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Petrobras agiu por 6 vezes para protelar compensação ambiental por petróleo na Foz do Amazonas

A Petrobras agiu por seis vezes, pelo menos, para protelar o pagamento de uma compensação ambiental devida em razão da tentativa de exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas. O projeto acabou abandonado, após um acidente, o que não anulou a obrigação da compensação. O valor original da dívida era de R$ 140 mil. Documentos obtidos pela Folha, parte deles por meio da Lei de Acesso à Informação, detalham a estratégia protelatória da estatal nos anos de 2014, 2016, 2017, 2019 e 2021. A ofensiva teve êxito. O processo se arrasta por mais de nove anos, como mostrou reportagem do jornal publicada em 10 de dezembro. Até hoje, a compensação não foi depositada, e o valor foi atualizado para R$ 282 mil. A empresa e o governo Lula (PT) manifestam o desejo de explorar um outro bloco, com possibilidade de impacto negativo no ambiente ainda maior, conforme um cálculo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o que, portanto, exige o desembolso de compensação ainda mais alta: R$ 4,3 milhões. Os ofícios da Petrobras para tentar escapar do pagamento foram enviados ao Ibama, responsável pelo cálculo do grau de impacto do empreendimento e pela definição do valor da compensação, e ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), destinatário dos recursos. Os motivos para protelar o depósito, apresentados pela estatal, foram os mais diversos: falta de obrigatoriedade de pagar uma compensação em casos de perfuração para prospecção de petróleo, necessidade de análise por um órgão hierárquico superior, limitações na tramitação interna de processos e discordância do critério para atualização monetária. Em nota, a Petrobras afirmou que não protela o pagamento e que a destinação dos recursos foi definida em 2018, na Câmara de Compensação Ambiental e Florestal. "Somente em junho de 2023, o Ibama definiu a taxa de atualização monetária do valor de pagamento e, com isso, em dezembro de 2023, o ICMBio disponibilizou a versão final do termo de compromisso para assinatura." A assinatura do documento ocorreu no último dia 15, segundo a estatal. A empresa disse que o valor será pago em abril, após publicação de índice de atualização. O destino do dinheiro deve ser o Parque Nacional do Cabo Orange, que fica na região de Oiapoque (AP). A reserva é uma importante e delicada área de conservação de mangues e campos inundáveis. O bloco na bacia Foz do Amazonas em questão é o FZA-4, que fica a uma distância de 110 a 126 km da costa do Amapá. Em dezembro de 2011, durante atividade de perfuração do bloco, um acidente resultou em danos em equipamentos e em vazamento de óleo hidráulico. A Petrobras abandonou o projeto de vez em 2016 emdash;e prosseguiu com a protelação do pagamento da compensação ambiental. "O poço permaneceu em condição absolutamente segura a todo momento e não houve qualquer dano ao meio ambiente ou acidentes com pessoas", disse a Petrobras. "Nenhum equipamento de perfuração foi deixado no fundo do mar e qualquer ilação contrária é improcedente." O chamado bloco 59, que a estatal e o governo Lula (PT) querem explorar ainda em 2024, está bem próximo do FZA-4. A distância da costa, na linha de Oiapoque, é de 160 a 179 km. Em maio de 2023, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, negou concessão de licença para perfuração do bloco 59. A Petrobras recorreu, e Lula é favorável à exploração de petróleo na costa amazônica, apesar dos riscos ambientais, das críticas pela aposta em combustíveis fósseis e da contradição com planos assumidos pelo governo para redução de emissão de gases de efeito estufa. Reportagem publicada pela Folha na terça-feira (30) mostrou que o grau de impacto ambiental do projeto no bloco 59 atingiu escala máxima, com alta magnitude do impacto negativo, influência em biodiversidade formada por espécies ameaçadas de extinção e comprometimento de áreas ainda desconhecidas. O cálculo é feito pelo Ibama, para definição do valor da compensação ambiental. O grau de impacto foi calculado em 0,5%, numa escala de 0 a 0,5% emdash;o maior valor, portanto. Já no caso da perfuração no bloco FZA-4, o índice ficou em 0,28%, embora componentes usados no cálculo tenham atingido valores máximos, como a magnitude dos potenciais impactos. Para o projeto que a Petrobras e o governo querem explorar, o Ibama definiu que a compensação ambiental a ser paga é de R$ 4,3 milhões. O valor é definido com a multiplicação do grau de impacto pelo valor de referência do empreendimento, informado pela estatal emdash;R$ 859,6 milhões. A compensação obrigatória para o atual projeto na bacia Foz do Amazonas é bem superior à do projeto anterior, cujo pagamento a Petrobras buscou evitar. O processo referente à primeira compensação foi aberto em agosto de 2014. Em novembro, a Petrobras enviou ofício ao presidente do Ibama para dizer que a compensação, listada como uma condição na licença de operação, não era "cabível". "A compensação ambiental incide apenas sobre a implantação de empreendimentos de significativo impacto ambiental não mitigável, excluindo-se quaisquer atividades relativas à pesquisa exploratória", argumentou a Petrobras no ofício. A área jurídica, a diretoria de licenciamento e a presidência do Ibama consideraram adequada a cobrança da compensação. Houve novas manifestações da Petrobras ao órgão ambiental, na mesma linha, em janeiro de 2016 e em agosto de 2017. Em junho de 2019, foi elaborada uma minuta do termo de compromisso para o pagamento da compensação ambiental, assim como um cronograma para quitação do débito em 30 dias. Em outubro daquele ano, a Petrobras pediu ao ICMBio a suspensão da tramitação do processo, em razão de "limitações na tramitação interna". Em 2021, houve duas novas manifestações da estatal, uma com pedido de suspensão de prazos e outra com discordância sobre o critério utilizado para a atualização monetária da compensação ambiental. O ICMBio afirmou que comunicaria o Ibama, naquele ano, sobre a demora do pagamento, para que procedimentos legais fossem adotados em relação à Petrobras. O Parque Nacional do Cabo Orange seguiu sem o dinheiro pelos dois anos seguintes.

