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Gasolina E30: veja o que muda no combustível que chegará em breve às bombas

O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou na última sexta-feira (28/3) o relatório final da eldquo;Avaliação da utilização do percentual de 30% do etanol anidro na gasolina em veículos leves e motocicletaserdquo;, desenvolvido pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). O estudo confirma que a nova mistura, chamada E30, é viável. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressalta que os resultados da pesquisa fortalecem a política energética do Brasil, alinhando-a com os princípios de sustentabilidade e proteção ao consumidor. eldquo;O relatório confirma que podemos avançar na ampliação do uso do etanol na nossa matriz de combustíveis sem prejuízos para os consumidores. Isso fortalece o compromisso do Brasil com os biocombustíveis e com a nossa liderança global na transição energéticaerdquo;, afirmou. Os testes realizados pelo IMT analisaram os efeitos do aumento da proporção de etanol anidro na gasolina, de 27% para 30%. Os resultados indicam que essa alteração não gera impactos negativos significativos no desempenho dos veículos, na dirigibilidade, no consumo de combustível ou nas emissões. O estudo atende às diretrizes da Lei do Combustível do Futuro (14.993/24), que busca ampliar o uso de biocombustíveis como parte da estratégia de descarbonização e transição energética do Brasil. Modelos a gasolina foram avaliados com a nova gasolina A pesquisa incluiu a avaliação de 16 modelos de veículos leves e 13 motocicletas representativos da frota nacional, submetidos a testes em laboratório e em condições reais de rodagem. Foram analisados fatores como partidas a frio, estabilidade da marcha lenta, aceleração, retomadas de velocidade e emissões. Os resultados mostraram que os veículos abastecidos com E30 apresentaram comportamento semelhante ao da gasolina E27, comprovando a adaptação dos sistemas eletrônicos de controle e injeção, inclusive em modelos carburados. Nos ensaios laboratoriais, não foram registradas alterações significativas nas emissões de poluentes ou na autonomia dos veículos. Algumas pequenas variações estatísticas foram observadas, mas sem ultrapassar os limites regulatórios. O estudo conclui que a introdução da gasolina E30 pode ocorrer sem prejuízos aos consumidores e conforme as normas ambientais. A iniciativa contou com a participação de diversas entidades do setor automotivo e de biocombustíveis, incluindo ANP, ANFAVEA, ABRACICLO, ABEIFA, SINDIPEÇAS, UNICA e UNEM, entre outras. O relatório final servirá de base para as decisões do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sobre a ampliação do teor de etanol na gasolina. Nova gasolina E30 vai afetar o carro? Conforme o engenheiro Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira Engenharia Automotiva (AEA), os ensaios com a nova gasolina analisam diferentes aspectos. eldquo;São três categorias: dirigibilidade, onde testam-se os efeitos no automóvel, como a partida a frio e a condução do veículo; compatibilidade de materiais, onde se mede corrosão e resposta de materiais elastoméricos, injeção e afins; e emissõeseldquo;. Dessa forma, alguns efeitos são esperados. Por exemplo, o aumento do etanol na gasolina comum resultará em uma queima mais limpa no escape. Além disso, pode afetar o consumo dos veículos. eldquo;Com a adição de 3% de etanol na mistura, o motorista pode sentir diferença na autonomia total, que pode baixarerdquo;, explica o diretor da AEA. Além disso, modelos importados ou mais antigos podem levar mais tempo para se adaptar. Contudo, segundo o relatório do governo, as alterações registradas nos testes não foram significativas. Acesse o relatório completo dos testes neste link. (Jornal do Carro)

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Carro flex ou elétrico: veja a diferença de gastos com abastecimento

