Inflação medida pelo IPCA-15 desacelera para 0,30%, mas fica acima das expectativas
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou nova desaceleração em julho, para 0,30%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em junho, a inflação foi de 0,39%.
O resultado, porém, ficou acima das expectativas do mercado. A mediana das estimativas levantadas pela Bloomberg junto aos analistas apontava para uma inflação de 0,23% na comparação mensal.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 teve alta de 4,45% em julho, enquanto o mercado esperava uma taxa de 4,38% no período. Em junho, o índice ficou em 4,06% nesse recorte de tempo.
Por ser publicado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para a contagem oficial de preços do país.
Os preços do grupo alimentação e bebidas ajudaram a dar um alívio ao índice em julho, com recuo de 0,44%, após oito meses consecutivos de alta.
Em contrapartida, transportes tiveram o maior peso no mês, com alta de 1,12%, em boa parte devido às passagens aéreas, que voltaram a subir. No grupo de habitação, a conta de luz também colaborou para a alta do índice devido ao retorno da bandeira amarela.
Também aferido pelo IBGE, o IPCA-15 se difere da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, devido ao período de coleta, que ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação.
O IPCA, por sua vez, é baseado em dados levantados apenas no mês de referência, e será divulgado no dia 9 de agosto. Por isso, o resultado fechado de julho ainda não aparece completamente na coleta do IPCA-15.
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 7 tiveram alta no mês de julho. No grupo de transportes, as passagens aéreas voltaram a subir (19,21%), contribuindo com 0,12 ponto percentual no índice.
Impactados pelo reajuste de preços anunciado pela Petrobras, combustíveis veiculares também voltaram a registrar alta (1,39%). A gasolina subiu 1,43%, o óleo diesel, 0,09% e o etanol, 1,78%. Já o gás veicular recuou 0,25%.
Além de transportes, habitação também pressionou o IPCA-15, com alta de 0,49% nos preços. O principal item que pesou no grupo foi a energia elétrica residencial. Depois de dois anos, voltou a vigorar neste mês a bandeira tarifária amarela na conta de luz, que acrescenta R$ 1,885 a cada 100kwh consumidos.
Já em alimentação e bebidas, o item alimentação no domicílio foi o que mais ajudou para o recuo de preços, após uma queda de 0,70% em julho, compensando as altas dos demais grupos.
Contribuíram para esse resultado a cenoura, com queda de 21,60%, o tomate, que baixou 17,94%, a cebola, que caiu 7,89%, e as frutas, com -2,88%. No lado das altas, os maiores destaques foram o leite longa vida (2,58%) e o café moído (2,54%).
Para a economista Luciana Rabelo, do Itaú BBA, os preços da alimentação no domicílio vieram abaixo das expectativas. Por outro lado, as principais surpresas de alta do IPCA-15 de julho vieram das passagens aéreas e dos serviços veiculares.
"Os itens que repetem a variação do IPCA-15 no IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 11 bps acima da nossa projeção", diz Rabelo.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, acrescenta que as medidas de tendência (núcleos) da inflação também registraram alta acima das expectativas. Os núcleos excluem da conta os itens mais voláteis, por isso mostram uma tendência melhor dos preços do país.
"Na margem, houve deterioração do quadro benigno da inflação corrente observado nos últimos meses", diz Olivares.
Em relação aos núcleos de serviços, medida que é acompanhada de perto pelo Banco Central em suas decisões de juros, Luciana Rabelo diz eles estiveram acima das projeções, principalmente devido aos serviços para veículos e condomínio.
"O IPCA-15 de julho veio com abertura pior do que a esperada, especialmente em função da aceleração dos serviços subjacentes, mostrando que a mínima do ano deve ter ficado em junho", diz a economista.
EXPECTATIVAS PARA A SELIC
A inflação oficial é importante para as decisões de juros do país. O centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.
Atualmente, a inflação brasileira acumula elevação de 4,23% em 12 meses, ou seja, por enquanto está dentro da meta.
O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 4,05%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus divulgada pelo BC na última segunda-feira (22), e que retomou expectativa de aceleração da inflação neste ano. O documento reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, diz que a inflação está piorando no Brasil. Ele lembra que ainda é metade do ano e o IPCA-15 já acumula alta de 2,82%. "Imagina que a nossa meta de inflação é de 3% e já está em 2,82%. Algo que era para fazer em 12 meses, a gente fez em seis, para se ter ideia de como está ruim", afirma.
Para o economista, a taxa básica de juros, Selic, certamente será mantida em 10,5% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontece na semana que vem. "Eu diria que o cenário quase que otimista neste momento é a manutenção da Selic em 10,5% até o final do ano", diz.
Ele lembra que o comportamento das taxas de juros futuros já embute apostas de volta de alta da Selic. Para ele, é possível que o BC volte a pensar em elevação dos juros em 2024, e diz que isso pode instalar uma briga interna entre os diretores. "Essa é uma questão que deve se inaugurar no segundo semestre", opina.
O economista Alexandre Maluf, da XP, endossa essa visão, embora mantenha expectativa de manutenção da Selic em 10,5% por um longo período. "Dada a turbulência nos mercados brasileiros, a leitura da inflação acima do esperado dá argumentos para aqueles que veem a possibilidade de um aumento da taxa de juros em 2024", diz.
O economista Igor Cadilhac, do PicPay, concorda que a composição geral do IPCA-15 apresentou piora qualitativa, e também aposta na manutenção dos juros no patamar atual. "Para a próxima reunião do Copom, marcada para a próxima quarta-feira, será difícil para o Banco Central adotar um tom moderado diante da recente piora inflacionária e das incertezas em relação às expectativas futuras", diz.