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Opep aumenta previsão de oferta de líquidos do Brasil em 2025 em 150 mil barris por dia

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumentou ligeiramente a previsão da oferta de líquidos do Brasil em 2025 em 150 mil barris por dia (bpd), para 4,3 milhões de bpd, segundo relatório mensal publicado nesta quarta-feira, 12. No documento de fevereiro, a projeção do cartel era de expansão em apenas 50 mil bpd, também para 4,3 milhões de bpd. Para 2026, a Opep prevê alta da oferta de combustíveis líquidos do Brasil ante 2025, em 20 mil/bpd, a 4,5 milhões de bpd. O número, porém, é um corte ante os 200 mil/bpd, ainda a 4,5 milhões de bpd, previstos no mês anterior. A produção brasileira de petróleo bruto caiu 26 mil bpd em dezembro, mas se manteve à média de 3,4 milhões de bpd, um recuo marginal ante o mês de dezembro, conforme o cartel, diante do "desempenho insatisfatório" em diversas plataformas offshore. A produção total de combustíveis líquidos também cedeu ante dezembro, em 16 mil bpd, mas manteve a média de 4,2 milhões de bpd. A organização manteve a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2025, a 2,3%, e em 2026, a 2,5%. A Opep justifica a manutenção dos números por conta da "desaceleração em curso na economia brasileira". Porém, para o próximo ano, a organização acredita que a aceleração será impulsionada pela flexibilização da política monetária. (Estadão Conteúdo)

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MME marca apresentação de estudos para elevar mistura de etanol

O Ministério de Minas e Energia (MME) marcou para 17 de março, na sede da pasta em Brasília, a apresentação dos estudos para a elevação da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina comum. Com a aprovação da lei do programa Combustível do Futuro, o limite passou de 27,5%, praticado atualmente, para 30%. A elevação do mandato do anidro não constava originalmente no programa, que tratava de novos biocombustíveis como o diesel verde e o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). O ministério batizou o evento de eldquo;Combustível do Futuro: Rumo ao E30 e à Autossuficiência da Gasolinaeldquo;. Com elevação da mistura, nas contas do MME, o país será menos dependente das importações de gasolina A, sem a mistura com o biocombustível. Essa semana, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), reforçou em evento com usineiros em Pernambuco o desejo da pasta em avançar com o aumento da mistura. eldquo;Estamos avançando na regulamentação do E30, a mistura de etanol à gasolina a 30%, que representa mais eficiência energética e menor emissão de poluentes. Pernambuco tem uma das cadeias produtivas mais longevas do etanol no Brasil e será um protagonista nesse processoerdquo;, disse. O MME avalia que a adoção do E30 pode eliminar boa parte da dependência do Brasil em relação à importação de gasolina A. Segundo cálculos da pasta, as importações líquidas de gasolina A em 2024 somaram 758,7 milhões de litros. Com o aumento do percentual de etanol no combustível fóssil de 27% para 30%, a demanda adicional de anidro pode chegar a 1,3 bilhão de litros por ano. eldquo;Com o E30, a gente zera a dependência de 700 milhões de litros de gasolina Aerdquo;, afirmou Pietro Mendes, secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, durante evento na Câmara dos Deputados em fevereiro. Preços dos alimentos levou a recuo no biodiesel O governo federal decidiu em fevereiro adiar o aumentar a mistura obrigatória do biodiesel para 15% (B15), mantendo o mandato em 14%. O cronograma havia sido definido em 2024, mas o governo recuou diante das preocupações com a inflação dos alimentos e aumento dos casos de fraudes no atendimento da mistura. No caso do etanol, após a apresentação dos estudos, o MME precisa convocar uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para decidir quando a mistura de anidro será elevada. Os biocombustíveis se tornaram uma preocupação do planalto em razão de um entendimento que há um aumento da demanda dos óleos vegetais, pressionando ainda mais os preços. O biodiesel no Brasil é feito majoritariamente a partir de soja; e no etanol há uma crescente participação do milho, além da cana-de-açúcar. Os produtores rebatem essa tese, afirmam que as duas cadeias produtivas elevam a oferta de razão para produção de proteína animal, colaborando par redução de preços. No caso do biodiesel, a tese foi rejeitada.

