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O dinheiro acabou antes do fim do mandato

Os efeitos da política econômica, com erros e acertos, costumam levar um tempo para serem sentidos pela sociedade, isso quando percebidos. Na ausência de instituições democráticas fortes, essa dinâmica traz consequências políticas perversas, com reformas estruturais adiadas e o estímulo ao populismo. Nesse ambiente, os erros são mais frequentes do que os acertos, o que leva ao frágil quadro fiscal, ao baixo crescimento da economia e à desigualdade de oportunidades. Na política fiscal, como os efeitos colaterais emdash; como a inflação alta emdash; podem tardar, é grande o impulso para governantes aumentarem os gastos e as renúncias tributárias, deixando a fatura, ou o ajuste das contas, para a gestão seguinte, qualquer que seja. Fossem amplamente conhecidos os custos associados a cada política pública, bem como as consequências na economia, haveria maiores chances para a contenção de políticas equivocadas. A inquietação da sociedade poderia se traduzir em correções de rumo, pelos próprios governantes ou pela pressão da oposição. Quando as políticas públicas têm cunho populista é ainda mais difícil esperar o bom funcionamento do Congresso. O ônus político incorrido pela oposição ao barrar políticas que produzem ganhos de curto prazo é grande, enquanto os políticos do chamado Centrão tendem a ser omissos. Exemplo disso foi a elevação, em princípio temporária, do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 em 2022, ano eleitoral, apesar de superada a pandemia. Sem surpresa, o valor acabou sendo mantido na transição para o Bolsa Família. Em Londres: Londres: UA e China concordam, em princípio, com um plano para reduzir tensões comerciais Outro exemplo foi a renovação e constitucionalização do Fundeb, em 2020, aumentando bastante a transferência de recursos federais para a educação aos entes subnacionais (de 10% do fundo em 2020 para 23% em 2026). Isso apesar da tendência de menor crescimento do número de crianças nas escolas e sem a devida contrapartida na qualidade do ensino emdash; a regulamentação prevista do tema ainda não ocorreu, apesar de remontar a 1996. O ministro Haddad tem se queixado do crescimento do Fundeb, pois não houve a determinação da fonte de recursos para financiá-lo, mas a medida contou com apoio do PT. A novidade agora é que o custo dos estímulos fiscais do atual governo está caindo no colo do incumbente. O dinheiro acabou, mas ainda falta um ano e meio de mandato presidencial e um pouco mais de um ano para o início da campanha eleitoral. Segundo técnicos da Fazenda, para que a meta fiscal de 2026 (superávit de 0,25% do PIB) seja cumprida, estariam faltando R$118 bilhões. Não é só isso. Discuti algumas vezes neste espaço que a estratégia econômica de Lula, de aumentar gastos e a rigidez orçamentária, era muito arriscada, podendo comprometer sua popularidade e a viabilidade eleitoral do PT em 2026. Com a dívida em alta e a perda de credibilidade na gestão fiscal, a desconfiança dos mercados amplifica a pressão sobre a inflação, por exemplo com a alta do dólar, enquanto a sociedade, mais exigente, cada vez mais desaprova o governo. Esse quadro de governantes tendo que lidar com parte das consequências de suas escolhas é didático para a nossa democracia. Enquanto isso, a discussão sobre a crise fiscal entrou na política, deixando de ser apenas um alerta de economistas. Isso é muito bom. Aos poucos, avança o necessário debate político sobre como lidar com o estresse fiscal contratado para 2026 e o encontro marcado em 2027. Afinal, o próximo presidente irá começar o mandato tendo que negociar licença para pagar precatórios fora da meta e da regra fiscal, sendo que ambas terão de ser, provavelmente, flexibilizadas diante do crescimento automático dos gastos obrigatórios. Sua margem de manobra dependerá da sua capacidade política e das reformas fiscais a serem propostas, de modo a restaurar a confiança dos investidores. O reconhecimento da crise fiscal é o primeiro passo para a ação, ante a usual omissão ou mesmo sua negação. Porém, esse reconhecimento ainda não é amplo o suficiente, inclusive no governo. Por essas e outras, o governo tampouco conta com o apoio necessário no Congresso, mesmo para medidas de contenção de despesas, como a revisão dos parâmetros do Fundeb e os ajustes no BPC. Teremos um debate eleitoral corajoso em 2026, que explicite a necessidade de ajuste fiscal, como visto em países vizinhos?

