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STF julga revisão do FGTS nesta quarta em meio a pressão do governo

O STF (Supremo Tribunal Federal) prevê retomar nesta quarta-feira (12) o julgamento da correção do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), com expectativa do governo federal de que a corte acate uma proposta apresentada em abril sobre o tema, discutida com centrais sindicais. Nesta segunda-feira (10), o advogado-geral da União, Jorge Messias, se reuniu com o presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso, para reforçar que o Planalto se dispõe a manter a correção atual do Fundo de Garantia e incluir a distribuição dos lucros de forma obrigatória no cálculo. Essa seria uma forma de garantir atualização de, no mínimo, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial do país, no FGTS, reduzindo as perdas dos trabalhadores. Julgamento sobre revisão do FGTS deve ser retomado pelo Supremo Tribunal Federal - Pedro Ladeira - 1 fev. 2024/Folhapress O encontro aconteceu no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Além de Messias, estiveram no local outros advogados da União e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron. O FGTS rende, atualmente, 3% ao ano mais TR (Taxa Referencial). A taxa rende próxima de zero, o que faz com que o dinheiro parado no fundo tenha baixa remuneração. A ação a ser julgada no Supremo, apresentada pelo partido Solidariedade, pede que a TR seja declarada inconstitucional e, em seu lugar, definido um índice de inflação para repor as perdas dos trabalhadores. Após a reunião com Barroso, Messias afirmou que, em entendimento com as centrais, o governo concorda "em garantir em qualquer cenário para o trabalhador, o mínimo, a inflação pelo IPCA". Em memoriais sobre o assunto apresentados a Barroso, a AGU diz que "nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA caberá ao Conselho Curador do Fundo determinar a forma de compensação". Essa distribuição de lucros teria "efeitos prospectivos", ou seja, futuros. Segundo Messias, porém, é "um compromisso do governo do presidente Lula, imediatamente após o término do julgamento, abrir uma mesa de negociação com as centrais para discutir uma distribuição extraordinária para os trabalhadores". Há atualmente no Supremo três propostas para as contas do FGTS: o pedido feito pelo Solidariedade, de afastamento da TR e determinação de um índice de inflação para corrigir os depósitos, do ministro Barroso, para que o Fundo de Garantia tenha ao menos a remuneração da poupança, atualmente em 6,17% ao ano mais TR, e do governo, de garantir ao menos a inflação pelo IPCA. O voto de Barroso sugeriu ainda que, se houver mudança, ela passe a valer para todas as contas do FGTS a partir do julgamento do Supremo, sem direito à correção dos valores atrasados. O julgamento foi paralisado após pedido de vista (mais tempo para análise) feito pelo ministro Cristiano Zanin, que foi indicado por Lula e tem se manifestado em consonância com o governo ao julgar temas relacionados à economia. Como esse julgamento não foi encerrado, os ministros podem mudar os seus votos ou adaptá-los a partir das novas circunstâncias apresentadas pela AGU. O ministro Flávio Dino, que tomou posso há poucos meses, também tem o direito de pedir vista e fazer com que o caso seja paralisado novamente. Desde 2017, o FGTS paga o lucro que o fundo obtém no ano, aumentando os ganhos dos trabalhadores. Com a distribuição desses resultados, houve períodos de ganhos acima da inflação. No ano passado, a Caixa distribuiu 99% do lucro, creditando R$ 12,719 bilhões na conta dos trabalhadores. A