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Pesquisa mostra que 92% do etanol vem de novas áreas de cana-de-açúcar no Brasil

De acordo com dados do DATAGRO, a produção mundial de etanol cresceu 3,6% em 2021. O Brasil, atualmente, é o segundo maior produtor deste combustível, que por gerar menos emissão de gases poluentes na atmosfera, rivaliza com os carros elétricos na disputa por um automóvel que seja mais sustentável. Ao tentar entender quão eldquo;verdeerdquo; realmente é o etanol, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) utilizou monitoramento por satélite para criar um modelo econômico, fundamentado em dados, capaz de analisar o uso da terra destinado às atividades agrícolas de cana-de açúcar. No que diz respeito ao uso da terra, Marcelo Santersquo;Anna, pesquisador da EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE), explica que há duas formas de aumentar a produção da cana-de-açúcar: a primeira é replantar com mais frequência, e a segunda é amplificar essa plantação em novas áreas. eldquo;Nosso estudo constatou que ao aumentarmos a produção no Brasil, apenas 8% do novo etanol é proveniente da cana-de açúcar oriunda de uma maior intensificação do processo de replantio. Os outros 92% vêm de novas áreaserdquo;, introduziu o professor. À frente do projeto, Santersquo;Anna contextualiza que a demanda por combustíveis vem aumentando nos últimos anos, assim como a necessidade de reduzir os danos ao meio ambiente. eldquo;Neste cenário, já existem inúmeras pesquisas que analisam o ciclo do carbono e as emissões líquidas no processo de produzir etanol. Porém, o que este estudo propôs foi chamar atenção para as consequências relacionadas ao uso da terra, uma vez que a expansão da cana-de-açúcar para produzir o biocombustível vai ser expandida em áreas que podem ser utilizadas para outro tipo de produçãoerdquo;. Santersquo;Anna ressalta que essas plantações que ultrapassam a margem de suas áreas podem adentrar em matas e florestas ao redor do país, além de também tomar o espaço de outras culturas agrícolas, como plantação de soja e diversos alimentos. eldquo;Nesta pesquisa identificamos que 20% dessas novas áreas eram em sua origem florestas, o que implica um desmatamento para produzir a planta que origina o biocombustível. Outros 70% correspondem a áreas que eram ou de pastagem ou de outras culturas, como milho, trigo, etc.erdquo;. O modelo criado permite analisar para onde estão sendo expandidas essas novas áreas e o que ocorre com outras culturas além da cana. eldquo;Atualmente é mais barato expandir novas áreas do que intensificar o replantio das que já existem. Como a maior parte da expansão da produção se dá em novas áreas, é fundamental entender os determinantes desse processo para se formular políticas públicaserdquo;, pontuou Santersquo;Anna. Tecnologia e estatística Para ajustar este modelo econômico o estudo utilizou imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mapeou todas as áreas de cultura de cana-de-açúcar no Brasil, com mais de 1 milhão de pontos no mapa, que foram acompanhados por mais de 10 anos. Os dados monitoram não somente o plantio em novas terras, mas também replantio em áreas de cultivo existentes. eldquo;Este estudo provê referências para a discussão sobre quão verde é realmente a cana-de-açúcar em emissões de carbono. Se olharmos como esse aumento de produção ocorre ao longo da curva de oferta, podemos entender melhor os impactos de políticas de promoção do etanol. Por se tratar de uma planta semi perene, a cana-de-açúcar quando plantada vai gerar um rendimento menor anualmente, até se chegar ao ponto de precisar ser replantada. Existe um canal, portanto, através deste processo de replantio que permite aumentar o rendimento. Porém, o que verificamos é que, apesar de presente, esse mecanismo de intensificação é muito menos relevante do que a expansão para novas áreas de culturaerdquo;, complementa o pesquisador. Através desse novo modelo dinâmico ajustado para os dados brasileiros, ele acredita ser possível realizar experimentos em políticas públicas ao investigar como se dá o aumento da produção de cana-de-açúcar. eldquo;Se a produção de etanol estiver vindo de novas áreas de plantação de cana-de-açúcar acende-se um alerta para as questões ambientais, ou para uma possível interferência na produção de outras commodities agrícolaserdquo;. Santersquo;Anna aponta que o cenário precisa de um olhar mais cuidadoso, pois responder à pergunta eldquo;quão verde é a cana-de-açúcarerdquo; depende fundamentalmente do que ocorre com as áreas utilizadas para produção desta planta. eldquo;Nosso papel não é dizer se o etanol é bom ou ruim, mas sim, entender todo o ciclo de produção e o real impacto deste combustível que é considerado verdeerdquo;, concluiu o pesquisador. (FGV)

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Petrobras inicia execução do primeiro plano de Lula 3 sob equilíbrio de pressões

Com o início de 2024, a Petrobras começa a colocar em prática o primeiro plano estratégico elaborado no terceiro mandato de Lula (PT): US$ 102 bilhões de investimentos em cinco anos, durante um governo que garantiu aos eleitores que a companhia voltaria a ser um vetor de desenvolvimento do país. Passados os 12 meses da posse, a petroleira deve entregar resultados financeiros robustos no fechamento de 2023, enquanto seus executivos comemoram o valor de mercado da empresa endash; que superou os US$ 100 bilhões. Inegavelmente, o mercado de ações aprovou a condução da Petrobras com o bolso, mas os discursos das casas de análise e bancos seguem demonstrando desconfiança com os rumos da companhia, que se equilibra entre os anseios de consumidores, acionistas e do Planalto. À primeira vista, são pressões antagônicas, mas que os executivos da companhia entendem que conseguiram navegar de forma bem-sucedida no primeiro ano. Conta para isso a manutenção do pagamento de dividendos em um nível atraente, evitando