Veículos elétricos começam com uma pegada de carbono maior; entenda
No século 19, as grandes cidades enfrentaram seu próprio problema de emissões: esterco de cavalo. Com carruagens puxadas por cavalos congestionando as vias principais, as cidades ficavam cheias de esterco tóxico e malcheiroso, que atraía moscas e espalhava doenças.
A questão começou a se resolver quando os carros com motor a combustão interna ganharam popularidade, no início do século 20. Claro, isso fez que os cavalos, lenta mas inexoravelmente, fossem substituídos por veículos que emitiam gases de efeito estufa.
Hoje, enquanto os veículos elétricos a bateria, ou VEBs endash;comercializados como uma opção veicular mais ecológicaendash;, substituem os motores a combustão interna, alguns céticos apontam que eles realmente têm uma pegada de carbono maior do que a dos veículos não elétricos.
Isso se deve à fabricação e descarte de VEBs, especificamente suas baterias, assim como à dependência do carvão para gerar a eletricidade que os movimenta.
Para determinar os custos ambientais da troca, organizações comerciais e universidades conduziram análises de ciclo de vida, ou ACVs: comparações entre a quantidade de gases de efeito estufa criados a partir da produção, uso e descarte de um VEB e os gases de um veículo de tamanho semelhante movido a gasolina.
A boa notícia: estudos descobriram que, embora seja verdade que a produção de um VEB cause mais poluição do que um equivalente movido a gasolina, essa diferença de emissão de gases de efeito estufa é eliminada à medida que o veículo é usado.
E apagar a diferença não parece demorar muito. Em um estudo realizado pela Universidade de Michigan (com verba da Ford Motor Co.), a equação da poluição se equilibra entre 1,4 a 1,5 ano para sedãs, 1,6 a 1,9 ano para SUVs e cerca de 1,6 ano para picapes, com base no número médio de quilômetros percorridos por veículos nos Estados Unidos.
O estudo descobriu que, em média, as emissões de sedãs VEB foram 35% das de um sedã de combustão interna. SUVs elétricos produziram 37% das emissões de um semelhante movido a gasolina, e uma picape VEB criou 34% das emissões de um modelo de combustão interna. (Como as picapes a gasolina consomem mais combustível do que os veículos menores, a mudança para uma picape elétrica a bateria resulta em uma maior redução das emissões.)
Esses resultados variam de acordo com a quantidade de gases de efeito estufa criada pela produção da eletricidade necessária para carregar uma bateria. Quanto maior o uso de fontes renováveis endash;eólica, solar, nuclear e hidrelétricaendash;, maior a redução das emissões.
Dos mais de 3.000 condados dos Estados Unidos, 78 tiveram emissões totais de sedãs elétricos maiores que as de veículos de combustão interna endash;resultado atribuível ao fato de que, nesses lugares, a maior parte da eletricidade foi gerada a partir de carvão, disse Greg Keoleian, diretor do Centro de Sistemas Sustentáveis da Universidade de Michigan e principal autor do estudo.
Uma das principais críticas aos VEBs se concentrou na dependência do carvão para produzir a eletricidade necessária para alimentar esses veículos, juntamente com as emissões geradas pela produção de baterias e a curta duração delas.
Por exemplo, um estudo realizado no Instituto Leibniz de Pesquisa Econômica da Universidade de Munique disse que um Mercedes C220 diesel gera menos emissões de gases de efeito estufa do que um Tesla Model 3. Michael Kelly, professor emérito de engenharia da Universidade de Cambridge, afirmou que a necessidade de carregar veículos elétricos sobrecarregaria a rede elétrica e poderia levar a cortes de energia na Grã-Bretanha. Ele também acredita que o mundo não tem matéria-prima suficiente para fabricar as grandes quantidades de baterias necessárias.
Nenhuma dessas declarações é precisa, de acordo com Auke Hoekstra, diretor de pesquisa de transição energética da Universidade de Tecnologia de Eindhoven. Em um artigo publicado em 2020, Hoekstra escreve que as baterias provavelmente durarão mais de 500 mil quilômetros; que a pesquisa mostra que a gasolina e o diesel poluem mais do que se pensava; e que a energia necessária para criar baterias já diminuiu enquanto a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis está crescendo.
Keoleian disse que espera que as emissões de veículos elétricos melhorem, mesmo nos condados dos EUA que dependem do carvão para gerar energia para os veículos. "No futuro, as emissões de VEB diminuirão devido à aposentadoria das usinas a carvão e ao aumento das fontes de energia renovável", disse ele. "Nossa mensagem é que precisamos acelerar a transição para veículos elétricos a bateria."
Vários estudos apoiaram a visão de que os veículos elétricos já são a escolha mais ecológica, e se tornarão cada vez mais com o avanço da tecnologia.
"O estudo financiado pela Ford está 100% correto", disse Hoekstra. "Todos os estudos concordam que os veículos elétricos economizam entre 50% a 70% de equivalentes de CO2 e que o tempo necessário para recuperar as emissões adicionais causadas pela produção de baterias é de um a dois anos. Quanto mais você dirige, mais rápido você se recupera."
Em janeiro deste ano, outro estudo, conduzido pela Ricardo Strategy Consulting para o Fuels Institute, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos com foco em trânsito e combustível, encontrou resultados semelhantes. Em 320 mil quilômetros rodados, um veículo de combustão interna típico emitiria 66 toneladas de emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos. Um veículo elétrico a bateria emitiria 39 toneladas nessa mesma distância. E em 30 mil quilômetros as emissões mais altas causadas pela fabricação de baterias seriam compensadas pelas emissões mais baixas da condução de um veículo elétrico.
Todas as críticas aos VEBs logo serão coisa do passado, disse Hoekstra, conforme as baterias adquirirem uma produção mais limpa e comecem a ter vida útil igual à dos veículos, enquanto a geração de eletricidade se afasta do carvão.
"Não há países no mundo onde os VEBs poluem mais do que os veículos de combustão interna", disse ele. "E quando se trata dos EUA, não há como o atual mix de geração elétrica continuar tão poluente quanto hoje."