correção do FGTS é uma ação bilionária, com impacto previsto em R$ 661 bilhões, segundo cálculo apresentado da AGU em 18 de abril de 2023, pouco antes do início do julgamento no STF. As perdas dos trabalhadores são estimadas em cerca de R$ 756 bilhões desde 1999, quando a TR passou a ser aplicada, segundo cálculos do Instituto Fundo de Garantia do Trabalhador. A ação inicial apresentada ao STF em 2014 mostrou perdas de 88,3% entre janeiro de 1999 e 2013, data do estudo encomendado pela Força Sindical e o Solidariedade. Apesar de o processo sobre correção do FGTS estar na pauta de quarta-feira (12) do Supremo, não é o primeiro item a ser julgado e não há precisão sobre quando os ministros retomarão a análise. O QUE PODE ACONTECER NO JULGAMENTO? O julgamento da revisão começará com o voto-vista do ministro Zanin, que pediu mais tempo para analisar o caso e deve dar seu posicionamento. Além dele, faltam votar os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Flávio Dino. O julgamento poderá ficar para outro dia, terminar nesta quarta, começar e não terminar por falta de tempo ou ter algum pedido de vista. Se houver pedido de vista, a sessão é interrompida e o caso deve ser retomado após devolução do processo. Outro ponto é o STF entender que a TR é constitucional e não indicar nenhuma mudança, negando o pedido de revisão. Há a possibilidade de aprovação da nova fórmula de correção, conforme propôs Barroso. Se esse for o caso, há ainda o direito a embargos de declaração emdash;pedido para esclarecer algum ponto do julgamentoemdash;, o que pode levar a uma nova análise pela corte. O ministro também pode decidir ajustar seu voto e seguir o que indica o AGU e o governo, indicando a correção, no mínimo, pela inflação. O QUE É O FGTS E COMO ELE FUNCIONA? O FGTS funciona como uma poupança para o trabalhador. O fundo foi criado em 1966, com o fim da estabilidade no emprego, e passou a valer a partir de 1967. Todo mês o empregador deposita 8% sobre o salário do funcionário em uma conta aberta para aquele emprego. Há ainda a multa de 40% sobre o FGTS caso o trabalhador seja demitido sem justa causa. Desde a reforma trabalhista de 2017, há também a possibilidade de sacar 20% da multa após acordo com o empregador na demissão. O fundo, no entanto, é utilizado em políticas públicas de habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana, conforme prevê a legislação. O saque do FGTS é autorizado apenas em 16 situações previstas em lei. Fora isso, o trabalhador não tem acesso ao dinheiro. QUEM TEM DIREITO CASO O STF JULGUE FAVORÁVEL A AÇÃO? Uma mudança na correção do FGTS, mesmo que futura, deve impactar cerca de 200 milhões de contas vinculadas ao Fundo de Garantia, segundo dados da Caixa Econômica Federal. O número de trabalhadores envolvidos é menor, porque cada profissional pode ter mais de uma conta. Se for aprovada a remuneração da poupança com correção do fundo, o trabalhador teria duas formas de ganho, conforme a Selic, que é a taxa básica de juros da economia. A regra mudou em 2012 e diz que para depósitos realizados até 3 de maio de 2012, a atualização é fixa, de 0,5% ao mês mais TR, o que dá 6,17% ao ano mais TR. Para depósitos feitos após essa data, a remuneração está ligada à taxa básica de juros da economia, a Selic. Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento é de 0,5% ao mês mais TR. Já se a taxa básica estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic mais a TR. Caso seja aprovada a proposta do governo, a correção se mantém a mesma, mas a divisão dos lucros deve ser maior, fazendo com que se pague a inflação ou mais, segundo afirma o Planalto.

