poderia se repetir. Ele cita o período de abril a junho, quando o diesel Petrobras esteve acima desse PPI mínimo e não houve reduções.
eldquo;A novidade de momento é que o preço do diesel Petrobras está acima do PPI do Golfo, que não é o mais competitivo do mercado. Isso não acontecia desde janeiroerdquo;, diz. Na semana passada, o sobrepreço em relação ao diesel russo chegava a R$ 0,35 por litro, na casa dos 10%, e ante o diesel do Golfo a R$ 0,19, ou 5,5%.
Já no caso da gasolina, que ainda tem como referência mais correta o Golfo, os preços Petrobras estavam R$ 0,09 ou 3% acima do PPI. eldquo;Embora menos do que no diesel, essa arbitragem está aberta. O preço da gasolina Petrobras está acima da gasolina mais cara a ser importadaerdquo;, diz.
elsquo;É temerário: mercado está volátilersquo;
O presidente da Abicom avaliou ao Estadão/Broadcast que a Petrobras ainda não deve baixar os preços dos combustíveis por agora para recompor caixa e, também, em função da alta volatilidade de momento no mercado de derivados.
eldquo;Durante muito tempo a Petrobras trabalhou com preços bem abaixo da paridade e importação medida pela Abicom, sacrificando caixa, o que afetou o último resultado. Agora não deve reduzir preços porque está precisando dessa folga para melhorar parte do resultado, recompor caixa. Além disso, o mercado está muito volátil, com alguns fundamentos altistaserdquo;, diz Araújo.
Ele representa importadores e combustíveis, concorrentes da Petrobras e a quem não interessa qualquer redução de preço da estatal capaz de retirar-lhes oportunidade de mercado.
Segundo Araújo, o mercado de petróleo e derivados segue volátil em função da crise na Líbia, que tem restringido o escoamento e petróleo, além conflitos no oriente médio e na Ucrânia e uma temporada de furacões mais intensa no Golfo do México, onde é produzida parcela relevante dos combustíveis do mundo.
eldquo;Tudo isso leva a uma expectativa de aumento dos preços, e não acredito que a Petrobras faça algum movimento nesse momento. Deve aguardar um pouco maiserdquo;, diz Araújo.
Questionado sobre o contexto político, em que a redução de preços pela Petrobras poderia ajudar o governo a conter a inflação em momento de encarecimento da energia elétrica, Araújo disse que isso seria uma eldquo;intervenção direta do governoerdquo; ao arrepio da lógica de mercado.
eldquo;Praticar preço artificialmente baixo pode agradar por ajudar no combate inflacionário, mas tecnicamente não é o ideal. É preciso aguardar um pouco mais a estabilização do mercadoerdquo;, afirma.
eldquo;Hoje há quem preveja Brent abaixo de US$ 70 e outros falando em retorno ao patamar de US$ 80. Uma redução de preço agora pode levar à necessidade de ajuste para cima em poucos dias. Seria temerárioerdquo;, concluiu o presidente da Abicom.
Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo
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