Quatro anos após a venda da BR, no governo Bolsonaro, Petrobras planeja volta à distribuição
Depois de iniciar as discussões para assumir o controle da Refinaria de Mataripe, na Bahia, a Petrobras já tem planos para voltar ao setor de distribuição de combustíveis através da Vibra (antiga BR). A empresa foi vendida pela estatal na gestão de Jair Bolsonaro, em um processo que ocorreu entre 2017 e 2021. Segundo fontes do setor, as conversas entre as duas empresas, ainda de forma embrionária, tendem a se intensificar após terem esfriado as negociações entre Vibra e Eneva, empresa de produção de gás natural e geração de eletricidade, que propôs uma fusão dos negócios entre as duas companhias. Atualmente, Petrobras e Vibra já conversam sobre a possibilidade de a estatal vender combustíveis diretamente para companhias donas de frotas, como as empresas de ônibus. O primeiro sinal dessa nova fase de conversas foi dado no dia 10 de janeiro, quando a estatal informou que não tem interesse em prorrogar o prazo de vigência do atual contrato de licença de uso de marcas da companhia, que se iniciou em 28 de junho de 2019 e se encerrará em 28 de junho de 2029. Segundo as fontes, o plano em estudo da Petrobras é ter uma posição na Vibra que pode variar de 20% a 40%. Hoje ela não tem participação na companhia. A estatal almeja também conseguir alguma espécie de golden share (ação com direitos especiais) que a permita controle sobre o uso da marca BR. Mas a distribuidora de combustíveis seguiria atuando como empresa privada, independente, para poder concorrer com os importadores e outros rivais. Nas palavras de uma das fontes envolvidas nas discussões, a empresa não pode ter as amarras de uma estatal. Hoje, destacou essa fonte, o movimento depende mais de mudanças internas na Vibra. Hoje, a relação entre Vibra e Petrobras, é classificada como eldquo;amigávelerdquo; e de conversas eldquo;constanteserdquo;. Recentemente, o CEO da Vibra, Ernesto Pousada, disse em entrevista à agência Bloomberg que não está em negociações com a Eneva. A volta ao setor de distribuição também tem levado a estatal a avaliar o uso de sua própria marca em postos diversos, já que há uma regulamentação da Agência Nacional de Petróleo (ANP) que prevê que as bombas nos postos precisam ter as marcas do fornecedor. A estatal avalia investir em marketing e logística para mostrar ao consumidor onde seu produto está sendo comercializado. Refinaria na Bahia A desestatização da BR ocorreu por meio da venda das ações da distribuidora no mercado. Entre 2017 e 2021, a Petrobras vendeu as ações da BR em três momentos, arrecadando um total de R$ 26 bilhões, segundo dados do Dieese/Fup (Federação Única dos Petroleiros), com as ações valendo R$ 15 (em dezembro de 2017), R$ 24,50 (em julho de 2019) e R$ 26 (em junho de 2021). Ontem, os papeis da Vibra fecharam o pregão a R$ 24,85. Enquanto estuda a volta ao setor de distribuição, a Petrobras e a Mubadala Capital seguem em negociação avançada em torno da recompra da refinaria na Bahia. A meta das empresas é assinar o acordo de venda em junho e fazer o fechamento (closing) da operação até o fim deste ano. Segundo fontes, a Petrobras deve ter entre 70% e 80% das ações da refinaria de Mataripe. O percentual exato da estatal na refinaria vai depender das conversas envolvendo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que regula a concorrência no país e que precisa aprovar a operação. De acordo com uma das fontes envolvidas diretamente na negociação, o percentual exato vai depender do Cade. A Mubadala Capital é um veículo de investimentos do fundo soberano do Emirados Árabes Unidos e pagou US$1,8 bilhão pela refinaria em 2021. Agora, nas negociações com a estatal, será levado em conta o valor de US$ 500 milhões de investimentos feitos pelo Mubadala e a compra de um parque solar para gerar energia sustentável na unidade. Parceiras em biorrefinaria Além disso, também será levado em conta na formação do preço final o total do estoque da unidade no dia do fechamento da operação. A refinaria tem hoje capacidade de processamento de 333 mil barris por dia, quatro terminais de armazenamento e um conjunto de oleodutos de 669 quilômetros de extensão. A refinaria hoje tem um CNPJ próprio e está sob o comando da Acelen, que pertence ao Mubadala Capital e, segundo fontes, estaria disposta a vender parte das operações desde que a negociação envolva desembolsos em dinheiro da Petrobras. Em paralelo Petrobras e a Mubadala Capital também vão se tornar sócias na futura biorrefinaria de Macaúba, que vai produzir diesel usando como matéria-prima o fruto da macaúba, uma palmeira nativa do Brasil. A fonte lembrou que a produção só deve começar em 2026 e destacou que as operações vão ocorrer em momentos diferentes. Na operação envolvendo Macaúba, a Petrobras será minoritária, com algo entre 20% e 30% das ações. Além disso, há negociações para que a Adnoc, petrolífera dos Emirados Árabes Unidos, também entre como sócia na unidade de Macaúba ao lado da Mubadala. emdash;As conversas entre Petrobras e Mubadala ocorrem em comum acordo. A estatal vai fazer due diligence (investigação de informações de uma empresa) na refinaria após assinar o acordo emdash; disse uma fonte a par das discussões. Procuradas, Petrobras, Vibra e Mubadala não se pronunciaram.