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Tarcísio tenta aprovar isenção de IPVA para carro híbrido após vetar elétrico

A Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) se prepara para votar nos próximos dias o projeto de lei que isenta de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) veículos híbridos e movidos a hidrogênio. A proposta foi enviada à Casa por Tarcísio de Freitas (Republicanos) em outubro do ano passado. Havia a expectativa de que o texto fosse votado em sessão extraordinária realizada nesta terça-feira (11) na Alesp, mas o tema apenas foi discutido no Plenário, sem decisão. O projeto foi apresentado na mesma época em que o governador vetou outra proposta, aprovada pela Alesp, que sugeria o corte de parte do tributo para proprietários de carros elétricos, híbridos ou movidos a hidrogênio no estado. O movimento do governo estadual foi criticado pela ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), que reúne montadoras como BYD, Ford e GWM. A entidade reclama que o novo projeto não abrange veículos exclusivamente elétricos, ou seja, sem motor a combustão. Ricardo Bastos, presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), diz que a medida exclui veículos como o híbrido plug-in com combustão a gasolina. Segundo ele, esse tipo de carro fará parte da produção de eletrificados em São Paulo. "É uma pena, porque São Paulo sempre puxa essas tecnologias", diz. Os carros híbridos flex estão no centro dos investimentos anunciados pelas montadoras nos últimos meses. A soma dos valores já ultrapassa R$ 130 bilhões até 2032. A Toyota já produz versões híbridas do Corolla Cross e do Corolla Sedan no Brasil. Além da Toyota, montadoras como Volkswagen, Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot), Nissan e Renault já confirmaram lançamentos que poderão rodar com gasolina, etanol e eletricidade. Os primeiros modelos devem chegar ao mercado no segundo semestre deste ano. Já as montadoras chinesas aceleram o desenvolvimento de seus modelos híbridos flex emdash;que serão produzidos pela GWM, em Iracemápolis (interior de São Paulo), e pela BYD em Camaçari (BA). Em maio, Stella Li, disse que o desafio é aumentar a eficiência do etanol, para que o carro tenha boa autonomia quando abastecido com o combustível renovável. A proposta do governo também abraçou ônibus ou caminhões movidos exclusivamente a hidrogênio ou gás natural, inclusive biometano, que estariam isentos do imposto até 2029, segundo o governo. Na apresentação da medida, o governo estadual estimou que, com a nova lei, haveria uma renúncia de R$ 263,07 milhões para 2025. A projeção ainda não foi atualizada para o novo cronograma. No projeto anterior, de autoria dos deputados Antonio Donato (PT) e Ricardo França (Podemos), a isenção valeria para os cinco primeiros anos de tributação incidentes sobre veículos híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio. O benefício seria limitado a um valor de 103 UFESPs (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo) endash;que equivalem a aproximadamente R$ 3.528endash;, por exercício. O IPVA é calculado por meio de um percentual da tabela Fipe. Desse valor, 20% vão para o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). Dos 80% restantes, metade corresponde à arrecadação repassada para os municípios, e a outra metade, para o estado. À reportagem, a Secretaria de Fazenda e Planejamento afirmou que a isenção proposta por Tarcísio abrange o imposto por completo. A pasta afirma que o projeto de lei aprovado anteriormente pela Alesp e vetado por Tarcísio "se restringia à matriz energética cuja produção industrial se limita a veículos importados, concedendo benefício para geração de empregos no exterior em detrimento de tecnologias que inserem o país na cadeia global de produção". Em seu veto, Tarcísio disse que a isenção prevista pelo projeto dos deputados Donato e Ricardo França alcançava veículos híbridos com motores movidos exclusivamente a gasolina, o que, segundo o governador, estaria em descompasso com o vigor da produção do etanol e com a utilização de biometano produzido no estado. O governador disse também que o projeto não estava acompanhado de uma estimativa de impacto orçamentário. "A ideia do governador Tarcísio é incentivar empresas a se instalarem dentro do nosso estado de São Paulo. A Toyota vai gerar uma receita de R$ 11 