Serviços crescem em junho, puxado por transportes, e saltam quase 9% no 1º semestre
Puxado pelo segmento de transportes, o setor de serviços fechou o primeiro semestre com alta de 8,8%. Na passagem de maio para junho, avançou 0,7%. É o que apontam os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira. Com o resultado, o setor se encontra 7,5% acima do patamar pré-pandemia.
A atividade responde por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo o principal empregador no país. Das três grandes áreas pela ótica da oferta do indicador, o setor de serviços foi o único que continuou a crescer em junho. A indústria caiu 0,4% no mês e fechou o primeiro semestre no vermelho, enquanto o varejo caiu 1,4%, embora tenha encerrado os primeiros seis meses do ano com alta de 1,4%.
O resultado de junho chamou a atenção dos analistas, que esperavam alta de 0,4% segundo a Bloomberg. Por outro lado, o IBGE revisou a alta de 0,9% do mês de maio para 0,4%, o que para alguns economistas acaba favorecendo a surpresa altista na margem.
Apesar disso, a avaliação geral é de que o primeiro semestre do ano foi positivo. Na avaliação de Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, o mercado estava subestimando a força do efeito reabertura sobre a atividade e o quanto duraria esse efeito.
emdash; Tem sinais de que já não é tão forte, mas durou mais do que o esperado [no setor de serviços] emdash; avalia.
O ciclo favorável de commodities, cujos preços subiram no primeiro semestre em função do aumento da demanda no mercado internacional, também surpreendeu nos últimos meses.
O resultado mais positivo no primeiro semestre levou o Itaú Unibanco a revisar a estimativa de crescimento do PIB no segundo trimestre de 0,8% para 1%. A mudança fez a projeção para o PIB deste ano subir de 2% para 2,2%, mas o banco mantém a visão de estabilidade da economia no segundo semestre.
Pacheco, da Guide Investimentos, avalia que a comparação entre o resultado de junho 2022 ante junho de 2021 aponta desaceleração para todas as categorias do setor de serviços:
emdash; A política monetária, embora com defasagem, já surte efeito. Esse consumo de comércio e serviços não deve se sustentar tanto assim visto que temos esse cenário mais adverso. A atividade econômica está desacelerando emdash; avalia ele, ao ponderar que o aumento do valor do Auxílio Brasil no segundo semestre é, em parte, compensado pelos juros altos.
Serviços às empresas puxam alta
Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa, explica que o setor de serviços vem traçando trajetória de crescimento em duas vertentes. De um lado, os serviços de caráter presencial voltados às famílias que foram os mais afetados pela pandemia se recuperam paulatinamente dos impactos da crise sanitária com a retomada da mobilidade, mas lidam com a menor renda disponível das famílias diante da inflação.
Do outro lado, os serviços prestados às empresas não só foram menos afetados pela pandemia como registraram aumento de demanda no período. É o caso dos serviços de tecnologia da informação e das atividades de transportes de carga - seja ele rodoviário ou dutoviário, decorrente dos fretes realizados para escoação da produção agrícola -, bem como do transporte de carga para a produção industrial e de mercadorias finais para o consumidor com o boom do comércio eletrônico.
emdash; Os serviços voltados às empresas, diferente dos serviços voltados às famílias, tem papel preponderante para entender o patamar em que o setor de serviços se encontra hoje. O segmento de serviços tecnologia da informação é decisivo para entender o crescimento do setor de serviços, diferenciando-o da indústria e do comércio emdash; completa Lobo.
Cadeia do petróleo e retomada dos eventos impulsionam atividade
Das cinco atividades investigadas, quatro registraram crescimento em junho. O segmento de transportes - com destaque para o dutoviário, rodoviário de cargas e coletivo de passageiros -, foi o que mais influenciou o resultado em junho: a alta foi de 0,6% no período.
Segundo Lobo, a cadeia do petróleo vem impulsionando algumas atividades dentro do setor, como o transporte dutoviário e os serviços de engenharia. A prospecção de novos campos de produção impulsionou a demanda por atividades técnicas ligadas à engenharia, o que contribuiu para o avanço de 0,7% dos serviços profissionais, administrativos e complementares.
Mas não só a atividade petrolífera puxou a alta deste segmento. A retomada dos eventos presenciais como congressos, feiras e convenções também alavancaram esses serviços.
Por outro lado, o avanço da inflação trouxe reflexos negativos para o segmento de transporte aéreo de passageiros, que recuou 9,9% em junho. Isso porque o preço das passagens aéreas subiram 11,32%, segundo o IPCA.
O recuo na atividade em função da alta dos preços levou, inclusive, a uma queda do índice de atividades turísticas em junho. O indicador pesquisado pelo IBGE contraiu 1,8% frente ao mês anterior, após ter avançado por três meses seguidos. O segmento de turismo ainda não se recuperou dos impactos da pandemia: se encontra 2,8% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.
Os serviços prestados às famílias, ainda que tenham avançado 0,6% em junho, também tem a inflação como entrave para o consumo, além dos juros altos. Lobo explica que o efeito da alta dos preços se dá de forma indireta sobre o consumo dessas atividades pelas famílias. Na prática, se há menos renda disponível para as famílias, elas deixam de consumir serviços considerados supérfluos e priorizam as despesas essenciais.
Perspectivas
Economistas avaliam que o setor de serviços deve seguir sua trajetória de recuperação este ano, dado que foi o setor que mais sofreu ao longo da pandemia. Mas não estão no radar altas muito expressivas. Passados os efeitos mais duros da Covid-19, pesa sobre o setor o cenário macroeconômico que combina inflação, juros em alta e desemprego ainda elevado.
Depois de dar sinais de desaceleração ao final do primeiro semestre, o Índice de Confiança de Serviços (ICS) do FGV IBRE subiu 2,2 pontos em julho, para 100,9 pontos, maior nível desde setembro de 2013 (101,5 pontos).
emdash; O período eleitoral pode aumentar os níveis de incerteza econômica, mas as medidas de estímulo adotadas pelo governo recentemente devem manter a atividade do setor aquecida e resultar em um terceiro trimestre mais positivo do que inicialmente esperado emdash; avaliou Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE.