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Veja os municípios e estados que ganham mais com a Reforma Tributária

A Reforma Tributária aprovada na Câmara garante que nenhum estado brasileiro e no máximo 32 municípios do país terão perda de arrecadação após um período de transição de 50 anos, de acordo com um novo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para chegar aos números, o pesquisador do instituto Sérgio Gobetti e a economista Priscila Kaiser Monteiro consideraram como hipótese um cenário pessimista, com um crescimento econômico médio de 1,5% ao ano nas próximas décadas, abaixo dos 2,1% verificados na série histórica do IBGE com início em 1995. Com uma expansão de 2,5% ao ano, o número de municípios perdedores cairia para cinco, com efeitos que só seriam sentidos após mais de 30 anos. Segundo o estudo, qualquer crescimento superior a 0,9% ao ano garante que nenhum estado tenha perda de arrecadação. Em todos os casos, as cidades mais pobres, pequenas ou grandes, são as mais beneficiadas com a nova regra de distribuição da arrecadação. Esses cenários ainda não consideram a possibilidade de que as mudanças no sistema tributário levem a um crescimento adicional da economia neste período. O Ipea também calculou quais estados e municípios terão aumento de receita, mas ainda assim vão perder espaço no bolo da arrecadação, pois o crescimento ficará abaixo da média nacional durante a transição. Nesse caso, os mais afetados são Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esses quatro serão os principais destinos, ao lado da prefeitura de São Paulo, dos recursos do seguro contra perda de receitas, segundo as simulações do Ipea. Segundo o instituto, esses estados tendem a ter uma receita melhor com a reforma do que sem ela, caso as mudanças no sistema tributário gerem ainda algum ganho adicional de crescimento econômico. "Muitos desses estados que são apresentados como perdedores, dependendo do impacto positivo da reforma, podem se transformar também em ganhadores", afirma Gobetti, que estima em 90% as chances de São Paulo ser beneficiado pelas mudanças. Essa é a nova versão de um estudo publicado neste ano que destacava simulações com efeitos positivos da reforma sobre o PIB (Produto Interno Bruto). Na nova publicação, foram feitas também estimativas com cenários que desconsideram esse fator. PAULÍNIA E FRANCISCO MORATO A arrecadação após a reforma vai levar em consideração o local em que está o consumidor, e não mais a sede da empresa ou do prestador de serviço. Isso provocará uma redistribuição do bolo em favor dos municípios com menor arrecadação per capita. Regiões que consomem mais do que produzem vão arrecadar mais. Esse é o caso das chamadas cidades-dormitórios, por exemplo, o que inclui alguns municípios próximos à capital paulista e cidades de Goiás no entorno do Distrito Federal. O mesmo ocorre em grande parte do Norte e Nordeste. Por outro lado, há risco de queda de arrecadação em municípios que são sedes de refinarias de petróleo, hidrelétricas ou de grandes empresas de serviços. Um exemplo dessa mudança é a queda na diferença da arrecadação por habitante de Paulínia e Francisco Morato, o município mais rico e o mais pobre de São Paulo por esse critério, que vai passar de 37,3 vezes para 6,3 vezes. Para amenizar esses impactos, a regra de distribuição dos recursos mudará aos poucos durante uma transição de 50 anos emdash;que não tem impacto nas vidas dos contribuintes, só dos entes públicos. Há ainda um seguro contra perdas de receita. O estudo não considerou o impacto dos fundos de desenvolvimento regional e de compensação de benefícios fiscais sobre essas regiões. Segundo o Ipea, pelas regras de transição, estas cidades terão um tempo razoável de adaptação à nova realidade, sem riscos de queda abrupta de receita. "Trata-se de um longo processo de transição, ao final do qual as distorções atuais, caracterizadas pelas grandes diferenças de receita per capita entre os municípios mais ricos e mais pobres, serão gradualmente reduzidas, beneficiando enormes contingentes de população hoje carentes de serviços públicos básicos", diz a nota técnica. SEM TRANSIÇÃO O Ipea simulou ainda qual seria a receita de cada estado e município com o novo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), cobrado no destino, em substituição ao ICMS estadual e ao ISS municipal, se essa mudança já estivesse em vigor em 2022. Não foi considerada a transição, nem efeitos positivos sobre o crescimento econômico, nem o seguro contra perdas de receitas. Nesse caso, R$ 54 bilhões (7% das receitas) trocam de mãos e vão para unidades da Federação que representam 70% da população brasileira. Perdem receitas o conjunto dos governos estaduais e municipais dos seguintes estados: São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Amazonas e Roraima. Na maioria desses casos, os efeitos redistributivos ocorrem na esfera municipal, não estadual. Haveria um aumento de receita para 4.539 municípios (16 capitais), com redução para 1.030 (11 capitais). Os estados nos quais o percentual de municípios ganhadores é inferior a 50% são Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo e Amazonas, a maior parte dos municípios ganha com a reforma.

