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Agro aposta em menos diesel e mais energia limpa no campo

Máquinas que consomem menos óleo diesel emdash;e, além de econômicas, poluem menosemdash; e equipamentos que utilizam energia sustentável, como o etanol, estão entre os destaques da Agrishow, que ocorre em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Principal feira agrícola do país, ela é considerada o termômetro do agronegócio. Por isso o destaque a tecnologias limpas no evento é visto como um posicionamento do setor de máquinas agrícolas frente às demandas atuais em meio às mudanças climáticas. Motores movidos a etanol emdash;em substituição ao dieselemdash;, e combustíveis como biometano estão entre os lançamentos apresentados aos quase 200 mil visitantes esperados até esta sexta-feira (3) na fazenda que abriga a Agrishow, que completa 30 anos desde a realização de sua primeira edição, em 1994. A John Deere apresenta pela primeira vez no país o conceito de motor a etanol para o setor agrícola, projeto global desenvolvido com apoio de engenheiros brasileiros. Projetado prioritariamente para a agricultura tropical, o motor a etanol é uma das alternativas, segundo a empresa, para contribuir para a descarbonização do mundo. O etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, é um combustível de alta octanagem (resistência à detonação). A John Deere afirma que é uma opção viável para motores de combustão interna de alto desempenho. Etanol também é o combustível de um gerador que foi apresentado na Agrishow pela Cummins Brasil. O equipamento, em desenvolvimento, deverá ser oferecido ao mercado no ano que vem. Os testes serão feitos a partir de maio, e a estimativa da empresa é que ele ofereça potência semelhante às versões a diesel. Outra fabricante que apresenta tecnologias limpas para o agronegócio é a New Holland, com o T4 Electric Power, primeiro trator utilitário totalmente elétrico do setor com recursos autônomos. Ele se une aos tratores movidos a gás da marca, segundo Eduardo Kerbauy, vice-presidente da New Holland para a América Latina, com o objetivo de formar um portfólio de soluções de tratores de carbono zero. "Como um veículo elétrico totalmente alimentado por bateria, é o primeiro trator utilitário leve de zero emissões sem motor de combustão interna, é a solução ideal para operações de menor potência, com destaque para a redução de ruídos, que chega a 90%", disse. Os visitantes que passam pelo estande da fabricante na Agrishow podem carregar o smartphone na bateria do trator elétrico. A New Holland ainda comercializa o T6.180 Methane Power, primeiro trator do mundo movido a gás biometano a partir de resíduos orgânicos, que reduz até 80% das emissões se comparado a um motor a diesel equivalente. A Case também tem investido em combustíveis sustentáveis, como o trator 100% elétrico, além de um motor movido a etanol. O motor a etanol, de acordo com Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para a América Latina, é um projeto 100% desenvolvido no Brasil em parceria com a FPT Industrial. Ele está em fase de desenvolvimento e será testado em colhedoras de cana da Case já na próxima safra. "O motor a etanol é uma alternativa de combustível renovável, com foco em redução das emissões de CO2, alto desempenho e baixo custo operacional. Vemos como promissor, principalmente para os nossos clientes do setor sucroalcooleiro que, além de contribuírem para o meio ambiente, ainda terão economia de combustível e frete", disse o executivo. Já o Farmall Elétrico é um trator com 75 cv de potência, emissão zero e características autônomas. Por meio de sensores e câmeras, é possível ativar a máquina pelo celular e ter uma visão 360º que detecta e evita obstáculos. Conectado, ele envia e recebe informações em tempo real para a ferramenta de monitoramento de frota e gestão agronômica da marca. "Ele une tudo que acreditamos ser o futuro da agricultura, conectividade, autonomia, inteligência artificial e uma matriz energética sustentável." DIESEL, COM OLHO EM RENOVÁVEIS A Fendt apresentará na Agrishow uma nova família de motores a diesel desenvolvida com foco em combustíveis alternativos. O motor Agco Power Core possui propulsores projetados para serem compatíveis, no futuro, com combustíveis alternativos, como hidrogênio, etanol, metanol e biogás, segundo Rafael Antonio Costa, diretor comercial da Fendt. "O modelo 700 Vario Gen7 possui o motor Core75, que, como todos os motores Agco Power, pode funcionar com óleo vegetal hidrogenado. Já no diesel, o equipamento se destaca pelo seu excelente torque e baixo consumo de combustível", disse. Na Massey Ferguson, os motores utilizados trabalham em baixas rotações e alto torque, o que reduz o consumo de combustível e as emissões de poluentes, segundo o gerente de marketing de produto, Lucas Zanetti. Ele disse que a fabricante está realizando pesquisas para incluir em seu portfólio máquinas movidas por fontes de energia alternativas, como eletricidade, etanol e biometano, com o objetivo de contribuir ainda mais com o ambiente, mas que também é preciso oferecer um balanço positivo para o produtor em relação a investimentos e custo-benefício. "Também temos concentrado nossos esforços para redução do consumo de combustível das nossas máquinas, sem comprometer o desempenho, ao oferecer transmissões com troca automática de marchas ou continuamente variáveis, design mais eficiente e incorporação de materiais mais leves e de alta resistência", disse. Diretor de marketing produto da Valtra, Fabio Dotto afirmou que a fabricante tem o compromisso de trabalhar para reduzir o consumo de combustíveis dos tratores da marca, sem comprometer o desempenho. Nos tratores da Série Q5, o motor seleciona automaticamente a velocidade mais econômica, otimizando o consumo de combustível e distribuindo a potência conforme necessário para o sistema hidráulico, a tomada de força ou a transmissão. NEGÓCIOS A PRAZO A cooperativa Credicitrus levou para a Agrishow deste ano linhas de produtos e serviços com taxas especiais, incluindo a instalação de sistemas de energia fotovoltaica. "A fotovoltaica está mais do que nunca sendo procurada. A Credicitrus entrou muito agressiva nessa modalidade e temos feito muitas operações. Partimos com taxa de 1,15% de juros ao mês, parcelando em até 60 meses", disse o diretor de negócios da cooperativa, Fábio Fernandes. O Santander também está oferecendo opções para financiamento de energia solar e projetos sustentáveis. Na linha de financiamento Energia+, para casas, empresas ou propriedades rurais, o prazo para pagamento é de até oito anos (96 meses), com 120 dias de carência para pagar a primeira parcela. A Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) está em sua 29ª edição. Com 800 marcas presentes, prevê receber cerca de 195 mil visitantes e ao menos repetir o desempenho financeiro em intenções de negócios gerados endash;R$ 13,7 bilhões em 2023 (valor atualizado pela inflação).

