Bolsonaro decide trocar presidente da Petrobras de novo e anuncia Caio Paes de Andrade
O governo decidiu promover mais uma troca na presidência da Petrobras e anunciou na noite desta segunda-feira a demissão de José Mauro Coelho do cargo. Ele havia sido nomeado em abril e ficou pouco mais de um mês no cargo.
Em seu lugar assume Caio Paes de Andrade, nome de confiança do ministro Paulo Guedes e que atuava no Ministério da Economia. Ele será o quarto executivo a comandar a estatal nos menos de quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, que, incomodado com o impacto dos preços dos combustíveis em sua popularidade, troca o comando da estatal pela terceira vez.
Coelho ficou apenas 40 dias no cargo. Desde a troca no comando do Ministério de Minas e Energia (MME), em 11 de maio, uma possível mudança na chefia da Petrobras passou a ser ventilada e encarada com naturalidade por integrantes da equipe econômica.
O nome de Caio Andrade já havia sido ventilado quando Bolsonaro decidiu demitir o general Joaquim Luna e Silva, em março. Inexperiente no setor, seu nome ganha impulso pelo trabalho feito na implementação da plataforma gov.br, considerada uma revolução digital. No Planalto, a nomeação de Caio foi atribuída a Paulo Guedes junto com Adolfo Sachsida, novo ministro de Minas e Energia.
Guedes retoma influência
A escolha de Andrade consolida a retomada da influência de Guedes sobre a Petrobras, que ele havia perdido no ano passado quando Bolsonaro resolveu demitir Roberto Castello Branco, indicado pelo ministro da Economia parra comandar a estatal no início do governo, em janeiro de 2019.
Guedes quer que a Petrobras adote intervalos mais longos, de cem dias ou mais, entre um reajuste e outro para amenizar o impacto dos reajustes recorrentes dos combustíveis nas bombas, seguindo a volatilidade atual da cotação internacional do petróleo, conforme informou a colunista do GLOBO Malu Gaspar.
Em 2021, Bolsonaro escolheu o general da reserva Joaquim Silva e Luna, então presidente de Itaipu, para substituir Castello Branco à revelia de Guedes. Com a queda de Silva e Luna pelo mesmo motivo de Castello Branco - a manutenção da paridade dos preços dos combustíveis com a cotação internacional do petróleo -, Coelho foi escolhido por Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia que foi demitido há duas semanas, deixando o presidente da Petrobras sem sustentação no cargo.
Coelho foi surpreendido com decisão rápida
Segundo relatos de amigos próximos, Coelho foi pego de surpresa com o comunicado da Petrobras na noite desta terça-feira. Até às 15h desta segunda-feira, contou um interlocutor, ele não sabia desse cenário, embora já estivesse se sentindo pressionando no cargo depois da saída do ex-ministro Bento Albuquerque.
José Mauro Coelho esteve com o presidente Jair Bolsonaro na semana passada em evento do Rio, eles se cumprimentaram, mas a demissão não teria sido tratada. Para representantes do setor privado, a demissão dele mostra como o governo não respeita a liturgia do cargo na estatal, que tem regras próprias de governança e ações negociadas na Bolsa.
Proximidade das eleições pesa nas decisões de Bolsonaro
Pressionado pela baixa popularidade que ameça sua reeleição, Bolsonaro determinou que a ala política do governo fizesse o que fosse preciso para controlar a inflação puxada pela alta dos combustíveis. Em conversas reservadas, Bolsonaro demonstrava irritação com José Mauro Coelho desde que ele anunciou um aumento de 8,8% no preço do diesel, em 9 de maio.
O presidente então não afastou mais a possibilidade de mexer outra uma vez no comando da empresa, ainda que isso seja interpretado mais uma vez pelos investidores como interferência política na estatal, cobrando um preço no valor de mercado da companhia.
No dia 15 de maio, Bolsonaro, ao ser questionado sobre a troca no comando da Petrobras, indicou que a decisão seria de Sachsida. A expectativa no governo é que haja substituições também entre os diretores da estatal.
Desde que assumiu o Ministério de Minas e Energia, Sachsida deixou claro que tomava decisões em alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, como o anúncio dos estudos para privatização da Petrobras e PPSA. O presidente também deu declarações em que praticamente deu carta branca para Sachsida escolher alguém de sua preferência para o comando da estatal.
Para integrantes do governo ouvidos pelo GLOBO, quem preside a Petrobras tem que estar em sintonia com o ministro de Minas e Energia. Afinal, até que se concretize o plano de Sachsida de privatizar a empresa (um processo complexo que dificilmente seria concluído neste ano, visto como uma tentativa do ministro de desviar atenções), ela é e permanece sendo uma estatal.
O atual presidente, José Mauro Coelho, era praticamente um desconhecido para Sachsida, com que nunca trabalhou quando ambos eram secretários endash; Coelho trabalhava no MME e Sachsida, na Economia. Outra avaliação é que o país atravessa um período de muita oscilação e volatilidade com o preço dos combustíveis, influenciado pelo custo do petróleo e pelo câmbio, o que já justificaria uma substituição na estatal.
Interlocutores próximos de Coelho já notavam que ele estava muito desconfortável no cargo e já considerava sua saída concreta. Isso não é demérito de Coelho, esclareceu um integrante do governo, mas apenas um movimento indicando que o ministério está elsquo;sob nova direçãoersquo;.
Coelho teve uma reunião com Sachsida no Ministério de Minas e Energia, no mesmo dia em que o ministro solicitou o início dos estudos para a privatização da estatal. O executivo entrou e saiu pela garagem do prédio, e o encontro dos dois durou pouco mais de uma hora.
Troca não é simples
Apenas um integrante da equipe econômica ouvido pelo GLOBO fez a ressalva de que uma eventual troca de comando na Petrobras seria um processo muito complexo e desgastante. Caio Paes Andrade não tem experiência no setor, conforme exige a Lei das Estatais, mas a estratégia seria indicar alguém com vasto conhecimento de política econômica, afinado com Sachsida e o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que o nome dele passe pelo comitê de pessoas da estatal.
O processo deve demandar também mudanças no Conselho de Administração da Petrobras, exigindo antes nova assembleia de acionistas. Tudo isso pode levar mais de um mês.
De acordo com integrantes do governo, o governo poderia fazer uma espécie de adaptação nos requisitos para indicar Andrade, como foi feito com o general Joaquim Silva e Luna, que não tinha atuado no setor de petróleo e possuía curta experiência no setor de energia. Ele ficou pouco menos de um ano no cargo, entre abril de 2021 e março de 2022.