Você já deve ter ouvido que a vida é feita de escolhas, e no mundo automotivo existem várias delas a serem feitas. Uma delas, e de grande relevância, é escolher entre um modelo a combustão ou um elétrico. Com muitas opções disponíveis no mercado, decidimos comparar dois modelos parelhos em preço e mercado, e seus gastos de abastecimento, assim você pode decidir qual deles vale mais a pena. Para comparar os custos de abastecimento entre um VW Polo TSI e o BYD Dolphin, dois candidatos que, apesar de bem diferentes, disputam o mesmo público, é essencial analisar a autonomia e o consumo de cada veículo. O Polo TSI e o Dolphin possuem custos de abastecimento bem diferentes devido às suas motorizações. O VW, movido a combustão, (1.0 TSI de até 116 cv) tem consumo médio de 10,5 km/l com etanol e 15,1 km/l com gasolina, enquanto o BYD (versão GS, 80 cv), elétrico, faz cerca de 6,95 km/kWh de média. A autonomia do Polo varia entre 466 km (etanol, na cidade) e 789 km (gasolina, na estrada), enquanto o Dolphin percorre até 291 km com uma carga completa de sua bateria de 44,9 kWh. Quanto custa para abastecer os hatches? Para responder essa pergunta, trabalharemos com estimativas. Considerando os preços médios de R$ 6,00/l para gasolina, R$ 4,00/l para etanol e R$ 0,649/kWh para eletricidade, o custo por km do Polo TSI fica em R$ 0,381 com etanol e R$ 0,398 com gasolina, enquanto o Dolphin gasta R$ 0,093/km. Ou seja, rodar com o elétrico custa menos do que com o Polo TSI. Para um motorista que percorre 1.000 km por mês, o gasto mensal com combustível seria de aproximadamente R$ 381 no Polo com etanol, R$ 398 com gasolina e só R$ 93 no Dolphin. Esse valor demonstra a economia proporcionada pelo veículo elétrico, especialmente para quem roda bastante. Conclusão: elétrico custa menos, mas requer paciência do motorista Além da economia de abastecimento, o Dolphin também se destaca por ser livre de emissões e por ter menor custo de manutenção, já que motores elétricos possuem menos componentes sujeitos a desgaste. Entretanto, também não esconde seus pecados. A autonomia limitada e a infraestrutura de recarga ainda são pedras no sapato para alguns motoristas. Principalmente quando o assunto são grandes viagens. No geral, o Dolphin é mais econômico no dia a dia, mas o Polo TSI ainda pode ser uma opção mais prática para quem não quer depender de pontos de recarga ou precisa de maior autonomia para viagens longas. Seja como for, a escolha entre os dois depende do perfil de uso e da disponibilidade de infraestrutura elétrica para o motorista. (Jornal do Carro)

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Governo prepara decreto para endurecer regras contra fraudes na mistura de biodiesel no diesel

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara um decreto para endurecer as regras de distribuição de combustíveis e combater fraudes na mistura de biodiesel no diesel. O g1 teve acesso à minuta enviada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a Lula nesta quinta-feira (3). Notas fiscais A minuta regulamenta uma alteração na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), feita por lei sancionada em 2024. No decreto, o governo pretende determinar que as distribuidoras enviem notas fiscais de aquisições e retiradas de biodiesel de estoques próprios e de terceiros à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Hoje, as distribuidoras são obrigadas a adicionar biodiesel ao óleo diesel fóssil comprado das refinarias. A mistura obrigatória é de 14% do biocombustível e 86% de diesel, cujo produto é vendido nos postos aos consumidores. Como o biodiesel está mais caro que o diesel, desobedecer às regras e adicionar menos biocombustível à mistura pode se tornar uma vantagem comercial. Com a medida, o ministério quer aumentar a fiscalização da mistura e reduzir fraudes. No último mês, o setor de distribuição chegou a sugerir a suspensão da adição de biodiesel por 90 dias, mas o pedido não prosperou na ANP. Segundo o rascunho de decreto, que ainda pode sofrer alterações, caso a ANP identifique inconsistências na entrada e saída de biodiesel dos estoques, as distribuidoras envolvidas serão incluídas em uma lista pública de irregularidades. Além disso, podem ter o fornecimento de combustível suspenso até sanar as inconsistências. Créditos de descarbonização O texto também endurece as regras para os chamados eldquo;créditos de descarbonizaçãoerdquo; ou eldquo;CBIOSerdquo;. Esses créditos são gerados por produtores de biocombustíveis e correspondem a uma tonelada de carbono não emitido na atmosfera. Esses créditos podem ser adquiridos por qualquer pessoa ou empresa. Mas, no caso das distribuidoras de combustíveis, há metas anuais definidas pela ANP. Para as distribuidoras inadimplentes com as metas, a minuta de decreto proíbe a comercialização ou importação de combustíveis. Ou seja, suspende a novas operações pelas empresas. O texto também aumenta as multas aplicáveis, que podem variar de R$ 100 mil a R$ 500 milhões.