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Moody's eleva perspectiva da nota de crédito do País para 'positiva'

A agência de classificação de risco Moodye#39;s Ratings elevou de eldquo;estávelerdquo; para eldquo;positivaerdquo; a perspectiva para o rating do Brasil, citando expectativas favoráveis para o crescimento do País e reformas estruturais como a autonomia do Banco Central e a melhora da governança de empresas estatais. Ainda assim, a agência frisou que continua a ver riscos para um ajuste fiscal permanente, razão pela qual manteve o rating do Brasil em Ba2 endash; a dois degraus do grau de investimento. Nas outras duas agências globais endash; Fitch e Standard eamp; Poorersquo;s (Seamp;P) endash;, o Brasil também é classificado como um mercado de investimento de grau especulativo. O selo eldquo;de bom pagadorerdquo; é muito desejado porque facilita a atração de novos recursos externos para os países, fomentando a atividade econômica. Muitos fundos de pensão internacionais têm autorização para comprar apenas títulos de economias com grau de investimento. O Brasil chegou a atingir esse patamar em abril de 2008, pela Seamp;P, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sequência, vieram Fitch (maio de 2008) e a própria Moodyersquo;s (setembro de 2009). O País perdeu essa classificação entre 2015 e 2016, no governo Dilma Rousseff. eldquo;A Moodyersquo;s avalia que as perspectivas de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são mais robustas do que nos anos pré-pandemia, apoiadas pela implementação de reformas estruturais em múltiplas administrações, bem como pela presença de barreiras de proteção institucionais que reduzem a incerteza em torno da direção política futuraerdquo;, explicou a agência. O anúncio da Moodyersquo;s vem no momento em que a equipe econômica enfrenta resistência no Congresso para a aprovação de novas medidas para aumentar a arrecadação ou para limitar a concessão de isenções, caso da desoneração da folha de pagamento de empresas e de prefeituras endash; tema que foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), abrindo uma guerra entre os Poderes. No mês passado, o governo também mudou as metas fiscais de 2025 e de 2026, indicando que o ajuste das contas públicas vai levar mais tempo. eldquo;Acho que foi uma decisão precipitadaerdquo;, disse a economista Zeina Latif. Ela avalia que as reformas realizadas desde o governo Temer aumentaram o potencial de crescimento da economia, mas pondera que os números mais recentes podem estar turbinados por medidas fiscais pontuais, com impulsos vindos do Bolsa Família, do salário mínimo e do pagamento de precatórios (mais informações na pág. B2). Em postagem no X (ex-Twitter), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a decisão da Moodyersquo;s eldquo;tem a ver com o trabalho conjunto dos Três Poderes, que colocaram os interesses do País acima de divergências superáveiserdquo;. ebull;