bilhões para o nosso estado em emprego, impostos, renda e melhorando a qualidade de vida de Sorocaba, onde vai ser instalada", disse o deputado estadual Paulo Mansur (PL) durante sessão extraordinária realizada nesta terça-feira (11) que discutiu o projeto de Tarcísio. Parlamentares da oposição criticaram a proposta e chegaram a falar de reserva de mercado. "A gente está dando isenção fiscal para quem tem dinheiro. Estamos colocando os municípios numa situação complicada e estamos patrocinando o retrocesso no estado de São Paulo. Ao excluir carros elétricos desse projeto, estamos reservando mercado para um setor que faz greenwashing", afirmou a deputada Marina Helou (Rede). Segundo levantamento da oposição apresentado pela deputada Professora Bebel (PT), as renúncias pela isenção de IPV representariam menos 4.500 vagas em creche integral no estado. "Essa reserva de mercado tem que ser questionada. Fica essa negociata por debaixo dos panos", diz. CONHEÇA A DIFERENÇA ENTRE CARROS HÍBRIDOS: PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle) endash; a sigla se refere aos veículos híbridos que possuem um plugue externo para recarga, além da possibilidade do uso de gasolina emdash;ou etanol, se for flex. É possível selecionar o modo elétrico e, a depender da capacidade das baterias, rodar por algo entre 30 km e 150 km sem queimar combustível. HEV (Hybrid Electric Vehicle) endash; São os híbridos plenos, a exemplo de Toyota Corolla Hybrid Flex, Honda Civic e:HEV e Kia Niro. Cada um desses carros tem seu sistema próprio, cujo objetivo é gerenciar os motores elétricos e a combustão para escolher a forma mais eficiente de rodar. MHEV (Mild Hybrid Electric Vehicle) endash; São os chamados híbridos leves ou micr0-híbridos. Nesse caso, a eletricidade ajuda a reduzir a queima de combustível nas partidas e fornece torque extra nas arrancadas, entre outros recursos.

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Com foco no agronegócio, BNDES injeta bilhões em biocombustíveis

Os biocombustíveis se transformaram em uma das poucas áreas de interseção entre as prioridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os interesses do agronegócio, setor ainda refratário à atual gestão. De olho nisso e no protagonismo da eldquo;agenda verdeerdquo; ligada à descarbonização, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 2,6 bilhões em financiamentos em 2023 a projetos ligados a etanol, biometano e biodiesel, entre outros. É o maior valor em nove anos. Os montantes foram liberados por meio de quatro linhas principais endash; Finem, Mais Inovação, Renova Bio e Finame Direto endash;, que contam com prazos e carências alongados e tendem a ter juros mais acessíveis do que a média do mercado. eldquo;A área de biocombustíveis é uma das prioridades da Nova Política Industrial. Há um movimento, no banco, de se aproximar do agroerdquo; eldquo;Tem um grande crescimento do etanol de milhoerdquo; José Luis Gordon Diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES Em 2024, a expectativa do banco é de bater essa cifra com o reforço do Fundo Clima, que dispõe de um caixa de R$ 10,4 bilhões, fruto da captação de títulos soberanos sustentáveis no mercado internacional. Mas, segundo o BNDES, ainda não é possível estimar quanto desse montante será destinado especificamente a esses combustíveis. eldquo;A área de biocombustíveis é uma das prioridades da Nova Política Industrial. Com isso, há um movimento no banco de se aproximar do agro e da cadeia de biocombustíveis. E temos percebido que há uma resposta do setor, que tem nos procurado para fazer investimentos e expandir a capacidadeerdquo;, afirmou ao Estadão o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon. Os projetos mobilizam, principalmente, produtores de cana, soja e milho endash; este último, uma das grandes apostas na produção de etanol no País endash;, além de indústrias localizadas sobretudo no Sul, Sudeste e CentroOeste. eldquo;Tem um grande crescimento do etanol de milho. A maioria das empresas que recebo hoje no banco está indo para esse produto. É o grande potencial de investimento, com o biometanoerdquo;, afirma Gordon. Um dos principais financiamentos aprovados pelo banco, em 2023, na área de biocombustíveis somou R$ 729,7 milhões, e foi direcionado à construção de uma fábrica de etanol a partir do processamento de trigo e milho, em Passo