o aumento do endividamento da estatal. eldquo;Projetos sancionados apenas com VPL [Valor Presente Líquido] positivo no cenário mais conservadorerdquo; é uma das primeiras mensagens do plano 2024-2028+. A cada distribuição, o governo e bancos públicos são destino de pouco mais de um terço dos dividendos, que até setembro somaram R$ 57 bilhões em 2023, considerando parcelas a pagar. O ano começa também com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ocupando a agenda política do país com a pauta fiscal. A empresa nem sequer promoveu uma redução agressiva dos preços dos combustíveis, desde o fim oficial do PPI. Pelo contrário, executivos da empresa passaram o ano argumentando em conversas em Brasília que manter a rentabilidade na venda de derivados garantirá os recursos necessários para as novas obras. A revisão da política de dividendos e os preços de combustíveis foram o foco da nova gestão. Ambas tiveram mudanças menos radicais do que o previsto pelo mercado, o que ajudou a dissipar as ressalvas. Até aqui, a Petrobras não abraçou o conteúdo local do passado. Manteve o rumo das licitações, principalmente da área de exploração e produção, sem direcionar demandas adicionais para os estaleiros brasileiros. Também não entregou, no plano aprovado, o grande pacote de navios desenhado na Transpetro: de uma expectativa inicial de 25, saiu o orçamento para construir quatro até 2028. Gás e fertilizantes, menos rentáveis endash; e claras prioridades políticas de Lula endash;, estão entre os maiores desafios do plano, que adiou mais uma vez o projeto de Sergipe e tem um horizonte incerto para retomada de Três Lagoas, a fábrica incompleta do Mato Grosso do Sul. Uma grande expectativa para os próximos meses é o início da aquisição de ativos de geração eólica e solar. A Petrobras vai às compras para o seu retorno à geração de energia, em meio a um conflito interno entre aquisições de ativos geradores de caixa ou os chamados greenfield, em fases iniciais de desenvolvimento (e mais baratos). Ao cabo, o plano aprovado representa, evidentemente, a chancela do Planalto. O governo controla o conselho, que deu o aval final sobre o próximo ciclo de investimentos da Petrobras. No curtíssimo prazo, o foco é a entrega. eldquo;O primeiro ano foi de plantar o terreno. Este é o ano da colheita e a primeira árvore frondosa é a Rnesterdquo;, disse o presidente Lula durante o evento de lançamento das obras da refinaria em Ipojuca. Com o freio nos desinvestimentos, a empresa confirma o objetivo de se manter como ator relevante para a economia do Nordeste. Foi o tom do evento em Pernambuco. O próximo está previsto para o polo naval de Rio Grande (RS), onde será feito o primeiro grande projeto de desmantelamento de uma plataforma no Brasil. Os próximos anos serão, como foi no passado, de um ciclo de adaptação para o mercado e indústria, a cada passo dado por uma das maiores companhias da América Latina. Foi, afinal, o primeiro ano de um partido que já está pensando quem será o candidato em 2030. Detalhamos, a seguir, projetos específicos: as dificuldades com o projeto de produção de gás natural em Sergipe; as incertezas no retorno à fabricação de fertilizantes; a Braskem; e as discussões internas envolvendo a compra de ativos de geração renovável. Uma empresa integrada em tempos de crise eldquo;A Petrobras voltouerdquo;. Foi assim que Jean Paul Prates apresentou o novo plano 2024-2028+, em novembro. É o retorno à lógica de empresa integrada, com uma atuação mais ampla no setor de energia, incluindo iniciativas nas áreas de refino, fertilizantes e renováveis, além da internacionalização. Dentro da empresa, o discurso é de que o endividamento precisa ficar sob controle e que eventuais novos projetos acrescentados ao portfólio precisam eldquo;agregar valorerdquo;. Isso enquanto a indústria global atravessa um momento de aumento de custos e de maior incerteza na cadeia de fornecimento, em meio às guerras e tensões na Europa e no Oriente Médio. De fora, o mercado calcula que o cenário pode alterar o calendário de entregas da estatal nos próximos anos, mas fontes internas garantem que o novo plano já foi elaborado considerando esse contexto mais desafiador. E daí surgiu a necessidade de repensar a estratégia de contratação, para reverter os impactos do cenário internacional e garantir a entrada dos projetos no prazo. Voltar a se assumir como uma empresa integrada é a marca da ruptura em relação ao governo de Michel Temer, que deixou de herança para Bolsonaro o plano de eldquo;enxugarerdquo; a Petrobras, com foco na exploração e produção em águas profundas e dentro do Brasil. Significava vender tudo que estivesse fora do polo formado pelos campos de alta rentabilidade do pré-sal e do parque de refino majoritariamente no Sudeste. O próximo passo seria a promessa do ex-ministro Paulo Guedes de privatizar, mas que foi negada pelas urnas em 2022. Plano de investimentos conservador Esse constante equilíbrio se refletiu no plano de negócios: US$ 11 bilhões (10%) dos US$ 102 bilhões aprovados estão na eldquo;carteira em avaliaçãoerdquo;. São US$ 91 bilhões firmes, com US$ 73 bilhões (80%) para produzir mais petróleo endash; o que a companhia, sempre que pode, perseguiu. São US$ 12 bilhões (13%) no orçamento em implantação para o refino. Abreu e Lima é uma obra estimada em até R$ 8 bilhões (US$ 1,6 bilhão), segundo estimativas citadas no lançamento das obras. O trem 2 já estava previsto no planejamento anterior, elaborado no governo de Jair Bolsonaro, após o fracasso do plano da administração passada em vender a refinaria. O que, aliás, coloca em xeque a grita recente de setores da sociedade, que atribuem a decisão da Petrobras de investir em refino no Brasil exclusivamente à volta do PT. Os R$ 11 bilhões da carteira em avaliação estão na área de gás (R$ 6 bi) e também refino (R$ 5 bi). É uma característica do plano quinquenal que, pela primeira vez, incorpora na sua comunicação o que