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Governo baixa tributo de carro zero e dá crédito a exportador

No Dia da Indústria, o governo Lula anunciou medidas para tentar reanimar o setor. Uma das frentes é um programa para baixar o preço dos automóveis, com redução de tributos, o que ainda depende do Ministério da Fazenda. Outra linha prevê estímulos aos exportadores, por meio de crédito subsidiado do BNDES. No caso dos automóveis, segundo o ministro da Indústria e vicepresidente Geraldo Alckmin, o governo dará desconto de PIS, Cofins e IPI para veículos que custem até R$ 120 mil. Esse abatimento obedecerá a critérios sociais e ambientais. A expectativa é de que o preço dos automóveis caia até 10,96% e o mais barato custe menos de R$ 60 mil. O impacto fiscal não foi calculado porque a duração das medidas ainda está em aberto e não há data para a entrada em vigor. Em um esforço para tentar reanimar o setor produtivo, o governo Lula anunciou ontem, Dia da Indústria, medidas em duas frentes. Apresentadas pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, as medidas incluem um programa para baratear o preço dos carros, com redução de tributos, e estímulos à indústria, em especial exportadores, via crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com taxas mais baixas, como detalhou o presidente do banco de fomento, Aloizio Mercadante (leia mais na pág. 3). As medidas ainda dependem do Ministério da Fazenda e não configuram o pacote prometido pelo governo (leia mais na pág. 2). No caso dos automóveis, segundo Alckmin, o governo dará desconto nos tributos federais PIS, Cofins e IPI para veículos abaixo de R$ 120 mil. Mas esses descontos vão obedecer a alguns critérios sociais, de densidade industrial, que privilegia as companhias com mais componentes fabricados no País, e de sustentabilidade, considerando carros com menor emissão de CO2. Com isso, segundo ele, o desconto sobre o preço dos carros vai variar de 1,5% a 10,96%. Em entrevista coletiva, Alckmin havia falado que o teto era 10,79%. À tarde, o Ministério da Indústria Comércio e Serviços (MDIC) esclareceu que a queda poderia ser de até 10,96%. Segundo Alckmin, quanto mais acessível o carro, maior será o desconto do PIS/Cofins. Além disso, a ideia é premiar a eficiência energética, eldquo;carros que poluem menoserdquo;, disse. Serão medidas temporárias, por prazo ainda a ser definido. Por essas regras, os dois modelos mais baratos à venda atualmente, o Fiat Mobi e o Renault Kwid, que custam R$ 68.990, teriam os preços reduzidos para menos de R$ 60 mil. O ministro disse que a Fazenda pediu 15 dias, mas a data para a medida entrar em vigor não está definida. O impacto fiscal ainda não foi calculado. eldquo;É muito possível termos preços abaixo de R$ 60 milerdquo;, disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite.

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Usinas do Centro-Sul aumentam produção de açúcar e etanol em maio

A moagem de cana-de-açúcar alcançou 43,98 milhões de toneladas na primeira quinzena de maio, indicou hoje a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). O volume é 28,3% maior que o processado no mesmo período do ano passado. Segundo a entidade, o clima mais seco favoreceu a colheita e a moagem. O volume de etanol hidratado (usado como combustível para veículos) atingiu 1,08 bilhão de litros, um aumento de 1,3%, enquanto o etanol anidro (misturado à gasolina) teve um avanço de 40,5%, totalizando 830,22 milhões de litros. Para ler esta notícia, clique aqui.

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Dia Livre de Impostos: gasolina pode ser encontrada com até 70% de desconto

Cerca de 50 mil lojistas realizam nesta quinta-feira, 25, o Dia Livre de Impostos, com o objetivo de chamar atenção sobre a carga tributária do Brasil. Entre os participantes, postos de combustíveis dizem que vão ofertar gasolina com valor cerca de 20% mais baixo, mas há descontos que podem chegar a 70%. A mobilização é da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas e da Câmara de Dirigentes Lojistas Jovens, em protesto pela necessidade da Reforma Tributária e da melhoria do ambiente de negócios. Mais de 1.200 cidades brasileiras participam da ação, segundo os organizadores da campanha. eldquo;Hoje, dos 12 meses nos quais os brasileiros trabalham, quatro são exclusivamente para pagar os impostos e sustentar a máquina públicaerdquo;, justificam os mobilizadores no site do grupo. A ação é realizada após o mês de abril, em sinalização ao período em que o eldquo;empresário realmente começa a trabalhar para si e o seu negócioerdquo;, afirma a confederação. As lojas participantes e alguns produtos sem cobrança de imposto podem ser conferidos no site oficial da ação, disponível neste link.

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Dia Livre de Impostos tem gasolina a R$ 3,77 e etanol a R$ 2,46

O Dia Livre de Impostos emdash;ação que tem a venda de produtos sem tributação como forma de sensibilizar a sociedade para a alta carga tributária brasileiraemdash; ocorre em todo o país nesta quinta-feira (25), com descontos de até 70% em todo o país. O consumidor encontra o litro da gasolina a R$ 3,77 em um posto em Belo Horizonte (MG), e o etanol a R$ 2,46 o litro, em Perdizes, zona oeste da capital paulista. A venda de combustíveis, no entanto, é limitada e, em geral, consegue o preço menor o motorista que chega mais cedo e enfrenta longas filas. Em São Paulo, foram disponibilizados 6.500 litros de etanol a R$ 2,46, limitados a 25 litros por veículo e um único abastecimento. O pagamento deve ser feito em dinheiro Pix. Em Belo Horizonte, a ação começou às 8h, com a distribuição de senhas, e a venda dos combustíveis foi aberta às 9h. Serão comercializados 31,8 litros por automóvel, limitados a 140 carros, e 7,95 litros por moto, limitados a 69 motos. Promovida pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) e a CDL Jovem (Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem), a ação chega em sua 17ª edição. "Queremos mostrar para a população como as taxas são abusivas. O Dia Livre de Impostos cresce a cada ano e isso mostra a importância da ação para a conscientização de toda a sociedade a respeito da alta taxa tributária cobrada no Brasil", diz José César da Costa, presidente da CNDL. "A reforma tributária se tornou urgente e fundamental para a manutenção das empresas do país, para a geração de empregos e para o desenvolvimento econômico", afirma ele. Em sessão solene no Congresso nesta segunda-feira (22), Raphael Paganini, coordenador nacional da CDL Jovem, também se manifestou sobre a importância da ação para reforçar o debate sobre a carga tributária brasileira. "A nossa principal intenção é unir os consumidores e os lojistas em uma ação de conscientização e de protesto, para mostrar a insatisfação que temos com a carga tributária de mais de 40% sobre o consumo médio dos produtos, o que faz dela uma das maiores do mundo", diz. O Movimento Endireita Brasil é um dos apoiadores e participantes da ação, com a adesão da empresária Patricia Kulaif, proprietária do posto em São Paulo que oferece etanol a preço de custo. A iniciativa, neste caso, levou em conta não só os tributos, mas também a sustentabilidade ligada ao álcool, que é um biocombustível. "O etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, é considerado uma das alternativas da energia renovável com melhor custo/efetividade para mitigar as emissões de gases do efeito estufa", diz o movimento sobre a escolha do combustível. A ação ocorre somente nesta quinta. Dados da CNDL mostram que o brasileiro trabalha cinco meses do ano para pagar impostos. Por isso, em 2023, a ação foi antecipada para o mês de maio. No ano passado, o Dia Livre de Impostos foi realizado em 2 de junho. Além disso, por ser uma ação conjunta, os lojistas optaram pelo mês de maio, antes do Dia dos Namorados, para não atrapalhar a data de vendas. A CNDL representa atualmente mais de 500 mil empresários em todos os estados brasileiros. A participação no Dia Livre de Impostos chegou a 40 mil varejistas com impacto de R$ 17,3 milhões. REFORMA TRIBUTÁRIA DEVE AVANÇAR APÓS ARCABOUÇO O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pretende priorizar a reforma tributária após a Câmara dos Deputados aprovar as regras do novo arcabouço fiscal nesta terça (23). A expectativa de Haddad é que a reforma tributária seja votada na Câmara ainda neste semestre. A reforma deverá ter como base a criação do novo imposto sobre o consumo que, na prática, tem cinco alíquotas. Além do imposto padrão, que será aplicado à maioria dos bens e serviços, haverá um percentual reduzido, a chamada alíquota de equilíbrio, que busca equilibrar a carga tributária em algumas situações. Haverá ainda a aplicação de alíquota zero.

