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O vai e vem dos barcos, ambulâncias, helicópteros e carros de bombeiros nas operações de salvamento pelas ruas alagadas nos municípios do Rio Grande do Sul depende do essencial para rodar: o combustível. Para que haja fornecimento de gasolina, diesel e etanol, a unidade da distribuidora Vibra de Canoas não pode parar, mesmo curando suas próprias cicatrizes. A sede foi invadida pela enchente que atingiu a cidade da região metropolitana. A atividade foi interrompida, pois parte do maquinário ficou embaixo de#39;água.

Dois dias depois, as bombas puderam voltar a funcionar, ainda que de forma manual. Muitos funcionários também retornaram, outros demoraram um pouco mais: moradores da cidade destruída, eles perderam suas casas, suas memórias e entes queridos. O blog conversou por vídeo com três dos 84 funcionários lotados na unidade, que é a principal base de distribuição de combustíveis da empresa no estado, com atendimento a 70% dos municípios gaúchos e funcionamento 24 horas. Os operadores Silovete Machado e Moises Vissoto tiveram suas casas invadidas pela água e saíram do local com a família. A empresa os hospedou em hotéis da região, deu o apoio necessário e tempo para se recuperar. Mas eles quiseram voltar a trabalhar.

-Meu filho quando me viu me arrumando me perguntou se eu ia voltar a trabalhar. Eu respondi: meu filho, a gente precisa de combustível para poder ajudar essas outras pessoas, ambulância, policial, todo o pessoal envolvido - relembrou a operadora, que está no hotel com seu marido e os dois filhos.

Este foi o mesmo sentimento de Moisés:

- Se a gente parar, para o estado inteiro. A vontade de trabalhar era muito grande, de querer vir ajudar para que as coisas voltassem à normalidade o mais rápido possível.No ápice do caos, o gerente da base de Canoas, Geraldo Marchesan, sabia que precisava colocar a unidade para funcionar e, ao mesmo tempo, tinha que pensar no drama dos colaboradores atingidos pela água. Dos 98 motores da distribuidora, 25 ficaram totalmente submersos com a enxurrada. Na parte da equipe, turmas de voluntários lotados no Rio e em São Paulo foram para Canoas em voos da FAB para render os funcionários gaúchos.

- Acho que a gente saiu de um período extremamente crítico, que foi a parte que impactou muita gente, com a chuva e água subindo. Quando a água baixar e entendermos o tamanho do estrago na cidade, acho que esse período vai ter muito impacto emocional, psicológico para todo mundo - analisa ele.

A base tem capacidade de armazenar 100 milhões de litros e não houve risco de desabastecimento, já que havia estoque. Marcelo Bragança, vice-presidente de Operações, Logística e Sourcing da Vibra, explica que a unidade agora opera em plena carga, mas a demanda está 30% abaixo do movimento normal. Além da questão logística - várias estradas destruídas - a agricultura e indústrias estão paralisadas.

- A unidade de Canoas atende boa parte da economia do estado. O Rio Grande do Sul é um estado muito forte no agro, que é atendido a partir daquela base. Sem contar a questão dos serviços essenciais, como transporte urbano, hospitais, polícia, corpo de bombeiros, que são atendidas majoritariamente por essa unidade. O trabalho ali é essencial, o combustível é necessário para ter esta mobilidade dos barcos, os resgates, transporte de alimento, de remédios.

Em conversa com autoridades e com a diretoria, a expectativa de Bragança é que o estado vai viver meses intensos de recuperação em maior e menor grau. Na parte corporativa, a preocupação é com o psicológico dos funcionários.

- A primeira preocupação era como que garantiríamos que as pessoas estão bem mentalmente, aptas a trabalhar para aí sim botar a base para operar e dar esse apoio todo que a gente está dando para o estado? Esta é uma preocupação que temos e vamos continuar tendo, sem dúvida alguma, por alguns meses. A gente lida com um produto perigoso. Mesmo quando não tem crise, uma atenção constante é o estado mental das pessoas. O empregado não pode entrar num terminal de combustível com a cabeça pensando em outra coisa. Disponibilizamos psicólogos para acompanhá-los, sabemos que será um longo processo. Diria que para alguns a ficha ainda nem caiu completamente.

O operador Moises diz que a situação está um pouco melhor, pois alugou uma casa para a família, a mulher e os três filhos, de 14, 9 e 2 anos.

- Nunca imaginei que ia atingir minha casa como atingiu. Foi um pânico, um trauma muito grande, especialmente para as crianças. Agora conseguimos nos instalar e estou conseguindo vir trabalhar tranquilamente sabendo que minha família está segura.

(Blog Míriam Leitão)

Fonte/Veículo: O Globo (Blog)

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