vem depois (o eldquo;2028+erdquo;). Assim, ao deixar o montante para investimentos em avaliação, a diretoria indicou e o conselho aprovou uma seleção de projetos que ainda precisam passar por instâncias adicionais da governança interna antes de saírem do papel. Esses diferentes níveis de maturidade sempre existiram no planejamento financeiro da companhia, mas dessa vez os valores foram abertos e anunciados como uma forma de ampliar a transparência. A divulgação da carteira em avaliação foi percebida pelo mercado financeiro como um esforço para chegar ao capex total de três dígitos esperado pelo governo. Há, portanto, dúvidas sobre a intenção real de execução do valor. Esse conservadorismo, na visão de analistas, se reflete na prioridade para projetos em linha com a estratégia anterior, como a revitalização dos campos de Barracuda e Caratinga, na Bacia de Campos, que vão ganhar uma FPSO de 100 mil barris/dia, prevista para 2028. Antes do anúncio do plano, o temor recaia sobretudo no retorno ao setor de fertilizantes e a expansão do refino e da petroquímica, além da entrada na geração de energias renováveis, devido ao menor retorno em comparação com a produção de óleo. A leitura de setores da companhia que anseiam uma aceleração dos investimentos é a mesma do mercado financeiro. Na conclusão, basta inverter: a Petrobras deveria ser mais ousada no desenvolvimento da indústria local e na geração de emprego e renda. Mais ou menos sem PPI, mas pagando as contas Escolhido por Lula para comandar a companhia, Jean Paul Prates completa um ano no cargo este mês. A diretoria chegou alguns meses depois, concluindo a transição e formação do novo conselho, um primeiro episódio da acomodação política na companhia. Nesse período, Prates brigou publicamente e diversas vezes com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). As equipes do ministro chegaram a calcular quão mais caro os combustíveis da Petrobras estavam em relação ao PPI, uma postura inédita, ainda mais em um governo petista. Bolsonaro não fez isso, mas reclamava dos preços nas transmissões de quintas-feiras e demitia seus presidentes. Foram tempos turbulentos na companhia. No atual governo, o tema se estendeu por gabinetes de diferentes ministérios, inclusive na Casa Civil de Rui Costa (PT). Combustível de aviação caro é um obstáculo para redução das passagens; a gasolina e, especialmente o diesel, têm impacto na inflação e na satisfação dos eleitores. São premissas que Prates e executivos da Petrobras precisaram negociar em Brasília para terminar um ano com uma estratégia comercial, que na prática, entregou preço até acima do finado PPI em alguns períodos do ano endash; o QAV da aviação é o caso mais claro. Prates pautou parte desses conflitos nos bastidores por meio das críticas públicas ao que entende ser uma demora na transmissão de preços ao longo da cadeia de distribuição e revenda. eldquo;São ainda poucos meses, mas de muito trabalho, em diálogo constante com toda a sociedade, que tem visto a empresa comunicar ajustes nos seus preços e que tem cobrado que as nossas reduções também cheguem aos postoserdquo;, disse em novembro, em um longo balanço da gestão, no X (ex-Twitter). Tudo isso se refletiu no plano, a partir do contraponto feito pela empresa junto ao governo, que a rentabilidade na venda dos combustíveis sustenta os novos investimentos, os aportes no parque existente endash; os revamps endash; e no fator de utilização das refinarias, que de fato atingiram níveis historicamente altos. Para a Faria Lima, os executivos abriram um diálogo com investidores e imprensa meses antes do anúncio oficial dos investimentos, dando sinais graduais dos novos rumos. Evitaram surpresas, o que agradou ao mercado. Com os dividendos em dia e uma leitura em setores do governo que os preços dos combustíveis não são um grave problema político na atual conjuntura do país, o sentimento na cúpula da companhia é de eldquo;missão cumpridaerdquo; em Brasília, sem desagradar os acionistas privados. Um termômetro é o tratamento aos papéis: no primeiro trimestre de 2023, menos de um terço dos analistas recomendavam a compra de ações da Petrobras. O mercado tinha uma posição majoritariamente eldquo;neutraerdquo;, mesmo vendo potencial de valorização. Ao fim do ano, 73% orientavam a compra e não havia nenhuma recomendação de venda. O preço-alvo dos analistas subiu cerca de 20% ao longo do ano. Até o momento, além de conter os arrepios do mercado de ações, o governo tem sido bem-sucedido em superar outro trauma do controle de preços do passado, quando a Petrobras represou os repasses do mercado global ao fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). As vendas de etanol hidratado na safra 2023/2024 subiram 11% até dezembro, para 14,37 bilhões de litros, enquanto o anidro misturado no combustível fóssil avançou 0,95%. Gasolina artificialmente barata compromete as margens do biocombustível, prejudicando os negócios dos usineiros. Na aproximação com o agronegócio, Silveira foi um dos responsáveis por reconstruir as pontes entre o PT e o setor sucroenergético, especialmente a partir de Minas Gerais, sua base eleitoral e onde o petista virou o jogo, derrotando Bolsonaro. Pavimentou de vez o caminho até a Esplanada dos Ministérios de Lula. Os desafios contratados no plano 2024-2028+ O gás natural de Sergipe e a construção de plataformas A Petrobras vai rever aspectos técnicos previstos nas licitações para o afretamento das duas plataformas de águas profundas de Sergipe-Alagoas. As licitações estão na rua desde 2021 e, após mudar o modelo de contratação, a concorrência foi relançada no início de 2023. A companhia tem enfrentado dificuldades para afretar as duas unidades, que estão previstas para entrar em operação em 2028, com capacidade para produzir 120 mil barris/dia cada. A entrega de propostas prevista para 15 de janeiro foi adiada. eldquo;Esse aquecimento do mercado que vai demandar que se reveja realmente