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Petrobras vai cancelar privatização de subsidiária de biocombustíveis e voltará a apostar no setor

A Petrobras vai cancelar a privatização da Petrobras Biocombustível S.A. (Pbio), informam fontes próximas ao governo federal. Dona de três usinas no Sudeste e no Nordeste, a Pbio voltaria, assim, a ser um dos pilares da estratégia de descarbonização da estatal. A produtora de combustível renovável se tornará, com cinco refinarias de petróleo, mais uma subsidiária da petroleira cuja venda à iniciativa privada será cancelada pela futura gestão de Jean-Paul Prates. Senador em fim de mandato pelo PT do Rio Grande do Norte, ele foi indicado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidir a estatal. O Estadão/Broadcast apurou que a ideia é retirar definitivamente a Pbio do programa de desinvestimentos da estatal e fortalecer sua produção. A empresa, porém, não desistirá do desenvolvimento de biocombustíveis de última geração. É o caso do Diesel R (renovável) e o bioQAV, que dominam os planos futuros da atual administração. Prates aguarda o aval da área de conformidade da empresa e do Conselho de Administração para assumir a presidência da Petrobras. Uma fonte próxima a Prates, diz que todos os processos de venda de ativos da Petrobras serão, no mínimo, paralisados para reavaliação. Mas alguns devem ser extintos logo. Esse será o caso das refinarias e da Pbio. Especialistas ouvidos não se opõem ao cancelamento da venda e revitalização da Pbio. Mas ressaltam a necessidade de a iniciativa estar alinhada com uma política nacional de favorecimento de biocombustíveis. O coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão integrou o grupo de transição voltado à energia. Para ele, é imprescindível que o governo retome o aumento gradual dos porcentuais de biodiesel na mistura do diesel. A iniciativa, avalia, daria previsibilidade ao mercado. Também devolveria diferencial tributário aos biocombustíveis. O governo Jair Bolsonaro (PL) manteve o percentual de biodiesel no diesel em 10%. Também cancelou a diretriz de elevá-lo a 15% já neste ano. Reduziu ainda impostos sobre combustíveis fósseis. Segundo Adriano Pires, da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o plano de venda da Pbio fazia sentido no auge da crise da Petrobras. Sua reversão agora, com eventual aumento de investimentos, não deve ser encarado como problema. O motivo é que a Petrobras está saudável do ponto de vista econômico-financeiro, analisa. eldquo;Mas deve prevalecer a taxa de retorno econômica e não a política, que marcou o início da Pbioerdquo;, adverte Pires. A representante dos funcionários no Conselho de Administração da Petrobras, Rosângela Buzanelli, disse na quinta, 18, que, com a chegada de Prates, os planos estratégico e de desinvestimentos da Petrobras serão revistos. Esse processo envolve diretamente os biocombustíveis da companhia, afirma. eldquo;O biodiesel vai entrar (nessa revisão), seja como biodiesel puro, seja como diesel verde. Vamos reabrir essas usinas para já, se depender de mimerdquo;, disse Buzanelli durante entrevista ao programa eldquo;Debate Petroleiroerdquo;, transmitido pelo YouTube. Histórico Fundada em 2008, a Pbio foi por anos uma das maiores produtoras de biodiesel do País. Tem usinas capazes de processar óleo de soja, algodão, palma, gordura animal e óleos residuais. A variedade tenta aproveitar a dinâmica sazonal dos preços de cada matéria-prima. A operação caiu a partir de 2016. Foi quando houve, inclusive, a eldquo;hibernaçãoerdquo; (paralisação) da usina de Quixadá (CE). Quando Pedro Parente assumiu a Petrobras no governo-tampão de Michel Temer (MDB), optou por enxuga-la. Ele reduziu investimentos fora de exploração e produção de óleo e gás. Isso afetou a subsidiária de biocombustíveis. A estratégia de Parente implicou a aceleração do programa de desinvestimentos nas gestões seguintes. O processo levou ao início do processo de venda da Pbio em julho de 2020. Foi quando foi aberta a etapa de oportunidade para o mercado, o eldquo;teasererdquo;. Um mês depois, foi iniciada a fase não vinculante do processo. Nessa etapa, os interessados habilitados recebem informações sobre os ativos. Em setembro daquele ano, foi inaugurada a fase vinculante. Nesse ponto, são emitidas cartas-convite aos interessados classificados na fase anterior. Nelas, há