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Agro reage a pedido de suspensão de mistura do biodiesel: "afronta ao Congresso Nacional"

As Frentes Parlamentares do Biodiesel (FPBio) e da Agropecuária (FPA) divulgaram nota conjunta rechaçando a tentativa do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) de conseguir, junto à ANP, a suspensão temporária da mistura de biodiesel ao diesel, permitindo a venda do combustível 100% fóssil. O Sindicom encaminhou à ANP, nesta quarta (12/3), pedido de suspensão por 90 dias da mistura do biocombustível sob o pretexto de ampliar a fiscalização da mistura e evitar a participação de empresas que não cumprem todas as regras do setor. eldquo;Qualquer mobilização ardil e pouco transparente para eliminar as energias renováveis do país deve ser entendida como uma afronta ao Congresso Nacional, responsável aprovar de forma unanime a Lei do Combustível do Futuro, assim como ao governo federal que foi o criador da Política Nacional do Biodieselerdquo;, diz a nota, assinada pelos presidentes das frentes, Alceu Moreira (FPBio), e Pedro Lupion (FPA). A FPA estimou que 10 milhões de toneladas de soja deixarão de ser esmagadas, representando 8 milhões de toneladas a menos de farelo, base da alimentação de animais de corte. Com menos ração disponível no mercado, a frente aponta impactos para a inflação das carnes. eldquo;Causa também estranheza que medida similiar não é proposta para o setor de etanol endash; o que seria igualmente injusto, tendo em vista que as fraudes na mistura da gasolina são as mesmas ou até maiores. Logo, as distribuidoras acreditam que o melhor é ampliar as importações de diesel fóssil, privilegiando empregos fora do Brasil e promovendo o crime organizadoerdquo;, critica. FPA e FPBio afirmaram que estão organizadas e dispostas para uma dura reação política à medida, à qual consideram uma afronta ao governo brasileiro, ao Congresso Nacional e à transição energética. Fiscalização Até o momento, ações de fiscalização da ANP fecharam cinco distribuidoras em todo o país, mas o aperto orçamentário do órgão regulador tem limitado o alcance das ações. A falta de recursos reuniu uma série de entidades, que se organizaram para a construção de um convênio, de modo a viabilizar a doação de sete equipamentos capazes de medir o teor de biodiesel in loco. O Sindicom estima que a fraude da composição do diesel garante ganhos de pelo menos R$ 0,22 centavos por litro comercializado e, além da distribuição, atinge outros elos da cadeia de combustíveis como a revenda (postos de gasolina) e o Transportador Revendedor Retalhista (TRR), que vende combustível à granel para grandes clientes. Entidades do setor vêm denunciando a disparada de casos nos últimos meses devido à alta do biodiesel em relação ao diesel.

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Deputado do MS apresenta projeto para autorizar venda de gasolina e diesel sem biocombustível