Fundo (RS). Outros R$ 385 milhões foram liberados para três plantas de biometano, duas em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul. A aposta do governo é de que o produto possa substituir o diesel. Mas o agronegócio vai além e se articula no Congresso para garantir uma eldquo;reservaerdquo; de mercado ao biometano, exigindo que haja a adição de um porcentual ao gás natural a partir de 2026 endash; nos moldes do que vem sendo proposto para aumento da mistura de etanol à gasolina e do biodiesel ao diesel. O projeto, que já passou na Câmara e aguarda a análise dos senadores, desagradou à Petrobras. Pelos cálculos da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a adição de 10% de biometano ao gás natural, limite máximo previsto na lei, implicará gasto extra de R$ 1,7 bilhão para a indústria endash; maior consumidora de gás natural (como combustível e como matéria-prima). O plano industrial do governo Lula engloba a transição energética e tem o BNDES como principal operador, responsável por R$ 250 bilhões dos R$ 300 bilhões em financiamentos previstos até 2026. No caso específico dos biocombustíveis, o plano prevê elevar a participação desses itens na matriz energética de transportes em 50% até 2033. Hoje, eles respondem por 21,4%. ebull;

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Em revés para Haddad, Pacheco rejeita medida que alterava PIS/Cofins

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atendeu o setor produtivo e tornou sem efeito parte da medida provisória que limitava o uso de créditos decorrentes da tributação do PIS/Cofins pelas empresas. A queixa era de que o texto onerava todas as atividades econômicas, inclusive exportações. A devolução representa derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que propôs a medida para compensar a desoneração da folha de pagamentos. A expectativa de Haddad era de reforçar o caixa do governo com até R$ 29,2 bilhões. O trecho do texto que trata do cadastro de beneficiários de incentivos tributários e sobre a instância de julgamento do ITR foi mantido. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu devolver parte da medida provisória que limitava o uso de créditos decorrentes da tributação do PIS/Cofins pelas empresas. Segundo ele, eldquo;cessam imediatamenteerdquo; os efeitos dos trechos devolvidos. O anúncio responde às queixas do setor produtivo, que reclamava desde a semana passada de que o texto onerava todas as atividades econômicas, inclusive exportadores. A devolução representa uma derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que propôs a medida como compensação à desoneração da folha de pagamentos dos 17 setores que mais empregam no País e dos municípios. A expectativa era de reforçar o caixa do governo em até R$ 29,2 bilhões endash; acima dos R$ 26,3 bilhões de impacto com a desoneração da folha em 2024, segundo a Fazenda. Depois do anúncio, Haddad disse que não tem eldquo;plano Berdquo; para a desoneração (mais informações na pág. B2). Pacheco afirmou que a ausência de anterioridade (uma carência) para a entrada em vigor de uma medida que tem impacto no caixa das empresas fere a Constituição. eldquo;O que se observa em parte dessa medida provisória, e na parte substancial dela, é que há uma inovação, com alteração de regras tributárias que gera um enorme impacto ao setor produtivo nacional, sem que haja a observância dessa regra constitucional da noventena.erdquo; A outra parte do texto, que trata do cadastro de beneficiários de incentivos tributários e sobre a instância de julgamento do ITR, foi mantida. O anúncio foi feito ao lado do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), num indicativo de que a saída foi tratada com o governo. eldquo;O presidente da República externou que não estava confortável claramente, e Vossa Excelência teve a capacidade de encontrar um caminho legal e constitucional para interromper o que seria uma tragédia sem fimerdquo;, disse Wagner. A desoneração da folha de pagamentos foi instituída em 2011 para setores intensivos em mão de obra. Juntos, eles incluem milhares de empresas que empregam 9 milhões de pessoas. A medida substitui a contribuição previdenciária patronal de 20% incidente sobre a folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. No caso dos municípios, o benefício reduz a tributação de 20% para 8%. Por decisão do Congresso, a