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No Rio de Janeiro para a maior feira de petróleo do País, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham Al-Ghais, disse ao Estadão/Broadcast que o mercado global de petróleo segue equilibrado. Segundo ele, a organização e os países produtores vão zelar por isso, eventualmente esticando os cortes de produção em seus países-membros por mais tempo, de maneira a evitar excesso de oferta.

O secretário reconhece o aumento de produção fora da Opep, sobretudo por EUA, Guiana, Brasil e Canadá e falou que existe eldquo;excesso de preocupaçãoerdquo; com a economia chinesa, que segue crescendo a boas taxas. Para além disso, lembrou que outros países como a Índia devem manter a demanda global em alta e que a urbanização crescente até 2030 também vai pesar para sustentar o consumo de combustíveis fósseis. Para Al Ghais, a solução não é redução de investimento na indústria, mas sim uma lógica mais sustentável apoiada em tecnologia. A seguir, trechos da entrevista:

  • Relatórios mais conservadores falam em aumento da demanda global de 1 MMbpd (milhão de barris de petróleo/dia) em 2025 com aumento maior da produção fora da Opep e possível fim de cortes na organização, o que poderia levar a um desequilíbrio, com queda de preços. Como o sr. vê?

Entendemos que a economia global está indo muito bem, vai crescer 2,9%, 3% e, com isso, a demanda por petróleo vai crescer mais ou menos 2 milhões de barris por dia na comparação com 2023, o que vai nos permitir alcançar uma média de 104,5 MMbpd, o que é ótimo. Por outro lado, temos sim mais oferta de Estados Unidos, Guiana, Brasil e Canadá. Mas isso não significa que teremos um desbalanceamento, porque a Opep e Opep+ vão equilibrar esse mercado. Por isso, estamos continuando com os cortes de produção.

  • Esses cortes na produção da Opep podem ser estendidos novamente?

Sim, podem. Porque nós operamos com muita flexibilidade. Dessa vez estendemos por dois meses, mas temos sempre a possibilidade de continuar como planejado ou continuar estendendo os cortes, dependendo da situação do mercado.

  • Qual é a tendência?

Ninguém sabe agora exatamente, porque ainda está cedo. Vamos nos reunir em 1º de dezembro e avaliar a situação. Esses cortes em vigor envolvem oito países emdash; Arábia Saudita, Iraque, Emirados, Kuwait, Lúcia, Cazaquistão, Oman e Argélia e são cortes voluntários emdash; extras, e equivalem a 2,2 milhões de barris por dia.

  • Há rumores de que alguns países não gostariam de manter os cortes. Há resistência?

Não vou chamar de resistência. Quando nos reunimos, nós discutimos tudo, mas vemos a fotografia maior. Se um país tiver uma opinião diferente dos outros, não significa que há um problema de resistência. Isso é normal, operamos com espírito de família. Você pode pedir uma coisa, seu irmão pede outra e a irmã uma terceira coisa. É normal.

  • Então um país pode passar a vender um pouco acima do previsto?

Não. Todos os países que fazem este acordo têm de cumprir a cota que está definida. Às vezes têm aspectos logísticos que forçam o país a aumentar um pouco a produção em um mês, mas depois, no mês seguinte, abaixam para ficar em linha com a cota.

  • O barril do Brent chegou a US$ 68 e vem se recuperando. Como vê o equilíbrio do mercado?

Acreditamos que o mercado está bem equilibrado. Quando você compara o mercado de petróleo com o de outras commodities, ele está bem mais balanceado, não tem a mesma volatilidade afetando consumidores, como nos mercados de minério, gás e carvão. O mercado está forte, com demanda crescente.

  • Mas esse último movimento de queda nos preços não foi ruim?

A gente não fecha a visão por preço. Têm muitos fatores que influenciam esse preço, às vezes, interesses dos mercados financeiros, especulação. Para nós, o importante é o equilíbrio entre demanda e oferta. Nós não olhamos essas coisas (queda de preço), porque são como interrupções em um caminho. Tem um semáforo aqui e ali. Você para no sinal vermelho e depois continua.

  • Analistas dizem que a demanda chinesa decepciona...

Temos ouvido muito que a China está desacelerando, mas temos de colocar isso em contexto: 4,5% de crescimento para o segundo maior mercado do mundo não é lá uma desaceleração. Não tem mercado que esteja crescendo assim. A exceção é a Índia, mas o mercado indiano ainda é bem menor do que o mercado da China. Hoje (terça-feira, 24), o governo chinês anunciou mais estímulos para acelerar a economia, com um elsquo;targetersquo; de crescimento de 5%. Então, eu acho que muita gente está elsquo;overthinkingersquo; (pensando demais) sobre o desempenho da China. Vemos uma China forte. Assim como a Índia, demanda de petróleo na Índia, outros países da África e do Oriente Médio.

  • O senhor menciona a Índia, que pode compensar eventual queda na demanda da China. A Índia pode ser o fiel da balança no futuro?

Esse é um bom ponto. A Índia está crescendo muito rápido e estão construindo muitas refinarias novas consumindo mais petróleo. A aviação da Índia vai comprar mais de 800 aviões daqui até 2030. O ministro de energia da Índia estava aqui no Brasil. Eles também têm boa relação com os nossos países membros, muitos contratos para fornecer petróleo. Então estimamos que a Índia vai responder por 30% do crescimento na demanda por energia até 2050, que vai chegar a 120 milhões de barris por dia ou mais. E, além da Índia, isso também vai crescer no Oriente Médio, África e América Latina, principalmente fora da OCDE.

  • Por isso o sr. se refere à ideia de eliminar gradualmente o consumo de petróleo como uma fantasia?

Sim, é uma fantasia. Daqui até 2030, quase 600 milhões de pessoas vão entrar em cidades no mundo inteiro, uma grande urbanização. Isso é quase 60 vezes a população do Rio de Janeiro. Como vão reduzir o consumo de petróleo daqui a 2030?

  • Esses cenários são colocados, por exemplo, pela Agência Internacional de Energia (IEA)...

Sim, e nós não concordamos. Nossas previsões são mais realistas. Precisamos de mais realismo, pragmatismo no que dizemos a chefes de Estado e ministros mundo afora. É errada a mensagem de que não se precisa investir em Oeamp;G (óleo e gás) e refinarias, porque depois quem paga o preço é o consumidor. O que precisamos é investir mais, mas de forma mais sustentável, mais amigável ao meio ambiente, com tecnologias que temos hoje e outras que virão para reduzir emissões.

Fonte/Veículo: O Estado de São Paulo

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