O deputado federal Marcos Pollon (PL/MS) apresentou um projeto de lei para permitir que postos de combustíveis comercializem gasolina e diesel sem a adição de biocombustíveis. Atualmente, a gasolina vendida nos postos tem 27% de etanol anidro, enquanto o diesel é acrescido de 14% de biodiesel. O projeto altera a Lei do Petróleo e tem apenas um artigo. O texto determina que os postos informem claramente a composição dos combustíveis oferecidos e que os preços do combustível misturado seja compatível ao de origem totalmente fóssil, de forma a não induzir o consumidor a erro quanto à qualidade e preço do produto. Na justificativa apresentada pelo deputado, a proposta visa a atender consumidores que preferem ou necessitam desses combustíveis de forma mais pura. Afirma, ainda, que a medida amplia a competitividade do mercado, dá mais liberdade de escolha e têm potencial de redução de custo, sobretudo em relação ao diesel, que custa menos do que o biodiesel. Se aprovado, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ficaria responsável por regulamentar, no prazo de 180 dias, as condições técnicas e operacionais para a comercialização, assegurando qualidade e transparência das informações ao consumidor. eldquo;A aprovação deste projeto de lei contribuirá para a diversificação das opções disponíveis aos consumidores, promovendo a livre concorrência e o equilíbrio no mercado de combustíveis. Além disso, atenderá a uma demanda legítima de consumidores que necessitam ou preferem combustíveis sem adição de biocombustíveis, respeitando a liberdade de escolha e as necessidades específicas de cada consumidorerdquo;, disse o deputado ao apresentar a justificação do PL. Aumento de fraudes A proposição chega em um momento em que aumentaram os casos de fraude na mistura de biodiesel ao diesel. O combate a essas irregularidades foi um dos motivos que levou o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a manter em 14% (B14) a adição do biocombustível ao diesel B, adiando a entrada em vigor do B15. Até o momento, ações de fiscalização da ANP fecharam cinco distribuidoras em todo o país, mas o aperto orçamentário do órgão regulador tem limitado o alcance das ações. Em 2024, a ANP registrou um aumento nos casos de adulteração. No ano passado, 239 operações resultaram em autuações por descumprimento da mistura obrigatória, frente a 167 no ano anterior; e 85 em 2022. Os casos vêm crescendo desde 2022, quando vigorava a mistura de 10%. Sindicom pede suspensão da mistura O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) pediu à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a suspensão, por 90 dias, da obrigatoriedade de adição de 14% de biodiesel ao diesel B. O pedido requer, ainda, a possibilidade de que o combustível seja vendido com composição 100% fóssil. Justificativa da entidade é ampliar a fiscalização da mistura para o consumidor e evitar a participação de empresas que não cumprem todas as regras do setor. O Sindicom estima que a fraude da composição do diesel garante ganhos de pelo menos R$ 0,22 centavos por litro comercializado e, além da distribuição, atinge outros elos da cadeia de combustíveis como a revenda (postos de gasolina) e o Transportador Revendedor Retalhista (TRR), que vende combustível à granel para grandes clientes.

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'Se combustíveis ficarem muito acima do preço do mercado, vamos mexer', diz presidente da Petrobras

