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Tributação leva refinaria a parar produção de combustível

A SSOil, uma refinaria instalada no interior paulista, vive uma situação inusitada. O diretor-presidente, Ricardo Moura Jr, avalia no momento manter a empresa aberta, mas sem vender uma gota de combustível e derivados de petróleo. Seus advogados afirmam que isso ocorre porque a companhia não consegue competir em igualdade com a Petrobras, que desfruta do direito de usar créditos tributários de ICMS no refino de combustíveis derivados, como gasolina e óleo diesel. Essa assimetria, afirmam, existe porque a legislação do ICMS vedou o uso de créditos tributários gerados na compra de insumos para a produção de combustíveis e derivados. A regulamentação não deixou claro, entretanto, se a atividade do refino pode ser enquadrada nesse regime, chamado de monofásico e que vale para o diesel, biodiesel, gás, gasolina e etanol. A discussão segue no Supremo Tribunal Federal. Refinarias privadas também foram à Justiça isoladamente alegando existir concorrência desleal porque, no caso da Petrobras, ela não recolheria o imposto porque o insumo é produzido por ela mesma. Em São Paulo, o governo também concedeu créditos para a estatal. As competidoras pedem isonomia. Afirmam que, no refino, existe uma bitributação. Como têm de adquirir o insumo (petróleo), vendido em sua maioria pela Petrobras, pagam o ICMS e, na hora da venda do produto acabado, também há incidência do imposto. Por essa lógica, a SSOil afirma ter recolhido R$ 14 milhões em ICMS. Se desfrutasse do mesmo benefício da Petrobras, teria de pagar R$ 4 milhões. A empresa é uma das que foi à Justiça. Com decisão desfavorável, vai recorrer ao STJ. Enquanto isso, decide colocar a fábrica no módulo "pause" para salvar o caixa até uma decisão favorável. A companhia está instalada na cidade de Coroados, noroeste de São Paulo.

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Tanqueiros suspendem greve por 24h e retomam transporte de combustíveis no ES

O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Espírito Santo (Sindirodoviários) suspendeu por 24 horas, a contar a partir das 13h desta segunda-feira (31), a greve dos tanqueiros, profissionais do setor de transporte de combustíveis, deflagrada no início da manhã. Em conversa com a reportagem de A Gazeta, o presidente do Sindirodoviários, Marcos Alexandre, afirmou que a categoria vai se reunir à tarde com o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas Líquidas, Inflamáveis, Gasosas, Corrosivas, Químicas e Petroquímicas no Estado do Espírito Santo (Sindliques) para discutir, novamente, questões salariais da categoria. "Vamos conversar novamente e avaliar se a greve vai voltar amanhã (terça-feira) ou se vamos aceitar a proposta das empresas" - Marcos Alexandre, Presidente do Sindirodoviários Entenda a greve Os tanqueiros, profissionais do setor de transporte de combustíveis, iniciaram uma greve na madrugada desta segunda-feira (31) no Espírito Santo. O edital de convocação para o ato foi publicado na última sexta-feira (26) pelo Sindicato dos Rodoviários (Sindirodoviários). Apesar de ter sido convocada pelo Sindiroviários, que também é o responsável pelos motoristas de ônibus, a greve não afeta os motoristas do Sistema Transcol. Nesta segunda-feira (31), os motoristas se reúnem na portaria da Vale, na Serra. No vídeo enviado pelo Sindirodoviários é possível ver várias carretas de combustível paradas no local. O texto do edital destaca que não houve acordo entre a categoria e a classe patronal em relação a negociações trabalhistas e salariais. "A reivindicação dos trabalhadores é por 15% de aumento no salário, 15% de aumento no ticket alimentação, ticket nas férias e R$ 5,00 por boca no caminhão", explicou Miguel Leite, diretor do Sindirodoviários. "Se a carreta tiver três bocas, a empresa paga ao motorista R$ 5,00 a cada vez que ele encher o tanque. Porque é o próprio motorista que abastece na distribuidora. Ele chega lá e já tem a nota, tudo, tem o acesso, eles mesmo liberam a boca do tanque e eles mesmo que enchem, correm um perigo danado e querem receber R$ 5,00 por boca. Eles dão duas viagens em um dia, seriam R$ 30 que eles ganhariam em um dia pelas bocas, é um direito do trabalhador, já tem empresa que paga", completou. Estão convocados para a greve todos os motoristas de empresas do setor de transporte de cargas líquidas, inflamáveis, gasosas, corrosivas, químicas e petroquímicas. Em nota enviada à reportagem de A Gazeta, o Sindipostos informou que o setor acompanha o desenrolar da paralisação anunciada. "Os postos, assim como a sociedade, são vítimas nesse processo e pouco tem a fazer. Esperamos que os 30% exigidos por Lei seja cumprido e que os manifestantes não bloqueiem a saída das bases para o abastecimento mínimo aos postos de combustíveis e à sociedade", manifestou o Sindipostos. "Os postos em geral renovam seus estoques a cada dois dias. Sendo assim, se a greve durar mais do que isso pode impactar a normalidade do fornecimento de produto à sociedade."