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IPCA-15 surpreende e fica em 0,51% em maio, abaixo do esperado pelo mercado

Apesar das pressões de alimentos, plano de saúde e medicamentos mais caros, a prévia da inflação oficial no País desacelerou em maio. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) arrefeceu de 0,57% em abril para 0,51% neste mês, a alta mais branda desde outubro de 2022, divulgou nesta quinta-feira, 25, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou perto do piso das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma alta entre 0,48% a 0,72%, com mediana de 0,65%. A taxa do IPCA-15 acumulada em 12 meses desacelerou de 4,16% em abril para 4,07% em maio, completando assim 12 meses seguidos de redução. eldquo;Traz o otimismo de voltaerdquo;, avaliou a economista Andréa Angelo, estrategista de inflação da corretora de valores Warren Rena. eldquo;É como se estivéssemos esquecendo o que aconteceu em abril. Parece que voltamos para a rota de descompressão do IPCA de março na parte qualitativa.erdquo; Após a surpresa de baixa, o Banco Cooperativo Sicredi reduziu suas estimativas para o IPCA fechado de maio, de 0,51% para 0,46%. eldquo;O processo de desinflação segue como o esperado, com um comportamento mais benigno dos bens duráveis agora e uma dificuldade maior para a desinflação de serviçoserdquo;, afirmou o economista-chefe do Sicredi, André Nunes de Nunes. Os aumentos no leite longa vida (6,03%), tomate (18,82%) e plano de saúde (1,20%) responderam juntos por 30% do IPCA-15 de maio. Somando ainda o impacto dos medicamentos, chega-se a quase metade da inflação do mês. Os gastos das famílias brasileiras com Saúde e cuidados pessoais tiveram uma alta de 1,49% em maio. A maior pressão partiu do aumento de 2,68% nos produtos farmacêuticos, após a autorização do reajuste de até 5,60% nos medicamentos, a partir de 31 de março. O plano de saúde aumentou 1,20% em maio, ainda incorporando as frações mensais dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023. Os itens de higiene pessoal subiram 1,38%, influenciados, principalmente, pelos perfumes (2,21%). Já o grupo alimentação e bebidas teve uma elevação de 0,94% em maio. Os alimentos para consumo em casa ficaram 1,02% mais caros. eldquo;Isso pode ser resultado da demanda aquecida, devido aos últimos reajustes do salário mínimo e da ampliação do Bolsa Famíliaerdquo;, comentou Nunes, do Sicredi. Além do tomate e do leite longa vida, também houve altas expressivas na batata-inglesa (6,60%) e no queijo (2,42%). Por outro lado, houve reduções no óleo de soja (-4,13%) e nas frutas (-1,52%). Uma nova queda nos preços das carnes, -0,40%, também impediu uma aceleração maior no ritmo de aumento dos gastos das famílias com alimentação em maio. As carnes já acumulam um recuo de 3,47% de janeiro a maio deste ano. Os preços das passagens aéreas caíram 17,26%, item de maior impacto negativo no IPCA-15 deste mês, -0,12 ponto porcentual de contribuição para a inflação de maio. Houve queda ainda nos preços do óleo diesel (-2,76%), gás veicular (-0,44%) e gasolina (-0,21%), embora o etanol tenha aumentado 3,62%. Os Artigos de residência ficaram 0,28% mais baratos. Os itens de TV, som e informática caíram 1,44%, influenciados pela redução de preços dos televisores (-2,21%). Já os eletrodomésticos e equipamentos recuaram 0,92%, puxados pelas quedas do refrigerador (-1,37%) e da máquina de lavar roupa (-1,09%). A desaceleração do IPCA-15 de maio mostra uma composição benigna, opinou a economista do Itaú Unibanco Luciana Rabelo. eldquo;O processo de desinflação segue em cursoerdquo;, comentou Rabelo. A economista avalia que os últimos cortes nos preços dos combustíveis nas refinarias da Petrobras devem resultar em nova contribuição baixista para a inflação em junho, mais do que compensando a mudança na alíquota do ICMS, que passará a valer a partir do próximo dia 1º. Rabelo projeta que a gasolina, item de maior peso na cesta de consumo das famílias, registre deflação no IPCA fechado de maio e de junho. eldquo;Mas em julho, devemos ter a reonoeração integral do PIS/Confis, então os combustíveis vão voltar a acelerarerdquo;, ponderou a economista do Itaú Unibanco, que mantém a estimativa de IPCA a 5,8% ao final do ano. eldquo;No acumulado em 12 meses, o índice deve seguir desacelerando até junho, quando a variação deve chegar próximo de 3,7% e então reacelerar pelo efeito base (de comparação baixa)erdquo;, completou.