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Petróleo cai mais de 3%, em meio a preocupações com demanda enfraquecida e após Fed

As crescentes preocupações com uma demanda enfraquecida e os rumores por um avanço nas tratativas de paz entre Israel e Hamas derrubaram os preços do petróleo nesta quarta-feira em mais de 3%, somados também à alta nos estoques da commodity nos EUA, em dia com volume de negociações reduzido pelo feriado do Dia do Trabalhador comemorado em boa parte dos mercados ao redor do globo. O WTI para junho fechou em baixa de 3,58% (US$ 2,93), a US$ 79,00 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex). O Brent para julho recuou 3,35% (US$ 2,89), a US$ 83,44 o barril. Nesta quarta, o Departamento de Energia (DoE) dos EUA registrou alta nos estoques de petróleo no país em 7,265 milhões, bem acima da expectativa de recuo de 1,5 milhão de barris. Depois do dado, o preço do WTI estendeu perdas e ficou abaixo dos US$ 80 pela primeira vez desde março. Mais cedo, os preços já caíam, em cautela pela decisão de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que manteve as taxas inalteradas e reconheceu, no comunicado, que os primeiros meses do ano não registraram grandes avanços no combate à inflação. A analista do City Indez Razan Hilal escreve que a queda abrupta na confiança do consumidor nos EUA na terça continuou fazendo preço na commodity nesta quarta, visto que as expectativas mais pessimistas com a demanda somaram-se a uma precificação por postura restritiva pelo Fed na decisão desta quarta. Mais cedo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se reuniu com líderes israelenses em um esforço pelo cessar-fogo entre Israel e o Hamas, dizendo que "a hora é agora" de fechar o acordo. Israel pretende enviar uma delegação ao Cairo, no Egito, para discutir os termos do acordo por uma trégua na região. Segundo traders, isto também tem puxado os preços do petróleo para baixo. (Estadão Conteúdo)

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Vendas de diesel no Brasil caem em março, mas fecham trimestre com recorde, diz ANP

As vendas de diesel B no Brasil caíram em março na comparação anual, mas terminaram o primeiro trimestre em alta de 2,4% em relação ao mesmo período do ano passado, batendo um volume recorde de 15,57 bilhões de litros, de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), publicados nesta terça-feira (30). "O resultado é recorde para os três primeiros meses do ano, e reflete um crescimento não sazonal do consumo pelo combustível causado pelo avanço significativo do volume de bens exportados pelo Brasil... garantindo uma ampliação da demanda por fretes rodoviários para escoar esses produtos aos portos brasileiros", analisou a consultoria StoneX, ao comentar os números da ANP. A StoneX ressaltou ainda em nota que a maior demanda se deu no primeiro bimestre, uma vez que as vendas de diesel B (com mistura de biodiesel) caíram cerca de 7% em março, para 5,4 bilhões de litros. "Essa queda vem em meio a redução do volume de bens exportados pelo país, que operou com uma baixa de 7,3%, em meio à retração das vendas externas do agronegócio", disse a consultoria. Para o ano de 2024, a StoneX espera uma ampliação de 1,7% do total de vendas do diesel B, atingindo 66,6 bilhões de litros, na esteira do crescimento do PIB. (Reuters)

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Reforma tributária: Estados se preparam para duelo com governo federal na regulamentação