instruções sobre o processo de venda e para o envio de propostas. Antes e durante esse processo, foram concluídas vendas de participações da Pbio. Um era na BSBios, a maior produtora de biodiesel do País, sediada no Rio Grande do Sul. Outra era na Belém Bioenergia Brasil (BBB), joint venture com a Galp, que comprou a outra metade do negócio. Mas, dois anos depois de colocada à venda, a Pbio e suas usinas próprias não chegaram à assinatura do contrato de compra e venda. Mesmo assim, a direção da Petrobras não retirou a Pbio da lista de desinvestimentos. Tampouco recuou no processo. Ao contrário, tem reforçado a estratégia de eldquo;agregar valor ao parque de refino com processos mais eficientes e produtos novos, como o BioaQAV, o Diesel Renovável e biobunkererdquo;. Relatório da auditoria KPMG obtido pelo Estadão/Broadcast informa que a Petrobras não fixa data para efetivação dos desinvestimentos em biodiesel. Diz ainda que há orçamento aprovado para a continuidade das operações das usinas de Montes Claros (MG) e Candeias (BA) para os próximos cinco anos. Essas unidades têm mantido fator de utilização nas casas dos 70% e 50% respectivamente. Ambos estão bem abaixo da capacidade instalada. eldquo;Hibernadaerdquo; desde 2016, a usina de Quixadá não produz. O argumento central da atual gestão é maximizar valor aos acionistas. De fato, na maior parte de sua existência, a Pbio foi deficitária ou apresentou lucro modesto para o sistema Petrobras. Isso aconteceu por quatro anos entre 2017 e 2020, quando houve lucro de R$ 154,5 milhões. Em 2021, houve prejuízo líquido de R$ 241,8 milhões. Já em 2022, até setembro, déficit foi de R$ 117 milhões. Especialistas Miguel Lacerda, ex-diretor de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME) e pesquisador da Embrapa, afirma que a Pbio pode ser perfeitamente rentável. Destaca, porém, que a subsidiária nunca terá margens comparáveis às da exploração e produção de petróleo. Os motivos são a natureza do negócio e a competição no setor. eldquo;Existem cerca de 270 usinas de biocombustíveis no País, quase 40 só de biodiesel, enquanto a operação da produção de petróleo ainda é quase monopolistaerdquo;, compara. Lacerda diz que os prejuízos da Pbio aconteceram em linha com todo o setor. Foram causados por fatores externos, como dinâmica de preços, e recuo no mandato (proporção na gasolina) do biodiesel. Ele deveria avançar para 15% mas voltou a 10%. Nesse caso,o objetivo foi frear o preço final dos combustíveis. Individualmente também pesa o fato de as três usinas ficarem em estados (Minas, Bahia e Ceará) sem benefício tributário para a atividade. O problema envolve sobretudo ICMS reduzido, como acontece em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Rodrigo Leão, do Ineep, afirma que a Pbio deve ser encarada para além do desempenho financeiro. A empresa é um vetor de descarbonização da Petrobras. Também é indutora da economia agrícola no entorno de suas unidades, explica. Além disso, ele defende maior integração da subsidiária de biocombustível com outros negócios renováveis. É o caso do hidrogênio verde, cuja produção exige fonte de energia limpa, destaca. Leão destaca que as principais economias do mundo têm mantido políticas agressivas de fomento a combustíveis de origem vegetal. É o que fazem Estados Unidos, China e Índia, Já o Brasil, pioneiro na tecnologia, recuou nos últimos anos. O movimento foi deliberado, aponta. eldquo;A importância dos biocombustíveis para a transição energética está colocada no mundo e, também, para as grandes empresas privadas do setor com atuação no Brasil, que têm investido cada vez mais em etanolerdquo;, diz, ao citar Shell e BP. Cautela Adriano Pires, do CBIE, diz que a volta do investimento da Petrobras em biocombustíveis, sobretudo biodiesel, é válida. Mas com uma condição: que seja feita com eldquo;parcimôniaerdquo;. eldquo;O elsquo;core businessersquo; (negócio principal) da Petrobras é e deve continuar sendo exploração e produção (de óleo e gás), em que ainda haverá muita demanda (por investimentos) do pré-sal e da entrada em toda a Margem Equatorialerdquo;. O especialista ressalta, também, a necessidade de perseguir a rentabilidade econômica. Isso, diz, foi negligenciado na origem da subsidiária. Para Pires, as usinas custaram caro. E interesses políticos teriam pesado na escolha de sua localização, o que não pode se repetir.