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Petrobras agiu por 6 vezes para protelar compensação ambiental por petróleo na Foz do Amazonas

A Petrobras agiu por seis vezes, pelo menos, para protelar o pagamento de uma compensação ambiental devida em razão da tentativa de exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas. O projeto acabou abandonado, após um acidente, o que não anulou a obrigação da compensação. O valor original da dívida era de R$ 140 mil. Documentos obtidos pela Folha, parte deles por meio da Lei de Acesso à Informação, detalham a estratégia protelatória da estatal nos anos de 2014, 2016, 2017, 2019 e 2021. A ofensiva teve êxito. O processo se arrasta por mais de nove anos, como mostrou reportagem do jornal publicada em 10 de dezembro. Até hoje, a compensação não foi depositada, e o valor foi atualizado para R$ 282 mil. A empresa e o governo Lula (PT) manifestam o desejo de explorar um outro bloco, com possibilidade de impacto negativo no ambiente ainda maior, conforme um cálculo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o que, portanto, exige o desembolso de compensação ainda mais alta: R$ 4,3 milhões. Os ofícios da Petrobras para tentar escapar do pagamento foram enviados ao Ibama, responsável pelo cálculo do grau de impacto do empreendimento e pela definição do valor da compensação, e ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), destinatário dos recursos. Os motivos para protelar o depósito, apresentados pela estatal, foram os mais diversos: falta de obrigatoriedade de pagar uma compensação em casos de perfuração para prospecção de petróleo, necessidade de análise por um órgão hierárquico superior, limitações na tramitação interna de processos e discordância do critério para atualização monetária. Em nota, a Petrobras afirmou que não protela o pagamento e que a destinação dos recursos foi definida em 2018, na Câmara de Compensação Ambiental e Florestal. "Somente em junho de 2023, o Ibama definiu a taxa de atualização monetária do valor de pagamento e, com isso, em dezembro de 2023, o ICMBio disponibilizou a versão final do termo de compromisso para assinatura." A assinatura do documento ocorreu no último dia 15, segundo a estatal. A empresa disse que o valor será pago em abril, após publicação de índice de atualização. O destino do dinheiro deve ser o Parque Nacional do Cabo Orange, que fica na região de Oiapoque (AP). A reserva é uma importante e delicada área de conservação de mangues e campos inundáveis. O bloco na bacia Foz do Amazonas em questão é o FZA-4, que fica a uma distância de 110 a 126 km da costa do Amapá. Em dezembro de 2011, durante atividade de perfuração do bloco, um acidente resultou em danos em equipamentos e em vazamento de óleo hidráulico. A Petrobras abandonou o projeto de vez em 2016 emdash;e prosseguiu com a protelação do pagamento da compensação ambiental. "O poço permaneceu em condição absolutamente segura a todo momento e não houve qualquer dano ao meio ambiente ou acidentes com pessoas", disse a Petrobras. "Nenhum equipamento de perfuração foi deixado no fundo do mar e qualquer ilação contrária é improcedente." O chamado bloco 59, que a estatal e o governo Lula (PT) querem explorar ainda em 2024, está bem próximo do FZA-4. A distância da costa, na linha de Oiapoque, é de 160 a 179 km. Em maio de 2023, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, negou concessão de licença para perfuração do bloco 59. A Petrobras recorreu, e Lula é favorável à exploração de petróleo na costa amazônica, apesar dos riscos ambientais, das críticas pela aposta em combustíveis fósseis e da contradição com planos assumidos pelo governo para redução de emissão de gases de efeito estufa. Reportagem publicada pela Folha na terça-feira (30) mostrou que o grau de impacto ambiental do projeto no bloco 59 atingiu escala máxima, com alta magnitude do impacto negativo, influência em biodiversidade formada por espécies ameaçadas de extinção e comprometimento de áreas ainda desconhecidas. O cálculo é feito pelo Ibama, para definição do valor da compensação ambiental. O grau de impacto foi calculado em 0,5%, numa escala