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Nova política de preços da gasolina põe etanol em xeque

A queda dos preços da gasolina no país, consequência da política centrada no peso do combustível na inflação, colocou o etanol hidratado em xeque. Mesmo competitiva nas bombas, a alternativa mais limpa e renovável vem perdendo espaço para a rival fóssil. A queda das vendas e do preço do etanol começa a afetar as margens operacionais das usinas sucroalcooleiras e realimenta discussões sobre o futuro da matriz energética brasileira. Consultorias apontam que a gasolina comercializada nos postos está cerca de 25% mais barata que no mercado externo, e os preços mais baixos, volta e meia realçados pelo presidente Lula e outros representantes do governo, têm seduzido os motoristas. Enquanto a venda do etanol nos postos engasga, a da gasolina dispara, obrigando o governo a aumentar compras no exterior. As importações da Petrobras, segundo relatório de produção e vendas da empresa, cresceram 642,9% no segundo trimestre e 228,6% no primeiro semestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior. Já as vendas de etanol hidratado das usinas recuaram mais de 10% desde abril, mês que marca o início da safra 2023/24. Executivos do segmento afirmam que o metro cúbico do combustível chegou a sair de unidades produtoras no primeiro trimestre da temporada por pouco mais de R$ 2 mil, metade do valor do mesmo período do ciclo 2022/23. eldquo;No etanol, nossas margens estão negativas. Há muita propaganda por aí de que os preços da gasolina estão mais baixos, mas uma defasagem de 25% entre o produto vendido aqui e o comercializado no mercado externo é muita coisa. Se a defasagem estivesse entre 5% e 10%, tudo bem. Mas 20%, 25%, é demaiserdquo;, disse um graduado diretor de uma grande empresa sucroalcooleira ao IM Business. Plinio Nastari, fundador e CEO da consultoria Datagro e um dos maiores especialistas no segmento sucroalcooleiro do país, calculou a defasagem em 26,3%, na última quinta-feira, e considera esse patamar muito significativo. eldquo;Afeta a competitividade do etanol hidratado, cujos preços estão baixos. É fato que o consumidor prefere gasolina mais barata, mesmo subsidiada, mas essa distensão não é sustentável no longo prazo e pode ter consequências sérias para o país como um todoerdquo;, afirmou. O cenário é negativo para as usinas nessa frente mesmo considerando a receita gerada pelos CBios, os créditos que as produtoras podem gerar quando fabricam etanol (cada crédito representa uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitida) e as distribuidoras de combustíveis têm que comprar para cumprir suas metas de descarbonização. Do início do ano até 21 de julho, foram emitidos 17,8 milhões de CBios, segundo dados registrados na B3. A política de preços da Petrobras, anunciada em maio, permanece uma incógnita para o mercado. Desde que passou a valer, a paridade com as importações foi abandonada e a estatal já reduziu o preço da gasolina nas refinarias três vezes. Um erro de calibragem nos subsídios pode não só afetar o resultado da Petrobras, como ocorreu no governo Dilma, mas também desestruturar o setor sucroalcooleiro, que até agora não tem sido penalizado na bolsa. Até agora três fatores têm contribuído para mitigar, em parte, os efeitos negativos da política de preços da gasolina sobre as usinas sucroalcooleiras. Primeiro: as usinas têm tido bom resultado com o açúcar, que subiu cerca de 30% nas bolsas internacionais no primeiro semestre. Segundo: as vendas de etanol anidro, que é misturado à gasolina, também cresceram com a maior demanda pelo combustível fóssil. E, por último, as usinas devem também ter um alívio nos custos de insumos agrícolas, que foram um fator de pressão sobre os resultados na safra 2022/23, quando preços de fertilizantes subiram muito, primeiro pelo desarranjo da logística nas importações, com a eclosão da Covid, e depois com a invasão da Ucrânia. Na B3, o comportamento das ações da Petrobras e dos grupos sucroalcooleiros listados não refletem os efeitos da política sobre a empresa de controle estatal e sobre o setor de açúcar e álcool. No ano, até 28 de julho, as ações ON da Petrobras subiram cerca de 38%, ao passo que os papéis de Raízen avançaram 14,5% e os de São Martinho, 24,9%. As três empresas foram procuradas, mas preferiram não conceder entrevistas. Em relatório recente, a equipe da XP Research estimou crescimento de 52% na receita líquida da São Martinho com açúcar e queda de 57% da receita líquida com etanol de abril a junho, período em que o etanol pesou mais negativamente sobre os resultados das usinas, segundo analistas.