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Governo destinará R$ 1,7 bilhão para setor rodoviário e ferroviário

Os setores rodoviário e ferroviário terão cerca de R$ 1,7 bilhão para retomar e intensificar obras, preparar rodovias para o período de chuvas, garantir o escoamento da safra agrícola e diminuir o número de acidentes graves. Os recursos fazem parte das ações prioritárias dos 100 dias de governo divulgadas nesta quarta-feira (18) pelo Ministério dos Transportes. Segundo a pasta, o valor possibilitará a entrega de 861 quilômetros pavimentados, revitalizados e sinalizados até abril de 2023. Ainda haverá a construção e revitalização de 72 pontes e viadutos no mesmo período. As principais entregas estão incluídas em 12 rodovias que cortam o país: a BR-432/RR, BR-364/AC, BR-116/CE, BR-101/SE, BR-116/BA, BR-080/GO, BR-101/AL, BR-381/MG, BR-, 447/ES, BR-163/PR, BR-470/SC e BR-116/RS. De acordo com o ministro dos Transportes, Renan Filho, haverá a retomada de mais 670 quilômetros de obras atualmente paradas por falta de verbas. Até o fim de 2022, havia mais de 100 empreendimentos em rodovias com ritmo lento ou paradas. eldquo;Nossa meta é interromper a involução do setor dos últimos quatro anos. Estamos abertos a aprimorar nossos procedimentos para atrair mais investimentos privados, somando esforços com os recursos públicoserdquo;, disse. Sugestões O Ministério dos Transportes também recebeu 6 mil sugestões de ações prioritárias por meio de uma consulta pública. Segundo a pasta, a maioria busca ampliar a competitividade da infraestrutura e da logística de transportes de cargas e pessoas; promover a segurança do trânsito; melhorar a qualidade da infraestrutura e serviços de transportes; e outros pontos relacionados à redução da burocracia, sustentabilidade, governança e acesso à informação.