de 0 a 0,5% emdash;o maior valor, portanto. Já no caso da perfuração no bloco FZA-4, o índice ficou em 0,28%, embora componentes usados no cálculo tenham atingido valores máximos, como a magnitude dos potenciais impactos. Para o projeto que a Petrobras e o governo querem explorar, o Ibama definiu que a compensação ambiental a ser paga é de R$ 4,3 milhões. O valor é definido com a multiplicação do grau de impacto pelo valor de referência do empreendimento, informado pela estatal emdash;R$ 859,6 milhões. A compensação obrigatória para o atual projeto na bacia Foz do Amazonas é bem superior à do projeto anterior, cujo pagamento a Petrobras buscou evitar. O processo referente à primeira compensação foi aberto em agosto de 2014. Em novembro, a Petrobras enviou ofício ao presidente do Ibama para dizer que a compensação, listada como uma condição na licença de operação, não era "cabível". "A compensação ambiental incide apenas sobre a implantação de empreendimentos de significativo impacto ambiental não mitigável, excluindo-se quaisquer atividades relativas à pesquisa exploratória", argumentou a Petrobras no ofício. A área jurídica, a diretoria de licenciamento e a presidência do Ibama consideraram adequada a cobrança da compensação. Houve novas manifestações da Petrobras ao órgão ambiental, na mesma linha, em janeiro de 2016 e em agosto de 2017. Em junho de 2019, foi elaborada uma minuta do termo de compromisso para o pagamento da compensação ambiental, assim como um cronograma para quitação do débito em 30 dias. Em outubro daquele ano, a Petrobras pediu ao ICMBio a suspensão da tramitação do processo, em razão de "limitações na tramitação interna". Em 2021, houve duas novas manifestações da estatal, uma com pedido de suspensão de prazos e outra com discordância sobre o critério utilizado para a atualização monetária da compensação ambiental. O ICMBio afirmou que comunicaria o Ibama, naquele ano, sobre a demora do pagamento, para que procedimentos legais fossem adotados em relação à Petrobras. O Parque Nacional do Cabo Orange seguiu sem o dinheiro pelos dois anos seguintes.

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Conselho de administração vira foco de disputa entre Prates e Silveira

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defende que a União indique um nome mais alinhado ao Planalto para comandar o conselho de administração da empresa, em movimentação que contraria a intenção do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) de reconduzir o atual presidente do colegiado. No início de janeiro, o MME encaminhou à Petrobras a relação de nomes para recondução no conselho de administração, incluindo o de Pietro Mendes, secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério das Minas e Energia. A lista atualmente está passando pelos processos de checagem da companhia e ainda pode ser alterada emdash;no ano passado, o governo substituiu a indicação de Wagner Victer pelo economista Bruno Moretti e de Carlos Eduardo Turchetto Santos por Efrain Pereira da Cruz. Silveira tem, hoje, três indicados no conselho: Mendes, Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME, e o novo secretário-executivo, Renato Galuppo, nomeado para o conselho no dia 26. Prates já tratou do assunto com o ministro Rui Costa (Casa Civil), segundo interlocutores. Ele citou nomes que poderiam ser mais alinhados ao Planalto, como a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e Moretti, subchefe da Secretaria Especial de Análise e Monitoramento e que já foi da liderança do PT no Senado. Além deles, o presidente da empresa também veria com bons olhos a ex-secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República Maria Fernanda Coelho emdash;que deixou o cargo após a crise envolvendo viagens de funcionários da pasta, pagas com recursos públicos, para o pré-Carnaval de Aracaju . Prates e Silveira protagonizaram alguns embates ao longo de 2023, com o ministro de Minas e Energia criticando publicamente o colega em relação à política de gás e pedindo reavaliação da venda de ativos. Além disso, também tiveram desavenças na elaboração da relação de indicados do ano passado.