A Petrobras pode baixar os preços caso os combustíveis no Brasil fiquem muito mais caros do que os patamares praticados no mercado internacional, de acordo com a presidente da estatal, Magda Chambriard. Recentes pressões, incluindo ações do chefe da Casa Branca, Donald Trump, têm empurrado o petróleo para baixo. Atualmente, a cotação do Brent está em cerca de US$ 70,00 por barril, abaixo dos US$ 83,00 previstos no plano da Petrobras, divulgado em novembro último. eldquo;Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer tambémerdquo;, disse Magda, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, durante evento da Câmara de Comércio Brasil-Texas (Bratecc). O encontro acontece paralelo a CERAWeek, uma das maiores conferências de energia do mundo, realizada em Houston (EUA). eldquo;Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazoerdquo;, acrescentou, sem precisar qual seria esse horizonte. Quanto à aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial, Magda disse que é um indicativo de que a Petrobras está no caminho certo para começar a explorar a área, considerada uma espécie de elsquo;novo pré-salersquo;, mas que divide ambientalistas e o setor de óleo e gás no Brasil. Abaixo, os principais trechos da entrevista: É a sua primeira vez como presidente da Petrobras na CERAWeek, que acontece em meio a um chacoalhão do presidente dos EUA, Donald Trump, no mundo, e, em especial, no setor de energia. Quais foram as suas impressões? A grande mensagem dos representantes dos Estados Unidos foi elsquo;olha, nós estamos querendo que vocês sejam bem-vindos, que produzam muita energiaersquo;. Essa é uma boa mensagem e que acolhemos de uma forma muito benéfica. No Brasil, é a mesma coisa. A gente também diz bem-vindos para quem quer investir, fazer geração de energia no Brasil. Energia é desenvolvimento, ainda mais agora, que estamos abraçando a inteligência artificial, aumentando a demanda de energia pelo mundo. Como a Petrobras se posiciona neste cenário? Fornecemos 31% de toda a energia primária do País. Olhando para os próximos 25 anos, para mantermos a nossa relevância, a Petrobras precisa crescer no passo do Brasil. Vamos ter de crescer pelo menos 60% nos próximos 25 anos. E aí muitos vão dizer assim, ah, mas isso é muito desafiador, isso é difícil de acontecer, e eu digo, não, não é tão difícil. Por quê? Porque, na verdade, estamos aumentando a produção do pré-sal. Pretendemos agregar mais 400 mil barris por dia de petróleo até 2030. Grande parte desse crescimento ainda virá do pré-sal, mas vamos precisar complementá-lo para manter a relevância da Petrobras em um País muito mais demandante de energia. Precisamos inserir novas fontes de energia que virão principalmente das renováveis, mas também das térmicas. Qual a ambição da Petrobras nos Estados Unidos? Há interesse de voltar a ter mais presença no Golfo do México, como no passado? Nós ainda temos ativo no Golfo do México, pouca coisa. Como lidamos com uma energia não renovável, precisamos repor reservas para manter o patamar de produção. Vamos buscar repor reservas no Brasil e no exterior também. Quais são as praças de interesse? O que gosto de dizer é que quando somos bons no que fazemos, fazemos de novo e de novo. Somos bons na Margem Atlântica do Brasil que guarda muita similaridade com a africana. O que aparecer de oportunidade do porte da Petrobras, acessível, e preço compatível com o mercado, nós temos interesse. E nos Brics? Estão aparecendo oportunidades nos Brics. A Índia está abrindo áreas exploratórias que estavam fechadas há muito tempo. Uma delas é a décima rodada de licitação com blocos de ótimos tamanhos. Vamos dar uma olhada na Índia também. Se vamos entrar lá, se vamos gostar ou não, eu não sei. A sra. sentiu alguma pressão dos investidores estrangeiros em relação aos investimentos em energia renovável com a volta do Trump? O que temos ouvido de alguns investidores é: esses projetos de energias renováveis têm a mesma taxa de retorno que Eeamp;P (exploração e produção)? Não é melhor investir em Eeamp;P? Dificilmente, nós vamos ter o retorno do pré-sal, mas o pré-sal também não é infinito. Precisamos de uma cesta de negócios que garanta a perenidade da empresa. Alguns vão ser imensos em termos de retorno, outros nem tanto, mas todos precisam ser rentáveis em três cenários: otimista, moderado e pessimista. Como a Petrobras recebeu a aprovação do Ibama para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial? Com muita alegria, estávamos esperando por isso há muito tempo. Entregamos a última demanda do Ibama no fim de novembro, respondendo a todos os questionamentos. Estamos concluindo a obra do segundo Centro de Despetrolização da Fauna, no Oiapoque (Amapá), no fim de março; promovemos energia no local, que não tinha; conservamos o aeroporto; e atribuímos tudo isso à autorização do Ibama para mover a sonda e começar a limpeza. Quanto tempo demora esse processo? Essa sonda está furando na Bacia de campos e vai levar dois meses para limpar o casco. Temos de garantir que não vá nenhuma espécie invasora. É uma sonda de primeira qualidade, compatível com todos os níveis de segurança para perfurar no Amapá, em águas profundas. Estamos promovendo um plano de emergência individual único no mundo. É o maior que eu já vi para águas profundas, inclusive contando com monitoramento de eventuais derrames com tecnologia em parceria com a Nasa. Qual o próximo passo? A sra. está otimista com a obtenção da licença para a Margem Equatorial? Com certeza. Apesar do presidente do Ibama dizer que, olha, isso não é garantia de licença, eu acho que, no mínimo, é um excelente indicativo de que estamos no caminho certo. Sobre pressões nos preços... Olha só, a pressão vem mais pelo jornal, pelos jornalistas e pelo mercado. Porque o governo mesmo está entendendo como correto o posicionamento da Petrobras. No ano passado, logo que assumi, eu disse: esse preço não está legal. E tivemos toda a liberdade, sem nenhuma pressão, nenhum constrangimento, para colocar o preço no patamar que entendemos como correto. Qual é o momento agora? No começo do governo Lula, a Petrobras fez um movimento de abrasileiramento dos preços. Construímos um cenário, no qual acompanhamos a tendência no mercado internacional, evitando trazer para o Brasil a volatilidade, seja a flutuação do preço do Brent ou do câmbio, e sem cobrar custos inexistentes. O Conselho de Administração, com representantes governamentais e privados, acompanha esse desempenho todo mês. Fechamos 2024, e ninguém reclamou. Acho que estamos no caminho certo. Preço não foi um problema, não oneramos o caixa da empresa com questões de preço, e no começo do ano aumentamos o preço do diesel de novo. O ministro de Minas e Energia disse em entrevista à Coluna do Estadão que, considerando os preços mais baixos do petróleo no mercado internacional e a queda do dólar, é o momento de analisar uma redução do preço dos combustíveis no Brasil. A sra. concorda? Analisamos o preço no mínimo a cada 15 dias. Isso aí faz parte da nossa obrigação, olhar esses preços toda hora. E já está na hora de baixar? Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer também. Monitoramos isso e também o market share. O que não é interessante para nós é ficar com o preço muito alto porque perdemos mercado. Com preço muito baixo, perdemos dinheiro. O que fazemos é olhar o tempo todo se essas coisas estão equilibradas dentro do que a Petrobras se propõe. Hoje, estão equilibradas? Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazo.