política foi prorrogada até 2027, mas foi suspensa por decisão liminar do STF em ação movida pelo governo, com o argumento de que o Congresso não indicou a fonte de receita para bancar a desoneração. Posteriormente, Haddad anunciou acordo para manter a desoneração em 2024, com a volta gradual de alíquotas a partir do próximo ano. ebull; Valores Com a medida provisória, o governo esperava reforçar seu caixa em R$ 29,2 bilhões Depois de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSDMG), ter anunciado a devolução de trecho da medida provisória que limitava o uso de créditos de PIS/Cofins pelas empresas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que a equipe econômica não tem um eldquo;plano Berdquo; para compensar a perda de arrecadação decorrente da desoneração da folha de salários de 17 setores e dos municípios neste ano. Segundo Haddad, a reação dos setores empresariais à medida eldquo;faz parte da democraciaerdquo;. Mas disse também que, ao rejeitar a medida, o Senado assumiu a responsabilidade de encontrar uma alternativa. eldquo;O Senado assumiu uma parte da responsabilidade por tentar construir uma solução (para compensação), pelo que entendi da fala do próprio presidente (Rodrigo) Pacheco. Mas nós vamos colocar toda equipe da Receita Federal à disposição do Senado para tentar construir alternativaserdquo;, afirmou o ministro. PRESSÃO NO SENADO. Pouco antes do anúncio feito por Pacheco, representantes do setor privado em peso se aglomeraram em frente ao gabinete do senador. Setores industriais, como siderurgia, têxtil, máquinas, petróleo e gás natural, calçados, e também do agronegócio, de carnes, frango e óleo de soja, mandaram emissários ao Senado na tentativa de dar sinais claros sobre o eldquo;descontentamento do PIBerdquo; com a medida provisória. As conversas giravam em torno das perdas calculadas para cada setor. O Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBS) informou que as empresas previam perder R$ 20 bilhões por ano. Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) calculava cerca de R$ 3,5 bilhões por ano. Após o anúncio de Pacheco, representantes de empresários disseram que estão dispostos a discutir com o governo alternativas para compensar a desoneração da folha de pagamentos. eldquo;Vai ser preciso rediscutir quais são as medidas compensatórias (para a desoneração da folha), e nós queremos rediscutir isso em conjunto, com bom senso e equilíbrio sem representar novos ônus ao setor produtivoerdquo;, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban. O governo entende que a decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, que arbitrou uma negociação que terminou com a manutenção da desoneração neste ano e uma reoneração progressiva até 2027, demanda uma fonte de compensação. eldquo;Existem várias possibilidades, mas vamos sentar à mesa e entender que o caminho sempre é de duas mãos. Entender que o setor produtivo está disposto a colaborar, mas também a sensação de que nós precisamos ter o governo colaborando com as despesas, precisamos encontrar os pontos de convergênciaerdquo;, disse Alban. Para o presidente da Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), João Martins, eldquo;o bom senso prevaleceuerdquo;. eldquo;Tínhamos mostrado ao governo que essa MP não podia prevalecer, que ela ia trazer sérias consequências para o setor produtivo.erdquo; ebull;

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Inflação acelera em maio com pressão de alimentos e impacto das chuvas no RS

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou de 0,38% em abril para 0,46% em maio, apontam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o órgão, o novo resultado foi pressionado pelos preços dos alimentos, nos quais já há impactos da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul. As enchentes ganharam força no início de maio, estragaram plantações e travaram o escoamento de produtos no estado. Não à toa, Porto Alegre registrou a maior inflação das 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE: 0,87%. No caso do Brasil, o IPCA de 0,46% ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam taxa de 0,42% em maio. Quando o recorte é o acumulado de 12 meses, a inflação acelerou a 3,93% no país, apontou o IBGE. Nessa base de comparação, o IPCA vinha perdendo fôlego desde outubro de 2023. O índice era de 3,69% até abril. "É