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Conselho de administração vira foco de disputa entre Prates e Silveira

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defende que a União indique um nome mais alinhado ao Planalto para comandar o conselho de administração da empresa, em movimentação que contraria a intenção do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) de reconduzir o atual presidente do colegiado. No início de janeiro, o MME encaminhou à Petrobras a relação de nomes para recondução no conselho de administração, incluindo o de Pietro Mendes, secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério das Minas e Energia. A lista atualmente está passando pelos processos de checagem da companhia e ainda pode ser alterada emdash;no ano passado, o governo substituiu a indicação de Wagner Victer pelo economista Bruno Moretti e de Carlos Eduardo Turchetto Santos por Efrain Pereira da Cruz. Silveira tem, hoje, três indicados no conselho: Mendes, Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME, e o novo secretário-executivo, Renato Galuppo, nomeado para o conselho no dia 26. Prates já tratou do assunto com o ministro Rui Costa (Casa Civil), segundo interlocutores. Ele citou nomes que poderiam ser mais alinhados ao Planalto, como a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e Moretti, subchefe da Secretaria Especial de Análise e Monitoramento e que já foi da liderança do PT no Senado. Além deles, o presidente da empresa também veria com bons olhos a ex-secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República Maria Fernanda Coelho emdash;que deixou o cargo após a crise envolvendo viagens de funcionários da pasta, pagas com recursos públicos, para o pré-Carnaval de Aracaju . Prates e Silveira protagonizaram alguns embates ao longo de 2023, com o ministro de Minas e Energia criticando publicamente o colega em relação à política de gás e pedindo reavaliação da venda de ativos. Além disso, também tiveram desavenças na elaboração da relação de indicados do ano passado.

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Passagem aérea e gás lideram ranking de inflação desde 1994; veja mudanças do IPCA no Plano Real