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Risco de calote da Americanas pode tirar R$ 7 bi de bancos

A crise na Americanas pode obrigar alguns dos maiores bancos do País a reservar em balanço pelo menos R$ 7 bilhões para cobrir um eventual risco de calote, informa Matheus Piovesana. De acordo com executivos do mercado, Bradesco, Santander, Itaú Unibanco, Safra, BTG Pactual e Banco do Brasil são as instituições com os maiores empréstimos à varejista. O valor que cada um emprestou vai de cerca de R$ 5 bilhões, no caso do Bradesco, a R$ 1,3 bilhão, no do BB. As instituições não informam os valores. O provisionamento dependerá de fatores como se sócios injetarão recursos novos ou se a Americanas pedirá recuperação judicial após vir à tona uma eldquo;inconsistência contábilerdquo; de R$ 20 bilhões. Ontem, o BTG Pactual obteve liminar para bloquear cerca de R$ 1,2 bilhão das contas da Americanas. O eldquo;fator Americanaserdquo; pode obrigar os bancos a reservar em balanço pelo menos R$ 7 bilhões para cobrir o eventual risco de calote da varejista. De acordo com executivos do mercado financeiro, Bradesco, Santander, Itaú Unibanco, Safra, BTG Pactual e Banco do Brasil são, pela ordem, as instituições com os maiores volumes de empréstimos concedidos à companhia. O valor que cada banco emprestou varia, mas vai de cerca de R$ 5 bilhões, no caso do Bradesco, a R$ 1,3 bilhão, no do BB. As instituições não informam os valores por respeito ao sigilo bancário. Pela legislação em vigor, elas são obrigadas a reservar uma parte do dinheiro para cobrir o risco de devedores duvidosos, o chamado provisionamento. No caso da Americanas, o valor final vai depender de fatores como se os sócios de referência endash; Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira endash; vão injetar recursos novos na companhia ou se a Americanas vai pedir recuperação judicial. A crise na varejista se arrasta desde a semana passada, depois que veio a público a existência de uma eldquo;inconsistência contábilerdquo; de R$ 20 bilhões. Um calote não descapitalizaria os bancos, mas poderia reduzir seus lucros. Para o provisionamento, não é preciso reservar o total da dívida, mas uma parte de acordo com o risco. Considerando um cenário em que os bancos reservariam metade dos empréstimos, o Bradesco teria de separar R$ 2,3 bilhões para cobrir perdas com a Americanas; o Santander, R$ 1,8 bilhão; o Itaú, R$ 1,7 bilhão; o BTG, R$ 950 milhões; e o BB, R$ 650 milhões. Os cálculos são do analista Rafael Frade, do Citi. Procurados, os bancos não comentaram. O montante, porém, dependerá do desenrolar das negociações entre os bancos e a varejista. Uma recuperação judicial não necessariamente levaria o crédito a ser considerado inadimplente, e haveria uma negociação em torno de descontos. Até aqui, os bancos já deixaram claro que só farão acordo se a Americanas for capitalizada endash; o que gerou um impasse entre as instituições e os acionistas de referência. eldquo;Se a empresa pedir recuperação judicial e não houver nenhum tipo de capitalização, será o pior cenárioerdquo;, diz o diretor responsável por entidades financeiras da SeP, Guilherme Machado. eldquo;Isso poderia fazer com que os bancos, em um prazo de seis meses, provisionassem 100% das operações.erdquo; A Genial Investimentos estimou que, nesse cenário mais negativo, o lucro líquido dos bancos poderia cair de 1,8% (no caso do BB) a 6,9% (no do Bradesco). VENCIMENTOS. Parte dos bancos credores tem ido à Justiça para garantir a cobrança antecipada das dívidas da Americanas, o que ajudaria a reduzir perdas. O BTG e o BV (ex-votorantim), por exemplo, alegam ter liquidado operações após a divulgação do fato relevante que informou o rombo de R$ 20 bilhões da varejista. Para se proteger desse movimento, a Americanas obteve na semana passada uma liminar para evitar o bloqueio de recursos. eldquo;Todos os créditos que o Banco BV possuía na referida data (da publicação do fato relevante) com o grupo Americanas foram extintoserdquo;, afirmou o BV. Segundo apurou o Estadão/broadcast, as operações somavam cerca de R$ 400 milhões. O BTG, por sua vez, conseguiu retomar ontem R$ 1,2 bilhão da Americanas endash; em decisão do desembargador Flávio Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, da