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Carro elétrico: Brasil está no centro dos planos da chinesa BYD

Quando o bilionário Wang Chuanfu, conhecido como o Elon Musk chinês, fundador e presidente da companhia Build Your Dreams (BYD), desembarcar no Brasil, em outubro, trará uma série de planos na bagagem. Além de lançar a pedra fundamental das três fábricas na Bahia emdash; de carros elétricos, chassis de ônibus e beneficiamento de lítio emdash; Wang virá com a ideia de construir uma fábrica de chassis de ônibus elétricos no Pará, que sediará a 30ª conferência do clima, em 2025. Se vingar, será mais um passo para que a chinesa consolide sua posição no país e mire todos os mercados da América Latina. O investimento inicial de R$ 3 bilhões, em Salvador (BA), é estratégico para a atuação na região emdash; e para ampliar sua internacionalização. emdash; Não vamos apenas ter uma fábrica para montar carros. Vamos trazer pesquisa e inovação e queremos transformar Salvador em novo eldquo;Vale do Silícioerdquo;. O Brasil é nossa prioridade de investimento emdash; afirmou a vice-presidente global da BYD e presidente para as Américas, Stella Li, que lembra que a empresa registra 15 patentes por dia na China e já tem 28 mil aprovadas. Na Bahia, será criado um centro de pesquisa e desenvolvimento, com um time de pesquisa brasileiro para desenvolver tecnologia de um motor híbrido flex, visando o uso de etanol conjugado com a propulsão elétrica. Inicialmente serão criados 5 mil empregos e a ideia é levar um grupo de futuros trabalhadores da unidade baiana até a China para que absorvam a cultura da BYD. Disputa no segmento luxo Semana passada, na BYD em Shenzhen, O GLOBO acompanhou o lançamento de uma submarca, a Fang Cheng Bao, com a presença de Wang Chuanfu. Focada no segmento de veículos de luxo, o primeiro modelo apresentado pela Fang Cheng Bao foi o Bao 5, ou Leopard 5, um SUV off-road híbrido, ainda sem previsão de chegada ao Brasil. Na China, a faixa de preço do Bao 5 varia entre US$ 41,2 mil e US$ 54,9 mil (R$ 201 mil a R$ 267 mil). Vai brigar com modelos de luxo como o Land Rover Discovery e Ford Bronco. O veículo da BYD traz uma plataforma híbrida off-road dual mode, com tração elétrica inteligente nas quatro rodas, prometendo equilíbrio entre segurança do veículo e condução potente. Com esse sistema, é possível dirigir sem esforço por encostas, montanhas e terrenos pantanosos. emdash; Estamos liderando uma revolução profunda no cenário de veículos de nova energia, transformando carros em ativos únicos e feitos sob medida emdash; disse Chuanfu. As unidades brasileiras da BYD serão as primeiras fora da Ásia. Até outubro, a companhia já terá fechado negócio com o governo da Bahia, que adquiriu as instalações de Camaçari, que pertenciam à Ford, para agilizar a transação. Além de oito fábricas de veículos na China, a BYD tem uma unidade na Tailândia. No total, a companhia emprega 600 mil pessoas (considerando todas as áreas de atuação), sendo 90 mil engenheiros. A expectativa é que a produção em Camaçari comece em 2024, com dois modelos, o elétrico Dolphin e o SUV híbrido Song, chegando a 150 mil unidades por ano. Quando as exportações para países vizinhos engrenarem, a fabricação pode chegar a 300 mil unidades. Stella Li diz que ao menos outros seis modelos podem ser fabricados na Bahia. No Brasil, a BYD tem duas fábricas em Campinas (de chassis de ônibus e de módulos fotovoltaicos), além de uma unidade de produção de baterias em Manaus. Em 2022, o Brasil ficou em sexto lugar no ranking mundial de vendas de carros novos, um dos maiores mercados do mundo. Além disso, a matriz energética limpa faz sentido nos planos da BYD, que tem como lema ajudar a reduzir em 1° Celsius a temperatura do planeta. Desde 