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Alcolumbre e Motta atuam para esvaziar MP de Silveira e antecipar aprovação de tarifa social

Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), trabalham para esvaziar a MP (medida provisória) que reforma o setor energético, com o objetivo de evitar que o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) fique com o protagonismo da proposta. A medida amplia o fornecimento de energia elétrica gratuita para 16 milhões de pessoas e é considerada pelo governo uma ferramenta política importante para a popularidade do presidente Lula (PT). De acordo com relatos, a cúpula do Congresso quer antecipar a aprovação desse benefício para as famílias de baixa renda, incorporando esse trecho em uma outra MP já em discussão, editada para ampliar os usos dos recursos do fundo social do pré-sal. Já a parte regulatória da MP do setor energético, considerada mais complexa e com menor interesse dos eleitores, ficaria para ser debatida num segundo momento, num projeto de lei a parte ou na própria medida provisória. Um cardeal do centrão diz que uma possibilidade é deixar a MP perder a validade e discutir o assunto por meio de um projeto de lei, o que seria um recado para o Planalto da insatisfação dos parlamentares. A proposta do governo tem mais de uma dezena de mudanças para o setor, como ampliar o acesso dos consumidores ao mercado livre de energia, retirar parte dos subsídios, criar novas modalidades tarifárias e funções para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, entre outros. Os custos do aumento do número de famílias atendidas pela tarifa social serão transferidos para os demais consumidores, mas o ministério argumenta que serão compensados no longo prazo pela redução dos encargos com as demais alterações da reforma. As negociações em torno do fatiamento da proposta ainda estão em curso e, de acordo com pessoas que acompanham as conversas, não está completamente definido o que ficará na MP do fundo social do pré-sal e nem o formato de tramitação das demais medidas lançadas como uma reforma do setor. A ideia da cúpula do Congresso é incorporar a parte com mais apelo popular à MP do fundo social do pré-sal, que já tem uma comissão formada, sob relatoria do deputado José Priante (MDB-PA) e presidência da senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil-TO). Essa MP precisa ser aprovada até 3 de julho. Outro plano é também incluir nessa MP o conteúdo de um projeto de lei enviado pelo governo para permitir o leilão do petróleo excedente da União em áreas do pré-sal em regime de partilha. A incorporação conta com simpatia de Motta e já foi discutida entre políticos da cúpula da Câmara. A votação desse tema dentro da medida provisória aceleraria a aprovação e ajudaria o Executivo a desbloquear recursos orçamentários na divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas, a ser divulgado em 22 de julho. A meta do governo é arrecadar cerca de R$ 20 bilhões este ano com o leilão. Lideranças do Congresso apontam, ainda, que isso pode ser uma das medidas alternativas ao decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). GOVERNO LULA A movimentação em torno do fatiamento da MP já chegou ao Palácio do Planalto. Auxiliares de Lula reconhecem que há uma "má vontade" do Congresso com a medida, e enxergam que parte disso se dá por ser um setor que reúne diferentes interesses e também pela disputa da cúpula do Senado com Silveira. Há uma expectativa de que a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) se reúna nos próximos dias com Motta e Alcolumbre para discutir a tramitação dessa medida e buscar uma solução. Um aliado da ministra diz que o Palácio do Planalto deve trabalhar para evitar esse fatiamento. Apesar disso, ao menos parte dos governistas vê a possibilidade dessa divisão do conteúdo da proposta como algo positivo. Quem defende seguir com essa ideia afirma que será favorável contar com apoio de Motta e Alcolumbre para aprovar a medida e que