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'Petrobras vende petróleo 10% mais caro para refinarias privadas', diz Acelen

O presidente da Acelen, Luiz de Mendonça, espera urgência na decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a venda de petróleo pela Petrobras para as refinarias privadas. Para ele, que comanda a mais relevante empresa dessa categoria, criada após a compra da Refinaria de Mataripe (BA) pelo fundo de investimento árabe Mubadala, o imbróglio atingiu o limite: coloca em risco o crescimento do setor de refino no Brasil, inclusive os investimentos de R$ 12 bilhões em uma nova fábrica de biocombustíveis, anunciados pela empresa em abril. Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, concedida no dia em que protocolou o pedido de liminar preventiva no Cade contra a estatal, Mendonça afirmou que a Petrobras vende petróleo para a Acelen 10% mais caro do que para as próprias refinarias, o que viola a isonomia da concorrência. eldquo;Ela é o competidor dominante, somos os agentes da ponta e estamos sendo apertados no petróleoerdquo;, afirmou. eldquo;A gente não tem como escapar de comprar da Petrobras.erdquo; Para ele, o diálogo com a estatal se esgotou e, agora, cabe ao órgão da concorrência decidir se o País tem ou não regras claras de competição, uma decisão que pode afetar a imagem do Brasil. Abaixo, a entrevista na íntegra: Por que ir ao Cade contra a Petrobras? Desde o primeiro dia que a gente assumiu (a Refinaria de Mataripe), o diálogo sempre existiu, e a gente sempre indicou para a Petrobras que, em nossa avaliação e com os dados que a gente sempre teve, estávamos sendo discriminado na compra do nosso petróleo. A gente tentou o diálogo, mas não avançamos e estamos agora solicitando ao Cade que intervenha com a maior brevidade possível, para dizer quais são as regras que a empresa dominante deveria obedecer. No acordo de compra da refinaria não tinha nada escrito sobre isso? Não tinha preço, mas ficou claro que a gente estava pagando mais caro. A gente indicou que (o valor pago) estava fora e teve negociação todo mês. Não dá para abastecer uma refinaria brasileira só com o petróleo importado. A Petrobras é o competidor dominante, tem 70% da produção brasileira, mas cerca de 90% da comercialização do petróleo no Brasil acaba passando pela Petrobras. É um fato que não tem como escapar. Não se opera uma refinaria no Brasil sem contar com o petróleo da Petrobras. Como descobriram que o preço estava mais alto do que o preço interno da empresa? Isso já era evidente e foi ficando evidente na negociação que não foi avançando. Fomos coletando elementos cada vez mais fortes que corroboravam que estávamos sendo discriminado na aquisição do petróleo, com uma política discriminatória de preços, inclusive com dados publicados pela própria Petrobras. O mais flagrante de todos foi a publicação de dois preços de transferência da Petrobras, com diferença gigantesca. Ela estava vendendo para suas próprias refinarias a um preço muito abaixo do que ela vende para a Acelen. Ou seja, ela é o competidor dominante, somos os agentes da ponta e estamos sendo apertados no petróleo, que a gente não tem como escapar de comprar da Petrobras. Os srs. tentaram negociar direto com a Petrobras? Estamos abertos ao diálogo, temos diálogo com a Petrobras e negociação constante. Mas não os sensibilizamos. A investigação no Cade começou em 2022, mas os elementos agora são tais, que essa medida preventiva que pedimos é urgente. Está chegando a um ponto em que vou ter de começar a reduzir a carga da refinaria e começar a rever investimentos. Quem está sendo prejudicado aqui? O consumidor do Nordeste, da Bahia. O petróleo que vai para a Bahia é mais caro do que o que vai para Rio de Janeiro e São Paulo. Teve alguma cláusula no contrato de compra da refinaria que determinasse à Petrobras a venda do petróleo pelo mesmo preço que pratica internamente? O foco não é o que está escrito no contrato, é o que diz a lei brasileira. Teve afirmações que de