2022, a BYD deixou de produzir veículos somente a combustão. O GLOBO visitou a fábrica de carros da BYD em Changzhou, no distrito nacional de Alta Tecnologia. Ela será uma espécie de eldquo;espelhoerdquo; da unidade em Camaçari. Ali, a fabricação de um carro leva em média 4 horas. Em 2022, naquela unidade, foram montados 240 mil veículos, o Yuan Plus e o Seal, elétrico que será lançado no fim do mês no Brasil, com preço de R$ 300 mil. A unidade de Changzhou é base de produção importante no leste da China, com quatro linhas de produção e alto grau de automação, robôs alemães e japoneses em praticamente todas as etapas de fabricação. Na disputa pela eletrificação, a BYD, segundo analistas, tem a vantagem de ser uma green tech, empresa de tecnologia verde, que detém a produção de baterias para veículos elétricos, fabrica placas solares para captar energia limpa e faz o beneficiamento do lítio, mineral usado nas baterias. Caminhão elétrico e trens Semana passada, a BYD anunciou que já produziu 5 milhões de veículos, entre híbridos e elétricos. Foi a primeira montadora a alcançar a marca e se tornou a maior em veículos elétricos na China, rivalizando com a Tesla em número de unidades vendidas. Para chegar ao primeiro milhão de unidades elétricas, a BYD levou 13 anos. De 1 milhão até 3 milhões, foram 18 meses. E dos 3 milhões até cinco milhões, foram nove meses. A BYD produz ainda ônibus e caminhões elétricos, tem uma divisão de componentes eletrônicos e atua no transporte ferroviário. Em São Paulo, para a futura linha do monotrilho da Linha 17 emdash; Ouro do Metrô serão fornecidos 14 trens do tipo Skyrail da BYD. O consultor automotivo Thadeu Moscovici avalia que a forte geração de caixa da BYD dá fôlego à empresa para praticar uma política de preços mais agressiva que os concorrentes, atuando com margens de lucro mais apertadas. A barreira dos preços deverá ser vencida com concorrência e ganho de escala, segundo Cristiano Doria, sócio da consultoria Roland Berger e especialista no setor automotivo. O lançamento do Dolphin da BYD no Brasil, no mês passado, provocou movimento do mercado. O preço de R$ 149 mil fez a concorrência baixar valores de elétricos em até R$ 30 mil. A nacionalização das peças também deve derrubar preços, diz o especialista. Na China, a participação dos elétricos deve chegar a 37% este ano, mas a BYD estima que ela atinja 60% até 2025. No Brasil, o segmento de carros híbridos e elétricos atingiu fatia de 3,4%. É esse cenário que a BYD quer mudar. Eletrificação com incentivos Com mais US$ 72 bilhões em incentivos fiscais para a compra de carros elétricos emdash; o novo número foi anunciado em junho emdash; a China está na dianteira das vendas de carros elétricos. O pacote, na verdade, é uma prorrogação, até 2027, da política de isenção de imposto que começou em 2014. Países como Nova Zelândia e Estados Unidos estão seguindo a receita chinesa e dando incentivos fiscais a quem compra um carro elétrico com o objetivo de aumentar a participação no mercado. De cada dez veículos vendidos na China, no ano passado, quatro foram elétricos ou híbridos, contra um em cada oito nos EUA e um em cada sete na Europa. Foram 5,6 milhões de unidades vendidas em território chinês, em 2022, mais da metade das vendas globais de veículos. As vendas mundiais de veículos elétricos (EV) aumentaram 55%, para 10,1 milhões de unidades em 2022, de acordo com a consultoria de tecnologia Canalys. Em Shenzhen, todos os ônibus que rodam na cidade são eletrificados. São 20 mil coletivos, além de 24 mil táxis elétricos e pelo menos 250 mil veículos particulares nas ruas emdash; 25% do total de veículos da cidade emdash; número que deve chegar a 750 mil em 2025. O resultado é que o trânsito é mais silencioso e menos poluente. *O repórter viajou a convite da BYD