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Petróleo sobe com expectativa sobre tarifas e após dados de estoques nos EUA

Os contratos futuros do petróleo inverteram a trajetória de queda do início da sessão e fecharam a quarta-feira (2/4) em alta em meio aos últimos dados do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês), que mostram um aumento inesperado nos estoques de petróleo bruto nos Estados Unidos, causado pelo aumento das importações e pela redução da utilização da capacidade das refinarias do país. Na Intercontinental Exchange (ICE), o Brent para junho avançou 0,62% (US$ 0,46), alcançando US$ 74,95 o barril, enquanto o petróleo WTI para maio, negociado na New York Mercantile Exchange (Nymex), subiu 0,72% (US$ 0,51), fechando a US$ 71,71 o barril. O petróleo encontrou suporte recente na ameaça do presidente Donald Trump de impor tarifas secundárias sobre o petróleo russo, mas as atenções agora estão voltadas para as chamadas tarifas recíprocas, que atingirão amplamente os parceiros comerciais dos EUA e, para muitos, podem comprometer o crescimento e a demanda global. A escala e o escopo das tarifas ainda não são conhecidos, mas a Casa Branca afirmou que elas entrarão em vigor imediatamente após serem anunciadas, o que deve ocorrer por volta das 17h (horário de Brasília) desta quarta-feira (2). eldquo;O Brent atualmente está em uma montanha-russa, entre as novas tarifas de Trump, que prejudicam a demanda, e as novas sanções que restringem a oferta de produtores de petróleo como Irã, Venezuela e Rússiaerdquo;, diz Bjarne Schieldrop, analista-chefe de commodities do SEB. Além das tarifas recíprocas, os investidores aguardam a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), na quinta-feira. Os oito membros do grupo, que vêm aumentando gradualmente a produção, deverão discutir novos ajustes na oferta. Estoques de petróleo disparam nos EUA Em movimento contrário às expectativas do mercado, os estoques americanos de petróleo tiveram alta surpreendente de 6,165 milhões de barris na última semana, chegando a 439,792 milhões de barris. O DoE registrou aumento quando analistas do The Wall Street Journal projetavam queda de 700 mil barris. O relatório semanal mostrou cenário misto: enquanto os estoques de gasolina recuaram 1,551 milhão de barris (próximo do esperado), os destilados avançaram 264 mil barris (contra projeção de queda). A capacidade das refinarias caiu para 86%, abaixo dos 87,3% estimados, com Cushing registrando acúmulo de 2,373 milhões de barris. A produção diária subiu levemente para 13,580 milhões de barris. Com informações da Dow Jones Newswires. (Estadão Conteúdo)

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Be8 prepara para exportar biodiesel aos EUA ainda em 2025

A Be8 planeja fazer a primeira grande exportação de biodiesel para a Califórnia neste ano, afirmou à agência eixos o presidente da companhia, Erasmo Carlos Battistella. A produtora de biocombustíveis divulgou, nesta quinta-feira (3/4), que sua unidade de Passo Fundo (RS) se tornou a primeira empresa da América do Sul a receber a certificação da California Air Resources Board (Carb) para fazer a comercialização para o estado norte-americano. eldquo;Esta é, sem dúvida, mais uma conquista histórica para a Be8, porque o Carb é a agência de controle de qualidade do ar da Califórnia responsável por uma regulamentação ambiental extremamente rigorosa e reconhecida como uma das mais restritivas do mundoerdquo;, comemora. Para a companhia, a certificação abre as portas para o mercado californiano, um dos mais estratégicos e exigentes do setor, o que amplia também o leque de possibilidades de destinação do biocombustível. Hoje, a produção de biodiesel no Brasil é focada no atendimento da demanda nacional e depende dos mandatos de mistura com o diesel fóssil para crescer. O anúncio da Be8 chega um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a taxação de 10% sobre as exportações brasileiras, como parte do pacote de iniciativas protecionistas que inclui a adoção de tarifas de reciprocidade, com alíquotas equivalentes àquelas dos parceiros comerciais. A tarifa é a mais baixa aplicada pelo governo estadunidense