o mais importante é aprovar a ampliação da gratuidade da energia para melhorar a popularidade do presidente Lula (PT). A MP integra um pacote de medidas sociais que integrantes do governo dizem avaliar ter potencial de reverter a baixa popularidade da gestão petista. Outro motivo para parte dos governistas apoiar o fatiamento da MP é a percepção de que a parte regulatória deve enfrentar dificuldades no Congresso, o que poderia comprometer todo o projeto. Ao menos 600 emendas foram apresentadas para alterar o texto enviado pelo governo e há embates com parte do setor elétrico em torno das mudanças. Além disso, dois ex-ministros de Minas e Energia são parlamentares influentes e discordam dos planos de Silveira para o setor. O senador Eduardo Braga atuou nessa função no governo Dilma (PT) e hoje é líder do MDB no Senado. O deputado Fernando Coelho Filho (União Brasil-PE) exerceu o cargo no governo Temer (MDB) e é o mais cotado para ser o relator da MP. O movimento para esvaziar a MP, no entanto, tem como pano de fundo a briga entre a cúpula do Senado com Silveira. O ministro foi indicado pelo ex-presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e por Alcolumbre, mas rompeu com ambos ao não atender a pedidos deles para indicações em agências reguladoras e projetos da área. Desde que retornou à Presidência do Senado, Alcolumbre defende a Lula que troque o ministro, mas o petista resistiu até o momento. Como revelou a Folha, Alcolumbre e Motta se queixaram a aliados da maneira como foi apresentada a MP do setor energético a parlamentares, já que esperavam ser consultados previamente sobre a proposta. Parlamentares se queixam do que chamam de uma centralização do tema nas mãos de Silveira, que desde o início se colocou como um dos idealizadores da proposta. Procurados, Priante, Motta e Alcolumbre não responderam até a publicação desta reportagem. COMO A TARIFA SOCIAL DE ENERGIA FUNCIONA HOJE? A tarifa social foi criada em 2002 e é aplicada e regulada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Hoje, famílias com consumo de até 220 kWh/mês estão contempladas nos descontos. Para quem consume de 0 a 30 kWh/mês: 65% de desconto Para quem consume de 31 a 100 kWh/mês: 40% de desconto Para quem consume de 101 a 220 kWh/mês: 10% de desconto Para quem consume acima de 220 kWh/mês: sem desconto COMO A NOVA TARIFA SOCIAL FUNCIONARÁ? Com a mudança, famílias inscritas no CadÚnico com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa e que consomem até 80 kWh/mês terão a conta de luz zerada. Caso o consumo exceda os 80 kWh, será pago apenas o proporcional. Consumo de 0 a 80 kWh/mês: 100% de isenção Consumo acima de 81 kWh/mês: sem isenção total, será pago o que exceder os 80 kWh COMO SOLICITAR A TARIFA SOCIAL? Atualmente, a tarifa social de energia é concedida automaticamente para as famílias que estão inscritas no CadÚnico. Caso atenda ao requisito de possuir renda per capta familiar de meio salário mínimo e ainda não esteja no CadÚnico, deve-se fazer o requerimento do benefício e pedir mais informações nos Cras (Centros de Referência em Assistência Social). QUE DINHEIRO SERÁ UTILIZADO PARA GARANTIR A ISENÇÃO? Segundo Alexandre Silveira, os recursos viriam da conta de luz paga pelo conjunto dos consumidores emdash;mas que a ideia seria compensar o custo com o corte de subsídios setoriais pagos por meio da fatura atualmente. O MME reconheceu, no entanto, que a compensação prevista pode ser totalmente efetivada apenas a longo prazo, visto que é necessário respeitar os contratos atualmente em vigor. Por isso, a conta de luz pode aumentar para outros consumidores principalmente no começo. De acordo com o governo, 16 milhões de famílias (ou 60 milhões de pessoas) serão beneficiadas com a isenção. O custo com esse ponto da proposta é de R$ 3,6 bilhões ao ano. Como resultado, haveria um aumento médio de 0,9% para os demais consumidores regulados, mas o ministério diz que a ideia é equalizar a conta com a revisão de outros subsídios.