um momento mais tenso mesmo, de cuidado, de atenção, com a inflação. Mas uma parte disso está na conta dessas tragédias que aconteceram no Sul", afirma o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). ALIMENTOS MAIS CAROS COM IMPACTO DO RS Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta de preços em maio, indicou o IBGE. O segmento de alimentação e bebidas até desacelerou o ritmo de avanço: de 0,70% em abril para 0,62% no mês passado. Ainda assim, exerceu o principal impacto no IPCA, de 0,13 ponto percentual. O resultado dos alimentos teve impulso da alta de tubérculos, raízes e legumes (6,33%). O destaque veio da batata-inglesa, com aumento de 20,61%. O alimento exerceu o maior impacto individual sobre o índice geral (0,05 percentual). Conforme o IBGE, a carestia da batata tem relação com o período de oferta menor no mercado e os efeitos das fortes chuvas no Rio Grande do Sul. "Em maio, com a safra das águas na reta final e um início mais devagar da safra das secas, a oferta da batata ficou reduzida", disse o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida. "Além disso, parte da produção foi afetada pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, que é uma das principais regiões produtoras", acrescentou. Outros alimentos e bebidas com apelo na mesa dos brasileiros também subiram em maio. São os casos de cebola (7,94%), leite longa vida (5,36%) e café moído (3,42%). Almeida lembrou que o Rio Grande do Sul possui influência na produção nacional de leite. Pecuaristas locais tiveram perdas com as fortes chuvas. "O leite está em período de entressafra, e houve queda nas importações. Essa combinação resultou em uma menor oferta. Em relação ao café, os preços das duas espécies têm subido no mercado internacional, o que explica o resultado de maio", afirmou o técnico do IBGE. André Braz, do FGV Ibre, diz que alimentos como a batata têm um ciclo produtivo mais rápido. Em tese, isso tende a frear uma pressão mais longa nos preços. "Agora, arroz, feijão, soja e milho são grãos com ciclo produtivo mais longo. É provável que os efeitos climáticos afetem a oferta desses itens e que eles comecem a encarecer produtos que a gente bota na cesta básica", pondera Braz. De acordo com o economista, "várias pressões inflacionárias" estão ocorrendo devido a desequilíbrios climáticos. "A política monetária é pouco eficaz contra isso, quando o problema é de oferta, e não de demanda", diz. Além dos alimentos, outra pressão sobre o IPCA veio do grupo habitação, que subiu 0,67% e teve impacto de 0,10 ponto percentual em maio. Houve efeito da alta da energia elétrica residencial (0,94%). INFLAÇÃO E JUROS A inflação dos serviços também acelerou. Passou de 0,05% em abril para 0,40% em maio. Com isso, o IPCA de serviços acumulou alta de 5,09% em 12 meses. O comportamento desses preços preocupa o mercado financeiro. Analistas veem a possibilidade de o BC (Banco Central) interromper o ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, já na próxima semana. O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho. A Selic está em 10,50% ao ano. "A resiliência da inflação de serviços corrobora nossa visão de que não há mais espaço para o Banco Central cortar juros neste ano", afirma a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. "Com a piora contínua das expectativas de inflação medidas pelo boletim Focus e a depreciação recente do câmbio, acreditamos que o Copom interromperá o ciclo de cortes de juros na reunião da próxima semana." Segundo a economista, não foram só os alimentos que pesaram no IPCA de maio. A inflação de serviços e de bens industriais também veio pior do que as expectativas. O IPCA serve como referência para a meta de inflação perseguida pelo BC, cujo centro é de 3% em 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Logo, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado do ano. O mercado financeiro prevê alta de 3,9% para o índice em 2024, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (10) pelo BC. A estimativa segue abaixo do teto da meta (4,5%), mas foi revisada para cima pela quinta semana consecutiva em meio a preocupações com o cenário fiscal. CATÁSTROFE AFETA COLETA DE PREÇOS EM PORTO ALEGRE As enchentes de maio também impactaram o processo de coleta dos preços na região metropolitana de Porto Alegre. Os alagamentos fecharam ruas e paralisaram