e a mesma adotada para o Reino Unido. Para os países da União Europeia, a taxação será de 20%, e, para a China, 34%. Tarifa de Trump deve ter efeito limitado sobre biocombustíveis O imposto, a princípio, não afeta os planos de produtora de biodiesel de Passo Fundo. eldquo;A questão afeta todos os países, e Brasil está no grupo menos afetadoerdquo;, comenta o presidente da Be8. Reflete outras análises do mercado. A Argus, por exemplo, avalia que a taxação deve ter um efeito limitado sobre o setor de biocombustíveis. Desde 2023, não há nenhum fluxo de comércio de biodiesel entre Brasil e Estados Unidos. Já no caso do etanol, apenas 0,8% da produção nacional foi exportada para os EUA em 2024 e ela teve uma participação quase nula no suprimento doméstico, aponta a consultoria. Anteriormente, a tarifa era de 2,5%, enquanto no Brasil é de 18% sobre o produto estadunidense. A exportação foi destinada principalmente para o estado da Georgia em 2024, onde o produto é usado para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). Nos anos anteriores, a Califórnia foi um dos principais destinos do etanol de cana-de-açúcar brasileiro, por conta do prêmio dado ao etanol brasileiro pelo Carb.

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Etanol não deve ter impacto por estar na mira das tarifas de Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem implementado a política de tarifas para produtos importados e tem defendido as chamadas eldquo;tarifas recíprocaserdquo;, que visam aplicar as taxas equivalentes às importações desses países para os EUA. Entre os produtos que serão impactados está o aço. Também está na mira de Trump o etanol brasileiro. Em entrevistas recentes, o presidente dos EUA destacou que o imposto pago pelo etanol americano, para entrar no Brasil, era de 18%, enquanto o brasileiro, nos EUA, pagava apenas 2,5%. Mas essa perspectiva não preocupa a indústria de etanol nacional, até porque a quantidade exportada para os EUA emdash; pouco mais de 300 milhões de metros cúbicos emdash; poderá ser absorvida internamente, com estímulos ao aumento do consumo de etanol hidratado e também com a perspectiva de elevação do percentual de etanol anidro na gasolina, que deverá passar dos atuais 27% para 30%, conforme a Lei do Combustível do Futuro. eldquo;A participação do etanol brasileiro é pequena nos Estados Unidos e a possibilidade de tarifas recíprocas não é uma preocupação do mercado de etanol no Brasil. Por essa razão, não estamos preocupados sobre eventuais mudanças nas tarifas recíprocaserdquo;, disse Martinho Ono, CEO da SCA Brasil, consultoria especializada em biocombustíveis. Nesta entrevista exclusiva, o executivo, que está à frente da SCA desde 2007, e teve passagens pela Esso, Ale e Copersucar, analisa o mercado de etanol nacional e aborda suas perspectivas e desafios. Ono também fala sobre o mercado de biodiesel, estacando que o Brasil está na eldquo;vanguarda dos biocombustíveiserdquo; endash; porém, reconhece problemas que ainda precisam ser endereçados. Acompanhe os detalhes da conversa com a revista Combustíveis eamp; Conveniência: Combustíveis eamp; Conveniência: Em sua avaliação, de que forma as tarifas recíprocas defendidas pelo governo norte-americano podem impactar o mercado de etanol nacional? Martinho Ono: Existem segmentos que serão mais impactados pelas tarifas recíprocas aplicadas pelos EUA, como o aço, por exemplo. Mas, sobre essa tarifa de reciprocidade no etanol, hoje temos tributação de 18%, aplicada pelo governo brasileiro e também pelo Mercosul. Isso significa que produtos que vêm de fora, especialmente o etanol americano, têm essa taxação. Por outro lado, os Estados Unidos também impõem uma tarifa ao etanol importado do Brasil que, atualmente [entrevista realizada em 27 de março], é de 2,5%. O Brasil tem algumas vantagens em pré-requisitos determinados pelos EUA, como o fato de produzir um etanol de baixo carbono, a partir da cana-de-açúcar, que é certificado. Quanto à possibilidade de mudança de tarifas, caso os EUA de fato optem pela taxação recíproca, o impacto para o Brasil será baixo, uma vez que as exportações para os Estados Unidos são consideradas pequenas dentro