A passagem aérea e o gás de botijão acumularam as maiores taxas de inflação de um ranking que aponta as variações dos preços de 20 bens e serviços desde o início da circulação do real, há quase 30 anos. A moeda brasileira passou a circular no Brasil em 1º de julho de 1994. Antes, em 1º de março daquele ano, os preços começaram a ser fixados em URV (Unidade Real de Valor), que fez a transição até a chegada da nova moeda. A URV foi implementada por meio de medida provisória (MP) em 27 de fevereiro de 1994. Até dezembro de 2023, a alta registrada pela passagem de avião no Brasil foi de 2.728%, enquanto a do gás chegou a 2.370%, segundo levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a pedido da Folha. Aluguel residencial (1.439%), empregado doméstico (1.242%) e taxa de água e esgoto (1.209%) aparecem na sequência. A análise leva em conta dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ônibus urbano (1.183%), lanche (1.099%), energia elétrica residencial (1.007%), pão francês (996%) e gasolina (932%) completam a relação das dez maiores altas de preços no acumulado desde julho de 1994. Imaizumi diz que as variações expressivas, se avaliadas sozinhas, podem transmitir a ideia de um suposto descontrole inflacionário, justamente o que foi combatido a partir do Plano Real. Segundo o economista, também é preciso levar em consideração que o poder de compra da população brasileira aumentou nas últimas três décadas. Nesse sentido, Imaizumi aponta que o salário mínimo acumulou alta de 2.359% no período de julho de 1994 a dezembro de 2023 endash;o mínimo fechou o ano passado em R$ 1.320 e subiu a R$ 1.412 no início de 2024. Dos 20 produtos e serviços contemplados pelo levantamento, apenas a passagem aérea (2.728%) e o gás de botijão (2.370%) subiram mais do que o salário mínimo (2.359%). Na média geral, o IPCA acumulou alta de 690,09% no período do real. "Com o controle da hiperinflação, que era um problema no Brasil antes do Plano Real, houve um ganho de poder de compra. O salário mínimo cresceu mais do que a inflação de quase todos os produtos e serviços que estão na lista", afirma Imaizumi. "Se só falarmos que os preços subiram, parece que tivemos uma tragédia, mas não foi assim. Os salários também evoluíram", completa. Os 20 produtos e serviços do levantamento foram selecionados por estarem entre os 30 subitens que mais pesavam no cálculo do IPCA em dezembro de 2023. Não é possível analisar todos os 30 subitens desde julho de 1994 porque dez não faziam parte da cesta do índice à época ou tiveram mudanças na forma de cálculo desde então endash;ao longo da série histórica, alguns produtos e serviços foram agrupados ou separados. No caso da passagem aérea, Imaizumi associa a carestia a questões como o aumento dos preços do combustível usado nos aviões e a baixa concorrência no setor aéreo. "No gás de botijão, tem o efeito de ele ser um derivado do petróleo. Também tivemos auxílio para compra de gás, subsídios, encarecimento de insumos no ponto de venda. São vários fatores que ajudam a explicar a alta dos preços", afirma. Conforme o levantamento, o automóvel usado registrou, desde julho de 1994, a menor inflação entre os 20 subitens analisados. A alta acumulada de preços desse bem foi de 45% até dezembro de 2023. "Muitos automóveis entraram no Brasil nos últimos 30 anos", diz Imaizumi, ao indicar que o aumento da oferta pode ter freado a inflação dos carros usados. A desvalorização desses veículos com o passar do tempo também contribuiu para a variação menos intensa dos preços, acrescenta o economista. Do lado das menores altas no ranking, outros destaques são motocicleta (132%), automóvel novo (133%) e emplacamento e licença (199%). Veja mudanças na cesta do IPCA Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA é o índice oficial de inflação do país. O indicador serve como referência para a política monetária do BC (Banco Central). Desde janeiro de 2020, 377 produtos e serviços formam a lista de subitens pesquisados no IPCA. Essa relação é alterada de tempos em tempos pelo IBGE devido a mudanças no padrão de consumo da população. O instituto adapta a cesta de produtos e serviços do IPCA a partir dos resultados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares). A POF aponta o que as famílias compram e o peso de cada gasto no orçamento. Os dados mais recentes dessa pesquisa são de 2017 e 2018. Na última atualização da cesta do IPCA, que entrou em vigor em 2020, o IBGE passou a medir a evolução dos preços de subitens como streaming e transporte por aplicativo. São serviços de plataformas como Netflix, Uber e 99, que ganharam espaço no dia a dia das famílias. Em contrapartida, a atualização de 2020 retirou do cálculo de inflação subitens como CD, DVD e máquina fotográfica, que perderam participação no orçamento dos brasileiros. A atualização mais recente ainda incorporou ao IPCA alimentos de preparo rápido, como macarrão instantâneo e suco em pó. Outros exemplos que passaram a fazer parte do cálculo foram serviços relacionados à estética, como os de sobrancelha. Na onda pet, o IBGE agregou, também em 2020, a variação dos preços de serviço de higiene e tratamento de animais domésticos. Em julho de 1994, quando o real passou a circular, a cesta do IPCA tinha produtos e serviços como toca-fita para veículos e sapateiro. Cinco anos mais tarde, em agosto de 1999, o IBGE fez uma atualização na lista, que passou a contar com subitens como plano de saúde, microcomputador e TV a cabo. A cesta do IPCA ainda passou por mudanças em julho de 2006 e janeiro de 2012. Depois, houve a atualização de janeiro de 2020.

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Passagem aérea e gás lideram ranking de inflação desde 1994; veja mudanças do IPCA no Plano Real