Justiça do Rio endash;, e teria saldo de R$ 1,9 bilhão ainda em aberto. O Bradesco recorreu ontem à Justiça para ter o mesmo direito, e a expectativa de especialistas é de que outros bancos credores se movimentem na mesma direção. Esse maior risco da companhia é percebido pelas agências de classificação de risco. A Fitch, por exemplo, cortou a nota da Americanas para C, enquanto a SeP rebaixou a empresa para D. Na Moodye#39;s, o corte foi para Caa3. Nos três casos, as notas significam um risco de calote alto ou muito alto. Há uma semana, a empresa tinha avaliações melhores do que as do próprio Brasil em algumas agências. ebull;

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Governo costura apoio para reforma tributária no Congresso

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), deu início às articulações políticas para abrir caminho ao avanço da reforma tributária no Congresso Nacional ainda no primeiro semestre, como sinalizado pela equipe econômica. A construção de um ambiente favorável a essa agenda passa pela nova composição das mesas do Legislativo, cuja eleição ocorrerá em 1º de fevereiro. O PT já costurou apoio à reeleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas agora outros partidos da chamada frente ampla se movimentam na mesma direção. O MDB é um dos que podem apoiar a recondução de Lira na expectativa de obter o compromisso do presidente da Casa com o avanço da agenda da reforma tributária emdash;tema prioritário para o partido. A PEC (proposta de emenda à Constituição) 45 é de autoria do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da legenda. A proposta unifica uma série de tributos sobre o consumo, como PIS/Cofins e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e tem hoje a preferência de Haddad nas discussões. A pauta da reforma tributária também foi uma das principais bandeiras de campanha presidencial de Simone Tebet (MDB), hoje ministra do Planejamento e Orçamento do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que deve se colocar nas discussões da medida para tentar reduzir resistências no Congresso, ambiente no qual tem experiência como ex-senadora. Desde o início do governo, o ministro da Fazenda tem reforçado a intenção de priorizar a aprovação da reforma, com ênfase na simplificação dos tributos sobre o consumo. A avaliação é que a medida pode ajudar a destravar o ambiente de negócios e impulsionar o crescimento. Na última quinta-feira (12), horas antes de apresentar seu primeiro pacote de medidas para reduzir o déficit, Haddad almoçou na residência oficial de Lira. O tema do encontro foi justamente a reforma tributária. Além deles, também estavam presentes Baleia Rossi, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) emdash;relator da PEC 45emdash; e o secretário especial para reforma tributária, Bernard Appy. Segundo interlocutores, o presidente da Câmara demonstrou, na ocasião, estar empenhado na priorização dessa agenda no Congresso. O ministro da Fazenda, por sua vez, enfatizou a importância da aprovação da reforma para a economia. Já o presidente do MDB colocou o projeto como algo relevante para a sigla. O apoio de Lira à PEC é considerado um fator chave para o sucesso da articulação. Em 2021, foi o próprio presidente da Câmara que ajudou a minar as chances de avanço da proposta na Casa. Em maio de 2021, Lira extinguiu a comissão especial da Câmara que debatia a reforma tributária, no mesmo dia da leitura do parecer sobre a matéria na comissão mista formada por deputados e senadores. O colegiado havia sido constituído para debater o tema em conjunto com a PEC 110, do Senado. A decisão foi tomada meses após a eleição de Lira à Presidência da Câmara emdash;ele saiu vitorioso depois de enfrentar justamente Baleia Rossi, aliado do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia. Na ocasião, Lira justificou a decisão alegando que o objetivo era "preservar a tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional". Ainda assim, o efeito prático foi a invalidação do parecer apresentado pelo então relator. O bloqueio à reforma tributária também atendia aos interesses do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, que preferia aprovar as mudanças de forma fatiada. Agora, com uma