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Após aumento da gasolina, etanol está mais vantajoso em seis estados e no DF

O etanol ficou mais competitivo que a gasolina em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal na semana encerrada no último sábado (26). Nos demais estados, continua mais vantajoso abastecer o carro com gasolina. De acordo com o levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) no período, o preço médio do litro da gasolina atingiu R$ 5,88 nos postos do país, o maior nível desde julho de 2022. O preço do litro da gasolina aumentou R$ 0,23 na última semana em relação ao período anterior, quando estava em R$ 5,61 (alta de 4%). Já o do etanol se elevou 1,3%, de R$ 3,61 para R$ 3,66. Na média dos postos pesquisados no país, o etanol está com paridade de 62,24% ante a gasolina, portanto favorável na comparação com o derivado do petróleo. A paridade estava em 58,91% em Mato Grosso; 65,16% em Mato Grosso do Sul; 61,74% em São Paulo; 62,85% em Goiás; 63,38% em Minas Gerais; 66% no Paraná; e 64,62% no Distrito Federal. Executivos do setor observam que o etanol pode ser competitivo mesmo com paridade maior do que 70%, a depender do veículo em que o biocombustível é utilizado. Veja os preços dos combustíveis nos estados e no DF Preço médio do litro da gasolina ebull; ACRE - R$ 6,75 ebull; ALAGOAS - R$ 5,94 ebull; AMAPÁ - R$ 5,66 ebull; AMAZONAS - R$ 6,41 ebull; BAHIA - R$ 6,05 ebull; CEARÁ - R$ 6,32 ebull; DISTRITO FEDERAL - R$ 5,85 ebull; ESPÍRITO SANTO - R$ 6,03 ebull; GOIÁS - R$ 5,76 ebull; MARANHÃO - R$ 5,80 ebull; MATO GROSSO - R$ 5,89 ebull; MATO GROSSO DO SUL - R$ 5,54 ebull; MINAS GERAIS - R$ 5,68 ebull; PARÁ - R$ 5,99 ebull; PARAÍBA - R$ 5,90 ebull; PARANÁ - R$ 6,03 ebull; PERNAMBUCO - R$ 6,03 ebull; PIAUÍ - R$ 5,90 ebull; RIO DE JANEIRO - R$ 5,74 ebull; RIO GRANDE DO NORTE - R$ 6,44 ebull; RIO GRANDE DO SUL - R$ 5,88 ebull; RONDÔNIA - R$ 6,54 ebull; RORAIMA - R$ 6,02 ebull; SANTA CATARINA - R$ 6,00 ebull; SÃO PAULO - R$ 5,62 ebull; SERGIPE - R$ 6,13 ebull; TOCANTINS - R$ 6,28 Preço médio do litro do etanol ebull; ACRE - R$ 4,78 ebull; ALAGOAS - R$ 4,37 ebull; AMAPÁ - R$ 5,59 ebull; AMAZONAS - R$ 4,56 ebull; BAHIA - R$ 4,40 ebull; CEARÁ - R$ 4,79 ebull; DISTRITO FEDERAL - R$ 3,78 ebull; ESPÍRITO SANTO - R$ 4,28 ebull; GOIÁS - R$ 3,62 ebull; MARANHÃO - R$ 4,44 ebull; MATO GROSSO - R$ 3,47 ebull; MATO GROSSO DO SUL - R$ 3,61 ebull; MINAS GERAIS - R$ 3,60 ebull; PARÁ - R$ 4,64 ebull; PARAÍBA - R$ 4,25 ebull; PARANÁ - R$ 3,98 ebull; PERNAMBUCO - R$ 4,46 ebull; PIAUÍ - R$ 4,38 ebull; RIO DE JANEIRO - R$ 4,07 ebull; RIO GRANDE DO NORTE - R$ 5,05 ebull; RIO GRANDE DO SUL - R$ 4,68 ebull; RONDÔNIA - R$ 4,92 ebull; RORAIMA - R$ 4,96 ebull; SANTA CATARINA - R$ 4,44 ebull; SÃO PAULO - R$ 3,47 ebull; SERGIPE - R$ 4,73 ebull; TOCANTINS - R$ 4,59 Fonte: ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)

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Cerveja, refrigerante e gasolina podem aliviar novo IVA, dizem especialistas

O imposto seletivo, que prevê uma tributação maior sobre produtos e serviços que prejudicam a saúde e o ambiente, foi criado para inibir o consumo desses itens. No entanto, numa contradição já instalada em inúmeros países, a taxa adicional passou a ser importante fonte de arrecadação, porque as pessoas não pararam de consumir os produtos. Segundo especialistas, o imposto seletivo pode ajudar a reduzir a alíquota do novo IVA (Imposto sobre Valor Agregado) em discussão na Reforma Tributária que tramita no Congresso. Os parlamentares trabalham na criação do IVA do tipo dual. Haverá a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) para substituir PIS e Cofins e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) no