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Distribuidoras de combustíveis pedem à ANP pausa de 90 dias na exigência de mistura de biodiesel

As maiores distribuidoras de combustíveis do País pediram nesta quarta-feira, 12, que a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) suspenda por 90 dias a obrigação de mistura de biodiesel no diesel B comercializado em postos de abastecimento, até que a agência tenha condições de fiscalizar o mercado a contento, segundo as empresas. Cogitado desde o início do ano, como adiantou o Estadão/Broadcast, o movimento é uma reação à profusão de fraudes ao mandato de biodiesel identificada pelo Instituto Combustível Legal (ICL) nos Estados do Paraná e de São Paulo, mas que já alcançaria Minas Gerais, Goiás e Bahia. O ICL reúne as três maiores distribuidoras do País emdash; Vibra, Raízen e Ipiranga emdash;, e as redes Ale e SIM, além de Petrobras e Braskem. A Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em comunicado conjunto (leia íntegra abaixo), reagiram ao movimento das empresas e se disseram eldquo;organizadas e dispostas para uma dura reação política a essa medida descabida do setor de distribuição, que vai contra o governo brasileiro, o Congresso Nacional, a população e a transição energéticaerdquo;. O pedido foi formalizado esta tarde junto à ANP pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) na forma de um requerimento administrativo. Integram o Sindicom Vibra, Raízen e Ipiranga, além de Shell, TotalEnergies, YPF, Castrol, Iconic, Moove e Petronas Lubrificantes. No texto, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, as empresas citam levantamentos das próprias empresas lesadas e do ICL que apontam prevalência de 37% de irregularidades em amostras testadas, porcentual considerado alto. A solicitação ganhou o apoio do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP). eldquo;Ou a lei vale pra todos ou não faz sentido que um grupo se aproveite da falta de fiscalização para fraudar o programa do biodiesel. Neste sentido, apoiamos a medidaerdquo;, disse o presidente do IBP, Roberto Ardenghy, em entrevista ao Estadão/Broadcast, às margens da CERAWeek, uma das maiores conferências de energia do mundo, realizada pela Seamp;P Global em Houston (EUA). A justificativa legal para o requerimento estaria na própria Lei 13.033/2014, segundo a qual a ANP pode dispensar excepcionalmente a adição mínima obrigatória de biodiesel ao diesel, considerando eldquo;critérios de aplicabilidade, razoabilidade e segurança do abastecimento nacional de combustíveiserdquo;. O Sindicom argumenta que a suspensão da mistura obrigatória se encaixaria no princípio de razoabilidade previsto na lei em função do atual contexto do mercado, atravessado por fraudes. Como o fraudador leva vantagem Como o biodiesel segue mais caro do que o diesel, sua não adição à mistura é vantajosa ao fraudador, que tem ganho de até R$ 0,31 por litro na comparação com o produto que respeita especificações legais. Hoje é obrigatório que a mistura do diesel tenha 14% do biocombustível. No momento, o biodiesel está entre R$ 1,50 e R$ 1,60 por litro mais caro que o diesel A, diferença que chegou a superar a casa dos R$ 2,00 por litro no fim de 2024. Operadores do setor ouvidas pelo Estadão/Broadcast afirmaram não acreditar que a ANP venha a liberar as empresas do mandato do biodiesel e definem o pedido como um instrumento de pressão por mais fiscalização. Ainda assim, espera-se que, antes de dar uma resposta oficial, a agência reguladora escute os principais envolvidos, a saber, o mercado de distribuição, o varejo de combustíveis e produtores de biodiesel emdash; este último especialmente afetados em caso de suspensão do mandato. Por que o pedido por 90 dias O pedido de liberação da mistura por 90 dias tem a ver com o tempo que os requerentes julgam necessário para a ANP se organizar no setor a fim de intensificar a fiscalização nos postos. Quando o assunto começou a ser discutido, não havia um prazo em vista. Três meses seria o tempo necessário para que um convênio entre ANP e empresas