equipe econômica favorável à PEC e com a possibilidade de embarque de Lira na defesa da proposta, o novo governo tem uma perspectiva mais positiva sobre as chances de avanço. Lideranças políticas esperam inclusive que Aguinaldo Ribeiro seja mantido no posto de relator, mas isso ainda vai depender do acerto final com Lira, que costuma dar preferência a aliados na condução de temas estratégicos. Enquanto aguarda a definição do xadrez político, a equipe econômica também tem se movimentado nas discussões técnicas. No dia 10 de janeiro, Haddad teve uma reunião com seu secretariado para dar o pontapé nas discussões internas. Segundo interlocutores, foi apenas uma apresentação inicial dos principais elementos da reforma. Na terça-feira (17), Appy recebeu o presidente do MDB e autor da PEC 45 na sede do Ministério da Fazenda para discutir pontos da reforma. A reunião durou mais de uma hora e meia. O atual secretário foi um dos formuladores técnicos da proposta quando ainda atuava como diretor no CCiF (Centro de Cidadania Fiscal). Nesta quinta-feira (19), Appy também deve se encontrar com o senador Roberto Rocha (PTB-MA). Ele foi o relator da PEC 110 no Senado e atuou como presidente da comissão mista da reforma tributária emdash;mas deixará a Casa neste mês com o fim de seu mandato. A expectativa dos técnicos é conseguir construir um texto de maior consenso, que concilie pontos das PECs 45 e 110, para ampliar a aceitação no Congresso e entre setores empresariais. O deputado Zeca Dirceu, que vai assumir a liderança do PT na Câmara em fevereiro, diz que vai articular a aprovação da proposta no Congresso. "Tudo que o governo entender ser viável vou ser o primeiro a defender", afirma. "Se tiver algum tema que eu sinto que não tem viabilidade momentânea, vou ser o primeiro a alertar." As duas PECs propõem a unificação de tributos sobre consumo em um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que pode variar de nome e, principalmente, de alcance. Na proposta formulada por Appy, o IVA seria nacional, enquanto no texto do Senado, o IVA é dual: haveria uma alíquota para o governo federal e outra para estados e municípios. O segundo modelo enfrenta menos resistência de governadores e prefeitos, que almejam maior autonomia na definição de suas alíquotas. Por isso, o tema está em discussão, embora ainda não haja decisão final sobre o caminho a ser adotado. O governo também precisará enfrentar as resistências de segmentos empresariais, sobretudo de serviços, que demonstram preocupação com os efeitos da oscilação da carga tributária. O setor de serviços, que possui hoje uma carga tributária inferior à da indústria, teme ser prejudicado por uma alíquota única. Como o IVA é imposto não cumulativo, ou seja, não incide em cascata em cada etapa da produção, uma alíquota maior pode ser necessária para manter a arrecadação. No entanto, o segmento teria poucos créditos tributários a abater, já que seu principal insumo é a mão de obra emdash;ao contrário da indústria, que adquire matérias-primas e pode usar os tributos pagos nessas operações como créditos para abater o saldo a ser quitado junto à Receita. José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), afirma que a reforma tributária baseada na introdução de um imposto sobre valor agregado pode ter impacto sobre seu mercado de trabalho e os preços dos imóveis. "A grande preocupação que a gente tem é o aspecto de tributar o trabalho. Em nosso setor, são seis itens que não temos tributação: mão de obra, terreno, despesa tributária, despesa financeira, despesa administrativa e lucro do empreendimento. Isso equivale a 75% do meu preço de venda", disse. "Não tem espaço em aumento de custo que não seja aumentar preço, não tem escapatória", acrescentou Martins, que defende um tratamento diferenciado para o setor. Já a CNM (Confederação Nacional de Municípios) defende que o texto inclua alguns pontos, como a gestão paritária do imposto sobre bens e serviços entre estados e municípios no conselho federativo e competências dos municípios para definirem suas próprias alíquotas do IBS. Além disso, quer um seguro receita que estabeleça que, durante 40 anos, nenhum ente receba menos do que recebe atualmente. A confederação também pleiteia a criação de um "fundo de