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Petróleo encerra julho com o maior ganho mensal em um ano e meio

O petróleo fechou em alta nesta segunda-feira (31), em meio ao otimismo de que os principais bancos centrais possam estar chegando perto do fim do aperto monetário, e com perspectiva de aumento na demanda e restrição na oferta no radar. Com isso, o petróleo encerra julho com o maior ganho mensal em um ano e meio. O contrato do WTI para setembro fechou em alta 1,51% (US$ 1,22), a US$ 81,80 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex). No mês, o contrato mais líquido do WTI acumulou alta de quase 16%. Já o Brent para setembro subiu 0,67% (US$ 0,57), a US$ 85,56 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE), acumulando alta de mais de 13% no mês. eldquo;Os preços do petróleo estão terminando um mês sólido em alta, já que as perspectivas de demanda permanecem impressionantes e ninguém duvida que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) manterá este mercado apertadoerdquo;, escreveu o analista da Oanda Edward Moya. eldquo;O mercado de petróleo está vendo o melhor mês desde o início de 2022, já que a maioria dos principais bancos centrais parece estar no fim de seus ciclos de apertoerdquo;, disse ele, depois que o mercado digeriu leitura mais fraca que o esperado do índice de gerentes de compras (PMI) dos Estados Unidos, que fez crescer aposta em pausa do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) em setembro. A valorização da commodity é apoiada hoje também pelas expectativas de aumento na demanda, depois que o Goldman Sachs publicou relatório em que estima que a demanda global atingiu um recorde histórico de 102,8 milhões de barris por dia neste mês e eleva sua previsão para 2023 em cerca de 550 mil barris por dia. eldquo;Essa atualização reflete principalmente a demanda firme e de alta frequência de petróleo e as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) da Índia e dos EUA, o que mais do que compensa o rebaixamento das estimativas para Chinaerdquo;, diz o banco no documento. Ao mesmo tempo, a sessão foi marcada pela divulgação de números que sugerem redução na oferta. O relatório do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) dos EUA que informou recuo modesto na produção de petróleo e nos estoques em maio. A Reuters reportou que os membros da Opep obrigados a limitar a produção de petróleo bombearam em maio 540 mil barris por dia a menos que em abril. A produção total da Opep caiu 460 mil barris por dia e a produção de abril foi revisada para baixo em 150 mil barris por dia.