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Ações da Petrobras disparam com alta dos preços do petróleo no exterior

As ações da Petrobras estão em forte alta no pregão desta terça-feira (10), endossadas pela alta dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent mostrava acréscimo de 0,36%. Por volta das 14h30, a PETR3, ações ordinárias, com direito a voto em assembleias, subia 3,29%, a R$ 32,27, e a PETR4, ações preferenciais, com preferência por dividendos, se valorizava 2,81%, após fecharem com quedas de 0,57% e 1,04%, respectivamente, na véspera. Os papeis da empresa puxavam o sinal positivo da Bolsa, que avançava 0,81%, a 136.810 pontos, na esteira dos dados de inflação, que vieram abaixo do esperado. Leia mais na matéria do mercado do dia.

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'Não temos vergonha de produzir petróleo', diz presidente da Petrobras

Alvo de protestos por pressionar a abertura de novas fronteiras para exploração de petróleo no país, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta terça-feira (10) que o Brasil deve ser orgulhar de produzir o combustível fóssil. Ela disse ainda que a estatal "vai chegar lá" na exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas, considerada a principal aposta do setor para ampliar as reservas brasileiras e principal foco dos protestos de organizações ambientalistas. Nesta terça-feira, o presidente da França, Emmanuel Macron, reforçou o coro dos críticos ao dizer que o megaprojeto de exploração de petróleo na região "não é bom para o clima". "Penso que há outros projetos alternativos que permitem criar empregos e valor", afirmou. No Rio de Janeiro, em evento da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) que se tornou um ato em defesa da ambição brasileira por novas fronteiras exploratórias, Magda disse que "a gente não tem vergonha de produzir petróleo". "Pelo contrário, nos orgulhamos de produzir petróleo", prosseguiu. "O petróleo é hoje o primeiro produto na balança comercial brasileiro. O petróleo é a mola propulsora do desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro", argumentou, citando o estado responsável por cerca de 85% da produção nacional. Ela afirmou que, quando comandava a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), coordenou um programa de diversificação geográfica da produção, com a licitação de áreas exploratórias nas regiões Nordeste e Norte, incluindo os blocos da Foz do Amazonas hoje alvos de embate. "Não deu ainda, mas nós estamos chegando lá, nós estamos aumentando esse investimento. Em Sergipe e Alagoas [onde a estatal já fez grandes descobertas] estamos chegando. Na margem equatorial, nós continuamos insistindo. Vamos chegar lá também", disse. A estatal tenta obter licença ambiental para a perfuração de um poço no bloco 59 da bacia da Foz do Amazonas. O processo depende ainda de uma simulação operacional do poço, que a Petrobras solicita fazer em meados de julho. Magda disse que esta confiante na obtenção da licença. A sonda de perfuração contratada para o poço deixou o Rio de Janeiro no sábado (7) a caminho do Amapá. Mas passaria na Bacia de Campos, no litoral norte de Rio, para buscar equipamentos. No evento da Firjan, a diretora de estudos de Petróleo e Gás da estatal EPE (Empresa de Planejamento Energético), Heloisa Borges havia iniciado a defesa da abertura de novas fronteiras antes do discurso da presidente da Petrobras. "Em todos os cenários de longo prazo, o petróleo aparece. Não há visões de futuro possíveis em que os hidrocarbonetos não estão presentes, movimentando a economia brasileira e a economia mundial", afirmou ela, defendendo que cortes na produção sejam iniciados por países desenvolvidos e não pelo Sul Global.

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Inflação de maio vem abaixo das previsões com queda de passagem aérea e gasolina