compensação para estados e municípios que, mesmo não tendo queda de arrecadação, possam apresentar reduções expressivas na fatia de bolo" emdash;o fundo seria constituído por 3% da receita livre de IBS e deverá chegar a R$ 10 bilhões em 20 anos. PROPOSTAS MAIS AVANÇADAS NO CONGRESSO 1) PEC 45 - relatório deputado Aguinaldo Ribeiro Substitui cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um Imposto sobre Bens e Serviços e um Imposto Seletivo sobre cigarros e bebidas alcoólicas Transição de seis anos em duas fases, uma federal e outra com ICMS e ISS Substitui a desoneração da cesta básica pela devolução de imposto para famílias de menor renda 2) PEC 110 - relatório senador Roberto Rocha Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins Criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), com fusão do ICMS e ISS Substitui IPI por um imposto seletivo sobre itens prejudiciais à saúde e meio ambiente Criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, abastecido com recursos do IBS Restituição de tributos a famílias de baixa renda

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Americanas: Fornecedores começam a suspender entregas à empresa ou cobrar à vista

Após chegar ao mercado, a crise aberta pela descoberta de eldquo;inconsistências contábeiserdquo; da ordem de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e anos anteriores da Americanas alcança o operacional da varejista, com uma parcela de seus fornecedores suspendendo vendas à companhia ou exigindo pagamento à vista para manter a entrega de mercadorias, segundo empresas ouvidas pelo GLOBO. Com os efeitos da crise no dia a dia da Americanas, fontes próximas ao grupo avaliam que a varejista está cada vez mais perto de um pedido de recuperação judicial. A empresa diz que segue empenhada em negociar com seus credores um acordo satisfatório para todos. Na terça-feira, anunciou a contratação de Camille Loyo Faria como diretora Financeira e de Relações com Investidores. Ela conduziu a parte final do processo de recuperação judicial da Oi. O Basílio Advogados, que faz a defesa da Americanas na Justiça, também atuou na reestruturação da tele. Na Justiça, aumenta a ofensiva dos bancos credores para cobrar dívidas da empresa, que concentra esforços em evitar a saída de recursos de seu caixa. BTG e Americanas travaram mais uma batalha de acusações em petições nesta terça-feira. Desde o dia 11, quando o rombo foi revelado, os papéis da Americanas acumulam queda de 84,16%, tendo fechado ontem em R$ 1,90. Além da rede com 3.600 lojas no país, a Americanas mantém um marketplace com perto de 150 mil vendedores cadastrados. A relação com os fabricantes de eletroeletrônicos está paralisada desde quinta-feira passada, um dia após o início da crise. A dificuldade de negociação com a indústria foi antecipada pelo Valor Econômico. Um executivo de uma grande rede de eletroeletrônicos conta que o clima entre fornecedores é de parada. Na ausência de uma sinalização de aporte pelo trio da 3G Capital emdash; Jorge Paulo Lemman, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, acionistas de referência da Americanas, com 31,1% das ações emdash;, muitas empresas resolveram parar de entregar mercadorias e esperar. Trava nos bancos Conforme passam os dias, o valor do aporte necessário para socorrer o caixa da Americanas parece subir, nas contas do mercado. A estimativa já varia entre R$ 6 bilhões e R$ 15 bilhões, segundo dados compartilhados entre fornecedores. Mas bateria em até R$ 21 bilhões segundo cálculos da XP Investimentos. Outra trava a alguns fornecedores é que, grandes fabricantes de produtos vendidos pela Americanas não conseguem mais obter linhas de crédito junto aos bancos para antecipar recursos de pagamento por vendas feitas à companhia. Sem o banco garantindo o pagamento da dívida, diz um empresário, o risco recai sobre quem vende para a Americanas, eldquo;e isso impacta diretamente os maiores fornecedoreserdquo;. De acordo com o presidente de um desses fabricantes de grande porte, a Americanas costuma pagar por artigos adquiridos num prazo de 60 a 90 dias após os produtos chegarem a seus estoques. Nesse intervalo, é comum a negociação dos recebíveis com bancos. Agora, quando se trata de Americanas, essa operação