empresas, dificultando o trabalho presencial das equipes do IBGE na capital gaúcha. Com os obstáculos, o instituto disse que reforçou a coleta de preços por telefone ou internet. A modalidade remota, que respondia por cerca de 20% do total, passou para aproximadamente 65% na Grande Porto Alegre em maio. Ainda assim, nem todos os subitens do IPCA puderam ser coletados por telefone ou internet, incluindo hortaliças e verduras, reconheceu o IBGE. Nos casos de ausência de informações, o órgão realizou a chamada imputação de dados. Trata-se de um procedimento previsto pelo instituto para contextos como o do Rio Grande do Sul. Na imputação, se o IBGE não encontrou, por exemplo, o preço de um alimento em determinado ponto comercial, pode recorrer a uma média dos valores cobrados pelo mesmo produto em estabelecimentos similares. "O que a gente fez foi intensificar alguns procedimentos que são previstos na nossa metodologia e que estão de acordo com as boas práticas de produção de índices de preços ao redor do mundo", declarou o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida. Em Porto Alegre, a inflação de 0,87% teve influência da carestia de mercadorias como batata-inglesa (23,94%), gás de botijão (7,39%) e gasolina (1,80%). Em maio, o Rio Grande do Sul acumulou dificuldades logísticas para movimentar produtos como combustíveis. Ainda de acordo com o IBGE, a alimentação no domicílio registrou inflação de 3,64% no mês passado em Porto Alegre. É um resultado bem superior ao aumento desses preços no país: 0,66%.

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Consumidor brasileiro terá de se desapegar da gasolina e do diesel

Em cinco meses deste ano, a venda de carros elétricos foi maior do que em todo o ano passado. Por enquanto, a participação dos veículos movidos a eletricidade ainda está em 1% do total, mas entre janeiro e maio representaram 3% das vendas de automóveis. É uma boa notícia, porque o consumidor brasileiro deve começar a se desapegar dos produtos ligados ao petróleo. O fim da história dos combustíveis fósseis está se aproximando, e temos de nos adaptar urgentemente. Esse desapego com gasolina, diesel e outros subprodutos do petróleo não ocorre pacificamente, nem com a mesma velocidade em todos os países. Na União Europeia, até agora, 2035 é a data-limite para a venda de veículos novos com motores movidos a combustíveis fósseis. Esse prazo poderá ser modificado em função da nova composição do parlamento europeu, que se inclinou fortemente à direita, após as eleições ocorridas entre 6 e 9 de junho último. O Canadá projeta o final do uso de carros novos que gerem emissões também em 2035. Somente serão vendidos carros novos elétricos, a hidrogênio ou híbridos plug-in que funcionem com motor elétrico. A China surpreendeu ao anunciar a intenção de proibir carros movidos a combustíveis fósseis em data a ser definida. A Índia, país mais populoso do mundo, deveria encerrar as vendas de veículos a gasolina e diesel em 2030. Há dúvidas sobre essa substituição, porque a Índia anunciou intenção de usar carros com motores flex, com etanol ou metanol (produzido a partir do milho). No Brasil, o projeto de lei do Senado, 304/2017, que institui a política de substituição dos automóveis movidos a combustíveis fósseis, aguarda, desde abril último, audiência pública. Conforme a proposta do projeto, a partir de 1º de janeiro de 2030 ficaria vedada, em todo o território nacional, a comercialização de automóveis novos de tração automotora por motor a combustão, exceto os abastecidos com biocombustíveis. E, em 2040, não seria mais permitida a circulação destes automóveis de que trata o artigo citado acima, exceto os de coleção, oficiais e de diplomatas. O uso combinado de etanol e eletricidade, no Brasil, permitiria a substituição total dos motores a gasolina e diesel, daqui a 16 anos. Seria um prazo suficiente para que as montadoras, os fabricantes de peças e componentes, os postos de abastecimento, as oficinas e os lojistas de autopeças se preparassem para um novo cenário. Se o crescimento do percentual de carros elétricos continuar ocorrendo, a transição será mais tranquila, configurando a situação ideal. De qualquer forma, teremos de aprender a não consumir mais gasolina e diesel. A continuidade da vida no planeta depende disso. (Coluna de Maria Inês Dolci)

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