do volume de produto produzido pelo setor. Em 2024, por exemplo, nós exportamos pouco mais de 300 milhões de litros, um volume que representa menos de 1% de toda a produção brasileira. Por outro lado, se o Brasil abrir mão desta tarifa, é muito provável que a entrada do etanol americano seja muito grande, especialmente no mercado do Norte e do Nordeste do país, onde há uma produção menor. Isso poderia ser um problema, porque o etanol chegaria a uma tarifa menor daquela em que é comercializado nestas localidades. Ceamp;C: O presidente dos EUA argumenta que a razão de taxar o etanol é justamente a diferença de tarifas. O senhor considera que existe possibilidade de o Brasil reduzir a atual taxação? MO: Existiria a possibilidade de baixar, claro, mas, mesmo se os EUA colocarem uma taxa recíproca de 18%, o Brasil não teria grande prejuízo. Isso porque o volume exportado do Brasil para os Estados Unidos é baixo, como já citado. Por outro lado, se o Brasil liberar os 18% e não cobrar mais, temos uma perspectiva de um volume enorme de etanol americano que entraria no Brasil. O que temos que levar em consideração, e é o que o Brasil defende, é que o nosso etanol de cana, em termos de pegada de carbono, é muito superior ao etanol norte-americano. E, também vale o mesmo argumento para o etanol de milho no Brasil. Além disso, na produção nacional, não usamos energia de origem fóssil em caldeiras ou usinas, já que temos a biomassa. Ceamp;C: Então, em termos de descarbonização, o etanol brasileiro é mais limpo? MO: Sim, o etanol de cana é, reconhecidamente, um produto melhor, pelo fato de ser uma cultura semiperene, feita de 5 a 7 safras, com um processo mais aprimorado em termos de descarbonização. Além disso, temos outras alternativas para geração de energia por meio da biomassa. Então, existe um benefício muito melhor do que o etanol americano, em relação ao milho brasileiro, que é crescente, versus o etanol de milho americano também. Nós somos melhores, porque o etanol de milho no Brasil é predominantemente da elsquo;safrinhaersquo;, ou seja, depois que se colhe a soja, o milho vem na segunda safra. Portanto, todo o ônus da primeira safra é atribuído à soja, e depois temos o milho, que tem pouca pegada de carbono na sua produção. Além disso, as usinas brasileiras não usam gás, como nos EUA, mas sim biomassa. Então, mesmo na comparação do etanol de milho americano com o brasileiro, temos uma menor pegada de carbono, ou menor emissão, em termos de CO2, no ambiente. E, além das emissões na produção, ainda existe o custo de transportar o etanol do meio oeste americano até a costa brasileira, queimando combustível fóssil. Ceamp;C: Se a medida for, de fato, aplicada pelos EUA, a exportação brasileira pode diminuir? Se isso ocorrer, sobrará mais produto no mercado interno, o que poderia trazer a perspectiva de redução de preços? MO: Não, não irá sobrar produto no Brasil, pois o volume que nós exportamos para os Estados Unidos não chega a 1% da produção nacional. Então, essa medida não traz grandes impactos ao mercado. Ceamp;C: O excedente que deixará de ser exportado pode ser absorvido pelo aumento do teor de etanol anidro na gasolina? MO: Sim, pode ser absorvido pelo mercado nacional, tanto como anidro quanto como hidratado. Importante lembrar, também, que as exportações que fazemos, para os Estados Unidos, são exclusivamente de etanol anidro, o mesmo produto que é adicionado à gasolina A, para composição da gasolina C. De qualquer forma, o mercado brasileiro tem condição, sim, de absorver esse excedente, caso ocorra a inviabilização de exportações para os EUA. Ceamp;C: Quais são os desafios e as oportunidades que o setor de etanol brasileiro pode enfrentar devido às políticas tarifárias dos EUA? MO: A importação atual dos EUA não é muito representativa, como já mencionamos. Então, não devemos esperar grandes impactos. Como desafio, coloco as seguintes questões: o Brasil está sempre aberto e fazendo intercâmbio com vários países do mundo. Nestes últimos dias [final de março] o setor de etanol esteve no Japão, para divulgar o conceito de misturar etanol anidro na gasolina. Já fizemos isso na Índia, na Tailândia, Indonésia e