o projetoerdquo;, explica uma fonte da empresa. A companhia se debateu internamente sobre o projeto e chegou-se a discutir manter os investimentos na carteira em avaliação. Por exigência do conselho, a diretoria reavaliou e subiu Sergipe para implantação, o que eleva as responsabilidades das áreas técnicas internas na busca por uma solução economicamente viável. Isto é, não se carimbou um orçamento para elevar a oferta de gás natural a partir do estado do Nordeste com sacrifícios do eldquo;VPL positivoerdquo;. As contas da companhia demonstram que a produção de óleo das duas unidades é fundamental para o conjunto de ativos parar de pé e viabilizar o gasoduto de 18 milhões de m³/dia. Diante do desafio de contratar duas FPSOs em um mercado inflacionado, o gás foi adiado em mais um ano, para 2029. Além disso, a Petrobras deve anunciar nos próximos dois meses uma nova estratégia para a contratação própria de parte das plataformas. O cenário de dificuldade de contratação de grandes projetos no mercado internacional deve dar o tom dessas iniciativas. A companhia tem deixado claro, no entanto, que não vai assumir compromissos sem racionalidade econômica e aponta que os projetos que já estão em andamento são suficientes para fazer chegar demandas aos estaleiros e à indústria nacional na segunda metade da década. Vem aí a Braskem Já na área petroquímica, a companhia espera expandir a atuação, que é considerada crucial para a estratégia de longo prazo, com a transição energética. A estratégia, no entanto, carece de uma definição sobre a situação da Braskem, na qual a Petrobras tem uma participação minoritária. A Novonor recebeu propostas pela venda da fatia que detém na empresa, mas enfrenta uma crise pelos impactos da exploração de sal-gema em Maceió (AL). A Petrobras tem direito de preferência para a compra, caso a Novonor siga adiante com a venda. Fontes internas avaliam que a expansão no segmento é fundamental, mas que vai ser necessário ter eldquo;estômagoerdquo; para aguentar ciclos de baixa antes do aumento do lucro. Os próximos passos são esperados para o início deste ano, mas os novos casos de afundamento do solo em Macéio deram força à CPI de Renan Calheiros (MDB), senador e pai do ministro e ex-governador Renan Filho, correligionários aliados do atual governador Paulo Dantas. É uma disputa contra Arthur Lira (PP) e o prefeito da capital, JHC (PL). No mercado financeiro, o entendimento é de que boa parte dos US$ 11 bilhões destinados à carteira em avaliação no planejamento divulgado em novembro estão relacionados a estudos para o aumento da participação da estatal na petroquímica, mas ainda é considerado improvável que isso ocorra. Indefinição em Três Lagoas Em 2024, a companhia vai iniciar os estudos financeiros para a retomada das plantas de fertilizantes, segmento que estava no alvo dos desinvestimentos até então. O projeto que deve ter o retorno mais rápido é a Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), no Paraná, que está hibernada desde 2020. A matéria-prima são resíduos asfálticos, não gás natural. O maior desafio técnico e econômico está em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. As obras chegaram a superar 80% de avanço físico, mas foram interrompidas há dez anos. Ao avaliar a retomada do projeto, a Petrobras ainda não conseguiu chegar ao ponto nem sequer de avaliar a oferta e a sensibilidade econômica aos preços do gás natural. Não há orçamento carimbado no plano; é um eldquo;projeto em estudoerdquo;. Foi projetada para receber gás pelo Gasbol (Bolívia-Brasil) e hoje há dúvidas sobre a capacidade do país vizinho em atender à demanda brasileira endash; ou receber o reforço da Argentina. A internacionalização e a pesquisa de formas alternativas de produção são vistas como formas de ajudar a superar essas dificuldades. O uso de biogás em substituição ao gás natural, para ajudar a baratear o insumo, é uma das possibilidades estudadas para o segmento. Em novembro, o presidente Lula afirmou que a Petrobras poderia fazer parcerias com empresas da Arábia Saudita na produção de fertilizantes. Aquisições de renováveis e geração de caixa A estatal está analisando a compra de projetos de geração renovável no país, respeitando uma proporção de 80% de projetos em fases iniciais ou que precisam ser desenvolvidos do zero. São os chamados greenfield, mais baratos. É o que a diretoria da companhia deve perseguir no horizonte 2024-2028, a partir de uma decisão tomada no conselho, durante a aprovação do plano. A área financeira defende a preferência para aquisições de ativos operacionais e já geradores de caixa (os brownfields). Nada impede, contudo, que as aquisições comecem por parques eólicos e solares operacionais, com faturamento no curto prazo endash; ou até mesmo que a decisão do conselho seja revista futuramente. Os projetos novos significam obras e maior criação de empregos associados à retomada dos investimentos da estatal no Brasil. É um bônus político, que não é ignorado na companhia. De todo modo, o racional é que o retorno à geração de energia renovável, apesar da menor rentabilidade quando comparado à produção de petróleo em águas profundas, pode atuar como um eldquo;estabilizadorerdquo; para a geração de caixa em momentos de volatilidade do preço do barril. Tampouco representa uma ruptura com o que é praticado internacionalmente no mercado. Equinor e Shell são grandes produtores de petróleo e gás natural e estão desenvolvendo negócios em geração solar no Brasil. Globalmente, a lista inclui majors de capital aberto e empresas nacionais. Dentre os analistas ouvidos, parte acredita que 2024 pode ser um bom ano para esse movimento, devido ao grande número de empresas que precisam adequar a carteira e buscam parceiros para empreendimentos renováveis. Eneva e Comerc, por exemplo, têm caminhado neste sentido. O grande receio é em relação ao baixo preço da energia elétrica para o longo prazo, o que pode afetar o retorno.