lugar do ICMS estadual e do ISS nos municípios. Uma alíquota padrão será dividida entre eles, destinando arrecadação para União, estados e municípios. O texto, que já passou na Câmara e está em análise no Senado, prevê que o novo imposto seletivo pode ser cobrado sobre bens e serviços nocivos à saúde e ao ambiente. Simples assim. Essa redação abrangente atende o debate global. A lista sobre o que taxar é cada vez mais ampla, e as alíquotas podem ser muitas e maiores do que o IVA padrão. A primeira leva de produtos qualificados como prejudiciais, que foram sobretaxados mundo afora, incluiu tabaco, bebidas alcoólicas e combustíveis fósseis, como gasolina, diesel e gás. A relação, porém, vem se diversificando nos últimos anos, segundo a especialista Rita de La Feria, professora de direito tributário na Universidade de Leeds e pesquisadora associada à Universidade Oxford, ambas no Reino Unido. Na América Latina, o México foi pioneiro do sugar tax (imposto sobre açúcar). Diferentes países também vêm instituindo a tributação sobre plásticos. A Alemanha incluiu até sacolinhas dentro do grupo de embalagens com esse tipo de material a ser supertaxado. Olhando essa tendência global, ele pode ajudar a reduzir a alíquota geral do novo tributo no Brasil emdash;a quantidade vai depender da reação dos consumidores quando ele for adotado, algo que não podemos prever Rita de La Feria professora de direito tributário na Universidade de Leeds "Ninguém ainda tributou, mas a discussão é grande em vários países europeus também em relação à carne, por causa da emissão de gases metano dos bois", afirma. As taxas variam muito entre os países e até entre os tipos de produto. La Feria lembra que os riscos à saúde associados ao consumo de vinho, por exemplo, são diferentes dos identificados para um destilado como a vodca, e isso leva à adoção de alíquotas diferenciadas. La Feria diz que, politicamente, é muito mais fácil criar e elevar esse tipo de tributo, porque as pessoas reconhecem a sua lógica na busca de benefícios compartilhados. No Reino Unido, o sugar tax é atualizado quase anualmente sem muitos questionamentos. "O imposto seletivo é uma área em ascensão no direito tributário, um tipo de taxação em crescimento, e estamos vendo aumento de receita com ele, o que é contraditório ao seu primeiro objetivo: as receitas, afinal, aumentam porque as pessoas não deixam de consumir", afirma La Feria. "Olhando essa tendência global, ele pode ajudar a reduzir a alíquota geral do novo tributo no Brasil emdash;a quantidade vai depender da reação dos consumidores quando ele for adotado, algo que não podemos prever." O economista Bráulio Borges identificou que, por causa da defasagem do Brasil no uso do imposto seletivo, o potencial é alto, e cita números. Em 2019, o Brasil arrecadou com correlatos ao imposto seletivo o equivalente 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto). Os países da América Latina, na média, arrecadaram quase 2%. Países de renda per capita similar ao Brasil foram além dos 2%. No Brasil, IPI (sobre cigarro e produtos alcoólicos) e Cide (sobre combustíveis) fizeram o papel de impostos especiais sobre consumo ("excise taxes", para usar o termo em inglês), e o país seguiu um caminho diferente no seu uso. Em 1990, arrecadou 2,5% do PIB com produtos nocivos saúde. Na média da década de 2000, essa receita caiu para 1,5%. A participação foi reduzindo bastante a partir dos anos de 2010, com as desonerações de combustíveis. Borges lembra que o Brasil quer ser exemplo na transição energética, então é natural que amplie a taxação de combustíveis e emissões de carbono. Ele cita trabalho do Banco Mundial que mostra um potencial de ganho adicional na receita de quase 1% do PIB no final desta década com o imposto seletivo