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BC começa a reduzir juros nesta quarta-feira, aposta mercado

Às vésperas da 5ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, que começa nesta terça-feira (1/8) e termina na quarta (2/8), não há dúvidas entre analistas e agentes financeiros de que o Banco Central (BC) iniciará um novo ciclo de redução da taxa básica de juros, a Selic, que está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. As dúvidas são sobre o tamanho do corte, com as apostas do mercado divididas entre 0,25 e 0,50 ponto percentual. A possibilidade de uma redução maior é praticamente descartada pelos analistas. A maioria dos economistas ouvidos pelo Correio acredita numa diminuição de 0,25 ponto na Selic, que cairia para 13,50%, e numa posterior queda gradual, mesmo com os indicadores de inflação em franca desaceleração. Incertezas econômicas, piora nas contas públicas e ruídos políticos são alguns dos alertas que embasariam a postura mais conservadora do BC. As atenções do mercado estarão voltadas para o comunicado que será divulgado pelo Copom na quarta-feira, pois a expectativa é de que a decisão sobre o novo patamar da Selic não será unânime. Há dois novos integrantes no colegiado: o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, e o diretor de Fiscalização, Ailton de Aquino Santos, os primeiros escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem poupado críticas ao BC. Com a previsão de um ciclo gradual de redução, analistas não descartam a possibilidade de a Selic chegar ao fim de 2024 ainda próxima de 10%. A mediana das estimativas do mercado coletadas pelo BC no boletim Focus prevê os juros básicos terminando em 12% neste ano, passando para 9,50% no fim do ano que vem. Por isso, há muita preocupação no governo com a perspectiva de que a política monetária continue restritiva e segurando atividade econômica. Isso em um cenário no qual a politica fiscal precisará ser menos expansionista emdash; e não apenas por conta do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, que ainda não estão definidos, o que não permite estimar seu impacto sobre a despesa púbica. A certeza é de que o Produto Interno Bruto (PIB) vai desacelerar no ano que vem, ou seja, o governo vai arrecadar menos, enquanto os gastos permanentes não param de aumentar emdash; um sinal amarelo para o Copom. BC deve manter cautela e queda será gradual As projeções do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, ainda estão acima do teto da meta deste ano, de 4,75%, o que pode significar o terceiro descumprimento consecutivo da meta pelo BC. Analistas recordam que, na ata da última reunião, em junho, o Copom sinalizou que poderia iniciar o ciclo de cortes em agosto, mas reforçou que o processo desinflacionário tende a ser lento e requer "parcimônia e cautela na condução da política monetária". Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que o comitê tem motivos para continuar cauteloso. O objetivo é alcançar o centro da meta de inflação, de 3%, em 2024. "A trajetória de inflação é claramente de queda, tanto a inflação cheia quanto os núcleos. A dúvida, para o Copom, é o ritmo de convergência para a meta. O Banco Central tem espaço para flexibilizar a taxa de juros. Isso é consenso. A questão é se vai cortar 0,25 ou 0,50 ponto percentual. Como os núcleos ainda estão rodando em um patamar de 6,5% a 7% ao ano, o Banco Central deve se manter cauteloso", diz Padovani. Divergências no colegiado Para Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust, qualquer divergência na decisão do Copom será um péssimo sinal para o mercado. Por isso, ele acredita ser provável que o presidente do BC, Robero Campos Neto e Galípolo votem pela mesma intensidade da queda dos juros "para evitar um impacto negativo nos mercados e melhorar as expectativas e prêmios de risco". Na avaliação dele, pode se repetir, no Copom, o pragmatismo mostrado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na reunião de junho emdash; quando Campos Neto, o ministro Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, votaram pela manutenção da meta de inflação de 3% para os próximos três anos, alterando apenas o prazo, que passou a ser contínuo e não mais vinculado ao ano calendário. Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, destaca que os operadores de mercado estão mais otimistas do que os economistas nas projeções sobre o corte dos juros. Para ele, é muito difícil uma redução acima de 0,50 ponto percentual agora, pois a ata da última reunião indicou que há, no colegiado, um grupo mais cauteloso sobre a condução da política monetária. "Não é novidade essa cautela, e o dado do mercado de trabalho de sexta-feira (que indicou queda no desemprego, portanto, um fortalecimento da demanda) alimenta o discurso parcimonioso do Banco Central", frisa. Preocupações com riscos fiscais e El Niño Apesar de prever corte de 0,25 ponto percentual na Selic, Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não descarta uma redução maior, de 0,50 ponto, tendo em vista os dados de inflação melhores do que o esperado. Contudo, faz algumas ressalvas. "Há riscos para ano que vem que ainda são difíceis para o BC colocar na conta, especialmente o fenômeno climático El Niño, que pode elevar os preços das commodities de novo. É muito provável que a inflação fique acima de 3% em 2024. Talvez, o BC trabalhe com esse cenário de risco para ir com calma no processo de corte de juros. De qualquer maneira, vai ser uma decisão marcada por divergências que certamente ocorrerão com os novos diretores", observa Vale. De acordo com José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, é preciso incluir nas apostas para o próximo Copom o ruído político provocado no mercado, na semana passada, pela indicação do economista Márcio Pochmann, ligado à ala mais à esquerda do PT, para o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, comandado por Simone Tebet. Foi uma decisão unilateral de Lula, que fragilizou a posição de Tebet, cujo apoio foi decisivo para a vitória do petista nas urnas em 2022. O episódio, segundo Gonçalves, pode atrapalhar o avanço de pautas econômicas no Congresso, neste segundo semestre. Economista-chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus não tem dúvida de que as condições para o corte da Selic estão dadas, mas alerta para os riscos à frente, especialmente após a piora dos dados das contas públicas, que voltaram para o campo negativo em junho. Ele ressalta que, apesar da melhora das avaliações de risco país de algumas agências de risco, como a Fitch Ratings, "ainda há preocupação com os custos dos serviços, devido ao aquecimento do mercado de trabalho". "É neste ponto que o BC pode continuar cauteloso, sancionando um corte de 0,25 ponto percentual", afirma. Trava na economia O presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa, ressalta que a Selic está em um patamar elevado por um período muito prolongado (quase um ano) e isso tem impactos não apenas na economia, mas também na dívida pública. Conforme dados do BC, a dívida bruta somou R$ 7,59 trilhões em junho, o equivalente a 73,6% do PIB. Dantas torce para um corte de, pelo menos, 0,50 ponto na Selic, e lembra que o crédito está escasso, em grande parte, também devido à concentração do mercado, pois a maioria da população já paga juros muito acima da Selic e a taxa de juros real (descontada a inflação) está muito alta. A apesar de ter a terceira maior taxa básica nominal do G20, grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes, mais a União Europeia, o Brasil lidera o ranking global de juros reais e tem um custo de crédito muito maior do que a média global. Conforme dados do Banco Central divulgados na semana passada, os custos médios anualizados do crédito pessoal não consignado e do rotativo do cartão de crédito estão em 91,2% e em 437,3% ao ano, respectivamente. "O que acontece com as taxas de juros no Brasil é bem diferente do que ocorre no mundo lá fora. Temos um delta bem significativo em relação à inflação, e os juros têm características próprias. Entretanto, não há justificativa para taxas tão altas", afirma Dantas. Para ele, o nível atual dos juros tem "consequências maléficas para a economia e trava o investimento". "Em comparação com os Estados Unidos, o Brasil tem um mercado de crédito muito concentrado, com 80% nas mãos de apenas seis bancos", lamenta. Críticas Por conta do freio de mão dos juros sobre a atividade econômica, o Banco Central virou o vilão da vez nas críticas do presidente Lula e de apoiadores ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. No mercado financeiro, no entanto, a visão é diferente. Em entrevista recente ao Correio, o economista Alberto Ramos, diretor do Grupo de Pesquisa Macroeconômica para a América Latina do banco norte-americano Goldman Sachs, afirmou que Lula ainda vai agradecer a Campos Neto por controlar a inflação. Na avaliação dele, o remédio dos juros é "amargo", mas está em uma dose "que não mata o paciente", ao contrário do que dizem os críticos. "Nunca é demais repetir que inflação baixa e estável é a melhor contribuição que o Banco Central pode dar para um ciclo de crescimento robusto, sustentável e socialmente inclusivo", destacou Ramos.