que ela (Petrobras) teria uma política de paridade. Por exemplo, temos os preços que a Refinaria de Mataripe pagava antes do acordo de compra (da refinaria). Esses preços foram majorados depois da venda. Hoje, a diferença entre o preço de transferência da Petrobras e o que vende para a gente é de 10%, em alguns casos estamos falando de US$ 8 o barril, US$ 10 o barril, o que é muito significativo. O que os srs. pediram exatamente ao Cade? Nosso pleito no Cade não é pagar mais barato. A discussão é: tem uma empresa dominante no mercado de petróleo e essa empresa é meu concorrente. O Cade tem de garantir que haja isonomia de preços. Já existem precedentes na própria indústria. Qual precedente? No passado, quando a BR Distribuidora era da Petrobras, a Petrobras praticava para os concorrentes da BR Distribuidora exatamente o mesmo preço em derivados que ela tinha com sua própria empresa. É isso que nós queremos: transparência e isonomia de preços. Porque nessas condições eu vou ser - com os investimentos e com a agilidade que a gente tem mostrado - mais competitivo. Estou sendo competitivo, aumentei a capacidade de produção e tenho uma política de preços dinâmica. Mas se a Petrobras vender ao mesmo preço, não perde a própria competitividade? Trabalhei na Braskem por muitos anos e a Braskem era fornecedora de sua própria divisão de polímeros. A gente tinha uma fórmula muito transparente que era publicada e mostrava que a divisão de polímeros comprava pelo mesmo preço que era cobrado de seus concorrentes. Depois, no mercado de polímeros, a gente se virava para ser mais competitivo, mais criativo, mais inovador para o meu cliente. Não tenho problema de competir, nenhum problema, aliás a gente será mais competitivo que a Petrobras se a gente tiver as mesmas condições do preço do petróleo. Por que buscar o Cade? O Cade tem um papel muito relevante, é a agência que regula o direito concorrencial. É a agência que, por natureza, tem de dizer como os diversos agentes devem se comportar, e é isso que a gente está pedindo: que esclareça. Se não houver definição clara é ruim para o País, perde-se atratividade de investimentos. Como alguém que, junto à minha equipe, comanda uma empresa que vem investindo, crescendo e modernizando o refino brasileiro, em um momento de crise energética mundial, digo: criem regras estáveis para a gente continuar priorizando esse crescimento. Qual foi o crescimento da produção desde que a Acelen assumiu Mataripe? Teve crescimento em vários produtos, como em diesel e parafina, bem como o lançamento de novos produtos. A gente pegou a refinaria rodando a 205 mil barris por dia e já chegamos a 280 a 290 mil. Em função do que vem acontecendo, reduzimos a carga e hoje estamos em 250 mil barris. Por isso, é importante uma tomada de decisão rápida. Quanto a Acelen já investiu em Mataripe? No primeiro ano, investimos R$ 1,1 bilhão, que já era duas vezes e meia a média que Petrobras investiu nos últimos anos (em que controlava a empresa). O refino chegou ao processamento de 90% (era 65%). Lançamos novos produtos, reduzimos todos os índices de impacto ambiental, melhoramos a eficiência energética da refinaria, ou seja, ela produz mais com menos recursos. Recuperamos e partimos unidades que estavam paradas. Temos um dinamismo muito grande e anunciamos a intenção de nosso acionista de fazer um grande investimento em combustíveis renováveis. Todas essas conquistas ficam ameaçadas se não houver garantia de condições iguais de competição a partir da empresa dominante de petróleo. Quando o sr. fala sobre a intenção de fazer biocombustíveis, é por que agora há dúvida em relação à continuidade do projeto? A gente continua avançando nos estudos, mas estamos sendo apertados economicamente. É normal o investidor dizer: elsquo;pera aí, o Brasil garante a livre concorrência em matérias primas, em petróleo? Ou não?ersquo; Fundamentalmente, é essa a questão. A decisão final desse projeto é prevista para ser tomada em dezembro. Mas é possível que o investimento de