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,26% em maio, após marcar 0,43% em abril, apontam dados divulgados nesta terça (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O novo resultado surpreendeu analistas ao ficar abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,32%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,26% a 0,43%. O IPCA desacelerou ante abril com a perda de força de parte dos alimentos e a queda da passagem aérea e dos combustíveis, incluindo a gasolina. A taxa de 0,26% é a menor para meses de maio desde 2023. À época, a inflação havia sido de 0,23%. No acumulado de 12 meses, o IPCA atingiu 5,32% até maio, abaixo dos 5,53% até abril. Apesar da trégua, segue acima do teto de 4,5% da meta de inflação. Assim, caminha para descumprir oficialmente o alvo em junho. REFLEXO NA REUNIÃO DO COPOM Para analistas, o IPCA abaixo das previsões em maio aumenta as chances de fim do ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) se reúne na semana que vem, nos dias 17 e 18 de junho, para definir o patamar da taxa. A Selic chegou a 14,75% ao ano em maio, o maior nível em quase duas décadas, em uma tentativa do BC de conter a inflação. "Todo esse resultado [do IPCA] vai na direção de fim de ciclo da alta de juros por parte do Banco Central", diz o economista Julio Cesar de Mello Barros, do banco Daycoval. "A expectativa é que os cortes só sejam retomados em 2026", completa. A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, ainda prevê alta de 0,25 ponto percentual para a Selic na próxima reunião, mas afirma que o IPCA de maio eleva a perspectiva de o BC interromper o aperto. Ela diz que os dados do IBGE mostraram surpresas em alimentos e bens industriais. Mesmo assim, considera que o cenário segue "bastante desafiador" para a inflação, principalmente quando se analisa os serviços subjacentes, que excluem itens mais voláteis, como passagens aéreas. "Os preços dessa categoria subiram de 6,7% para 6,8% em 12 meses, um patamar bastante elevado", afirma. "Ainda que a queda nos preços das commodities possa aliviar a pressão sobre os alimentos e bens industriais no curto prazo, como sugere o resultado do IPCA de maio, fatores domésticos, como o mercado de trabalho forte, devem continuar pesando sobre a inflação", acrescenta. O C6 projeta IPCA de 5,3% em 2025. A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, avalia que a surpresa em maio foi puxada por bens industriais. Segundo a analista, o IPCA continua "incompatível com a trajetória de metas", mas melhora em relação ao "panorama muito ruim" dos primeiros meses do ano. IMPACTO DE PASSAGEM, GASOLINA E ALIMENTOS O índice do IBGE é composto por nove grupos de bens e serviços. Em maio, o ramo dos transportes ajudou a conter o IPCA ao apresentar queda de 0,37%. A redução foi impulsionada pelo recuo da passagem aérea (-11,31%) e dos combustíveis (-0,72%). O bilhete de avião gerou o principal impacto individual do lado das baixas no IPCA (-0,06 ponto percentual). No âmbito dos combustíveis, a gasolina recuou 0,66% (-0,03 ponto percentual). Outra contribuição para a desaceleração do IPCA veio do grupo alimentação e bebidas. A alta do segmento passou de 0,82% em abril para 0,17% em maio. Dentro do grupo, a alimentação no domicílio saiu de 0,83% para 0,02%, quase estável. A taxa de 0,02% é a menor em nove meses, desde agosto de 2024, quando houve queda de 0,73%. O IBGE destacou os recuos do tomate (-13,52%), do arroz (-4%), do ovo de galinha (-3,98%) e das frutas (-1,67%). De modo geral, os resultados estão associados a uma recomposição da oferta, segundo o instituto. Analistas haviam apontado que o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial do país, anunciado em maio, poderia baixar os preços do ovo e da carne de frango. A confirmação da doença paralisou exportações. O IBGE, contudo, indicou não ter elementos suficientes para associar a queda do ovo a um aumento da oferta interna com os embargos comerciais de outros países. Fato é que o produto chegou a disparar 15,39% no IPCA de fevereiro e 13,13% em março, sob impacto do clima adverso para a produção e da demanda aquecida com a volta às aulas. O ovo recuou tanto em abril (-1,29%) quanto em maio (-3,98%). Já os preços do frango inteiro (1,25%) e em pedaços (0,81%) seguiram em elevação no último mês. Entre os alimentos em alta em maio, o IBGE destacou a batata-inglesa (10,34%), a cebola (10,28%), o café moído (4,59%) e as carnes (0,97%). No acumulado de 12 meses, o café disparou 82,24% em meio a problemas de oferta no mundo. É a maior alta dos 377 subitens (produtos e serviços) do IPCA. Com o resultado, o café também renovou sua máxima de inflação em 12 meses desde o início do Plano Real, apontou o IBGE. Entre os grupos, habitação apresentou a maior alta (1,19%) e a principal pressão no índice de maio (0,18 ponto percentual). Houve influência da energia elétrica residencial, que subiu 3,62% com o adicional da bandeira amarela. Em termos individuais, o impacto da conta de luz (0,14 ponto percentual) foi o principal do lado das altas no IPCA. Em junho, o índice oficial deve registrar variação mensal de 0,30%, e o acumulado em 12 meses tende a passar para 5,41%, projeta o economista Fábio Romão, da consultoria LCA 4intelligence. Segundo ele, a conta de luz deve pressionar de novo com a vigência da bandeira vermelha patamar 1 neste mês. Enquanto isso, alimentos e combustíveis tendem a gerar alívio emdash;a Petrobras anunciou queda da gasolina nas refinarias neste mês. POSSÍVEL ESTOURO DA META O BC passa a perseguir a meta de inflação de maneira contínua em 2025, abandonando o ano-calendário de janeiro a dezembro. No novo modelo, o alvo será considerado descumprido quando o IPCA acumulado em 12 meses permanecer por seis meses seguidos de divulgação fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro da meta é de 3%. O IPCA ficou acima de 4,5% nas cinco primeiras divulgações de 2025. Com isso, aproxima-se de estouro do alvo em junho. Quando a meta de inflação é descumprida, o presidente do BC tem de escrever uma carta explicando os motivos. Na mediana, as projeções do mercado financeiro apontam IPCA de 5,44% no fechamento deste ano, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (9) pelo BC. Essa previsão caiu pela segunda semana consecutiva, mas segue distante do teto de 4,5%. Nesta terça, o PicPay disse que revisou para baixo a sua estimativa de inflação em 2025. A projeção saiu de 5,6% para 5,3%.