só nessa área. O economista também defende que não faltam argumentos para o país taxar bebidas açucaradas. No início da década de 2000, 12% da população era obesa; no dado mais recente, projeta-se que esse percentual suba para 30% até 2030 Os brasileiros já se mostram sensíveis ao tema. Pesquisa Datafolha encomendada pela ACT Promoção da Saúde identificou que 94% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos a produtos que prejudicam a saúde e o ambiente. "Sob diferentes aspectos, é factível pensar que o Brasil pode dobrar a arrecadação com esse imposto ou, num cenário otimista, até triplicar", afirma Borges. "Como o governo diz que não quer elevar a carga tributária, esse adicional de arrecadação poderia ser utilizado para reduzir a alíquota geral de CBS e IBS." O imposto seletivo pode ser regressivo, atingindo principalmente os mais pobres", Vanessa Canado, tributarista, sobre os aspectos sociais do imposto. As estimativas do próprio governo apontam que a soma dos dois tributos pode levar a uma alíquota entre 20,73% e 27%. A variação vai depender do volume de exceções para alguns itens e serviços que podem ter alíquota reduzida ou zerada. Quanto maior o número de exceções, maior a alíquota geral. Borges fez suas contas. Primeiro, estimou a carga sobre o consumo a partir dos impostos incluídos na reforma. Constatou que era de 25%, o menor valor desde 1998. Nesse resultado, ponderou as inúmeras exceções criadas na Câmara para vários setores e a análise do impacto delas feita pela Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária. Então, calculou qual seria a alíquota que manteria a carga. Chegou ao valor de 27,9%, sem considerar ganhos com o fim da sonegação, que ajudam a reduzir a alíquota. No cenário mais otimista de ganhos com o imposto seletivo e redução de sonegação, no entanto, ele diz acreditar que a alíquota geral poderia ficar mais próxima de 20%. A estimativa da carga e projeções para o imposto seletivo consta de texto publicado no Observatório de Política Fiscal do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), no qual Borges é pesquisador. Para aproveitar os ganhos, ele diz que o imposto seletivo poderia ser implementado gradativamente, o quanto antes, para já estar maduro quando o novo IVA entrar em vigor. "Se a gente começar já no ano que vem, de pouquinho em pouquinho, a taxar combustíveis fósseis, bebidas açucaradas e outros produtos, a gente pode chegar em 2027 ou 2028 com um volume relevante adicional de arrecadação que permita uma alíquota padrão menor do que a estimada hoje para IBS e CBS", afirma ele. A tributarista Vanessa Canado também concorda que o imposto seletivo tem potencial para reduzir o futuro IVA brasileiro, mas diz que o debate vai ser acompanhado por controvérsias. "O crescimento do seletivo sobre bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados, por exemplo, ocorreu muito mais por razões arrecadatórias do que por questões de saúde pública", afirma. "Foi onde os governos encontraram alternativa para elevar a tributação sem mexer na alíquota geral do IVA." As empresas de cigarro e bebidas alcoólicas estão preparadas para o debate, afirma. Um dos argumentos é que a alta taxação incentiva contrabando e falsificação. Há estudos mostrando isso, mas também há outros que afirmam o contrário, diz Canado. Na área, existe ainda a discussão de cunho social. "O imposto seletivo pode ser regressivo, atingindo principalmente os mais pobres", afirma. "As famílias mais ricas consomem sucos naturais ou processados, os mais pobres, os refrigerantes baratos e açucarados. Quando o preço sobe, os mais pobres podem trocar o cigarro com marca por um falsificado, não deixam a bebida alcoólica, e passam a consumir uma alternativa mais barata e de pior qualidade."