R$ 12 bilhões anunciados em abril sejam cancelados? Lógico que pode. Preciso ter um posicionamento do Cade se a livre concorrência será defendida. Se a isonomia de preços de petróleo entre a empresa dominante que concorre comigo será garantida. A partir daí, o Cade vai dizer se existe um ambiente regulatório competitivo, confiável no Brasil. Se essas condições são dadas, a partir daí, é óbvio, confirmo todos os nossos planos de investimento. Além do problema do preço do petróleo, o fim da política de paridade de importação (PPI) da Petrobras atrapalhou a Acelen? A política da Petrobras hoje não é mais transparente. Ela tirou a previsibilidade do mercado. Mas o ponto não é esse. Nossa política considera que o mercado de petróleo e derivados é global, não dá para o Brasil se desconectar. É uma referência, mas a gente também olha o mercado local e as condições daqui. Não vou perder mercado e a prova disso é que, mesmo sendo apertado no petróleo, mesmo com condições econômicas bem menos favoráveis por conta desse sobrepreço no petróleo, pratiquei preços abaixo da Petrobras em 80% dos dias deste ano. Houve mais alguma mudança pela nova gestão da Petrobras que afetou a Acelen? O que nos causou estranheza, e é mais um elemento para o Cade investigar, é que antigamente a Petrobras publicava em seus relatórios para a SEC (fiscalizador na bolsa de valores nos EUA) seu preço de transferência. Na última publicação, esse item deixou de existir. Parece que está havendo menos transparência. A Acelen vai continuar praticando a PPI? A PPI é como o norte da nossa bússola, uma referência que a gente tem de olhar porque o Brasil importa derivados. Mas também acompanho e estou toda semana tirando pulso do mercado e sendo competitivo, não vou perder venda. Agora, se eu sou espremido na principal matéria prima, aí há uma condição de competição desigual. O que pode acontecer se o Cade demorar a decidir ou mesmo não conceder a liminar preventiva? Não cabe a nós especular. Gostaria que saísse amanhã, é urgente, o tema é muito importante e traz instabilidade de mercado, uma imprevisibilidade. A gente fez os primeiros investimentos na refinaria sobre certas premissas. Principalmente a livre concorrência no refino brasileiro. Se essa premissa não for garantida pelo Cade, temos um problema. Vamos avaliar todas as alternativas. Mas se eu reduzir carga vai ser ruim, vai ter que ter mais importação de produtos, há uma perda de competitividade no mercado, e pode até ter risco de desabastecimento. Há risco de devolução da refinaria? Chega a esse ponto? A gente está aqui para o longo prazo, por isso buscamos a proteção do Cade, a definição urgente sobre quais são as regras de competição no refino brasileiro, a partir da posição dominante em petróleo da Petrobras. Essa discussão sobre devolução da refinaria não existe, mas só o fato de ter uma afirmação dessas devia deixar o Cade mais preocupado ainda. Com uma afirmação de retomada da refinaria, fica mais urgente a necessidade de se proteger. Existe um TCC (Termo de Compromisso de Cessação) que determina o crescimento da participação de mercado do refino privado. O que já foi feito precisa ser protegido, sobre regras clara, transparentes e isonômicas de concorrência. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da Petrobras comparou a situação da venda de combustível às refinarias privadas com o McDonaldersquo;s, dizendo que a rede de lanchonetes não vende hambúrgueres mais barato para os concorrentes. O que o sr. achou disso? Se o McDonaldersquo;s produzisse 80% da carne no Brasil, o Cade deveria dizer ao McDonaldersquo;s para vender a carne para a sua loja nas mesas condições que vende para as concorrentes. Então, essa metáfora não é exata. Se a carne fosse o petróleo e o McDonaldersquo;s tivesse 80% das fazendas de carne do Brasil, ele deveria vender para os 20% dos concorrentes no mesmo preço ou ele estará discriminado a política de preços da carne. É exatamente isso.

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