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Dirigente da UNICA defende estabilização de políticas pró-biocombustíveis

Para Luciano Rodrigues, diretor de Economia e Inteligência Setorial da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), a estabilização de políticas que incentivem a produção sustentável, de forma a reduzir as emissões de carbono, é um dos pontos importantes para assegurar um planejamento que permita aumentar a competitividade e produtividade do etanol. O assunto foi pauta do eldquo;II Encontro Técnico: Produtividade endash; A essência Para Competirerdquo; promovido pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em conjunto com a consultoria técnica Canaplan, nesta quinta e sexta-feira (27 e 28), em Piracicaba endash; SP. Rodrigues aponta a existência de dois vieses no segmento. eldquo;Um do alimento, do açúcar, onde tem menos envolvimento de políticas públicas. Nós estamos competindo com outros produtores. O Brasil detém cerca de 40 a 50% do mercado mundial, mas sofremos o mesmo que as outras commodities sofremerdquo;, enfatizou. eldquo;Nos últimos 5 anos, 60% da nossa produção foi destinada para o mundo da energia. Estou falando de etanol, bioeletricidade, biometano, biogás e outros produtos que virão pela frente. Esse é um universo completamente diferente. Estamos falando de energia renovável. Tem um componente ambiental, portanto, precisa de política pública, de instrumento de regulamentação para incorporar esse sistema ambiental, na política de preço. Isso vale para o etanol, vale para qualquer energia renovável competindo com a energia fóssilerdquo;, explica Rodrigues. Na sua avaliação, o setor vem evoluindo de forma significativa. eldquo;Há dez anos, contabilizávamos o número de usinas fechadas. Há 5 anos, já não tinha tanta usina fechando, mas o argumento era de que nós não tínhamos no Brasil, nenhum instrumento que reconheça os benefícios ambientais que tem no etanol. Hoje, eu diria que a gente já tem dois instrumentos bastante importanteserdquo;, disse. eldquo;De um lado o RenovaBio, que tem o CBio que tenta precificar esse benefício. E por outro lado, tem a emenda constitucional aprovada no ano passado e que incluiu um parágrafo ambiental, exigindo um diferencial tributário entre combustíveis renováveis, que competem com os combustíveis fósseis. A curto prazo, temos o desafio de dar estabilidade a esses dois instrumentos que já existem. Nos últimos 18 meses, só em tributação, passamos por um número de mudanças absurdas, o que dificulta qualquer ação de planejamentoerdquo;, argumenta. O dirigente da UNICA também chama a atenção sobre a adoção de melhores práticas na área agrícola. eldquo;Estamos aqui falando de questões macros, mas temos no dia a dia, regulamentações que podem impactar a receita e resultados do setor. Como por exemplo, a questão da pulverização aérea. Estados como o Ceará já proibiram o uso de aviões e droneserdquo;, informou. Rodrigues lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) disse que os Estados têm legitimidade para fazer isso. eldquo;Daqui a pouco, os municípios poderão fazer isso também. Então, depende da gente fazer corretamente e estabelecer melhores práticaserdquo;. Ele informou que uma usina chegou a fazer os cálculos e concluiu que a não utilização desses equipamentos tem potencial em diminuir 10% da sua receita. eldquo;Nós estamos falando de RenovaBio, que aumenta em 3% a receita. Então, devido a alguns não fazerem o uso da aviação agrícola de forma adequada, a gente pode perder 10% da receita. Fica muito difícil, no âmbito institucional, defender issoerdquo;, ressalta. Para Rodrigues outro desafio a ser enfrentado pelo setor é a questão de investimento na imagem. eldquo;Hoje, um sujeito que tem um carro elétrico híbrido a gasolina tem desconto de 50% no IPVA, porque nos venderam a ideia de que o carro elétrico é bom. Ou seja, a sociedade está abrindo mão de um tributo para uma pessoa que comprou um carro de R$ 350 mil, porque, supostamente, estaria reduzindo a emissão e, na prática, ele está andando com esse carro a gasolina e levando a bateria para passear, ou seja, não faz sentido. Então tem esse desafio de imagem que precisa ser revertidoerdquo;, conclui Rodrigues.

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