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IPCA-15 sobe mais que o esperado em agosto com pressão da energia elétrica

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), considerado a prévia da inflação oficial do Brasil, subiu mais do que o esperado em agosto sob pressão dos custos da energia elétrica, com a taxa em 12 meses voltando a superar os 4%. Em agosto, o índice registrou alta de 0,28%, depois de ter ficado quase estagnado por dois meses, com recuo de 0,07% em julho e avanço de 0,04% em junho. Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (25). A leitura do indicador ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters, que ouviu economistas e apontava avanço de 0,17%. Em 12 meses, o índice acumula alta de 4,24% até agosto, contra projeção de analistas de 4,13%. O resultado, assim, volta a superar os 4% pela primeira vez desde maio e fica acima do centro da meta para a inflação este ano, que é de 3,25% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos medida pelo IPCA, indicando que a inflação já atingiu seu ponto mais baixo do ano como era esperado. De acordo com o IBGE, os dados de agosto do IPCA-15 apontam que os preços de sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em agosto. Habitação impulsiona alta O grupo habitação subiu 1,08%, com o maior impacto vindo da alta de 4,59% da energia elétrica residencial, influenciada pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior. O segundo maior impacto veio do avanço de 0,81% de saúde e cuidados pessoais, uma vez que os itens de higiene pessoal passaram de queda de 0,71% em julho para alta de 1,59% em agosto. Também se destacou a alta em agosto de 0,71% de educação, com os cursos regulares subindo 0,74%. Enquanto isso, transportes avançou 0,23%, em resultado puxado pela alta de 2,94% nos preços do automóvel novo. Os combustíveis, por sua vez, subiram 0,46%, com altas nos preços de gasolina (0,90%) e gás veicular (1,88%) e quedas no óleo diesel (-0,81%) e etanol (-2,55%). A Petrobras anunciou em meados de agosto um reajuste de combustíveis - aumento de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a distribuidoras - que deve impactar com força o resultado do IPCA cheio do mês. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já alertou que a autoridade monetária deve revisar suas projeções para o comportamento dos preços a partir desse novo dado, calculando uma elevação de 0,40 ponto percentual no IPCA entre agosto e setembro. Alimentação e vestuário registram queda Somente dois grupos apresentaram recuo de preços no mês de agosto - alimentação e bebidas, de 0,65%; e vestuário, de 0,03%. A alimentação no domicílio caiu 0,99% em agosto, com quedas nos preços da batata-inglesa (-12,68%), do tomate (-5,60%), do frango em pedaços (-3,66%), do leite longa vida (-2,40%) e das carnes (-1,44%). O reajuste dos combustíveis anunciado pela Petrobras ocorre no momento em que o BC iniciou um ciclo de corte de juros, reduzindo a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25%, e prevendo novas reduções na mesma magnitude. A próxima decisão será em 19 e 20 de setembro. A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a expectativa é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 4,90%, indo a 3,86% em 2024.

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Litro do diesel ultrapassa R$ 7 em 11 Estados e chega a R$ 8 em SP; gasolina sobe 4%

O preço máximo do litro do óleo diesel S10 ultrapassou o patamar de R$ 7 em postos de abastecimento de 11 dos 27 Estados pesquisados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), chegando a ser encontrado a R$ 8 em São Paulo. A alta reflete o aumento de 25,8% dado em 16 de agosto pela Petrobras. Nos demais Estados, os preços máximos ficaram acima dos R$ 6. Já o preço mais baixo do diesel S10 foi registrado em Minas Gerais, de R$ 4,59. Os dados fazem parte do levantamento semanal de preços da ANP, que apurou um aumento médio de 10% para o combustível, na semana de 20 a 26 de agosto. O preço médio ficou em R$ 6,05. Além dos preços mais altos da Petrobras, o diesel russo que vinha ajudando a abastecer o mercado com um valor menor do que do mercado internacional, está mais escasso e, portanto, mais caro. Os preços vêm sendo puxados pela alta do petróleo no mercado internacional, que vem oscilando no patamar de US$ 80 o barril. Gasolina O preço máximo da gasolina também ultrapassou os R$ 7 nos Estados do Acre, Amapá e São Paulo, sendo o maior valor encontrado nos postos acrianos, a R$ 7,99 o litro. O preço mínimo chegou a R$ 4,69 e também foi encontrado no estado de São Paulo, informou a ANP. Na média, a gasolina subiu 4% nos postos pesquisados pela agência, para R$ 5,88. O reajuste da Petrobras no combustível foi de 16,2% nas refinarias. O Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) teve queda de 0,2%, para R$ 101,00 o botijão de 13 quilos (gás de cozinha). O último reajuste desse combustível pela Petrobras foi uma queda de 3,9%, em 1º de julho. A inflação medida pela prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgada nesta sexta-feira, 25, ainda não captou o aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras, o que deverá ocorrer na divulgação do índice cheio (IPCA), em setembro. Na medição do IPCA-15, a gasolina contribuiu com 0,04 ponto porcentual para a alta de 0,28% do IPCA de agosto.

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