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A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 0,38% em abril, disse nesta sexta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice havia subido 0,16% em março.

Remédios, alimentos e gasolina pressionaram a inflação de abril, que ficou acima da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,35%.

Apesar da aceleração em abril, a taxa de 0,38% é a menor para o mês em três anos, desde 2021. À época, o IPCA havia subido 0,31%.

No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira perdeu força. O índice desacelerou a 3,69% até abril. É o menor patamar desde junho do ano passado (3,16%).

Ainda assim, o novo resultado ficou acima da mediana das projeções, que era de 3,66%, segundo a Bloomberg. A inflação estava em 3,93% nos 12 meses até março.

REMÉDIOS E ALIMENTOS EM ALTA

Em abril, 7 dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA tiveram alta de preços. Saúde e cuidados pessoais (1,16%) e alimentação e bebidas (0,70%) registraram os maiores impactos no índice mensal (0,15 ponto percentual cada).

Em saúde e cuidados pessoais (1,16%), a principal pressão veio dos produtos farmacêuticos (2,84%). A carestia ocorreu após a autorização do reajuste de até 4,50% nos preços dos medicamentos a partir de 31 de março.

Em alimentação e bebidas (0,70%), houve pressão de produtos tradicionais da mesa do brasileiro. A alimentação no domicílio acelerou de 0,59% em março para 0,81% em abril. Foram observadas altas nos preços de mamão (22,76%), cebola (15,63%), tomate (14,09%) e café moído (3,08%).

André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, disse que, de modo geral, os alimentos ainda são impactados por choques climáticos do início deste ano. Eventos como ondas de calor e chuvas intensas afetaram a oferta de mercadorias em regiões produtoras.

"Tudo isso acabou prejudicando a produção de diversos alimentos, principalmente daqueles mais sensíveis ao clima. Isso acaba se refletindo nos preços", disse Almeida.

POSSÍVEL IMPACTO DAS ENCHENTES NO RS

Nos últimos dias, entrou no radar de analistas um novo fator que pode gerar alguma pressão inflacionária sobre os alimentos. Trata-se do possível impacto das enchentes que devastam municípios do Rio Grande do Sul.

O temor é de que a catástrofe afete estoques, com repasses para os preços. Já há, inclusive, restrições a compras de itens como arroz em supermercados.

O Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção do cereal no Brasil. Com o receio do impacto na inflação, o governo federal anunciou a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz.

A medida é contestada por produtores. Eles dizem que as lavouras gaúchas terão condições de alimentar a demanda nacional, mesmo com as perdas nas enchentes.

De acordo com o IPCA, os preços do arroz tiveram queda de 1,93% em abril. Porém, no acumulado de 12 meses, o produto ainda acumula alta de 25,46%. O avanço registrado somente em 2024 foi de 7,21%.

"O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz, mas também tem produção de soja e milho, que são importantes na produção de ração animal, por exemplo", afirmou Almeida.

O custo da ração é um dos componentes dos preços de carnes e leite. "Essas chuvas podem acabar impactando a produção. Agora, como isso vai se refletir nos preços, a gente tem de aguardar", ponderou Almeida. O IBGE não faz projeções de preços.

"É um grupo [alimentação] que deve seguir pressionando a inflação, por conta da tragédia no RS, que é um grande produtor de alimentos do país, principalmente no arroz", afirmou em relatório Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.

GASOLINA PRESSIONA, PASSAGEM DE AVIÃO ALIVIA

No grupo dos transportes, a alta dos preços foi de 0,14% em abril, segundo o IPCA. A gasolina avançou 1,50%. Assim, teve o maior impacto individual entre os subitens em alta no índice (0,08 ponto percentual).

A passagem aérea, por outro lado, registrou queda de 12,09% em abril. Com isso, mostrou uma contribuição de -0,08 ponto percentual no IPCA. Foi o maior impacto individual do lado dos subitens em queda.

META DE INFLAÇÃO E JUROS

O IPCA serve como referência para a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central), cujo centro é de 3% em 2024.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Logo, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado do ano.

Projeções do mercado apontam alta de 3,72% para o índice em 2024, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (6) pelo BC. A estimativa está abaixo do teto da meta (4,5%).

O principal instrumento do BC para o controle da inflação no Brasil é a taxa básica de juros (Selic). Na quarta (8), o Copom (Comitê de Política Monetária) da instituição decidiu mudar o ritmo de corte da Selic.

Depois de promover seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, a diretoria do BC anunciou uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que passou de 10,75% para 10,50% ao ano.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, e outros quatro diretores votaram pelo corte menor. Já os quatro indicados pelo governo Lula (PT) desejavam uma redução de 0,50 ponto.

A inflação de serviços medida no IPCA, um dos componentes avaliados pelo Copom, desacelerou de 0,10% em março para 0,05% em abril.

Em 12 meses, a taxa atingiu 4,60%. É o menor patamar desde setembro de 2021, quando a variação era de 4,41%. A inflação de serviços, porém, ainda segue acima do índice geral (3,69%).

"A demanda pode influenciar alguns segmentos [de serviços]", afirmou Almeida, do IBGE. "Existem outros fatores, como aumento de custos, reajustes de planos. Tivemos reajustes de planos de telefonia móvel", completou.

Por ora, a Warren Investimentos projeta IPCA de 0,32% em maio e de 0,16% em junho.

"Vamos fazer alguns ajustes pontuais, no entanto, vale lembrar que a inflação de curto prazo poderá se mostrar muito volátil, tendo em vista a difícil mensuração dos efeitos das enchentes no RS", disse em relatório Andréa Angelo, estrategista da Warren. A casa espera que o IPCA deste ano e de 2025 fique em 3,80%.

O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), avalia que, após a tragédia gaúcha, a inflação pode passar de 3,9% para 4,5% ao final de 2024, dependendo dos impactos. Ele, contudo, diz que essa é uma estimativa "muito preliminar".

DESASTRE NO SUL GERA INCERTEZA NA COLETA DE DADOS

Outro possível reflexo da catástrofe no Rio Grande do Sul é a dificuldade para o IBGE realizar a coleta de preços e outros levantamentos. A tragédia deixou um rastro de destruição na logística do estado, incluindo estragos em rodovias e derrubada de pontes.

Até o momento, o IBGE diz que segue avaliando os impactos. O órgão promete se pronunciar quando tiver segurança técnica sobre possíveis medidas a serem adotadas, de acordo com cada pesquisa.

A coleta dos preços do IPCA-15 de maio, por exemplo, vai do período de 16 de abril a 15 de maio. Esse intervalo já abrange os efeitos das enxurradas. O IPCA-15 é divulgado antes do IPCA, trazendo um panorama dos preços para o indicador oficial.

Fonte/Veículo: Folha de São Paulo

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