A segunda etapa da regulamentação da reforma tributária, em fase final de elaboração, mobiliza governadores e secretários de Fazenda, que anteveem um duelo com o governo federal no que diz respeito à autonomia dos Estados e municípios em fiscalizar e arrecadar no novo regime tributário. Se o primeiro texto, com 500 artigos, mobiliza mais o setor privado, interessado em entrar na lista de exceções ou reduzir a carga tributária, o segundo dará os rumos sobre como deverão ser coordenados os fiscos estaduais, municipais e a Receita Federal. O tema já sensibilizou governadores, que se queixam de riscos de perda de autonomia e de dúvidas sobre o funcionamento do Comitê Gestor, que vai gerenciar a arrecadação e a distribuição do IBS, o novo imposto que surgirá da unificação do ICMS (estadual) e do ISS (municipal). Ainda que o governo tenha reduzido a relevância do comitê e afirme que a divisão se dará por meio de um algoritmo, governadores afirmam que há questões ainda pouco claras. eldquo;O temor de governadores e também de prefeitos é de perda de autonomia, e de termos de sair de pires na mão esperando a mesada do Comitê Gestorerdquo;, afirma ao Estadão o governador Ronaldo Caiado (União-GO). Desde o início da tramitação, ele tem demonstrado preocupação com a reforma e, neste momento, tenta viabilizar sua candidatura a presidente em 2026. eldquo;Que negócio é esse de algoritmo para o funcionamento do comitê?erdquo;, questiona Caiado, acrescentando que o funcionamento do órgão ainda é eldquo;obscuroerdquo;. eldquo;A tributação da soja (principal produto do Estado) vai ser no destino. E toda a linha de produção? Hoje, Goiás tem imposto sobre querosene, transporte, etc. Vai perder tudo isso?erdquo;. Carlos Eduardo Xavier, secretário de Fazenda do Rio Grande do Norte e presidente do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, afirma que o Comitê Gestor é eldquo;questão centralerdquo; para os Estados, assim como o Fundo de Desenvolvimento Regional. eldquo;No Comitê Gestor é que estará resguardada a autonomia dos Estados. Ele dialoga com o poder de fiscalização, de como vai ser a distribuição da arrecadaçãoerdquo;, afirma. Ele alega que o Ministério da Fazenda tem defendido a linha da simplificação e unificação de tratamento tributário, mas que isso eldquo;não pode jogar por terra a autonomia e o bom funcionamento dos Estados e municípioserdquo;. eldquo;O Comitê Gestor é de total interesse dos Estados e dos municípios. Então, esse texto tem de ter realmente bastante convergência para podermos defendê-lo no Congresso. Senão, a gente pode pensar em outra hipótese, que seria muito ruim: a apresentação de um texto paralelo. É algo que pode acontecer, dependendo de como vai se dar a discussão dos próximos diaserdquo;, afirma Xavier. Após a divulgação do primeiro texto da regulamentação, apresentado na última quarta-feira, 24, pela equipe econômica, o Comsefaz publicou uma nota elencando nove pontos de desacordo da proposta da Fazenda, entre os quais o período que será utilizado para computar a participação de cada ente no bolo da arrecadação; a sobrevida dos fundos de combate à pobreza, caros ao Norte e Nordeste; e os parâmetros do cashback (devolução de impostos pagos para a população mais pobre). O texto afirma que os Estados e municípios devolverão pelo menos 20% do que arrecadarem nas contas de luz, gás e água e esgoto dessa parcela da população. Xavier observa que o ICMS sobre energia elétrica e combustíveis é hoje uma das principais fontes de arrecadação dos Estados endash; e, por isso, cada um deve ter autonomia para gerenciar o que pode oferecer em cashback. As diferenças não inviabilizaram a conclusão do primeiro texto e, segundo Xavier, os Estados vão tentar fazer alterações durante a tramitação no Congresso. Nesta terça-feira, 30, os governadores do Sul e Sudeste se reúnem para discutir os pontos mais sensíveis para eles na regulamentação. eldquo;Porque a gente tinha essas divergências no texto apresentado, não fomos lá (na entrega da primeira fase da regulamentação aos presidentes da Câmara e do Senado). A gente estando, meio que avalizava completamente o texto, e não é isso. Temos esses pontos que estão ainda abertos para discussãoerdquo;, afirma Xavier. Governador do Pará e apontado como potencial vice de Lula na eleição de 2026, Hélder Barbalho (MDB) afirma que tem preocupações legais sobre o comitê gestor. eldquo;Qual será a figura jurídica dessa verdadeira agência nacional, poderosa, responsável por arrecadar o imposto; efetuar as compensações e distribuir o produto da arrecadação entre Estados e municípios; editar regulamento único e uniformizar a interpretação e a aplicação da legislação e decidir o contencioso administrativo?erdquo;, questiona o governador. Segundo ele, o Ministério da Fazenda vem sugerindo que seja uma autarquia federal com orçamento aprovado pelo Congresso ou que tenha aprovação das assembleias legislativas e das câmaras municipais. eldquo;Isso não faz sentido para um imposto que é de competência compartilhada entre Estados e municípios e, por isso, não deve ter nenhuma ingerência do governo federal. Também não faz sentido ser aprovado por 27 assembleias legislativas e pelas 5.570 câmaras municipaiserdquo;, afirma Hélder. O governador está propondo que seja criado um consórcio interfederativo, regido pela lei federal dos consórcios, e com orçamento limitado a um porcentual da receita do imposto.