está sendo recusada. Neste cenário, já há empresas suspendendo vendas para a varejista. O líder de uma empresa de celulares interrompeu tanto vendas pelo marketplace da Americanas quanto para revenda diretamente pela varejista até eldquo;termos mais clarezaerdquo; do desfecho da situação. Até a semana passada, ele fornecia para a varejista por dois modelos: o chamado eldquo;1Perdquo;, no qual a Americanas é a revendedora de seus produtos, e o eldquo;3Perdquo;, pelo qual o fabricante vende seus produtos ao consumidor por meio do marketplace da varejista, mas fatura diretamente. No entanto, o repasse do pagamento é feito pela Americanas. Prazo esticado Em geral, fornecedores explicam que a Americanas costuma esticar ao máximo o prazo de pagamento, condição que é aceita pelos vendedores diante da escala da varejista no mercado. Agora, diante da incerteza trazida pela crise nas finanças da empresa, alguns fornecedores temem não receber o pagamento em aberto no prazo combinado. Com isso, decidiram só voltar a fornecer produtos quando esses débitos forem quitados. Os 30 dias de proteção contra vencimentos de dívidas obtidos pela Americanas na Justiça, conta um executivo, indicam que a empresa pode entrar em recuperação judicial. Ele avalia essa possibilidade como eldquo;péssimaerdquo; para os fornecedores porque a dívida passa a ter um desconto enorme e o pagamento pode ser feito em anos. Entre os fornecedores que mantêm entregas à Americanas há os que, no lugar do pagamento em até 90 dias, passaram a pedir o valor à vista, prática pouco comum no varejo, de acordo com executivos ouvidos pelo GLOBO. O maior impacto será visto na indústria de chocolates, um dos principais itens vendidos nas lojas físicas da Americanas, já que a de eletrodomésticos é mais pulverizada, contando com outros grandes revendedores, como Magazine Luiza, Mercado Livre e Via (dona de Casas Bahia e Ponto). Segundo Ulysses Reis, professor de varejo da FGV, a desconfiança pode levar mais fornecedores a pedirem pagamentos à vista, em menores prazos ou até mesmo com valores mais altos para compensar o risco atual: emdash; Quanto maior o valor do pedido a ser entregue à Americanas e o prazo de pagamento ao fornecedor, maior a desconfiança. Outro efeito em série, continua ele, é que se o abastecimento vindo de fornecedores encolher, poderá faltar produtos nas prateleiras: emdash; No varejo existe um termo para isso: custo de oportunidade. O consumidor vai uma vez buscar o que quer, se não encontrar e isso se repetir, ele desiste. Rede mantém pagamentos Mesmo no marketplace, onde os interessados se cadastram para vender seus produtos, que são faturados diretamente a clientes da Americanas, o movimento mudou. O diretor de uma fornecedora do setor de vestuário afirma não ter vendas computadas pelo canal desde quinta-feira. O executivo diz que eldquo;dois dias sem vender pode acontecer, mas não é comumerdquo;. Procurada, a Americanas afirmou que com sua atual posição de caixa, eldquo;seguirá pagando seus compromissos e obrigações com fornecedores criteriosamenteerdquo;. A varejista frisou ainda que sua operação gera valor e é um dos mais importantes canais de distribuição para centenas de fornecedores no país. Acrescentou que, com eldquo;forte relação de colaboração desenvolvida com parceiros e fornecedores ao longo de mais de 90 anoserdquo;, continuará a atender a seus mais de 53 milhões de clientes.

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Imposto sindical volta? A resposta é não, diz ministro do Trabalho

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse nesta quarta-feira (18) que não prevê a volta da obrigatoriedade da cobrança do imposto sindical pelo governo. eldquo;O imposto sindical volta? A resposta é nãoerdquo;, disse a jornalistas logo após discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a centrais sindicais. Segundo Marinho, um grupo de trabalho vai discutir como será a política de reajuste daqui em diante. eldquo;O grupo vai levar em consideração toda a situação econômica do paíserdquo; Lula assinou um despacho nesta quarta determinando que os ministérios enviem em 45 dias (prorrogáveis por mais 45) sugestões para a política do piso nacional.

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