Caribe, por exemplo. Estamos constantemente difundindo o conceito de misturar uma energia renovável na gasolina. O Brasil tem grande experiência e sucesso nisso, e temos essa missão de ensinar as demais nações sobre como usar o etanol anidro na gasolina. Internamente, vejo no Brasil, ainda, uma enorme oportunidade de aumentar o consumo de etanol. Os estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais são os que mais consomem etanol hidratado. Os demais estados do Brasil ainda têm uma participação muito pequena de etanol hidratado e esse é um desafio que nós temos. Ceamp;C: O aumento da taxa, do lado dos EUA, pode trazer algum impacto ao país e contribuir para o aumento da inflação? MO: Não vejo nenhum impacto para o Brasil. A projeção é de que nós tenhamos um preço da gasolina inferior, com a adição de 10% a mais na mistura de etanol anidro, em relação ao percentual atual. Então, não há uma preocupação, pois a perspectiva é termos um etanol mais barato internamente, com a questão tarifária. Vale explicar que a gasolina A tem ma tributação de R$ 0,89, considerando PIS/ Cofins e Cide, e o etanol anidro não tem Cide. Além disso, o PIS/Cofins é de R$ 0,13. Então, estamos falando de uma relação de R$ 0,89 e R$ 0,13 endash; lembrando que os R$ 0,13 serão R$ 0,19 a partir de maio, mas ainda assim existe uma importante diferença tributária. Para os EUA, a mudança tarifária pode impactar mais o estado da Califórnia, onde há uma legislação em que o etanol brasileiro atende às metas de descarbonização de melhor forma do que o produto americano. Aliás, a Califórnia é o estado norte-americano que mais importa etanol brasileiro, mas, mesmo assim, essa quantidade, dentro da produção do Brasil, é bastante pequena, pouco representativa. Ceamp;C: Qual a sua visão sobre o aumento da mistura do etanol anidro à gasolina para 30%? MO: Vejo de forma muito positiva, pois, além de fomentar o desenvolvimento e maior uso do biocombustível, a mistura pode reduzir o preço final do produto, uma vez que o etanol anidro é mais barato do que a gasolina e existe a questão tributária, como já mencionado. Além disso, sob o ponto de vista de qualidade, não há nenhum prejuízo ao consumidor. Os testes feitos tiveram apoio da Anfavea e outros segmentos e entidades de classe que têm representatividade no mercado, como motocicletas e motores de barcos, entre outros. Então, temos essa chancela de qualidade para apoiar o aumento de teor, sem riscos aos usuários. Além disso, do ponto de vista ambiental, a gasolina com maior teor de etanol anidro deve resultar em menos emissões de gases de efeito estufa. Estes são os benefícios que estamos enxergando com a elevação do percentual de anidro na gasolina. Ceamp;C: Existe de fato uma perspectiva de redução de preço da gasolina C, uma vez que o poder calorífico da gasolina e do etanol são diferentes? MO: Sim, haverá uma redução pequena de preço, mesmo considerando o poder calorífico dos dois combustíveis (e a gasolina neste quesito é mais eficiente). Se considerarmos a tributação atual, na qual a gasolina tem 3% a mais do que o etanol anidro, existem diferenças. A gasolina, hoje, considerando o custo médio nacional, tem um imposto federal de R$ 0,89. É uma diferença pequena, considerando este aspecto do poder calorífico, mas ainda assim o preço deve ficar menor para o consumidor, em função dos tributos. A economia financeira pode ser pequena, mas existe e é preciso considerar a vantagem e os ganhos ambientais. Ceamp;C: Esse aumento de 30% de etanol anidro na mistura com a gasolina pode comprometer o volume de exportação do etanol brasileiro? MO: A elevação do teor de anidro de 27% para 30%, pelos nossos cálculos, vai gerar uma demanda adicional de etanol anidro da ordem de 1,2 bilhão de litros. É um volume superior ao que temos atualmente, com o E27. Nossas exportações não ficarão comprometidas. No ano passado, essas exportações alcançaram pouco mais de 1,5 bilhões. Com a maior necessidade de etanol anidro no mercado nacional, para adição à gasolina, se a produção brasileira não crescer e ficar no mesmo nível, o etanol hidratado é que seria produzido em menor quantidade. Acho que as exportações brasileiras