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Petrobras terá de comprovar conteúdo renovável do coprocessado, diz relator do combustível do futuro

O relator do projeto de lei do combustível do futuro no Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), afirmou em entrevista ao Broadcast Político/Coluna do Estadão que, para incluir na proposta o diesel coprocessado da Petrobras, será preciso comprovação de que o produto tem conteúdo renovável e não tirará espaço do diesel verde. Como revelou a Coluna do Estadão, a Petrobras perdeu força no duelo com o agronegócio em torno do combustível do futuro. O revés veio em uma resolução da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que impõe ao coprocessado o mesmo tratamento oferecido ao diesel A, poluente e de origem fóssil. Na prática, a ANP atrapalhou os planos da estatal de inserir no texto do Senado um estímulo ao diesel coprocessado, sob o argumento de que o produto seria um combustível limpo. Primeiro-vice-presidente do Senado, Veneziano garantiu que ouvirá todos os lados e ainda não tomou uma decisão sobre esse ponto, que é um dos mais polêmicos porque opõe a petroleira ao setor do biodiesel e ao agronegócio. O senador é presidente da Frente Parlamentar de Energia, criada pelo agora presidente da Petrobras, o ex-senador Jean Paul Prates. Os dois são amigos pessoais, mas o relator nega que sua relação com o chefe da estatal influenciará em sua atuação. eldquo;Quem diz isso não me conhece. A análise vai ser técnicaerdquo;, comenta. O projeto, já aprovado na Câmara, está na Comissão de Infraestrutura do Senado, em fase de audiência públicas. Veneziano, que também é vice-presidente da Casa, prevê que a conclusão do relatório e a votação no plenário devem ocorrer em maio. Veja os principais trechos da entrevista: É possível votar o projeto em maio, depois das audiências públicas? Eu acredito que sim. O governo federal, Congresso, entidades, mesmo aquelas que têm alguns pontos de divergência, todos são uníssonos em torno do projeto, para colaborar de forma efetiva, participativa, eficiente e inequívoca com a descarbonização. Você vai dar ao agro a oportunidade ainda mais de se robustecer, e isso, para a economia, é importante. Paralelamente a isso, com a mesma importância, a utilização de outros biocombustíveis. A gente vai avançar no diesel verde, no Combustível Sustentável de Aviação (SAF), que tem um anúncio explícito do setor concordando com o projeto. O sr. está disposto a atender a Petrobras e incluir o diesel coprocessado no projeto? Eu não posso dizer agora, seria leviano de minha parte. Eu me reuni com alguns do setor. Eles defendem que, se estamos tratando de um projeto que visa descarbonizar e se o coprocessado, na óptica deles, tem um porcentual, mesmo que modesto, de utilização de bio, não deixa de ter um apelo pela descarbonização. Por outro lado, existem visões que divergem do que é apresentado pela Petrobras. É preciso que a gente possa, de forma comprovada, saber dos fundamentos de um lado e de outro, para que a gente, convencido, possa trazer o relatório A inclusão do diesel coprocessado não tiraria o caráter eldquo;verdeerdquo; do PL? Não estou dizendo que estou concordando. Estou expondo o que um lado defende e o que o outro lado resiste a compreender. Não estou dizendo que já me convenci, que os argumentos que a Petrobras trouxe são suficientes. Os fundamentos que são trazidos pelos produtores de biocombustíveis são de que não enxergam no coprocessado a mesma consistência ou as mesmas propriedades que os biocombustíveis têm. Por outro lado, eles (a Petrobras) desdizem isso. E como o sr. vai tomar a decisão? Cabe a quem está defendendo comprovar. Cabe, por exemplo, à Petrobras dizer eldquo;aqui tem, sim, biocombustíveis, temos como comprovar com balanço de massas, com processos tecnológicos com uso do carbono 14, que é um dos processoserdquo;. Essa disputa entre Petrobras e setor de biocombustíveis sobre o coprocessado pode travar o projeto? Não. Esse projeto tem um apelo tão grande... Ele é tão importante e somos tão cientes da sua importância, que ele não vai ser travado. Nós queremos melhorá-lo para poder