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Petrobras inicia execução do primeiro plano de Lula 3 sob equilíbrio de pressões

Com o início de 2024, a Petrobras começa a colocar em prática o primeiro plano estratégico elaborado no terceiro mandato de Lula (PT): US$ 102 bilhões de investimentos em cinco anos, durante um governo que garantiu aos eleitores que a companhia voltaria a ser um vetor de desenvolvimento do país. Passados os 12 meses da posse, a petroleira deve entregar resultados financeiros robustos no fechamento de 2023, enquanto seus executivos comemoram o valor de mercado da empresa endash; que superou os US$ 100 bilhões. Inegavelmente, o mercado de ações aprovou a condução da Petrobras com o bolso, mas os discursos das casas de análise e bancos seguem demonstrando desconfiança com os rumos da companhia, que se equilibra entre os anseios de consumidores, acionistas e do Planalto. À primeira vista, são pressões antagônicas, mas que os executivos da companhia entendem que conseguiram navegar de forma bem-sucedida no primeiro ano. Conta para isso a manutenção do pagamento de dividendos em um nível atraente, evitando o aumento do endividamento da estatal. eldquo;Projetos sancionados apenas com VPL [Valor Presente Líquido] positivo no cenário mais conservadorerdquo; é uma das primeiras mensagens do plano 2024-2028+. A cada distribuição, o governo e bancos públicos são destino de pouco mais de um terço dos dividendos, que até setembro somaram R$ 57 bilhões em 2023, considerando parcelas a pagar. O ano começa também com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ocupando a agenda política do país com a pauta fiscal. A empresa nem sequer promoveu uma redução agressiva dos preços dos combustíveis, desde o fim oficial do PPI. Pelo contrário, executivos da empresa passaram o ano argumentando em conversas em Brasília que manter a rentabilidade na venda de derivados garantirá os recursos necessários para as novas obras. A revisão da política de dividendos e os preços de combustíveis foram o foco da nova gestão. Ambas tiveram mudanças menos radicais do que o previsto pelo mercado, o que ajudou a dissipar as ressalvas. Até aqui, a Petrobras não abraçou o conteúdo local do passado. Manteve o rumo das licitações, principalmente da área de exploração e produção, sem direcionar demandas adicionais para os estaleiros brasileiros. Também não entregou, no plano aprovado, o grande pacote de navios desenhado na Transpetro: de uma expectativa inicial de 25, saiu o orçamento para construir quatro até 2028. Gás e fertilizantes, menos rentáveis endash; e claras prioridades políticas de Lula endash;, estão entre os maiores desafios do plano, que adiou mais uma vez o projeto de Sergipe e tem um horizonte incerto para retomada de Três Lagoas, a fábrica incompleta do Mato Grosso do Sul. Uma grande expectativa para os próximos meses é o início da aquisição de ativos de geração eólica e solar. A Petrobras vai às compras para o seu retorno à geração de energia, em meio a um conflito interno entre aquisições de ativos geradores de caixa ou os chamados greenfield, em fases iniciais de desenvolvimento (e mais baratos). Ao cabo, o plano aprovado representa, evidentemente, a chancela do Planalto. O governo controla o conselho, que deu o aval final sobre o próximo ciclo de investimentos da Petrobras. No curtíssimo prazo, o foco é a entrega. eldquo;O primeiro ano foi de plantar o terreno. Este é o ano da colheita e a primeira árvore frondosa é a Rnesterdquo;, disse o presidente Lula durante o evento de lançamento das obras da refinaria em Ipojuca. Com o freio nos desinvestimentos, a empresa confirma o objetivo de se manter como ator relevante para a economia do Nordeste. Foi o tom do evento em Pernambuco. O próximo está previsto para o polo naval de Rio Grande (RS), onde será feito o primeiro grande projeto de desmantelamento de uma plataforma no Brasil. Os próximos anos serão, como foi no passado, de um ciclo de adaptação para o mercado e indústria, a cada passo dado por uma das maiores companhias da América Latina. Foi, afinal, o primeiro ano de um partido que já está pensando quem será o candidato em 2030. Detalhamos, a seguir, projetos específicos: as dificuldades com o projeto de produção de gás natural em Sergipe; as incertezas no retorno à fabricação de fertilizantes; a Braskem; e as discussões internas envolvendo a compra de ativos de geração renovável. Uma empresa integrada em tempos de crise eldquo;A Petrobras voltouerdquo;. Foi assim que Jean Paul Prates apresentou o novo plano 2024-2028+, em novembro. É o retorno à lógica de empresa integrada, com uma atuação mais ampla no setor de energia, incluindo iniciativas nas áreas de refino, fertilizantes e renováveis, além da internacionalização. Dentro da empresa, o discurso é de que o endividamento precisa ficar sob controle e que eventuais novos projetos acrescentados ao portfólio precisam eldquo;agregar valorerdquo;. Isso enquanto a indústria global atravessa um momento de aumento de custos e de maior incerteza na cadeia de fornecimento, em meio às guerras e tensões na Europa e no Oriente Médio. De fora, o mercado calcula que o cenário pode alterar o calendário de entregas da estatal nos próximos anos, mas fontes internas garantem que o novo plano já foi elaborado considerando esse contexto mais desafiador. E daí surgiu a necessidade de repensar a estratégia de contratação, para reverter os impactos do cenário internacional e garantir a entrada dos projetos no prazo. Voltar a se assumir como uma empresa integrada é a marca da ruptura em relação ao governo de Michel Temer, que deixou de herança para Bolsonaro o plano de eldquo;enxugarerdquo; a Petrobras, com foco na exploração e produção em águas profundas e dentro do Brasil. Significava vender tudo que estivesse fora do polo formado pelos campos de alta rentabilidade do pré-sal e do parque de refino majoritariamente no Sudeste. O próximo passo seria a promessa do ex-ministro Paulo Guedes de privatizar, mas que foi negada pelas urnas em 2022. Plano de investimentos conservador Esse constante equilíbrio se refletiu no plano de negócios: US$ 11 bilhões (10%) dos US$ 102 bilhões aprovados estão na eldquo;carteira em avaliaçãoerdquo;. São US$ 91 bilhões firmes, com US$ 73 bilhões (80%) para produzir mais petróleo endash; o que a companhia, sempre que pode, perseguiu. São US$ 12 bilhões (13%) no orçamento em implantação para o refino. Abreu e Lima é uma obra estimada em até R$ 8 bilhões (US$ 1,6 bilhão), segundo estimativas citadas no lançamento das obras. O trem 2 já estava previsto no planejamento anterior, elaborado no governo de Jair Bolsonaro, após o fracasso do plano da administração passada em vender a refinaria. O que, aliás, coloca em xeque a grita recente de setores da sociedade, que atribuem a decisão da Petrobras de investir em refino no Brasil exclusivamente à volta do PT. Os R$ 11 bilhões da carteira em avaliação estão na área de gás (R$ 6 bi) e também refino (R$ 5 bi). É uma característica do plano quinquenal que, pela primeira vez, incorpora na sua comunicação o que vem depois (o eldquo;2028+erdquo;). Assim, ao deixar o montante para investimentos em avaliação, a