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Petrobras volta a olhar oportunidades de investimento no mundo: veja os países no radar

Após um longo período de poucos investimentos fora do País, a Petrobras novamente volta seus olhos para o mercado internacional em busca de reservas. Na semana passada, anunciou mais um mercado para desbravar: Costa do Marfim, na costa oeste africana. Se sair vitoriosa da licitação, os ativos vão se somar a outras iniciativas no mesmo continente, como África do Sul, Angola, Namíbia e São Tomé e Príncipe. Em 2023, a empresa retomou sua presença na África emdash; continente praticamente abandonado nos governos Temer e Bolsonaro emdash;, com aquisição de participação em três blocos em São Tomé e Príncipe, também na costa oeste africano, uma região que, segundo estudos geológicos, teria sido separada do continente sul-americano há milhões de anos. Em fevereiro de 2024, a companhia anunciou a aquisição de participação em três blocos exploratórios emdash; 10, 11 e 13 emdash;, operados pela Shell, em São Tomé e Príncipe. Além disso, celebrou aditivos aos contratos de partilha de produção e Joint Operating Agreements correspondentes, passando a fazer parte dos consórcios dos referidos blocos, que incluem ainda a Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe e a Galp. Com isso, a petroleira ficou com 45% de participação nos blocos 10 e 13 e 25% no bloco 11. Potencial Segundo o analista de energia da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a empresa ganha tração com o novo acordo de exclusividade para avaliar outros ativos na região. eldquo;Trata-se de um movimento coerente com sua estratégia de expansão seletiva em águas profundas e ultraprofundas, com geologia compatível à sua expertise e bom potencial de descobertaerdquo;, afirmou. Ele explicou que, apesar das diferenças em relação ao pré-sal brasileiro, a bacia offshore da Costa do Marfim compartilha algumas características operacionais semelhantes às do Brasil: lâminas dersquo;água profunda, sistemas petrolíferos ativos e infraestrutura crescente. O interesse de majors como TotalEnergies, Shell e Eni na margem atlântica africana emdash; e descobertas recentes como o campo Baleine (mais que 2 bilhões de barris de reservas) reforçam o atrativo da região. eldquo;Além do alinhamento técnico, o avanço na África é estratégico: a vida útil média das reservas provadas dispostas atualmente pela Petrobras gira em torno de uma década, o que impõe a necessidade constante de reposição. A Costa do Marfim oferece uma janela oportuna para novos volumes exploratórios, com relação risco-retorno controlado e possibilidade de desenvolvimento competitivo no médio prazoerdquo;, disse Arbetman. A expansão para o continente africano tem como objetivo a busca de reservas, e até mesmo a Índia, um país onde a companhia nunca havia ventilado se instalar, já entrou no rol de possíveis alvos da estatal brasileira. Afinal, os fartos reservatórios do pré-sal não são infinitos e começam a declinar no início da próxima década. Mesmo em meio a uma transição energética, sem novos reservatórios, a produção da companhia tende a diminuir ano a ano sem novas descobertas. Investimentos Ainda não está claro, porém, quanto a empresa planeja investir fora do Brasil. Apesar de não citar exatamente a Costa do Marfim no plano atual (2025eminus;2029), a previsão é de aplicar US$ 1,7 bilhão em investimentos exploratórios até 2029 fora das margens Sul, Sudeste e Equatorial brasileiras. A participação da produção internacional no total consolidado da companhia, no ano passado, não passou de 1,26%. Mas tanto investimento quanto o peso na produção total devem crescer com as novas ambições da atual gestão. Tanto a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, quanto sua diretora de Exploração e Produção, Sylvia anjos, não poupam declarações favoráveis à atuação internacional da companhia. eldquo;Acreditamos e queremos o Brasil. Por isso a gente está lutando tanto para conseguir a nossa licença (de perfuração na Foz do Amazonas). Mas temos um conhecimento, é sabido que (os territórios de) Brasil e África estiveram juntos. Então a gente sabe que a geologia se espelha uma na outra. Por isso também conhecemos muito bem a Áfricaerdquo;, afirmou Sylvia no mês passado.

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