dirimir algumas dúvidas, colocar algumas questões que não houve tempo suficiente na Câmara para fazer. O MME está apoiando a versão do projeto que saiu da Câmara. Por outro lado, a Petrobras quer incluir o coprocessado. A gente sabe que há um atrito interno no governo entre Alexandre Silveira e Jean Paul Prates. Isso interfere no projeto? Não, isso não vai ser importante para a elaboração do relatório. Não vou deixar de atender a Petrobras para atender o ministério. A análise vai ser técnica. Tem uma avaliação no setor de biocombustíveis de que a Petrobras pode ter suas demandas atendidas no Senado justamente porque a relatoria ficou com o sr., que é presidente da Frente Parlamentar de Energia. Quem diz isso não me conhece. Não espere que eu negue minha ótima relação com Jean Paul Prates, meu amigo pessoal, e a minha presença na Frente Parlamentar, que é uma frente que defende recursos naturais. Eu estou apenas tratando o tema como alguém que sabe que não pode instruí-lo parcialmente. A questão para incluir o coprocessado é essa, de comprovação, balanço de massa, então? Não é só essa. É preciso que nós levemos em conta que há uma responsabilidade nossa de preservar a futura atividade de produção de diesel verde e de SAF. Não podemos abrir mão disso. Se ficar comprovado que o coprocessado ajuda na descarbonização, mas tira mercado do diesel verde, não (vamos permitir). Porque está tirando, inclusive, a possibilidade de investimento na SAF. A planta de produção de refinaria do diesel verde é a mesma que se utilizará para SAF. Se você desestimula o diesel verde, por consequência você trará prejuízo também para a produção de SAF. Com isso não concordamos. Então, se eles conseguirem comprovarehellip; Vamos ver, vamos ouvir na semana que vem, porque eu entendo a importância de você estimular o diesel verde. Se é para trocar o coprocessado pelo diesel, aí não [vamos por no relatório]. Quais outros pontos do projeto estão em discussão? Quando se fala sobre o biometano, existem pontos como possíveis custos, aumentos para alguns setores da indústria e que possam acometer algumas cadeias de produção industrial. Há aqueles que defendem que o HVO, o diesel verde, possa ter a sua inclusão, o processo de mistura, o mandato, feito não pelas distribuidoras, mas sim pelos produtores, importadores. O que mais? Existe uma preocupação por parte daqueles que cumprem rigorosamente com esses porcentuais (de misturas de combustíveis) de uma presença consideravelmente grande de alguns que burlam, fraudam. De 142 distribuidoras, pelo menos 55, na identificação pela ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás) (não cumprem). A gente tem que trazer no projeto previsões de um acompanhamento. A CNT afirma que o aumento das misturas pode prejudicar os veículos. A CNT tem um ponto que é o de questionar o porcentual, até mesmo o atual de 14%, porque na óptica deles teria uma prejudicialidade ao motor, o que leva a custos maiores, mudanças de bomba injetora, de mudança de filtro. A rastreabilidade é fundamental, como também é fundamental e é ponto pacífico que o relatório terá o acompanhamento por autoridades já identificadas, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), para o processo de progressão da mistura, que só se dará com base científica, com comprovação efetiva. O sr. vai mudar a redação do texto na parte que fala em viabilidade técnica para o aumento da mistura? Há quem reclame que a Câmara não deixou claro que é preciso fazer testes. Eu ainda não me detive à integralidade do texto nesse ponto. Se essa lacuna ocorrer, a meu ver, é necessário que nós, taxativamente, tratemos dessa matéria, de forma imperativa. Deixar claríssimo que tem que haver, para toda e qualquer progressão (de misturas), a análise prévia técnica, científica. Tem que ser taxativo, não há como deixar brechas e mínimas condições de dúvida. Pode haver mudança no piso de 13% da mistura de biodiesel no diesel? Não houve identificação da nossa parte para que haja diminuição desse valor mínimo. Não esteve em nenhum momento em debate. (Coluna do Estadão por Roseann Kennedy)

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