diretoria indicou e o conselho aprovou uma seleção de projetos que ainda precisam passar por instâncias adicionais da governança interna antes de saírem do papel. Esses diferentes níveis de maturidade sempre existiram no planejamento financeiro da companhia, mas dessa vez os valores foram abertos e anunciados como uma forma de ampliar a transparência. A divulgação da carteira em avaliação foi percebida pelo mercado financeiro como um esforço para chegar ao capex total de três dígitos esperado pelo governo. Há, portanto, dúvidas sobre a intenção real de execução do valor. Esse conservadorismo, na visão de analistas, se reflete na prioridade para projetos em linha com a estratégia anterior, como a revitalização dos campos de Barracuda e Caratinga, na Bacia de Campos, que vão ganhar uma FPSO de 100 mil barris/dia, prevista para 2028. Antes do anúncio do plano, o temor recaia sobretudo no retorno ao setor de fertilizantes e a expansão do refino e da petroquímica, além da entrada na geração de energias renováveis, devido ao menor retorno em comparação com a produção de óleo. A leitura de setores da companhia que anseiam uma aceleração dos investimentos é a mesma do mercado financeiro. Na conclusão, basta inverter: a Petrobras deveria ser mais ousada no desenvolvimento da indústria local e na geração de emprego e renda. Mais ou menos sem PPI, mas pagando as contas Escolhido por Lula para comandar a companhia, Jean Paul Prates completa um ano no cargo este mês. A diretoria chegou alguns meses depois, concluindo a transição e formação do novo conselho, um primeiro episódio da acomodação política na companhia. Nesse período, Prates brigou publicamente e diversas vezes com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). As equipes do ministro chegaram a calcular quão mais caro os combustíveis da Petrobras estavam em relação ao PPI, uma postura inédita, ainda mais em um governo petista. Bolsonaro não fez isso, mas reclamava dos preços nas transmissões de quintas-feiras e demitia seus presidentes. Foram tempos turbulentos na companhia. No atual governo, o tema se estendeu por gabinetes de diferentes ministérios, inclusive na Casa Civil de Rui Costa (PT). Combustível de aviação caro é um obstáculo para redução das passagens; a gasolina e, especialmente o diesel, têm impacto na inflação e na satisfação dos eleitores. São premissas que Prates e executivos da Petrobras precisaram negociar em Brasília para terminar um ano com uma estratégia comercial, que na prática, entregou preço até acima do finado PPI em alguns períodos do ano endash; o QAV da aviação é o caso mais claro. Prates pautou parte desses conflitos nos bastidores por meio das críticas públicas ao que entende ser uma demora na transmissão de preços ao longo da cadeia de distribuição e revenda. eldquo;São ainda poucos meses, mas de muito trabalho, em diálogo constante com toda a sociedade, que tem visto a empresa comunicar ajustes nos seus preços e que tem cobrado que as nossas reduções também cheguem aos postoserdquo;, disse em novembro, em um longo balanço da gestão, no X (ex-Twitter). Tudo isso se refletiu no plano, a partir do contraponto feito pela empresa junto ao governo, que a rentabilidade na venda dos combustíveis sustenta os novos investimentos, os aportes no parque existente endash; os revamps endash; e no fator de utilização das refinarias, que de fato atingiram níveis historicamente altos. Para a Faria Lima, os executivos abriram um diálogo com investidores e imprensa meses antes do anúncio oficial dos investimentos, dando sinais graduais dos novos rumos. Evitaram surpresas, o que agradou ao mercado. Com os dividendos em dia e uma leitura em setores do governo que os preços dos combustíveis não são um grave problema político na atual conjuntura do país, o sentimento na cúpula da companhia é de eldquo;missão cumpridaerdquo; em Brasília, sem desagradar os acionistas privados. Um termômetro é o tratamento aos papéis: no primeiro trimestre de 2023, menos de um terço dos analistas recomendavam a compra de ações da Petrobras. O mercado tinha uma posição majoritariamente eldquo;neutraerdquo;, mesmo vendo potencial de valorização. Ao fim do ano, 73% orientavam a compra e não havia nenhuma recomendação de venda. O preço-alvo dos analistas subiu cerca de 20% ao longo do ano. Até o momento, além de conter os arrepios do mercado de ações, o governo tem sido bem-sucedido em superar outro trauma do controle de preços do passado, quando a Petrobras represou os repasses do mercado global ao fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). As vendas de etanol hidratado na safra 2023/2024 subiram 11% até dezembro, para 14,37 bilhões de litros, enquanto o anidro misturado no combustível fóssil avançou 0,95%. Gasolina artificialmente barata compromete as margens do biocombustível, prejudicando os negócios dos usineiros. Na aproximação com o agronegócio, Silveira foi um dos responsáveis por reconstruir as pontes entre o PT e o setor sucroenergético, especialmente a partir de Minas Gerais, sua base eleitoral e onde o petista virou o jogo, derrotando Bolsonaro. Pavimentou de vez o caminho até a Esplanada dos Ministérios de Lula. Os desafios contratados no plano 2024-2028+ O gás natural de Sergipe e a construção de plataformas A Petrobras vai rever aspectos técnicos previstos nas licitações para o afretamento das duas plataformas de águas profundas de Sergipe-Alagoas. As licitações estão na rua desde 2021 e, após mudar o modelo de contratação, a concorrência foi relançada no início de 2023. A companhia tem enfrentado dificuldades para afretar as duas unidades, que estão previstas para entrar em operação em 2028, com capacidade para produzir 120 mil barris/dia cada. A entrega de propostas prevista para 15 de janeiro foi adiada. eldquo;Esse aquecimento do mercado que vai demandar que se reveja realmente o projetoerdquo;, explica uma fonte da empresa. A companhia se debateu internamente sobre o projeto e chegou-se a discutir manter os investimentos na carteira em avaliação. Por exigência do conselho, a diretoria reavaliou e subiu Sergipe para implantação, o que eleva as responsabilidades das áreas técnicas internas na busca por uma solução economicamente viável. Isto é, não se carimbou um orçamento para elevar a oferta de gás natural a partir do estado do Nordeste com sacrifícios do eldquo;VPL positivoerdquo;. As contas da companhia demonstram que a produção de óleo das duas unidades é fundamental para o conjunto de ativos parar de pé e viabilizar o gasoduto de 18 milhões de m³/dia. Diante do desafio de contratar duas FPSOs em um mercado inflacionado, o gás foi adiado em mais um ano, para 2029. Além disso, a Petrobras deve anunciar nos próximos dois meses uma nova estratégia para a contratação própria de parte das plataformas. O cenário de dificuldade de contratação de grandes projetos no mercado internacional deve dar o tom dessas iniciativas. A companhia tem deixado claro, no entanto, que não vai assumir compromissos sem racionalidade econômica e aponta que os projetos que já estão em andamento são suficientes para fazer chegar demandas aos estaleiros e à indústria nacional na segunda metade da década. Vem aí a Braskem