do setores de distribuição e combustíveis e fabricantes de biodiesel saia do papel, por exemplo com a compra de novos espectrofotômetros a serem doados para a agência. O equipamento identifica imediatamente se a mistura obrigatória de biodiesel ao óleo diesel está sendo cumprida. A ANP só possui um aparelho do tipo e o convênio prevê a doação de outras sete unidades. Conforme apurou o Estadão/Broadcast, Raízen e Ipiranga eram favoráveis ao pleito havia mais tempo, mas a iniciativa não foi à frente em fevereiro porque a Vibra não endossou o movimento à época. Procuradas, as distribuidoras citadas não se manifestaram. Teria pesado, também, a relação com os fabricantes de biocombustíveis, que desejam manter suas vendas, ainda que as receitas de momento estejam abaixo daquela que a observância plena do mandato de biodiesel resultaria. A escalada das fraudes identificadas pelo setor teria reforçado a percepção das partes sobre a necessidade de acionar a ANP. Sob maior pressão do setor nas últimas semanas, a ANP tem intensificado a fiscalização do teor de biodiesel, inclusive com o fechamento de distribuidoras. Mas, para as partes envolvidas, as ações ainda são insuficientes para eliminar a concorrência desleal dos fraudadores. O diagnóstico das distribuidoras sobre a escalada de fraudes estaria reforçado pelo fato de o consumo de diesel ter aumentado em janeiro, ao passo que o de biodiesel caiu no mesmo período, indicando que há mais combustível fóssil circulando no País sem que seja acompanhado pela parcela de biocombustível correspondente. Segundo um alto executivo do setor, o balanço de massas do setor indica que, a cada mês, entre novembro e janeiro, cerca de 150 milhões de litros de diesel B foram vendidos sem biodiesel no Brasil, um volume que chegaria perto de 2 bilhões de litros se extrapolado para o período de um ano. A reação de frentes parlamentares às distribuidoras O que diz o comunicado conjunto assinado pelos deputados Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio), e Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA): A Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) rechaça, de forma veemente, qualquer tentativa das grandes distribuidoras de combustíveis, representadas pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), de suspender a comercialização de biodiesel no Brasil por 90 dias, conforme proposta encaminhada junto à Agência Nacional de Petróleo. Qualquer mobilização ardil e pouco transparente para eliminar as energias renováveis do país deve ser entendida como uma afronta ao Congresso Nacional, responsável aprovar de forma unanime a Lei do Combustível do Futuro, assim como ao governo federal que foi o criador da Política Nacional do Biodiesel. Neste contexto, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) ressalta que, caso o pedido seja acatado, o Brasil contará com 10 milhões de toneladas de soja não esmagadas, o que representa 8 milhões de toneladas a menos de farelo de soja no mercado, elevando a inflação e o preço das carnes. É um ataque à soberania nacional, uma vez que é esta a política que garante à cadeia da soja e proteínas a participação de 25,8% na pauta de exportações; a garantia de 16 milhões de empregos diretos e indiretos desde indústria até agricultura familiar; a competitividade da agropecuária em nível global e a redução das emissões de gases do efeito estufa, entre tantos outros benefícios à população. Causa também estranheza que medida similiar não é proposta para o setor de etanol - o que seria igualmente injusto, tendo em vista que as fraudes na mistura da gasolina são as mesmas ou até maiores. Logo, as distribuidoras acreditam que o melhor é ampliar as importações de diesel fóssil, privilegiando empregos fora do Brasil e promovendo o crime organizado. Por fim, a FPA e a FPBio estão organizadas e dispostas para uma dura reação política a essa medida descabida do setor de distribuição, que vai contra o governo brasileiro, o Congresso Nacional, a população e a transição energética.

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