A passagem aérea e o gás de botijão acumularam as maiores taxas de inflação de um ranking que aponta as variações dos preços de 20 bens e serviços desde o início da circulação do real, há quase 30 anos. A moeda brasileira passou a circular no Brasil em 1º de julho de 1994. Antes, em 1º de março daquele ano, os preços começaram a ser fixados em URV (Unidade Real de Valor), que fez a transição até a chegada da nova moeda. A URV foi implementada por meio de medida provisória (MP) em 27 de fevereiro de 1994. Até dezembro de 2023, a alta registrada pela passagem de avião no Brasil foi de 2.728%, enquanto a do gás chegou a 2.370%, segundo levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a pedido da Folha. Aluguel residencial (1.439%), empregado doméstico (1.242%) e taxa de água e esgoto (1.209%) aparecem na sequência. A análise leva em conta dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ônibus urbano (1.183%), lanche (1.099%), energia elétrica residencial (1.007%), pão francês (996%) e gasolina (932%) completam a relação das dez maiores altas de preços no acumulado desde julho de 1994. Imaizumi diz que as variações expressivas, se avaliadas sozinhas, podem transmitir a ideia de um suposto descontrole inflacionário, justamente o que foi combatido a partir do Plano Real. Segundo o economista, também é preciso levar em consideração que o poder de compra da população brasileira aumentou nas últimas três décadas. Nesse sentido, Imaizumi aponta que o salário mínimo acumulou alta de 2.359% no período de julho de 1994 a dezembro de 2023 endash;o mínimo fechou o ano passado em R$ 1.320 e subiu a R$ 1.412 no início de 2024. Dos 20 produtos e serviços contemplados pelo levantamento, apenas a passagem aérea (2.728%) e o gás de botijão (2.370%) subiram mais do que o salário mínimo (2.359%). Na média geral, o IPCA acumulou alta de 690,09% no período do real. "Com o controle da hiperinflação, que era um problema no Brasil antes do Plano Real, houve um ganho de poder de compra. O salário mínimo cresceu mais do que a inflação de quase todos os produtos e serviços que estão na lista", afirma Imaizumi. "Se só falarmos que os preços subiram, parece que tivemos uma tragédia, mas não foi assim. Os salários também evoluíram", completa. Os 20 produtos e serviços do levantamento foram selecionados por estarem entre os 30 subitens que mais pesavam no cálculo do IPCA em dezembro de 2023. Não é possível analisar todos os 30 subitens desde julho de 1994 porque dez não faziam parte da cesta do índice à época ou tiveram mudanças na forma de cálculo desde então endash;ao longo da série histórica, alguns produtos e serviços foram agrupados ou separados. No caso da passagem aérea, Imaizumi associa a carestia a questões como o aumento dos preços do combustível usado nos aviões e a baixa concorrência no setor aéreo. "No gás de botijão, tem o efeito de ele ser um derivado do petróleo. Também tivemos auxílio para compra de gás, subsídios, encarecimento de insumos no ponto de venda. São vários fatores que ajudam a explicar a alta dos preços", afirma. Conforme o levantamento, o automóvel usado registrou, desde julho de 1994, a menor inflação entre os 20 subitens analisados. A alta acumulada de preços desse bem foi de 45% até dezembro de 2023. "Muitos automóveis entraram no Brasil nos últimos 30 anos", diz Imaizumi, ao indicar que o aumento da oferta pode ter freado a inflação dos carros usados. A desvalorização desses veículos com o passar do tempo também contribuiu para a variação menos intensa dos preços, acrescenta o economista. Do lado das menores altas no ranking, outros destaques são motocicleta (132%), automóvel novo (133%) e emplacamento e licença (199%). Veja mudanças na cesta do IPCA Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA é o índice oficial de inflação do país. O indicador serve como referência para a política monetária do BC (Banco Central). Desde janeiro de 2020, 377 produtos e serviços formam a lista de subitens pesquisados no IPCA. Essa relação é alterada de tempos em tempos pelo IBGE devido a mudanças no padrão de consumo da população. O instituto adapta a cesta de produtos e serviços do IPCA a partir dos resultados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares). A POF aponta o que as famílias compram e o peso de cada gasto no orçamento. Os dados mais recentes dessa pesquisa são de 2017 e 2018. Na última atualização da cesta do IPCA, que entrou em vigor em 2020, o IBGE passou a medir a evolução dos preços de subitens como streaming e transporte por aplicativo. São serviços de plataformas como Netflix, Uber e 99, que ganharam espaço no dia a dia das famílias. Em contrapartida, a atualização de 2020 retirou do cálculo de inflação subitens como CD, DVD e máquina fotográfica, que perderam participação no orçamento dos brasileiros. A atualização mais recente ainda incorporou ao IPCA alimentos de preparo rápido, como macarrão instantâneo e suco em pó. Outros exemplos que passaram a fazer parte do cálculo foram serviços relacionados à estética, como os de sobrancelha. Na onda pet, o IBGE agregou, também em 2020, a variação dos preços de serviço de higiene e tratamento de animais domésticos. Em julho de 1994, quando o real passou a circular, a cesta do IPCA tinha produtos e serviços como toca-fita para veículos e sapateiro. Cinco anos mais tarde, em agosto de 1999, o IBGE fez uma atualização na lista, que passou a contar com subitens como plano de saúde, microcomputador e TV a cabo. A cesta do IPCA ainda passou por mudanças em julho de 2006 e janeiro de 2012. Depois, houve a atualização de janeiro de 2020.

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