poderiam acontecer no mesmo volume, verificando a questão da arbitragem. Ou seja, se é um produto que é exportado com valor maior que no mercado interno, a gente exporta; se não, não exporta. Esse é um balanço que precisa ser feito. Ceamp;C: Quais inovações podem impulsionar a indústria de etanol no Brasil? A elevação de taxas pode desacelerar o desenvolvimento de novas tecnologias para o setor? MO: O que precisamos, no Brasil, é de maior previsibilidade e segurança jurídica. Por exemplo, agora, com a Lei do Combustível do Futuro aprovada, entendemos que teremos esses quesitos atendidos, para dar segurança aos investidores e empresários, no sentido de planejarem um programa de longo prazo. Não podemos ficar à mercê de políticas que podem mudar; precisamos desta previsibilidade. No Brasil, inclusive, precisamos melhorar muito em relação à política de previsibilidade de preços da Petrobras. A cada governo, surgem novos critérios de reajustes de preços, o que prejudica muito o mercado. Como exemplo, atualmente vemos os preços do óleo diesel no Brasil muito superiores aos do mercado internacional. Com isso, o mercado produtor brasileiro não enxerga uma sinergia, no sentido de ter maior previsibilidade para investimentos. E estamos falando de petróleo, uma commodity largamente comercializada no mercado internacional. Entendemos que o Brasil deveria acompanhar esta política, o que não tem acontecido. As defasagens prejudicam enormemente o mercado. Ceamp;C: Como a SCA analisa o aumento da mistura do biodiesel ao diesel, conforme determina a Lei do Combustível do Futuro? O país pratica uma política protecionista para com o setor produtivo, sem exportações do produto. Por sua vez, o biodiesel, em diversos períodos, tem preços mais altos do que o diesel, o que representa um atrativo para as fraudes do setor de combustíveis. Qual é sua avaliação? MO: No Brasil, o biodiesel é produzido, predominantemente, a partir do óleo de soja, cujo preço depende, por sua vez, de cotações internacionais. Então, o preço pode sofrer oscilações, como também acontece com o etanol, produzido a partir de um produto agrícola. Por exemplo, se pensarmos somente em etanol de milho no Brasil, podemos imaginar que se o milho tiver um preço elevado no mercado internacional, isso poderia comprometer o etanol. Com relação às fraudes neste mercado, infelizmente estamos vendo muitas distribuidoras e importadoras fazendo a comercialização do produto (diesel B) sem a adição do biodiesel, ou com mistura parcial, melhorando sua competitividade. Porém, é preciso lembrar que temos regras claras sobre o teor da mistura e precisamos de ações mais ostensivas da fiscalização, para garantir que o produto está sendo entregue e comercializado conforme sua especificação. A adição de biodiesel ao diesel é mais um exemplo que demonstra que o Brasil está na vanguarda dos biocombustíveis, priorizando fontes renováveis na matriz. Vemos isso de forma muito positiva, mas, como dito, precisamos que os órgãos fiscalizadores atuem de forma ostensiva para evitar adulterações e irregularidades, que possam prejudicar um programa [Combustível do Futuro] que foi amplamente discutido com a sociedade e assim aprovado, e ao qual somos totalmente favoráveis. Ceamp;C: E qual a avaliação do setor sobre questões de qualidade do biodiesel? Qual o teor de adição do biocombustível ao diesel a SCA considera seguro? MO: Entendemos que existem problemas, mas, do ponto de vista do produtor, todas as exigências de especificação e de qualidade do produto são seguidas. Algo que observamos é que, além das questões de manutenção, os problemas acontecem em maior proporção em misturas com o diesel S500, onde o maior teor de enxofre eldquo;brigaerdquo; com o biodiesel. No S10 não há constatação de problemas. Também existem problemas em máquinas agrícolas, equipamentos estacionários, mas, em nossa visão, a grande questão não é a qualidade do biodiesel, que inclusive exportamos para outros mercados, mas, sim, o fato de o produto ficar armazenado por muito tempo. Nosso produto é aceito no mercado internacional e está de acordo com a atual legislação da ANP.

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