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Apontamos em nosso artigo anterior que existem dilemas não resolvidos na questão energética, tanto na área de combustíveis como na área de energias renováveis. Gostaria de falar hoje do petróleo e de combustíveis sustentáveis, área em que o Brasil é um dos líderes globais graças ao largo uso do etanol e do biodiesel.

Existem amplas possibilidades de termos um papel ainda maior pela utilização dos carros híbridos a etanol e pelo desenvolvimento de novos produtos, como combustível de aviação (SAF), hidrogênio verde e outros.

Não há dúvida de que esta é uma rota que, estrategicamente, deve continuar a ser perseguida. Entretanto, o apoio à pesquisa, a segurança jurídica, a boa regulação e um ambiente de negócios saudável deverão ser os principais instrumentos da política pública, e não pesados subsídios, dada nossa difícil situação fiscal. Capital de risco, créditos de carbono e fundos do tipo Amazônia deverão ser os protagonistas.

Ao mesmo tempo, o auge da produção do pré-sal levará a um forte aumento da oferta de petróleo até 2030, quando os campos na área começarão a declinar. Também será nesse momento que a demanda global de petróleo atingirá seu pico, segundo a Agência Internacional de Energia.

A questão relevante é o que ocorrerá a partir daí. Para continuar a termos uma produção relevante de óleo, o investimento em novos campos tem de começar agora.

Os novos projetos devem, idealmente, ter três características: baixo custo, baixo carbono e baixo risco ambiental e geopolítico. A título de comparação, o custo do pré-sal é médio, mas ele tem menos carbono. Quando o declínio do petróleo estiver no horizonte, os produtos ruins e os mais caros sairão do mercado.

Assim, por mais que o presidente da Petrobras diga que quer ser um dos últimos produtores do mundo, esse lugar já está ocupado pela Arábia Saudita. Será que a Foz do Amazonas é uma boa escolha? Não me parece, dado o risco ambiental.

Entretanto, é muito preocupante o que a Petrobras pretende fazer. Segundo o dr. Prates (Financial Times, 7/2), a companhia pretende investir na Europa, na África e na Guiana, além da chamada Margem Equatorial no Brasil. Quer ser líder global em eólica offshore, quer ser importante em biocombustíveis, quer voltar à petroquímica e aos fertilizantes, quer voltar a ter algum papel na distribuição de combustíveis, quer investir em refinarias e quer investir em navios.

Tudo ao mesmo tempo. Isso não é estratégia, que exige escolhas, hierarquias e capacidade de entrega. Quem tudo quer nada tem.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros (Economista e sócio da MB Associados)

Fonte/Veículo: Estadão

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