Já na área petroquímica, a companhia espera expandir a atuação, que é considerada crucial para a estratégia de longo prazo, com a transição energética. A estratégia, no entanto, carece de uma definição sobre a situação da Braskem, na qual a Petrobras tem uma participação minoritária. A Novonor recebeu propostas pela venda da fatia que detém na empresa, mas enfrenta uma crise pelos impactos da exploração de sal-gema em Maceió (AL). A Petrobras tem direito de preferência para a compra, caso a Novonor siga adiante com a venda. Fontes internas avaliam que a expansão no segmento é fundamental, mas que vai ser necessário ter eldquo;estômagoerdquo; para aguentar ciclos de baixa antes do aumento do lucro. Os próximos passos são esperados para o início deste ano, mas os novos casos de afundamento do solo em Macéio deram força à CPI de Renan Calheiros (MDB), senador e pai do ministro e ex-governador Renan Filho, correligionários aliados do atual governador Paulo Dantas. É uma disputa contra Arthur Lira (PP) e o prefeito da capital, JHC (PL). No mercado financeiro, o entendimento é de que boa parte dos US$ 11 bilhões destinados à carteira em avaliação no planejamento divulgado em novembro estão relacionados a estudos para o aumento da participação da estatal na petroquímica, mas ainda é considerado improvável que isso ocorra. Indefinição em Três Lagoas Em 2024, a companhia vai iniciar os estudos financeiros para a retomada das plantas de fertilizantes, segmento que estava no alvo dos desinvestimentos até então. O projeto que deve ter o retorno mais rápido é a Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), no Paraná, que está hibernada desde 2020. A matéria-prima são resíduos asfálticos, não gás natural. O maior desafio técnico e econômico está em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. As obras chegaram a superar 80% de avanço físico, mas foram interrompidas há dez anos. Ao avaliar a retomada do projeto, a Petrobras ainda não conseguiu chegar ao ponto nem sequer de avaliar a oferta e a sensibilidade econômica aos preços do gás natural. Não há orçamento carimbado no plano; é um eldquo;projeto em estudoerdquo;. Foi projetada para receber gás pelo Gasbol (Bolívia-Brasil) e hoje há dúvidas sobre a capacidade do país vizinho em atender à demanda brasileira endash; ou receber o reforço da Argentina. A internacionalização e a pesquisa de formas alternativas de produção são vistas como formas de ajudar a superar essas dificuldades. O uso de biogás em substituição ao gás natural, para ajudar a baratear o insumo, é uma das possibilidades estudadas para o segmento. Em novembro, o presidente Lula afirmou que a Petrobras poderia fazer parcerias com empresas da Arábia Saudita na produção de fertilizantes. Aquisições de renováveis e geração de caixa A estatal está analisando a compra de projetos de geração renovável no país, respeitando uma proporção de 80% de projetos em fases iniciais ou que precisam ser desenvolvidos do zero. São os chamados greenfield, mais baratos. É o que a diretoria da companhia deve perseguir no horizonte 2024-2028, a partir de uma decisão tomada no conselho, durante a aprovação do plano. A área financeira defende a preferência para aquisições de ativos operacionais e já geradores de caixa (os brownfields). Nada impede, contudo, que as aquisições comecem por parques eólicos e solares operacionais, com faturamento no curto prazo endash; ou até mesmo que a decisão do conselho seja revista futuramente. Os projetos novos significam obras e maior criação de empregos associados à retomada dos investimentos da estatal no Brasil. É um bônus político, que não é ignorado na companhia. De todo modo, o racional é que o retorno à geração de energia renovável, apesar da menor rentabilidade quando comparado à produção de petróleo em águas profundas, pode atuar como um eldquo;estabilizadorerdquo; para a geração de caixa em momentos de volatilidade do preço do barril. Tampouco representa uma ruptura com o que é praticado internacionalmente no mercado. Equinor e Shell são grandes produtores de petróleo e gás natural e estão desenvolvendo negócios em geração solar no Brasil. Globalmente, a lista inclui majors de capital aberto e empresas nacionais. Dentre os analistas ouvidos, parte acredita que 2024 pode ser um bom ano para esse movimento, devido ao grande número de empresas que precisam adequar a carteira e buscam parceiros para empreendimentos renováveis. Eneva e Comerc, por exemplo, têm caminhado neste sentido. O grande receio é em relação ao baixo preço da energia elétrica para o longo prazo, o que pode afetar o retorno.

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Sulgás cede parte de contrato no Gasbol para Petrobras

A Sulgás, distribuidora de gás canalizado do Rio Grande do Sul, assinou um acordo com a Petrobras para ceder uma parte da capacidade contratada junto à Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) no Gasbol. Contratar a retirada do gás do sistema diretamente com as transportadoras tem sido uma tendência entre as empresas de gás canalizado. Esta é, de acordo com a Sulgás, a primeira vez que uma distribuidora cede parte da capacidade que contratou. A vantagem de se contratar a capacidade de saída, diretamente, é que a concessionária passa a ter mais liberdade na sua gestão de portfólio, para buscar outros supridores. O outro lado da moeda é que a companhia assume os riscos inerentes, dentre eles o pagamento de penalidades como o Encargo de Capacidade Não Utilizada endash; com impacto para as tarifas. Oportunidade versus riscos A gerente-executiva de Estratégia da Sulgás, Thays Falcão, conta que a cessão deve ajudar a empresa a reduzir os riscos para a concessão. E destaca que não se trata de uma reviravolta na decisão de contratar capacidade diretamente com o transportador. A empresa vai manter a maior parte da capacidade contratada no Gasbol. Para 2024 e 2025, a concessionária gaúcha vai ceder 270 mil m3/dia à Petrobras endash; o que representa em média 25% do total contratado pela empresa. Já para 2026 e 2027, a Sulgás cedeu 330 mil m3/dia endash; 20% do total. Falcão explica que, nas negociações dos contratos de suprimento de longo prazo, celebrados com a Petrobras em 2023, o modelo tradicional endash; segundo o qual a petroleira se responsabiliza pela contratação da entrada e da saída do sistema e assume os riscos da operação, cobrando uma tarifa postal por isso endash; se mostrou mais vantajoso. eldquo;Foi uma avaliação de oportunidade versus riscos, fazia mais sentidoehellip; E não perdemos a flexibilidade de saídaerdquo;, comentou, em entrevista à agência epbr. Falcão vê com naturalidade o movimento: eldquo;É um processo, o mercado ainda está numa rampa de aprendizagemerdquo;, disse. A Sulgás tem hoje, como fornecedores, a Petrobras e a Galp. Atualmente, nove distribuidoras estaduais de gás canalizado têm contrato anual com transportadores, para contratação de capacidade na malha interligada de gasodutos em 2024. Além da Sulgás, compõem a lista a SCGás (SC) e MSGás (MS), na malha da TBG; e Bahiagás (BA), Cegás (CE), Copergás (PE), ES Gás (ES), Potigás (RN) e Sergas (SE), na rede da Transportadora Associada de Gás (TAG).

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Sulgás cede parte de contrato no Gasbol para Petrobras

A Sulgás, distribuidora de gás canalizado do Rio Grande do Sul, assinou um acordo com a Petrobras para ceder uma parte da capacidade contratada junto à Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) no Gasbol. Contratar a retirada do gás do sistema diretamente com as transportadoras tem sido uma tendência entre as empresas de gás canalizado. Esta é, de acordo com a Sulgás, a primeira vez que uma distribuidora cede parte da capacidade que contratou. A vantagem de se contratar a capacidade de saída, diretamente, é que a concessionária passa a ter mais liberdade na sua gestão de portfólio, para buscar outros supridores. O outro lado da moeda é que a companhia assume os riscos inerentes, dentre eles o pagamento de penalidades como o Encargo de Capacidade Não Utilizada endash; com impacto para as tarifas. Oportunidade versus riscos A gerente-executiva de Estratégia da Sulgás, Thays Falcão, conta que a cessão deve ajudar a empresa a reduzir os riscos para a concessão. E destaca que não se trata de uma reviravolta na decisão de contratar capacidade diretamente com o transportador. A empresa vai manter a maior parte da capacidade contratada no Gasbol. Para 2024 e 2025, a concessionária gaúcha vai ceder 270 mil m3/dia à Petrobras endash; o que representa em média 25% do total contratado pela empresa. Já para 2026 e 2027, a Sulgás cedeu 330 mil m3/dia endash; 20% do total. Falcão explica que, nas negociações dos contratos de suprimento de longo prazo, celebrados com a Petrobras em 2023, o modelo tradicional endash; segundo o qual a petroleira se responsabiliza pela contratação da entrada e da saída do sistema e assume os riscos da operação, cobrando uma tarifa postal por isso endash; se mostrou mais vantajoso. eldquo;Foi uma avaliação de oportunidade versus riscos, fazia mais sentidoehellip; E não perdemos a flexibilidade de saídaerdquo;, comentou, em entrevista à agência epbr. Falcão vê com naturalidade o movimento: eldquo;É um processo, o mercado ainda está numa rampa de aprendizagemerdquo;, disse. A Sulgás tem hoje, como fornecedores, a Petrobras e a Galp. Atualmente, nove distribuidoras estaduais de gás canalizado têm contrato anual com transportadores, para contratação de capacidade na malha interligada de gasodutos em 2024. Além da Sulgás, compõem a lista a SCGás (SC) e MSGás (MS), na malha da TBG; e Bahiagás (BA), Cegás (CE), Copergás (PE), ES Gás (ES), Potigás (RN) e Sergas (SE), na rede da Transportadora Associada de Gás (TAG).

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BNDES prevê R$ 2 bi para renovação de frota de navios com foco em combustíveis sustentáveis

O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, nesta quarta (24/1), a redução de taxas de juros para modernização da frota naval brasileira, dentro do programa eldquo;BNDES Azulerdquo;. A ideia segundo o presidente da instituição, Aloizio Mercadante, é fomentar a produção de navios nacionais que utilizem combustíveis sustentáveis, com etanol, metanol verde, amônia e hidrogênio verdes. eldquo;Temos que voltar a construir navio, mas navio do futuroerdquo;, disse Mercadante. eldquo;Nossa expectativa [em 2024] é de, no mínimo, R$ 2 bilhões de reais para construção navalerdquo;. O montante esperado para este ano será disponibilizado via Fundo da Marinha Mercante, administrado pelo BNDES. O programa BNDES Azul apresentou a redução de 0,4 p.p. na taxa de juros para financiamento de modernização de embarcações; 0,2 p.p. para projetos de docagem, reparo e manutenção; e 0,24 p.p. no financiamento para construção de novas embarcações. eldquo;O que nós estamos convocando é desenvolver tecnologia para navio com energia renovável. Esse é o futuro da navegação (ehellip;) O Brasil tem muita especialidade em etanol, biocombustível, além do metanol verde, amônia verde e hidrogênio. O Brasil pode sair na frente e ocupar a liderançaerdquo;. Os projetos de navegação com combustíveis sustentáveis também poderão acessar as linhas de financiamento do Programa Mais Inovação e do Fundo Clima. Além disso, o banco tem um carteira de R$ 6 bilhões para modernização de infraestrutura portuária, de olho no portfólio de mais de R$40 bi em projetos no setor dentro do PAC. Brasil precisa de frota verde para ser competitivo Segundo Mercadante, o Brasil precisa liderar a transição energética no setor marítimo, para cumprir as decisões da Organização Marítima Internacional (IMO), que estabelece a redução das emissões de CO2 por viagem internacional, em média, em pelo menos 40% até 2030. A organização também discute a taxação de emissões no setor. eldquo;A IMO estabeleceu que até 2030, 40 % da frota marítima mundial tem que ter combustível renovável. Isso significa que nós temos uma grande oportunidade de fazer reformas para substituir petróleo por energia renovável e ao mesmo tempo construir novas embarcaçõeserdquo;, avalia o presidente do BNDES. eldquo;Os países que não tiverem navio com energia renovável, com combustível renovável, vão pagar multa e perder competitividadeerdquo;, acrescenta. Mercadante ressalta que 95% das exportações brasileiras são via transporte marítimo, mas a participação de navios brasileiros é muito pequena. eldquo;O Brasil exporta mais de US$340 bilhões, R$1,7 trilhões, por ano, e não temos praticamente uma frota própria. É muito pequena nossa participaçãoerdquo;. Historicamente, o presidente lembrou que o banco contabiliza uma carteira de R$22 bi de empréstimos no setor marítimo, com uma parte importante, R$13,6 bi, no setor de óleo e gás, especialmente offshore em embarcações no pré-sal.

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